Fármaco desenvolvido originalmente como hipnótico e sedativo no tratamento da insônia, distúrbios do sono, agitação psicomotora e ansiedade, mas por apresentar eficácia na redução do enjoo da gravidez, um efeito paradoxal, acabou tendo uso “off label” (tratamento do enjoo) em pouco tempo foi incluído nas bulas como indicação principal do fármaco, mas causando uma verdadeira tragédia com o nascimento de crianças portadoras de uma grave anomalia genética denominada focomelia, que consiste na ausência ou na hipotrofia (pequena formação), ou mesmo de vestígios de membros superiores e inferiores (braços e pernas).
Mecanismo de ação da Talidomida
A talidomida atua na angiogênese, na transcrição gênica e na função do proteossomo, mas interfere no mecanismo de formação dos apêndices locomotores na espécie humana, inibindo a formação deles.
O que deu errado na talidomida?
Após a descoberta, desenvolvimento, purificação, determinação de sua estrutura química e prováveis receptores ou sistemas envolvidos no efeito e antes de prosseguir para a etapa de ensaios farmacológicos clínicos com seres humanos, todo fármaco passa por um último e mais importante teste denominado ensaio de farmacogenética, onde é aplicado em roedores (camundongos swiss, ratos winstar ou maccoe, e porquinho da índia), coelhos (também um roedor, mas opcional, dependendo da natureza e estrutura química do fármaco) cães (beagles), porcos e macacos, até a terceira geração, ou seja, pais, filhos e netos para verificar se o candidato a fármaco não produz alterações cromossômicas ou genéticas e moleculares que gerem indivíduos anômalos ou sindrômico (em genética não existe doença, sendo este um termo proibido. O que existe são anomalias ou síndromes). Os ensaios de farmacogenética levam entre sete dez anos para serem concluídos, dependendo da indicação, do mecanismo de ação e do sítio alvo do composto que se pretende lançar como um fármaco comercial.
A talidomida passou apenas por ensaios de farmacogenética com roedores, que tem um mecanismo de desenvolvimento dos apêndice locomotores diferente dos seres humanos, não sendo observado a focomelia, que foi seu efeito mais cruel.
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