Hemorragia uterina disfuncional

É freqüente ocorrência de menstruações profusas ou prolongadas, sem maior significado clínico, durante o primeiro ano subseqüente à menarca. No entanto, as perdas sanguíneas são, em certos casos, tão intensas, que afetam o estado geral da adolescente. Se não apresenta causa orgânica, tal distúrbio caracteriza a hemorragia uterina disfuncional. Este tipo de disfunção menstrual se apresenta sob duas formas clínicas: hipermenorragia e metrorragia.

Etiopatogenia

A labilidade psíquica é evidente na puberdade. As emoções desempenham papel importante ao influir no eixo hipotálamo-hipofisário. Embora ainda não seja um órgão funcionalmente maduro, o hipotálamo vai adquirindo a capacidade de desempenhar sua função cíclica. Em conseqüência, a adeno-hipófise secreta FSH e LH em níveis inadequados para, agindo sobre os ovários, determinar a ovulação. Assim, na puberdade, os ciclos são em geral anovulatórios e, freqüentemente, os níveis de estrogênios são baixos. Nos ovários, não se encontram os corpos lúteos, e os folículos crescem e maturam irregularmente. O útero é normalmente hipoplásico e o endométrio é, não raro, hipotrófico.

A puberdade é fase transitória, na qual a produção dos estrogênios não se faz dentro do ritmo necessário a determinar, pelo mecanismo do “feedback”, as ações estimuladoras e frenadoras sobre o hipotálamo. Acresce o fato de estar ausente a progesterona, hormônio de ação complementar indispensável na metabolização dos estrogênios. O déficit hormonal referido é a causa imediata das irregularidades menstruais que se verificam na adolescência.

Além dos fatores apontados, as disfunções do fígado, da tireóide e das adrenais, podem surgir na puberdade. Sendo inegável a interação funcional de todos os componentes do sistema glandular, o funcionamento de qualquer daquelas glândulas se reflete na secreção dos esteróides sexuais. Então, incluímos na etiopatologia da hemorragia uterina disfuncional, as perturbações funcionais das glândulas referidas.

Diagnóstico

Para o tratamento da hemorragia uterina disfuncional, é imperiosa a realização do exame ginecológico e do exame físico geral. Na puberdade, a hemorragia genital de causas orgânicas é mais rara do que na fase adulta; quase sempre as perdas sanguíneas excessivas têm causa hormonal. O toque retal, eventualmente feitos sob narcose, e a vaginoscopia, são imprescindíveis para a formulação do diagnóstico.

Alguns exames complementares são de utilidade.

Hemograma, coagulograma, contagem de plaquetas, tempo de sangramento, tempo de coagulação e mielograma, permitem fazer diagnóstico diferencial com as discrasias sanguíneas, tipo Verlhof e anemia aplástica, que podem se traduzir clinicamente por metrorragia na adolescência.

Provas funcionais do fígado, das adrenais e da tireóide, confirmam ou refutam a participação destas glândulas na disfunção menstrual.

Ecografia da pelve e/ou laparoscopia são de valor no diagnóstico de pequenos tumores anexiais funcionantes.

Certas entidades patológicas, quando ocorrem na puberdade, podem determinar sangramento genital: carúncula uretral, prolapso de uretra, vaginite aguda, sarcoma botróide, pólipo mucoso cervical e tumor feminizante do ovário.

Tratamento

Discretas perturbações do ritmo menstrual na puberdade, não requerem tratamento. Conduta expectante, acompanhada de orientação à adolescente, pode esclarecer o fenômeno fisiológico. Somente as perdas sanguíneas profusas ou continuadas, que prejudicam o estado geral da paciente, exigem tratamento. Este poderá ser de urgência, visando a estancar a hemorragia, ou de manutenção, para garantir a continuidade dos ciclos regulares.

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