Tumores

Quase todos os tipos de tumores encontrados na mulher adulta podem ser observados em crianças e em adolescentes.

Fazem exceção o carcinoma do endométrio e o carcinoma epidermóide da vagina, que não foram descritos em meninas. Órgãos genitais imaturos produzem tumores, em sua maioria de origem embrionária. Estes tumores são potencialmente graves, pois 50% deles são malignos, respondendo por 2% das mortes devidas a tumores malignos. Câncer primitivo dos genitais é neoplasia rara antes dos 16 anos, podendo, porém, originar se no período pré-natal. Tem sido relatadas, ainda, casos bem documentados de tumores da mãe, transmitidos ao feto.

Os sintomas e sinais dos tumores genitais em meninas, são semelhantes àqueles observados em mulheres adultas, mas podem, às vezes, alterar o desenvolvimento genital. No entanto, a raridade destas ginecopatias e a relutância da paciente em submeter-se a exames, são fatores que retardam o diagnóstico.

Os tumores podem ser classificados de acordo com critérios topográfico e anátomo-patológicos.

I – vulva e períneo:
I.1 – tumores císticos
– cistos de retenção.
– cistos disontogenéticos
– cistos traumáticos
I.2 – tumores sólidos
– fibromas
– lipomas
– neurofibromas
– Teratomas
I.3 – Hemangioma
I.4 – câncer
– carcinoma
– sarcoma.

II – vagina
II.1 – cistos mesonefricos
II.2 – sarcoma botróide
II.3 – adenocarcinoma de células claras

III – colodo útero
– carcinoma
IV – Corpo do útero
– mioma
V – ovários (classificação de Bastos, 1971)
V.1 – Tumores benignos
– epiteliais
– cistoadenoma seroso
– cistademona mucoso
– conjuntivos
– fibromas
– tumor de Brenner
– misto
– teratoma adulto
V.2 – tumores malignos
– epiteliais
– ca primário sólido
– ca secundário
– cistoadenocarcinoma seroso
– cistoadenocarcinoma papilífero
– ca metastático
– do aparelho digestivo
– da mama
– da placenta
– do corpo do útero
– mesonefroma
– corioepitelioma ectópico.
– conjuntivos
– sarcoma
– mistos
– teratoma embronário
V.3 – tumores eventualmente malignos
– de ação hormonal
– tumor de teca-granulosa
– arrenoblastoma
– estruma
– sem ação hormonal
-disgerminoma.

Abordaremos, a seguir, as características mais importantes dos diversos tipos de tumores.

I – vulva e períneo

I.1 – os cistos de retenção podem ocorrer devido à obstruções dos condutos das glândulas sebáceas, sudoríparas, mucosas, de Bartholin e de Skene. este último encontra-se, com mais frequência, na infância na adolescência. Localiza-se logo atrás do meato uretral externo, apresentando-se como pequena massa cística, arredondada, pouco móvel, que faz saliência no vestíbulo; constitui, portanto, cisto parauretral ou de Skene.

O cistos disontogenéticos se originam do epitélio müllerianos ( paramesonéfricos), do conduto de Wolf (mesonéfrico ou de Gartner) e do conduto de Nuck (mesotelial). Os cistos originados do epitélio de Müller são as mais frequentes e localizam-se nas imediações do clitóris, dos pequenos lábios, ou do terço superior da vulva. São pequenos, alcançando, em média, 4 cm de diâmetro, mas podem chegar até 10 cm. São uniloculares ou multiloculares, únicos ou múltiplos, uni ou bilaterais e, às vezes, apresentou-se pediculados; seu conteúdo é mucoso. Os cistos de Wolff são mais raros, pois o ducto mesonéfrico não chega abaixo do limite hímen. Os textos do conduto de Nuck, ou hidrocele, formam-se por obstrução do colo da hérnia inguinal, na altura do anel. Seu conteúdo é um líquido seroso e claro. A formação cística situa-se na base de implantação do livramento redondo, na porção externa dos grandes lábios.

O cistos traumáticos formam-se, como o nome indica, em conseqüência de traumatismos na região vulvar. Embora não sendo neoplasias verdadeiras, apresentam aspecto tumoral. Localizam se, mais frequentemente, no terço médio e inferior da vulva.

I.2 – dos tumores sólidos, os fibrosos são os mais frequentemente encontrados na vulva. Origina-se do tecido conjuntivo, no ponto de inserção do ligamento redondo. Por isto, são ocasionalmente encontrados elementos musculares (fibromioma) devido à perturbações tróficas, edema e reduzido número de células. Comumente se localizam no terço superior dos grandes lábios. Apresentam tamanho variável, podendo crescer rapidamente, tornando-se pediculados. Sua transformação sarcomatosa é rara.

Tumor sólido (pedunculado) da vulva em criança de 7 anos

Os lipomas são tumores raros que se originam do tecido gorduroso e apresentam crescimento lento. Os neurofibromas são ainda mais raros, e os teratomas, que foram relatados, inclusive em recém-nascidas, desenvolvem se preferencialmente no períneo.

I.3 – Os hemangiomas origina-se do desenvolvimento anômalo dos vasos sanguíneos da pele e do tecido subcutâneo .

Hemangioma da vulva em criança de 3 anos

Os hemangiomas capilares regridem com o tempo, mas os cavernosos permanecem podem romper-se, causando hemorragia profusa. Os hemangiomas também não são neoplasias verdadeiras.

I.4 – câncer de vulva é um dos tumores mais raros na infância e adolescência. Encontro se descritos casos de carcinoma de células escamosas, adenocarcinoma e sarcoma, todos de alta malignidade.

II – vagina

II.1 – o cistos mesonéfricos podem adquirir grande volume, fazendo saliência através do orifício himenal; tem parede transparente, mostrando conteúdo claro e translúcido.

II. 2 – o sarcoma botróide, também chamado rabdomiossarcoma polipóide é a mais frequente neoplasia maligna da vagina e meninas pré-menárquicas. Seus primeiros sintomas são: leucorréia e hemorragia vaginal; em seguida, através do hímen, ocorre protusão de massas polipóide, friável e edemaciada. Posteriormente, distende a vagina e, se a paciente não é tratada, produz grandes massas abdominais e metástases extrapélvicas. Inicia seu desenvolvimento a partir do mesênquima embrionário não diferenciado da bainha vaginal subepitelial, e tem origem multicêntrica. A mucosa vaginal intacta é projetada para fora à medida que o tumor cresce, formando múltiplas lobulações semelhante a cacho de uvas. A necrose e a ulceração destas dígitações respondem pelos sintomas: corrimento e sangramento.

III – colo do útero

Os tumores cervicais benignos são muito raros antes dos 16 anos. Os tumores malignos também o são e, quando surgem, são representados pelo adenocarcinoma. Não se trata, em geral, de adenocarcinoma verdadeiro, mas originado de restos mesonéfricos. Os primeiros sintomas, corrimento aquoso ou purulento e hemorragia genital, ocorrem durante muito tempo antes de se chegar a diagnóstico definitivo. O adenocarcinoma invade os tecidos pélvicos vizinhos ao colo e, posteriormente, os linfáticos pélvicos.

IV – corpo do útero

Constituía achado excepcional os tumores de corpo de útero e meninas. São referidos alguns casos de mioma, no período final da adolescência, e de adenocarcinoma, este último de origem mesonéfrica.

V – ovários

A maior parte das neoplasia genitais, em crianças e em adolescentes localiza-se nos ovários. Cerca de 30% correspondem a teratomas benignos e 30% a tumores malignos de vários tipos. Cistos não neoplásicos, de natureza funcional, podem ser encontrados frequentemente.

V.1 – benignos: os tumores epiteliais correspondem a 10% das neoplasias ovarianas na infância e na adolescência. Os cistoadenomas serosos são mais frequentes que os mucinosos. Ambos podem atingir grande volume.

Cistoadenoma seroso do ovário em adolescente de 15 anos.

Área de abaulamento abdominal causado pelo tumor da figura anterior

Tumor de ovário em recém-nata

Teratoma adulto em adolescente de 16 anos

Teratoma embrionário em adolescente de 14 anos

Teratoma embrionário. Aspecto interno do tumor da figura anterior

Abaulamento causado pelo tumor da figura anterior

O tumor de Brenner e o fibroma são predominantemente sólidos. Quando se acompanham ascite e de hidrotórax, constituem a síndrome de Meigs.

Cerca de 30% das neoplasias do ovário são teratomas adultos, também denominados cistos dermóides (figura 41). As três capas blastodérmicas integram estes tumores que, em geral, são unilaterais, císticos e contém ossos, dentes, pelos, gordura e secreção sebácea. Em cerca de 1% dos casos pode sofrer transformação maligna, a partir de um dos seus elementos epiteliais.

V.2 – malignos: correspondem a 30% dos tumores do ovário. O carcinoma sólido é raro. O cistoadenocarcinoma seroso papilífero é mais frequente, sendo geralmente bilateral e dotado de grande malignidade. O cistoadenocarcinoma mucinoso é menos maligno que o anterior e apresenta crescimento mais lento.

O corioepitelioma ectópico origina-se primariamente no ovário, a partir de um crescimento teratomatoso, no qual predomina o tecido coriônico. Manifesta-se precocemente por produzir o gonadotrofina, determinando puberdade precoce e distúrbios menstruais em adolescentes. São dotados de alta malignidade, comportando-se da mesma maneira que o corioepitelioma originado da placenta.

O sarcoma de ovário muito raro qualquer grupo etário. No entanto, pode ocorrer mais frequentemente em crianças do quem adultos. É sólido, lobulado e de consistência elástica.

O teratoma embrionário é predominantemente sólido, apresentando áreas císticas. No seu interior, encontra-se massa friável com áreas de hemorragia.

Na maioria dos casos, origina-se diretamente de elementos teratomatosos. Pode, também, decorrer da transformação maligna de um dos elementos integrantes do teratoma cístico.

V.3 – Eventualmente malignos: em meninas, os tumores das células da granulosa determina o aparecimento da puberdade precoce isossexual, caracterizado por telarca, pubarca e hemorragia genital. Em adolescentes, ocasionam perturbação do ritmo menstrual, traduzida por hipermenorragia ou por metrorragia. Os tecomas são raros na infância e na adolescência. O quadro clínico referidos se deve à produção intensa de estrogênios por parte daqueles tumores funcionantes do ovário.

O arrenoblastoma secreta androgênios, sendo responsável por quadros clínicos de virilização. Quando ocorre na infância pode determinar a pubarca e o crescimento do clitóris, caracterizando a puberdade precoce heterossexual.

O estroma é um tumor muito raro em qualquer grupo etário, e secrete hormônio da tireóide.

O disgerminoma origina-se das células embrionárias indiferenciadas dos cordões sexuais do parênquima ovariano. ocorrem mais frequentemente e jovens com disgenesia gonadal ou hermafroditismo. O grau de malignidade muito variável, de um caso para outro.

Diagnóstico

I – vulva e períneo

Os tumores localizados nesta região são diagnosticados pelo exame ginecológico e pela biópsia. A palpação revela sua consistência: cística ou sólida. Assim, um tumor cístico, sob a uretra, sugere cisto de retenção da glândula de Skene ou parauretral. Os cistos no clitóris, no hímen ou nos pequenos lábios, são de origem mulleriana. O cisto de Nuck (hidrocele), situa-se na grande lábio, na base de implantação do ligamento redondo. O fibroma da vulva é sólido, localizando se preferencialmente no grande lábio, no terço superior da vulva. O teratomas é visto com mais frequência em recém-nascida, e localiza-se na linha média. O hemangioma da vulva, ou de outras partes do corpo, tem aspecto semelhante. Os tumores malignos da vulva são raros, e seu diagnóstico definitivo é feito pela biópsia.

II – vagina

Os tumores císticos da vagina, quando adquiriu determinado volume, fazem saliência pelo orifício himenal, sendo facilmente diagnosticados. A origem dos cistos (mesonéfrico ou paramesonéfrico) só pode ser definitivamente comprovada pelo exame histológico de suas paredes.

O sarcoma botróide e o adenocarcinoma da vagina manifestam-se com fluxo vaginal sero-hemorrágico. Esta sintomatologia, em meninas ou adolescentes, deve ser investigada por meio da colpovirgoscopia; havendo áreas suspeitas, impõe-se a biópsia.

III – colo do útero

O adenocarcinoma manifesta-se clinicamente por leucorréia aquosa e sangramento vaginal. A colpovirgoscopia e a biópsia das lesões comprovam o diagnóstico. Em fases avançadas, o tumor em vários tecidos vizinhos e paramétrios; nesta fase, o toque retal comprova infiltração parametrial.

IV – corpo do útero

Os tumores desta região são raros. O mioma pode ser encontrada em adolescentes, manifestando-se por hipermenorragia; o exame ginecológico revela úero aumentado, com nódulos de consistência fibroelástica, característica deste tumor.

V – ovários

As queixas de dores de tumor e de hipogástrio, são os sintomas mais frequentemente observados em neoplasias de ovário. Cerca de um terço dos tumores ováricos são diagnosticados por ocasião de acidentes como torção, rotura e hemorragia intracística, que levam a paciente a quadro de abdômen agudo. Na maioria dos casos, a neoplasia ovariana diagnosticada pelo exame do abdome (figura 44) e pelo toque retal, pois quando determina sintomas, tem volume suficiente para ser percebida pela exploração física. Fazem exceção os tumores funcionantes que, produzindo vários tipos de transtornos endócrinos, exigem Propedêutica apropriada para investigar possível causa ovariana. Nestas condições, a Pneumopelvigrafia ou a laparoscopia revelam pequenos tumores ovarianos, não diagnosticados pelo exame físico.

Tratamento

I – vulva e períneo

Os tumores benignos císticos e sólidos desta região são tratados pela extirpação simples. Quando se trata de Teratoma é necessário retirar até a base do tumor, para evitar recidivas. Os hemangiomas capilares aumentam e diminuem espontaneamente, podendo desaparecer; se persistem, serão tratados pela eletrólise ou por injeções esclerosantes. Os hemangiomas cavernosos podem ser tratados pela exérese simples, se forem pequenos. Não se deve usar a radioterapia nos casos de hemangioma da vulva do períneo. Os tumores malignos são raros, porém, se diagnosticados pela biópsia, devem ser extirpadas por vulvectomia radical.

II – vagina

Os tumores benignos são, geralmente, cistos que somente merecem exérese se tiverem grandes volumes. Os pequenos cistos não requerem tratamento. O sarcoma botróide, mesmo em fases precoces, deve ser tratado por cirurgia radical. histeréctomia total ampliada e, até mesmo, exenteração pélvica, tem sido empregados no tratamento desta neoplasia de alto potencial de malignidade.

III – colo do útero

O sarcoma cervical, quando diagnosticado precocemente, deve ser tratado pela a histeréctomia, com retirada de manguito vaginal, tecido conjuntivo paravaginal e paracervical e linfonodos pélvicos. Os ovários não comprometidos devem ser preservados. A radioterapia pós-operatória poderá ser realizada sempre que os ovários forem deslocados na pelve, durante cirurgia. Os tumores avançados requerem exenteração pélvica. Abnt

IV – corpo do útero

O mioma deve ser tratado pela exérese simples:miomectomia. Os tumores malignos são muito raros, sendo geralmente diagnosticados em fase tardia, quando a cirurgia é inútil.

V – ovários

Em se tratando de neoplasia benigna, deve-se fazer exérese apenas do tumor, conservando tecido variando normal e a tuba. Quando ocorre um acidente, como torção infecção, geralmente a tuba também está comprometida e a solução que se impõe, nesta eventualidade, e a anexectomia. Se o tumor é maligno, encontra-se restrito a uma gônada (estadio la), pode-se adotar, como tratamento definitivo, a ovariectomia unilateral. Quando este diagnóstico é feito no ato cirúrgico, pela inspeção macroscópica, confirmada pela biópsia de congelação, deve-se praticar a bisecção do ovário contralateral, à procura de metástase. Esta conduta conservadora, em caso de carcinoma limitado a um ovário é admitida, em meninas, pelo papel importante que o ovário vai desempenhar no amadurecimento e futura vida reprodutora da paciente. Em fase mais avançada (estadio Ib em diante), os tumores malignos são tratados com uma mulher adulta: praticando se a histeréctomia total, com anexectomia bilateral, seguida de quimioterapia ou radioterapia.

No tratamento dos tumores malignos de ovário, deve-se levar em conta o critério histológico da classificação, dentro do qual se considera seu maior ou menor potencial de malignidade. Paralelamente este critério, sabe-se que o cistoadenocarcinoma mucinoso apresenta boa resposta à cirurgia, sendo pouco sensível à radioterapia ou à quimioterapia. O cistoadenoma seroso papilífero responde bem às quimioterápicos (trietilenotiofosforamina, mostarda fenilanina e ciclofoforamida), que devem ser administrados durante a operação, por via intraperitonial endovenosa, e no pós-operatório. O teratoma embrionário esse tumor de alta malignidade, e seu tratamento se constitui em grande problema para o ginecologista. Entendemos que a cirurgia radical, em termos de histeréctomia e anexectomia bilateral, deve ser praticado seguindo-se a quimioterapia.

Os tumores eventualmente malignos requerem atenção especial.

Os tumores da células da granulosa comportam-se como malignos em 25% dos casos. Considerando-se a idade dos pacientes, é absolutamente necessário analisar o achado cirúrgico antes de tomar decisões a respeito da extensão da cirurgia a ser praticada. Se o tumor encapsulado e compromete apenas uma das gônadas, permanecendo livres os órgãos e as estruturas vizinhas, basta a anexectomia unilateral. No tratamento desses tumores, numerosos casos de conduta conservadora tem sido descritos, com bons resultados.

Conduta semelhante a cabível frente a carcinoma da adrenal que, embora não pertença ao aparelho genital, determina puberdade precoce é heterossexual quando aparece crianças.

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Traumas

Traumas do aparelho genital ocorrem com relativa frequência na infância e na adolescência; e exige diagnóstico preciso e tratamento adequado, pois em alguns casos há risco de vida.

Os traumas são resultantes de queda sobre objetos rombos ou pontiagudos (empalamento), e estupro e acidente automobilístico.

A queda a cavaleiro responde pela maioria dos traumas, seguida do estupro e do acidente automobilístico.

Laceração da vulva e do períneo por queda à cavaleiro

Lesão de hímen e vagina por introdução de objeto

Outros agentes menos comum podem lesar os órgãos genitais. A figura abaixo mostra a vulva de uma menina de 9 anos que recebeu um tiro de espingarda, com orifício de entrada no hipogástrio e saída pelo genitais externos. Houve destruição extensa da vulva, tornando-se reconhecíveis os pequenos lábios e o clitóris.

Destruição da vulva por arma de fogo

Outro traumatismo raro aconteceu em menina com um problema ósseo no membro inferior, que sob anestesia, recebeu tratamento especializado em mesa ortopédica; uma das manobras de tração ocasionou contusão nos órgãos genitais externos.

Os traumas podem produzir desde escoriações leves até edema acentuado e lacerações extensa dos órgãos genitais comprometendo vísceras vizinhas como bexiga e reto. Podem formar se hematomas que crescem no tecido gorduroso frouxo da vulva nos espaços perivaginais. Os hematomas formados acima do plano do músculo elevador do anus são particularmente graves, podendo progredir até o espaço retroperitonial.

Trauma sobre o clitóris

Dentre as quedas, as mais graves são aquelas ocorridas sobre objetos pontiagudos (empalamento). A penetração destes pode dar-se através do hímen, rompendo o fundo do saco posterior, comprometer vísceras abdominais. O estupro determina, além do trauma psíquico, extensas lesões do genitais, de difícil reparação. Os acidentes automobilísticos, a par do traumatismo generalizado, com fraturas dos ossos da bacia, pode ocorrer lesões genitais e de outras vísceras pélvica.

Os traumas podem ser classificados em grupos, de acordo com a extensão das lesões:
I – laceração vulvo-perienal e himenal.
II – laceração vulvo-perineal e himenal com hematoma.
III – laceração vulvo-perineal, himenal e vaginal (paredes e fórnices)
IV – laceração de órgãos genitais e de órgãos vizinhos.

Nem sempre as queixas relatadas revelam a extensão das lesões. Assim, e hemorragia acentuada dor intensa no períneo podem corresponderá apenas a rotura de um vaso do grande lábio, com formação de hematoma. Por outro lado, o paciente portadora de lesões extensas da vagina e mesmo perfuração de intestino, pode apresentar-se, de início, em bom estado geral, praticamente sem dor ou hemorragia. Em nossa experiência, analisando 80 casos de trauma dos órgãos genitais ocorridos em menores de 16 anos, observamos que 50% das meninas não apresentam dor ou hemorragia. Estes sintomas distribuem ser igualmente pelos quatro grupos anteriormente citados.

Diagnóstico

A amnésia cuidadosa revelará o tempo decorrido entre o trauma e o atendimento, o tipo de acidente e os sintomas e feridos. Deverá ser pesquisada presença de hematúria e eventual comprometimento do estado geral.

O exame físico geral deverá ser minucioso.

O exame ginecológico será apenas superficial, no momento da admissão. É obrigatório, no entanto, exame detalhado dos órgãos genitais externos e internos, sob anestesia geral, independentemente do tipo da queixa. Geralmente as pacientes não informam bem a respeito do tipo de acidente e mesmo a verificação de que há apenas a vacinação dos genitais externos não dispensa o exame completo, feito sob anestesia geral. Deverá ser feita sondagem vesical para verificação da cor da urina, e para facilitar o exame; o toque retal tem por finalidade investigar a integridade do esfincter anal e da parede retal. A vaginoscopia poderá ser feita com colpovirgoscópio ou espetáculo de virgem.

A constatação de perfuração da vagina, na altura dos fórnices, obriga a realização de Laparotomia, principalmente o trauma for devida empalamento. Temos observado casos de pequenos pertuitos no fundo do saco posterior, ocasionados pela penetração de objetos pontiagudos, nos quais o mesentério e o intestino se encontravam lesados.

Tratamento

Havendo comprometimento grave de outros órgãos, como frequentemente acontece em acidentes automobilísticos, o exame e o tratamento da ferida genital serão realizados em um segundo tempo.

A investigação da exata extensão do trauma se faz por exames sob anestesia geral. Em seguida, procede-se ao tratamento adequado. Havendo apenas escoriações, faz-se seu curativo. Ocorrendo lacerações da vulva, períneo e vagina, efetua se a sutura, utilizando material delicados e fio de catgut 00 simples para recompor os tecidos. As lesões de bexiga são tratadas por sutura em dois planos, com catgut simples (na mucosa) e cromado e (muscular). Esfíncter anal e o reto extraperitonial podem ser suturados primária mente com fio mononylon 4-0, em dois planos.

Constatando se perfuração do fundo de saco, será indicada Laparotomia para investigação e tratamento de eventuais lesões internas. De acordo com nossa experiência, esta conduta é a mais aconselhável.

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Puberdade normal: a maturação sexual com seus problemas e conflitos

A seqüência de eventos que caracteriza a maturação da menina durante a puberdade é muito variável, mas vida de regra:

1. Uma das características mais notáveis da puberdade é a aceleração da velocidade de crescimento, cuja máxima velocidade em estatura é, em média, 10,3 centímetros por ano no menino e 9,0 centímetros por ano na menina.

2. O crescimento das mamas encabeça a seqüência do desenvolvimento da menina. Aparecimento do broto mamário, que começa com um “carocinho” dolorido que incomoda a menina indica que a criança está entrando na puberdade. É seguido pelo desenvolvimento dos pelos pubianos e por uma aceleração do crescimento. Em alguns casos pode acontecer o inverso: primeiro aparecem os pelos pubianos e depois as mamas.

Formação do broto mamário

Broto mamário

Broto mamário

3. É normal que as mamas cresçam de forma assimétrica, ou seja, uma cresça mais que a outra. Com o tempo elas acabam adquirindo o mesmo volume, forma e tamanho.

Desenvolvimento assimétrico normal das mamas

Desenvolvimento das mamas – vista lateral

Desenvolvimento das mamas – vista frontal

4. O que não pode acontecer é uma mama crescer e a outra nem iniciar o crescimento.

Amastria

Assimetria mamária

5. Caso isso aconteça com sua filha, é imprescindível que você procure ajuda de um profissional especializado. Não perca tempo esperando que a “natureza” dê jeito.

6. Aparecimento de um corrimento espesso, esbranquiçado e sem cheiro que a menina raramente percebe, mas que provoca um enorme susto nas mães. Esse corrimento é resultado do amadurecimento do canal vaginal e do útero que estão trocando suas células infantis por células maduras. Se a menina não faz uma boa higiene, pelo menos uma vez por dia, esse corrimento pode provocar assaduras doloridas e muito incômodas pois como é resultante de decomposição de células, ele tem caráter ácido e “queima” a pele da genitália de menina, além de aparecer mau cheiro.

Esfregaço vaginal de menina antes da puberdade

Esfregaço vaginal de menina durante a puberdade

Lesão (assadura) causada pela acidez da leucorréia fisiológica (corrimento)

7. Muitas vezes a menina começa a relatar prurido vulvar (coceira na genitália), mas geralmente essa coceira é produzida pelos primeiros pelos pubianos que, no início, são finos e crespos. Se “enrolam” e suas pontas acabam por penetrar por entre os lábios da vulva causando a coceira. Nesse caso, basta apenas a mãe ensinar à filha como fazer para cortá-los para acabar com a coceira (o difícil é justamente isso: a mãe perceber o problema e ter a coragem de instruir a filha).

Na figura acima vê-se uma a pubarca em menina de 10 anos. Repare os pelos finos que penetram no meato

Na figura acima vê-se uma sequência de imagens comparativas da evolução da pubarca (clique para ampliar)

8. Outra queixa constante e a “dor na barriga”, geralmente uma cólica em região do baixo ventre que incomoda a menina e também assusta as mães. A cólica nada mais é que o crescimento do corpo do útero em direção ao abdome e que empurra o mesentério produzindo a dor.

Desenho esquemático do desenvolvimento do útero, do nascimento à maturidade

9. A menina começa a alargar a pelve (quadris), criando a chamada “cinturinha”. O normal é a mulher ter a pelve (quadris) mais largos que os ombros. O alargamento da pelve é importante para uma futura gestação, pois uma pelve estreita dificulta a passagem do bebê na hora do nascimento e geralmente o parto acaba em cesariana

Desenho esquemático do alargamento da pelve

10. Além da pelve, começam a crescer o clitóris, os pequenos lábios (ninfas) e também os grandes lábios ficam mais largos e espessos.

11. A primeira menstruação ocorre cerca de um ano depois dos “estirões” de crescimento, coincidindo com a fase de desaceleração máxima do crescimento e, embora marque um estágio de amadurecimento uterino, não significa que a menina tenha atingido um estagio de função reprodutora completa, pois os ciclos iniciais são geralmente anovulatórios, havendo um período de esterilidade na adolescência que dura em média, um ano após a primeira menstruação.

12. Um dos sinais de que a primeira menstruação está próxima é a alteração de humor na menina que poucas semanas antes de menstruar pela primeira vez fica irritada com facilidade. Briga com todos e com tudo. Vive de mal com a vida. Sente enjôos, dores de cabeça e cólicas. O corrimento também aumenta. Algumas meninas chegam a ter desmaios e até convulsões (ataques iguais à epilepsia) poucos dias antes de menstruarem pela primeira vez, mas isso não é nada grave.

13. Outra coisa que deve ser ressaltada é o fato de a primeira menstruação não ser um sinal de que a menina está pronta para iniciar uma vida sexual ativa. Ela não tem ainda nem corpo e muito menos cabeça para uma relação sexual. Sua genitália ainda não tem a elasticidade e nem a maturidade necessária para uma penetração e caso ela tente iniciar um relacionamento sexual completo, pode acontecer desde um desajuste emocional, devido às fortes dores que, com certeza ela sentirá, até o aparecimento de fístula ano-vaginal, uma ruptura do assoalho posterior da vagina, comunicando-a com o reto e surgindo o doloroso e incômodo anus vaginal que consiste da saída de fezes pelo canal vaginal.

Ânus vaginal

Na figura acima observa-se o desenvolvimento físico:

  • à esquerda: infância
  • centro: durante a puberdade (na faixa de 13 anos)
  • à direita: a mulher adulta.

 

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Patologia mamária

Os aspectos mais importantes da patologia mamária na adolescência referências anomalias do desenvolvimento das mamas. Outras entidades patológicas, tais como inflamações, displasias e tumores são raros antes dos 16 anos.

O desenvolvimento mamário é um dos primeiros sinais da puberdade. Começa em torno dos 9 anos de idade e depende da ação de esteróides sexuais (estrogênios e progestogênios) e de outros hormônios: prolactina, somatotropina, tireoxina, insulina e corticóides.

Tanner divide o desenvolvimento mamar em cinco fases:
Primeira fase – elevação da papila, sem crescimento da aréola e do parênquima.
Segunda fase – aumento da aréola e início do crescimento do parênquima, sob a forma de “broto mamário”.
Terceira fase – aumento da pigmentação areolar e desenvolvimento do parênquima.
Quarta fase – elevação da aréola em placa, acima do parênquima; esboça se a conformação do órgão adulto, porém de pequenas proporções.
Quinta fase – a mama assume forma adulta, a papila se torna eréctil e aparecem as glândulas areolares.

Anomalias do desenvolvimento

Algumas formas clínicas de anomalias podem manifestar-se na puberdade.

1 – Amastia

É a ausência completa de uma ou de ambas as mamas, e constitui a anomalia rara. As estruturas vizinhas podem encontrar-se afetadas: os músculos peitorais, geralmente, estão ausentes.

Amastia

2 – Hipotrofia

Também denominada hipomastia, decorre de hipogonadismo ou de falta de resposta do parênquima mamária os esteróides sexuais. A hipotrofia é encontrada em casos de disgenesia gonádica e de maturação sexual tardia, mas encontra-se também no desenvolvimento mamário deficiente, sem origem conhecida. Se a causa da hipomastia é o hipogonadismo, o tratamento com estrogênios e progestogênios promove o crescimento das mamas. Quando o nível estrogênico normal, o resultado do tratamento hormonal não é satisfatório. Nestes casos, admite-se que os receptores hormonais a nível citoplasmático sejam em número insuficiente para permitir a ação estrogênica.

3 – hipertrofia

O crescimento súbito e exagerada das mamas na puberdade, é também denominado hipertrofia virginal (figuras 53 e 54). Nestes casos, haveria aumento da sensibilidade do parênquima a ação do estrogênio endógeno ou exógeno. Nesta última eventualidade, a hipertrofia é iatrogênica. Não é possível prever nem prevenir a hipertrofia mamária em virtude de sua instalação abrupta. Seu crescimento foi exagerado, de forma molestar a paciente, indica se a mamoplastia redutora. Esta operação deve ser realizada, de preferência, após 16 anos, época em que se completa desenvolvimento mamário.

Hipertrofia mamária: frente

Hipertrofia mamária: lateral

4 – Assimetria

O desenvolvimento desigual das mamas caracterizado por discreta assimetria é frequente, não se revestido de importância clínica. No entanto, se as mamas são, quanto ao volume, manifestamente desiguais entre si , trata-se de malformação.

Assimetria suspeita

Assimetria normal

Ao iniciar seu puberdade é comum o crescimento desigual das mamas, diz ódio que, em geral, se corrige espontaneamente. No entanto, a conduta expectante aconselhável, porque se assimetria vai se acentuando, torna-se necessário tratamento específico. Se a origem da simetria não for esclarecida, adota se terapêutica visando bloquear, parcialmente, a ação estrogênica. Pode-se administrar acetato de medroxiprogesterona na dose de 5 mg, por via oral, diariamente, verificando se periodicamente os resultados do tratamento. No caso de a assimetria já se encontrar instalada, a cirurgia plástica reparadora está indicada. Avalia-se, cuidadosamente, o volume de ambas as mamas, para verificar qual delas requer cuidados cirúrgicos: se a maior, que pode ser hipertrófica ou menor, que pode ser hipotrófica.

5 – Polimastia e politelia

Ao longo da linha mamária, pode ser encontrados:

a) formações globosas de parênquima mamário revestido por pele, constituindo a polimastia;

b) aréolas e papilas, em geral rudimentares, sem tecido mamários subjacente, caracterizando a politelia.

As mamas acessórias são encontradas mais frequentemente na região axilar, enquanto que nas aréolas e papilas acessórias aparecem, mais comumente, na fase anterior do tórax, logo abaixo do sítio normal de crescimento das mamas. O tratamento de ambas as formas de anomalia em questão é cirúrgico.

As acessórias desenvolvem-se acentuadamente durante a gravidez e podem apresentar inflamação secundária, razão pela qual se indica sua extirpação antes da fase de maturidade sexual.

 

Inflamações

Discrasias mamárias um mastopatias acompanhadas de alterações histológicas do parênquima mamário. Tais alterações têm caráter benigno, são comumente encontradas na fase de maturidade sexual, e atribuídas a distúrbios do metabolismo dos hormônios que influem no desenvolvimento das mamas. As formas clínicas caracterizadas pela adenose e pelo cistos são raramente encontrados na adolescência. Neste período, constata-se a existência de mastodínia pré-menstrual: as mamas se tornam túrgidas e dolorosas nos dias que precedem a menstruação. Do ponto de vista histológico, os fenômenos proliferativos são discretos e destituídos de importância. A turgidez se deve ao edema conseqüente a ação estrogênica. O tratamento da mastodínia será feito com administração de acetato de medroxiprogesterona e promazina, um comprimido diariamente, nos oito ou dez dias que antecedem o início da menstruação. No mesmo período de tempo, recomenda-se dieta pobre em sal, prescrevendo se diurético.

 

Tumores

Os tumores mamários são raros na adolescência e, quando aparecem, são em geral, fibroadenomas. estes tumores benignos se constituem de ductos e envolvidos por tecido conjuntivo. Seu crescimento depende da ação dos estrogênios. Apresentou-se sob a forma de nódulos bem delimitados, de consistência dura, relativamente móveis. A Propedêutica dos referidos tumores se completa com mastografia, e a terapêutica consiste na sua exérese. No ato cirúrgico, adota si incisão periareolar, a mais recomendável do ponto de vista estético.

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Maturação sexual tardia

Irmãs. A da direita aos 12 anos com desenvolvimento normal. A da esquerda, com 15 anos, puberdade tardia

Não se pode estabelecer, com um critério rígido, a idade limite para a ocorrência da maturação sexual. O psiquismo e os fatores ambientais exercem influência no aparecimento dos caracteres sexuais secundários. Em nosso meio, até os 14 anos, tais caracteres se tornam evidentes, estando em vias de completar seu desenvolvimento. Se até aquela idade, não se tiver esboçado maturação sexual, admite-se o diagnóstico de puberdade tardia (figura 27). O retardamento da maturação sexual se acompanha, em geral, da ausência da menarca.

Etiopatogenia

As causas da maturação sexual tardia quase sempre se relacionam com os de distúrbios do mecanismo neuro-endócrino que preside a fisiologia genital feminina. Em alguns casos, o retardo do desenvolvimento é atribuído a fator constitucional ou hereditário. Nesta circunstância, não se consegue identificar a causa da puberdade tardia, que pode estar presente em mais de um membro da mesma família.

Causas hipotalâmicas – os fatores ambientais e os estímulos emocionais se transmitem ao sistema glandular através do hipotálamo. Observações interessantes foram feitas em colégios, nos quais várias adolescentes, que viviam em regime de internato, apresentavam puberdade retardada. A causa deste distúrbio do desenvolvimento foi atribuída ao padrão de vida imposto às jovens, que permaneciam isolados do convívio social, privadas dos estímulos ambientais.

Influências nervosas sobre o hipotálamo podem determinar insuficiência do fator de liberação das gonadotrofinas hipofisárias. Conseqüência deste quadro neuro-endócrino é a síndrome de Kallman, caracterizada por hipodesenvolvimento genital, amenorréia e anosmia.

Causas hipofisárias – a adeno-hipófise secreta as gonadotrofinas. Causas funcionais e orgânicas podem determinar a insuficiência global ou insuficiência seletiva do órgão. Há insuficiência global, quando não somente os ovários, mas também outras glândulas (tireóide e adrenais) sofrem as conseqüências da falta de estimulação hipofisária, determinando o quadro de nanismo hipofisário. A insuficiência é seletiva, se falta apenas à secreção de gonadotrofinas, os ovários não são estimulados, configurando-se o quadro de eunucoidismo hipogonadotrófico.

Causas ovarianas – a disgenesia gonádica revela o desenvolvimento sexual deficiente em graus variados. Na síndrome de Turner, as gônadas são rudimentares, em fita”, e encontra-se anomalias cromossômicas. Outra causa ovariana da puberdade tardia é a falta de resposta gonadal à estimulação das gonadotrofinas: é a Síndrome de Savage. É menos expressiva que a de Turnner e a menina afetada não apresenta a “asa” no pescoço e seu psiquismo é normal, mas seu corpo também se desenvolve apenas até os 10 anos de idade. O mecanismo dessa síndrome está ligado aos ovários que podem ter falta de receptores para as gonadotrofinas em suas membranas, ou então a menina possui auto-anticorpos contra os receptores ovarianos de gonadotrofinas que se unem aos receptores, impedindo que as gonadotrofinas se liguem e produzam seu efeito. Nesse último caso é a dita Doença auto-imune, por ser produzida pela própria pessoa.O esgotamento precoce da massa folicular pode comprometer o desenvolvimento genital, e culminar com a amenorréia definitiva. A destruição dos ovários por tumores, por infecções e pela ação do rádio, e a castração cirúrgica, quando ocorrem na puberdade, levam a quadros de maturação sexual deficiente.

Outras causas – o eixo hipotálamo-hipófise-ovários relaciona-se, funcionalmente, com outras glândulas. Disfunções da tireóide, das adrenais, do pâncreas e do fígado, repercutem sobre as gônadas e, na adolescência, podem perturbar o desenvolvimento genital. Os estados orgânicos carenciais e os estados consuntivos determinados por doenças crônicas, entre as quais a tuberculose, afetam o sistema neuro-endócrino, ocasionando puberdade tardia.

Criança desnutrida. A carência de proteínas é um fator de atraso no crescimento, pois além das necessidades protéicas normais do organismo, o hormônio de crescimento é montado partindo-se do “desmonte” das proteínas e de sua remontagem com a configuração estereoquímica e com a seqüência de aminoácidos que o caracteriza e permite sua ação sobre o corpo.

Criança que dorme mal. Grande parte do hormônio do crescimento é produzido durante o sono e a criança que não tem hábitos saudáveis de sono, produz pequenas quantidades do hormônio e, por conseguinte, cresce menos.

Criança que passa frio. O frio é um dos grandes inimigos do crescimento, pois desacelera a divisão das células das cartilagens epifisais (células que ficam nas extremidades dos ossos longos e são responsáveis pelo crescimento do osso em comprimento, através da divisão celular).

Alterações enzimáticas: falha no mecanismo enzimático que converte o colesterol em seus produtos que vão desde a pregnenolona, passando pela testosterona no homem, até o estrogênio, na mulher.

Síndrome de Kallman: os fatores ambientais e os estímulos emocionais se transmitem ao sistema glandular através do hipotálamo. A Síndrome de Kallman, que é o nome dado à esse quadro de atraso no desenvolvimento, caracteriza-se pôr hipodesenvolvimento genital, amenorréia e anosmia.

Síndrome de Ulrich-Turnner: nesse caso, a menina tem os ovários rudimentares e não funcionantes, em forma de “fita”. Apresentam uma espécie de “asa” no pescoço, tecnicamente denominada de Ptirigium coli e crescem até a idade de aproximadamente 10 anos, estacionando o desenvolvimento físico e psíquico nesta idade, sendo impossível exigir dela, tarefas além daquelas possíveis de serem realizadas por uma menina de 10 anos, não importando se ela tenha 28 anos, 45 anos, ou mais.

Diagnóstico

Alguns aspectos da anamnese são importantes na avaliação do quadro clínico em questão: outros casos de puberdade tardia na família, detalhes sobre o parto que gerou a paciente, doenças que possam ter ocorrido na infância e ainda o comportamento da paciente em termos de vivacidade e aproveitamento nas atividades escolares. O exame físico geral e o exame ginecológico permitem avaliar o desenvolvimento somático, o estado nutritivo, o funcionamento dos diversos aparelhos e verificar se existe, ou não, esboço de telarca e de pubarca.

Os seguintes exames complementares podem ser realizados:

– Radiografia do crânio para diagnosticar tumores encefálicos e perfil da sela túrcica.

– Eletroencefalograma.

– Dosagem de gonadotrofinas hipofisárias.

– Dosagem de estrogênios.

– Dosagem de 17 KS e 17 OH.

– Colpocitologia hormonal.

– Ecografia pélvica e/ou laparoscopia.

– Biópsia de gônadas.

– Provas funcionais da tireóide e das adrenais.

– Provas de função hepática.

– Reação de Mantoux.

– Radiografia de mãos e punhos para determinação da idade óssea.

– Exames citogenético, pesquisa de cromatina sexual e determinação do cariótipo.

Provas Propedêuticas farmacológicas

Alguns testes hormonais podem ser realizados para colaborar na localização da causa da puberdade tardia:

– administração do fator hipotalâmico de liberação dos gonadotrofinas hipofisárias. Se ocorrer aumento das gonadotrofinas, a causa será hipotalâmica. Caso contrário, será hipofisária.

– Citrato de clomifeno por via oral, durante cinco dias. Se não ocorrer aumento de gonadotrofinas e de estrogênios, a casa será hipofisária.

– progesterona injetável via intramuscular durante três dias. Se não ocorrer menstruação, o nível estrogênico deverá ser nulo ou muito baixo.

Tratamento

As condições ambientais da adolescente devem ser especialmente cuidadas. Vida social, atividades esportivas e psicoterapia de apoio devem ser programadas. O tratamento de neoplasias encefálicas é da alçada do neurocirurgião.

Se a causa foi hipotalâmica, a estimulação deverá ser feita pela administração de clomifeno.

A estimulação hipofisárias pode ser feita pela administração cíclica de esteróides sexuais em pequenas doses, estabelecendo o “feedback” positivo.

O tratamento das síndromes de Turner e de Savage consiste na administração de estrogênios e de gestagênios, em ciclos hormonais que serão repetidos de modo permanente e tem a finalidade de concorrer para o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, prevenindo aparecimento precoce dos sinais característicos da síndrome climatérica.

As disfunções de outras glândulas serão tratadas pelo endocrinologista. Os estados carenciais e as doenças consuntivas, pelo clínico geral. O tratamento pelos estrogênios deve ser controlado pelas radiografias de mãos e punhos, visando o controle do crescimento.

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O exame ginecológico na criança e na adolescente

O exame ginecológico da criança e da adolescente obedece aos mesmos tempos daquele praticado na mulher adulta. Alguns aspectos especiais, porém, se fazem presentes e serão ressaltados aqui. Cumpre assinalar que nem sempre é possível completar o exame ginecológico na primeira consulta. É importante que o examinador compreenda o temor da paciente jovem com relação ao exame dos órgãos genitais. É preciso, de início, captar a confiança da cliente, aliviando sua tensão emocional, para completar o exame em consultas subseqüentes. Continue lendo

Maturação sexual precoce

É clássico o conceito de que os caracteres sexuais secundários começam a aparecer em torno dos 9 anos de idade, quando se admite ter início a puberdade. Sabe-se, no entanto, que do ponto de vista hormonal, o período de transição entre a infância e a puberdade surge antes, pela participação do eixo hipotálamo-hipofisário. Nos últimos anos da infância, as gonadotrofinas secretadas pela hipófise começam a agir sobre os ovários, determinando o crescimento desordenado dos folículos, que passam a produzir estrogênios. Estes hormônios atuam sobre o útero e sobre a mucosa vaginal, promovendo seu crescimento.

Lina Medina Menstruou aos 8 meses, engravidou antes dos 5 anos de idade e foi mãe com 5 anos e 8 meses

Lina Medina, aos 7 anos, com seu filho, Geraldo Medina, com um ano de idade, junto com o médico que fez o parto (cesariana)

Maturação sexual precoce, puberdade precoce ou precocidade sexual é o aparecimento dos caracteres sexuais secundários, acompanhados ou não de ovulação, no período da infância. Embora se admita que este período termine aos 9 anos, não deve causar grande preocupação o fato de os fenômenos puberais se manifestarem a partir dos 8 anos.

Alguns critérios podem ser admitidos para classificar a precocidade sexual:
1 – Aspectos neuro-endócrinos:
1.1 – Completa ou verdadeiro
1.2 – Incompleta ou pseudopuberdade precoce.
2- Quadro clínico e predominância de hormônios:
2.1 – Isossexual
2.2 – Heterossexual
3 – Agente causador:
3.1 – Idiopática ou constitucional
3.2 – Orgânica

Apresentamos a seguir, alguns aspectos de cada variedade:

1.1 – Completa ou verdadeira, se o sistema neuro-endócrino atinge a plenitude funcional e surge a ovulação. É quadro raro, tendo como exemplo clássico o caso da menina peruana Lina Medina que engravidou e deu à luz uma criança normal aos cinco anos de idade.

1.2 – Incompleta ou pseudopuberdade precoce, se aparecerem alguns sinais de amadurecimento, mas não ocorre ovulação.

2.1 – Isossexual, quando predomina o hormônio próprio do sexo oposto (androgênio) e o quadro clínico se caracteriza por sinais de virilização.

3.1 – Idiopática ou constitucional, na qual a causa determinante não foi encontrada.

3.2 – Orgânica, na qual se identifica a causa determinante.

As variedades de maturação sexual precoce mais encontradas na clínica são: incompleta, isossexual e idiopática


Telarca em criança de um ano e dez meses

Telarca em criança de dois anos e meio

Etiopatogenia

Na apreciação das causas da puberdade precoce, devem ser consideradas duas eventualidades: as variedades idiopática e orgânica. Para explicar a idiopática, invoca-se interferência do fator genético. Quanto à orgânica, a origem se encontra em qualquer dos setores participantes do eixo neuro-endócrino. Abordaremos, a seguir, as possíveis origens do quadro em questão.

Sistema nervoso central – as lesões intracranianas em desenvolvimento e as seqüelas de outras preexistentes agem sobre hipotálamo, como fator irritativo. Este órgão, afetado por condições patológicas instaladas em estruturas vizinhas, as quais se encontra intimamente ligado, perde a capacidade de controlar a adeno-hipófise. Esta passa a funcionar livremente e, produzindo gonadotrofinas, vai estimular os ovários e desencadear a precocidade sexual. Lesões pós-inflamatórias (seqüelas de encefalite), tumores intracranianos, hamartoma, hidrocefalia e traumas de parto, são referidos como causadores de maturação sexual precoce. Segundo o conceito de Ruf, lesões encefálicas no período perinatal ou na infância, destroem áreas nervosas que, no processo de recuperação, vem a ser ocupadas por neurônios adrenérgicos. Estes têm a capacidade de crescer em qualquer período da vida e, assim o fazendo, estimulam o eixo hipotálamo-hipofisário, ocasionando a precocidade sexual. Não somente as causas referidas, mas também os distúrbios psíquicos, podem antecipar o aparecimento da puberdade. Descrevem-se casos de oligofrenia associados à puberdade precoce.

Ovários – neoplasias funcionantes dos ovários, ocorrendo na infância, determinam a puberdade precoce. Tumor das células da granulosa e tecoma são neoplasias feminizantes que secretam estrogênios, determinando puberdade precoce isossexual. Se o tumor é masculinizante, como por exemplo, o arrenoblastoma, a puberdade precoce será heterossexual, pela predominância do hormônio heterólogo. Em casos excepcionais, outros tumores do ovário podem causar a maturação sexual precoce: coriopitelioma ectópico, disgerminoma e tumores embrionários.

Adrenais – nos casos de tumores e de hiperplasia adquirida da córtex da adrenal, ocorre precocidade heterossexual. Predomina o androgênio e aparecem sinais de virilização (figuras 22,23 e 24).

Câncer de adrenal: desenvolvimento do tórax e dos membros superiores da criança

Câncer de adrenal: aspecto dos membros inferiores. Mesma criança da figura anterior

Câncer de adrenal: aspecto da vulva. Mesma criança da figura anterior

Tireóide – do ponto de vista funcional, esta glândula está relacionada com os ovários. Encontram-se descritos casos de hipotireoidismo concomitantes a distúrbios do amadurecimento genital. Admite-se, nestes casos, a participação ativa do hipotálamo a qual, no entanto, ainda não se encontra bem esclarecida.

Outras origens

a) Iatrogênica: sinais de precocidade sexual podem decorrer de administração de drogas para o tratamento de outras entidades patológicas. Estrogênios, insulina e anabolizantes, têm determinado desenvolvimento de caracteres sexuais secundários em crianças.
b) síndrome de McCune Albright: osteíte fibrosa generalizada, acompanhada de hiperpigmentação cutânea e de maturação sexual precoce, constituem esta síndrome, descrita pela primeira vez em 1936. Embora lesões ósseas localizadas na base do crânio possam funcionar como fator irritativo do hipotálamo, não existe explicação convincente para os sinais da puberdade precoce que integram esta síndrome. Ademais, as radiografias do crânio nem sempre revelam osteíte fibrosa do crânio.
c) infecções crônicas: tuberculose, sífilis e toxoplasma podem comprometer as meninges e serem responsáveis pela maturação sexual precoce.

Diagnóstico

As manifestações de puberdade sexual precoce mais comumente encontradas são: telarca e pubarca e perda sanguínea genitais.

Puberdade precoce: telarca em menina de cinco anos

Pubarca. Mesmo caso da figura anterior

Aspecto da pelve. Mesmo caso da figura anterior

A anamnese deve ser feita cuidadosamente, dedicando especial atenção ao psiquismo da paciente e aos seus antecedentes familiares e pessoais. É importante apurar se outras pessoas da família apresentaram problema semelhante. Outro dado relevante relaciona-se com o tipo de parto que gerou a paciente: traumas obstétricos podem originar lesões nervosas, responsáveis pela precocidade sexual. O exame físico geral deve focalizar, especialmente, os diversos aparelhos e as glândulas de secreção interna.

Os seguintes exames complementares integram o roteiro propedêutico:
– Radiografia de crânio para diagnóstico de tumores encefálicos e verificar o perfil da cela túrcica.
– Eletroencefalograma.
– Dosagem de gonadotrofinas hipofisárias.
– Dosagem de estrogênios.
– Dosagem de 17 KS e 17 OH.
– Colpocitologia hormonal.
– Pregnosticon para detectar a produção de gonadotrofinas coriônicas.
– Ecografia da pelve.
– Pneumopelvigrafia e/ou laparoscopia.
– Biópsia do endométrio.
– Provas funcionais da tireóide das adrenais.
– Provas de função hepática.
– Reação de Mantoux.
– Reações e sorológicas para o diagnóstico de lues e de toxoplasmose.
– Radiografia de mãos e punhos para determinação da idade óssea.

Tratamento

Pacientes que apresentam puberdade precoce devem permanecer sob controle periódico. Seus pais devem ser instruídos no sentido de prestar assistência ao seu psiquismo de forma eficiente, porém, sem alarde. O aparecimento dos caracteres sexuais secundários causa defasagem entre os desenvolvimentos somático e psíquico. A mente infantil que, nestes casos, não acompanha o desenvolvimento físico, deve ser preservada de agravos.

Em todos os casos de maturação sexual precoce, é importante controlar-se o crescimento, pois a ação estrogênica pode ocasionar soldura precoce das epífises ósseas. No intuito de evitar a parada do crescimento, empregam-se recursos terapêuticos para bloquear a ação dos estrogênios. Kupperman e Epstein, em 1962, recomendaram acetato de medroxiprogesterona, via intramuscular na dose de 100 mg de 14 em 14 dias. É preferível a administração da mesma droga, via oral, na dose de 10 mg diariamente, em ciclos sucessivos de 20 dias, com intervalo de dez dias entre um ciclo e outro. O tempo de tratamento obedece à reação das pacientes, e o controle de crescimento deve ser feito de 90 e 90 dias, pela medida da altura e pela radiografia de mãos e punhos. O tratamento de lesões do sistema nervoso central fica a cargo do neurologista ou do neurocirurgião. Nos casos de tumores dos ovários e das adrenais, a conduta é imposta pelo achado cirúrgico. Se o tumor é encapsulado e a cavidade peritonial se encontra livre de metástases, executa se anexectomia unilateral, retirando-se a gônada comprometida. Seguem-se exames ginecológicos periódicos, reoperando-se a paciente em termos radicais, ao menor sinal de recidiva.

Em caso de hiperplasia das adrenais, a terapia pelos corticóides está indicada, por tempo indeterminado. Badbury recomenda começar com doses de 100 mg diários, até se normalizarem de os níveis de 17 KS urinários. Segue-se o tratamento de manutenção em doses a serem estipuladas para cada caso. O hormônio da tireóide será empregado para corrigir casos de hipotireoidismo.

Se a causa for iatrogênica, deve-se suspender a administração do agente causador. Tal medida susta o prosseguimento dos efeitos, mas não é possível reverter a pubarca e a telarca eventualmente instaladas. A síndrome de McCune Albright é de tratamento complexo, requerendo cuidados com o sistema ósseo, para prevenir deformidades decorrentes da osteíte fibrosa generalizada. A tuberculose, a sífilis e a toxoplasmose serão corrigidas pelos tratamentos específicos correspondentes

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Malformações

Neste tópico serão demonstradas malformações sem vínculo com o intersexo.

Considerando que o desenvolvimento dos órgãos genitais somente se completa na adolescência, algumas malformações são congênitas e outras decorrem de perturbações do desenvolvimento ocorridas naquele período.

Dentro de critério topográfico, as malformações podem ser encontradas nos órgãos genitais externos e nos órgãos genitais internos.

Ao final deste tópico, abordaremos a criptomenorréia, distúrbio de considerável importância clínica, o qual decorre de obstruções situadas em diversos níveis do canal vaginal.

1. Propedêutica

As malformações mais facilmente percebidas são as localizadas nos órgãos genitais externos. As crianças são trazidas à consulta por familiares, com a queixa de que algo de anormal foi observado. As malformações localizadas nos órgãos genitais internos somente são descobertas, em alguns casos, a partir da adolescência.Após serem colhidos os dados da anamnese, o exame físico geral e o exame ginecológico devem ser realizados. A vaginoscopia será feita, se possível.Os exames complementares mais utilizados para a elucidação diagnóstica são os seguintes:

1.1. Vaginograma: nos casos de agenesia parcial da vagina e do septo vaginal transverso

Vaginograma revelando septo vaginal transverso

1.2. Ecografia da pelve: para visualização dos órgãos genitais internos.
1.3. Laparoscopia e/ou pneumopelvigrafia: para visualização dos órgãos genitais internos (útero e ovário) quando a ecografia não for conclusiva.
1.4. Urografia excretora: com a finalidade de procurar anomalias do aparelho urinário.
1.5. Determinação do sexo genético (pesquisa da cromatina sexual e cariótipo): indicados nos casos suspeitos de estados
intersexuais.

Classificação das malformações

malformacoes2

I – Órgãos genitais externos

1.1 e 1.2 – A hipertrofia bilateral e a assimetria das ninfas, quando causam desconforto às suas portadoras, requerem tratamento cirúrgico que consiste na ressecção das partes excessivas. Em certos casos, pelo grau discreto com que se apresentam, não necessitam de tratamento.

Hiperplasia de pequenos lábios

Assimetria labial em criança

Assimetria labial em púbere (12 anos)

2.1 – O clitóris situa-se, normalmente, entre as extremidades superiores das ninfas. Em casos de agenesia do clitóris, aquelas extremidades se mantêm separadas e falta o órgão erógeno do trato genital (fig. 5).

Agenesia do clítoris

2.2 – A hipertrofia do clitóris pode consistir fenômeno isolado, não refletindo estado intersexual. Tratando-se de anomalia congênita, convém averiguar se a mãe da paciente ingeriu drogas de ação virilizante, durante a gestação. Outra causa a ser lembrada é hiperplasia congênita das adrenais. Se, pela hipertrofia, o clitóris chega a apresentar características de pênis rudimentar, cabe a ressecção cirúrgica parcial.

Hipertrofia do clítoris

Hipertrofia do clítoris em adolescente


3.1 – Epispádia é a abertura da uretra acima do nível normal. Este defeito pode estar associado à bifurcação do clitóris e a formação incompleta da porção distal da uretra. Pode acompanhar-se, ainda, de incontinência uretral. O tratamento cirúrgico desta malformação, por vezes complexo, é do domínio da urologia.

3.2 – Hipospádia é a abertura da uretra abaixo do nível normal. Esta anomalia é muito relacionada com o intersexo. Freqüentemente se acompanha de hipertrofia do clitóris e persistência do seio urogenital. Seu tratamento é cirúrgico e a técnica a ser empregada depende das condições locais.

4.1 – Os pólipos himenais, também denominados apêndices himenais, são pequenas formações mucosas, apensas ao hímen. Parecem maiores, proporcionalmente, nas recém-natas, devido ao edema generalizado dos órgãos genitais externos. Passado algum tempo e avaliadas suas verdadeiras proporções, estes apêndices, geralmente, revelam-se destituídos de importância clínica, dispensando tratamento.

Pólipos himenais

4.2 – A imperfuração himenal é anomalia importante pelas graves conseqüências que pode acarretar. Antes da menarca, retém a secreção mucosa e causa mucocolpos. Após a menarca, retém o sangue menstrual, causando a criptomenorréia, que será apre ciada no final deste tópico.

Himem imperfurado

Hímen imperfurado em criança

Hipertrofia do orifício himenal


5 – Pode faltar a abertura do ânus na posição correta (anus imperfurado), encontrando-se a abertura no vestíbulo vaginal ou no terço distal da parede posterior da vagina (fig. 9). Tais deformações devem ser corrigidas por cirurgia a ser praticada com o auxílio do proctologista. Uma das técnicas usadas é a transposição do anus para sua posição tópica e o fechamento, por planos, da parede vaginal posterior.

Anus-vaginal, causado ou por agenesia do ânus, ou por fístula ano-vaginal

II – Órgãos genitais internos
1.1.1 e 1.1.2 – a vagina pode apresentar septo transversal situado em qualquer altura de sua extensão. Este septo pode ser perfurado ou imperfurado. Na primeira hipótese, a anomalia Será descoberta em duas eventualidades: quando a paciente for submetida a vaginoscopia ou quando iniciar vida sexual e sentir obstáculo à penetração vaginal. Também na segunda hipótese, o diagnóstico será feito em duas circunstâncias: através da vaginoscopia ou quando se verificar retenção do sangue menstrual a montante, causando a criptomenorréia. O tratamento desta malformação consiste na ressecção do septo, seguida de sutura das bordas livres das paredes vaginais, no sentido Antero-posterior.

1.2 – O septo longitudinal da vagina divide o órgão em duas metades: direita e esquerda. Esta malformação é dificilmente descoberta na adolescência. É percebida no início da atividade sexual, quando o septo poderá se constituir em obstáculo ao coito. Outras vezes, somente se encontra o septo durante o trabalho de parto. A correção desta anomalia consiste na ressecção do septo junto às linhas de sua implantação.

1.3.1 e 1.3.2 – A agenesia vaginal (fig. 10) pode ser parcial ou total. A agenesia total se acompanha, geralmente, de agenesia uterina. Menarca retardada poderá levar a paciente ao consultório e a malformação acabará diagnosticada. Não raro, a anomalia somente é percebida ao início da atividade sexual. No caso de haver útero funcionante, instala-se a criptomenorréia. A agenesia parcial pode verificar-se nas metades proximal ou distal da vagina. Seu tratamento é cirúrgico, e consiste em debridamento, revestindo-se a cavidade com retalho de pele (técnica de Mclndoe).

Agenesia vaginal

2.1 – Atresia da cérvice determina obstrução do trato genital. Sua conseqüência, após a menarca, é a criptomenorréia. O tratamento indicado é o debridamento cirúrgico do acolamento.

2.2 – O útero pode faltar, na sua totalidade. A malformação é, em geral, acompanhada de agenesia de vagina.

2.3.1 – A falta de canalização dos ductos de Muller, no período da organogênese, determina que o corpo do útero se apresente rudimentar ou sólido. Esta anomalia se acompanha de atresia cervical e agenesia de vagina.

2.3.2 – Útero hipoplásico é o que apresenta colo e corpo do mesmo comprimento, ou seja, de proporções iguais entre si. O estado de hipoplasia uterina é, normalmente, fase transitória entre o útero infantil e o adulto. Se, no entanto, tais proporções se mantêm, o útero permanece pequeno. O tratamento desta malformação consiste na administração de estrogênio e progesterona, sendo recomendado o seguinte esquema: benzoato de estradiol, 1mg por via intramuscular, nos 10°, 15° e 20° dias do ciclo e progesterona 25mg intramuscular, nos 16° e 21° dias do ciclo, devendo o tratamento ser mantido por, no mínimo, um ano.

2.3.3, 2.3.4 e 2.3.5 – Os úteros unicórnios, arqueados e bicórnio, raramente são diagnosticados na adolescência. A correção do útero bicórnico é feita pela operação de Strassmann que, no entanto, não deve ser praticada durante o período de desenvolvimento, mas sim, no período de maturidade sexual.

Útero unicórnico

2.3.6 – O útero didelfo decore da permanência do tabique mediano por ocasião da soldura dos ductos de Muller. Pode ser encontradas duplicidade de corpo e de colo, e a vagina com septo longitudinal. O tratamento cirúrgico, realizado apenas na idade adulta, será determinado pelas características de cada caso.

Útero didelfo

Útero didelfo – aspecto cirúrgico

Criptomenorréia
Obstruções do canal genital impedem o escoamento do sangue menstrual acumulado após a menarca. Instala-se, então, a criptomenorréia ou pseudo-amenorréia. Imperfuração himenal, septo vaginal transverso imperfurado, agenesia vaginal com útero funcionante e atresia do canal cervical, são as malformações responsáveis pelo acúmulo do sangue menstrual. Suas conseqüências são: hematocolpo, hematométrio, hematossalpinge e hematoperitônio a sintomatologia se constitui de dor em cólica, de caráter periódico e engravescente; formação tumoral no hipogástrio e finalmente, abdome agudo hemorrágico. A anamnese revela ausência da menarca e dor abdominal. O abdome pode encontrar-se abaulado (fig. 11). Pelos exames dos genitais externos se constata imperfuração himenal. A vaginoscopia evidencia o septo vaginal e a atresia do canal cervical. O diagnóstico diferencial da criptomenorréia deve ser feito com gravidez tópica e com cisto ovariano. Nos casos de hematoperitônio, é comum a confusão diagnóstica com cistos de ovário torcidos, motivando indevida laparotomia exploratória de urgência. É importante atentar para o fato da paciente ainda não ter menstruado antes.

Abaulamento do abdome por criptomenorréia

O tratamento da criptomenorréia é cirúrgico, e deve ser feito inicialmente por via baixa, visando à drenagem do sangue acumulado (figura 12).

Drenagem do hematocolpo

Se o hímen é imperfurado, pratica-se a himenectomia por incisão cruciforme, com retirada econômica da parte central da membrana (figura 13). A agenesia vaginal, os septos transversais e a atresia da cérvice, devem ser inicialmente debridadas, para o escoamento do sangue. No pós-operatório imediato, prescrevem-se ocitócitos e antibióticos com a finalidade de auxiliar a involução uterina e prevenir infecção. Possivelmente será necessário um segundo tempo operatório, para garantir a permeabilidade do canal genital. Tal conduta será ditada após a interpretação dos resultados dos seguintes exames: colpovirgoscopia, vaginograma, laparotomia e/ou pneumopelvigrafia.

Aspecto final da himenectomia

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Inflamações genitais altas

Considera-se de localização alta, a inflamação dos órgãos genitais situados acima do óstio uterino, com comprometimento do peritônio pélvico. As inflamações genitais altas não são frequentes na infância e na adolescência, pois, a atividade sexual e os ciclos grávido-puerperais raramente ocorrem naquela as fases da vida feminina.

Etiopatogenia

Bactéria sépticas (estreptococus, estafilococus, colibacilos, proteus e pseudomonas), gonococos e bacilo de Koch, são agentes infecciosos causadores de infecção pélvica. Cada um deles tem sua via de acesso preferencial. As bactérias sépticas valem-se de soluções de continuidade dos epitélios de revestimento, propagando se pelas vias linfática e sanguínea. O gonococo caminha em superfície, e atinge os órgãos pélvicos, ultrapassando o istmo uterino, a partir da infecção da cérvice. A tuberculose genital localiza-se, preferencialmente, nas tubas e no peritônio pélvico, sendo de localização secundária; admite-se que os focos primário se situem nos pulmões ou no trato gastrointestinais, e que a propagação se faça por via sanguínea. Todo processo inflamatório apresenta três fases em sua evolução: aguda, subaguda e crônica.

Os casos mais graves de infecção séptica de adolescentes decorrem de ciclos grávido-puerperais. Partos realizados a domicílio e abortamentos praticados em condições precárias de assepsia, ocasionam a infecção. Partindo da decídua, as bactérias atingem o miométrio e para pagam-se as demais estruturas comprometendo o peritônio pélvico e toda a cavidade abdominal.

A gonococcia alta é mais rara na infância na adolescência, mas são descritos casos de ascensão do gonococo, que compromete preferencialmente os anexos.

A tuberculose genital tem evolução peculiar, não ocorrendo, em geral, a fase aguda no processo inflamatório. As tubas e o peritônio pélvico são comprometidos inicialmente,, e o endométrio é atingido em cerca de 50% dos casos.

Diagnóstico

As informações sépticas e gonocócicas, de um lado, e as tuberculosas de outro, tem características próprias, com referência a seus aspectos clínicos.

Inflamações sépticas e gonocócicas

A anamnese revelará a ocorrência de atividade sexual, e de abortamentos e partos recentes.

A fase aguda da inflamação é caracterizada por dor intensa no hipogástrio nas fossas e ilíacas. A temperatura corporal é elevada. Náuseas, vômitos e sudorese, podem acompanhar o quadro sintomático. À palpação do abdome há intensa reação dolorosa; a manobra de descompressão brusca é, quase sempre, positiva. Coleções purulentas e eventualmente formadas encontram-se na pelve e em localizações mais altas: goteira parieto-cólica, espaço subfrênico e bloqueadas por alças intestinais. O toque é dificultado pela reação dolorosa intensa. O exame especular revela a saída de sangue e / ou secreção purulenta pelo colo do útero. O exame físico geral é da maior importância para se ajuizar da gravidade do quadro. As faces de sofrimento e o aspecto das mucosas devem ser observadas. A diurese deve ser rigorosamente controlada.

Indicam-se os seguintes exames complementares:
– Hemograma.
– Hemossedimentação – para registro inicial e controle de tratamento.
– punção do fundo de saco de Douglas: se o toque revelar abscesso pélvico.
– cultura e antibiograma: o material pode ser colhido pela pulsão referido no item 3, ou, no decorrer de laparotomia, por ocasião da drenagem de abscessos situados no abdome.

Infecção tuberculosa

A sintomatologia não é característica. Algumas referências colhidas pela na anamnese poderão, no entanto, conduzir à suspeita diagnóstica: dor hipogástrica, febrícula vespertina, anorexia e emagrecimento, antecedentes pessoais ou familiares da doença, antibioticoterapia anterior sem resultado, ciclos hipooligomenorréicos ou amenorréia secundária. Pelo exame físico geral, pode-se constatar panículo adiposo escasso e temperatura corporal discretamente elevada. O exame do abdome pode revelardor à palpação profunda no hipogástrio e nas forças ilíacas. O abdome pode apresentar se difusamente aumentado de volume, dando a impressão de conter formação cística; tal se verifica na presença de ascite bloqueada por alças intestinais e pelo epicolon.

Recorre-se a exames complementares para confirmação da tuberculose genital:
– radiografia do tórax.
– reação de Mantoux.
– curetagem de prova: o material obtida destinado exame histopatológico e inoculação em cobaias.
– laparoscopia.
– Laparotomia exploratória e biópsia de lesões suspeitas.

Tratamento

As medidas terapêuticas às seria adotadas têm dupla finalidade: combater a infecção e promover a recuperação morfológica e funcional dos órgãos afetados. Este último aspecto é da maior importância, tendo em vista a idade das pacientes, as quais se deve assegurar a capacidade reprodutora. A atitude conservadora recomendável porém, nem sempre pode ser adotada, pois em certos casos, a infecção põe em risco a vida das pacientes

Necrose de útero. Aspecto externo

Necrose de útero. Aspecto interno

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Hemorragia uterina disfuncional

É freqüente ocorrência de menstruações profusas ou prolongadas, sem maior significado clínico, durante o primeiro ano subseqüente à menarca. No entanto, as perdas sanguíneas são, em certos casos, tão intensas, que afetam o estado geral da adolescente. Se não apresenta causa orgânica, tal distúrbio caracteriza a hemorragia uterina disfuncional. Este tipo de disfunção menstrual se apresenta sob duas formas clínicas: hipermenorragia e metrorragia. Continue lendo