Retrocesso ao Darwinismo

Como Lister descobriu a assepsia, sem saber coisa alguma sobre estreptococos, e Lind curou o escorbuto sem conhecer a vitamina C, assim também Darwin fundou a genética, sem saber coisa alguma sobre o ADN.

Charles Robert Darwin (1809-82) passou cinco anos, desde o Natal de 1831, navegando pelos mares do sul a bordo do HMS Beagle, de 242 toneladas, 90 pés de comprimento, três mastros, o tamanho de iate de um dos mais modestos milionários. Uma vez que viajava com 73 passageiros, não deviam ter muito conforto. Ele navegou de Devon até o Rio, deu a volta no Cabo Horn e fez escala na Nova Zelândia e na Austrália, antes de passar pelo Cabo da Boa Esperança e voltar para casa, atravessando novamente o Atlântico Sul até o Brasil, antes de chegar a Famouth, no dia 2 de outubro de 1836 Em 16 de setembro de 1835 Darwin aportou nas ilhas Galápagos, na costa do Equador no oceano Pacifico, e lá ele viu a eternidade nos tentilhões.

Galápago é a palavra espanhola para tartaruga. Nas ilhas, Darwin encontrou tartarugas enormes, do tamanho de porcos de raça. Darwin explorou as 12 ilhas Galápagos durante um mês. Descobriu, entusiasmado, que os repteis. pássaros, peixes, insetos e plantas das ilhas eram um pouco diferentes dos que existiam no resto do mundo. Eram até diferentes de ilha para ilha. Os tentilhões tinham bicos curtos e fortes para quebrar as nozes, numa das ilhas. Em outra, onde não havia nozes, seu bicos eram mais delicados, próprios para apanhar insetos. Bicos longos para encontrar as larvas, em outra ainda. Os tentilhões viviam em função dos seus bicos, que haviam evoluído através de gerações e gerações para comer o que existia no lugar em que viviam. Darwin achou que devia haver alguma coisa nessa particularidade.

Quando desembarcou, Darwin recebeu uma herança de 5.000 libras por ano. Comprou uma casa enorme em Downe, Kent, além de Orpington (aberta à visitação, bom pub local). Nela passou 23 anos pensando nos tentilhões das Galápagos, antes de publicar A origem das espécies por meio da seleção natural, em 1859. Foi abalado pela ameaça inesperada de perder a glória de sua descoberta, surgida em junho, antes da publicação do seu livro, na pessoa de Alfred Russell Wallace (1822-1913), um naturalista que tivera a mesma idéia. Foi como Rosy e Watson.

A suspeita de que os animais e as plantas do mundo não eram réplicas idênticas dos originais criados na oficina celeste há muito tempo se esboçava na mente humana, desde a Babilônia (onde se interessavam pela variedade das crinas dos cavalos). Essas mentes incluíam as de Bacon, Buffon, Goethe, Lamarck, Herbert Spencer e Sir Charles Lyell. Lyell era um geólogo, que deu a Darwin a idéia de interpretar a continuação do presente por meio da evolução do passado. Idéias genéticas ocorreram também ao monge Gregor Johann Mendel (1822-84), da Morávia, que cruzou as variedades de ervilhas comuns,  plantadas por ele em Brno, em 1853, e que permaneceram invisíveis no ar científico até o fim do século. Ocorreu também ao avô de Darwin, Dr. Erasmus. Nesse meio tempo, Darwin havia casado com uma prima em primeiro grau, teve 10 filhos, dos quais sete sobreviveram, e finalmente foi vitimado pela hipocondria.

A afirmação de Darwin de que Sir Thomas Browne havia sugerido, no seu Religio Medici que o Genesis não era tão confiável quanto os horários das estradas de ferro vitorianas foi considerada uma afronta da ciência à Igreja. A discussão chegou ao auge em 30 de junho de 1860, entre os soluços e desmaios das senhoras, no Museu da Universidade, ao lado de Parks, em Oxford.

A Igreja tinha um caso. Todos sabiam que o mundo fora criado em 4004 a.C., às 9 horas da manha de domingo, 23 de outubro, como havia calculado uns dois séculos antes o arcebispo de Armagh e vice-chanceler da Universidade de Cambridge. Assim em quem acreditar? Em Darwin ou na palavra de Deus?

“Soapy Sam” Wilberforce, bispo de Oxford, saiu em campo para arrasar Darwin” na trigésima reunião anual da Associação Britânica para o Avanço da Ciência, convenientemente realizada na frente da casa episcopal. O bispo repudiou sarcasticamente um dos que duvidavam de modo hostil da Igreja: “Será através da sua avó ou do seu avô que o Sr. Huxley afirma descender dos macacos?” A vespa cientifica, com seu pince-nez, Dr. Thomas Henry Hudey (1825-95), replicou: “Certamente eu preferiria descender de um macaco do que de um homem que prostitui sua educação e sua eloquência à adoração do preconceito e da mentira.” Esse atrevimento era tão chocante quando jogar tinta nas meias do falecido Dr. Amold Rugby. Um dos detratores de Darwin na hora do chá, em Oxford, era o vice-almirante Robert Fitz Roy, ex-capitão do Beagle, que havia lido um artigo sobre “Tempestades britânicas” e agora brandia sua Bíblia com fúria violenta contra o antigo companheiro de bordo, e que cinco anos depois cortou a própria garganta.

O pensamento de Darwin continua conosco. As vítimas da anemia falciforme ultrapassavam em número os sobreviventes da malária. E hoje existem brancos e negros no planeta porque as pessoas com pele negra levam mais tempo para fabricar – através da luz do sol – a vitamina D nos seus organismos. A falta da vitamina D causa raquitismo e osteomalacia. Quando o homem deixou o sol equatorial para o norte frio, a procura de alimento, só os de pele branca sobreviveram e se multiplicaram tornando-se cada vez mais brancos. (Isso pode ser bobagem. As mulheres asiáticas, na Grã-Bretanha, ficam com os ossos quebradiços porque comem chapattis, que contém fitato, o qual evita a absorção da vitamina D. Mas isso também pode ser tolice. Assim são as alarmantes piadas da medicina.)

[Voltar]

Genes

A genética é uma matéria tão opaca e tediosa quanto a filosofia teológica, mas, como essa filosofa, contém o segredo da vida eterna.

  • A hereditariedade está nos cromossomos, entre fios de cabelos negros e muito crespos, obviamente vistos no microscópio, dentro do núcleo de cada célula.
  • Esses fios de cabelos em 44 pares de cromossomos, e dois mais, um cromossomo X mais um X, nas mulheres, e um cromossomo X mais um Y nos homens.
  • Todas as células de qualquer corpo tem o mesmo número de cromossomos idênticos, exceto as células sexuais, que têm mais a metade desse número. Quando esses cromossomos sexuais femininos e masculinos se encontram, depois do encontro do homem com a mulher, se o Y gosta mais do Y, eles têm um  menino, se gosta mais de um X, uma menina.
  • Os cromossomos consistem em genes.
  • Os genes são compostos de várias hélices de ADN de comprimentos diferentes. São grupos de muitos nucleotídeos, que são substâncias químicas constituídas de nitrogênio, açúcar pentose e fosfato. A ordem desses  nucleotídeos diferencia um gene do outro.
  • Os genes de cada pessoa são diferentes de todos os outros, exceto no caso de gêmeos idênticos,

O número de células no corpo e três, seguido por doze zeros, uma porção. O ADN em cada célula tem mais ou menos dois metros de comprimento. Se for desenrolado completamente, pode ir à Lua e voltar 8.000 vezes. É bastante fino. Os geneticistas gostam de dar essa  informação para mostrar a dificuldade do estudo que herdam.

Mesmo assim, a genética começa a estruturar um mapa chamado genoma, que mostra quais os genes que refletem várias doenças. Cada gene anormal, responsável por uma determinada doença, está sempre no mesmo lugar do seu cromossomo. Desse modo é possível identificar o gene que causa, por exemplo, a anemia falciforme em cada cromossomo examinado. Os entusiastas podem-se movimentar com uma seringa tirando amostras de sangue nos casamentos e nos funerais.

[Voltar]

A hélice dupla

Desde 1799, a cervejaria Green King, de Bury St. Edmunds, fornece cerveja Abbot aos  estudantes de graduação de Cambridge. Ela flui deliciosamente no Eagle Pub, em Botoph Lane, perto do Laboratório Cavendish e na frente da Escola de Medicina, na Down Street, onde os mais inteligentes costumavam almoçar. Para os estudantes de medicina, os físicos e químicos do Cavendish eram um grupo diferente, que teve uma das muitas especulações mundiais confirmadas pela descoberta da hélice dupla da molécula ADN.

A estrutura foi descrita em 1953 pelo americano James Dewey Watson (1928) e o inglês  Francis Harry Compton Crick (1916). A idéia não era nova, e data de 1519 Francisco I da França, um ano antes do seu encontro com Henrique VIII no Field of the Cloth of Gold, começou a construir o Château de Chambord. No meio da torre da casa da guarda há uma magnífica escada em espiral como duas hélices superpostas, que nunca se encontram. No centro há aberturas decorativas que permitem enxergar de  uma hélice para a outra. Pode ser vista nos dias de visita dos Châteaux do Loire. (Muscadet é excelente, e os rillettes de porceau berre Blanc.)

A escada dupla, em Cambridge, tinha no lado externo dois corrimões sinuosos de fosfato de sacarose, os degraus são compostos das bases adenina, tiamina, guanina e citosina, unidades me pares pelo hidrogênio, que representa o eixo central. A espiral é chamada ADN – ácido desoxirribonucléico. O ARN é o padrão para as proteínas que formam células do corpo, de desenhos variados, mas todas com escadas espirais de ADN.

A descoberta do esqueleto arquitetônico do ADN deu origem a um livro de suspense fascinante, leve, erudito, escrito por James Watson, no gênero de Dorothy Sayers, na época.

Os personagens são:

  • (1) O próprio. O intruso de Chicago nos aconchegos e esnobes claustros de Cambridge. Extremamente inteligente, ambicioso, impetuoso, intuitivo, encantadoramente gauche, sociável, com uma queda para viagens ao exterior.
  • (2) Francis Crick, de Mill Hill, em Londres, de fala rápida e sonora com uma risada trovejante, entendido em teorias sobre a estrutura da proteína, incentivado por Watson para continuar a investigar as idéias numerosas que nascem no seu cérebro. Recentemente casado pela primeira vez morando perto do único restaurante chinês de Cambridge.
  • (3) Maurice Hugh Frederick Walkins (1916), biofíco no King’s College, no Strand, Londres. Solteiro e cavalheiro inglês.
  • (4) Rosalind Franklin (1920-56) A Dama Negra dos cromossomos. Newnham, depois pesquisa do carvão. Especializou-se primeiro em metas e minerais. Usou essa técnica para investigar o ADN, independentemente. No laboratório Maurice Wilkins, do King’s, que aceitava mulheres cientistas com a intrigada obediência com que os fazendeiros, durante a guerra, recebiam as Moças de Land De uma família judia de banqueiros, ricos, morava elegante no bairro de South Ken e viajava para o exterior em terceira classe com pouco dinheiro, para conhecer o mundo, Solteira, não amada e, ao que parece ninguém gostava dela.
  • (5) Linus Carl Pauling (1901), professor de química no Instituto de Tecnologa da Califórnia, candidato ao premio Nobel, vitima de McCarthy, a ameaça invisível.

O enredo era a corrida para descobrir o mistério do ADN, que todos temiam fosse ganha pelo poderoso e rico americano Pauling. Há ciúmes fascinantes, duplicidades, conspirações, vaidades e atitudes teatrais. Watson odiava os vestidos de Rosalind Franklin e seu mau gosto de intelectual afetada, criticava seus penteados, sua maquiagem e a achava mal-humorada, intolerante e rabugenta. Insistia em chamá-la de “Rosy”, o que a deixava furiosa. No Cavendish ele se consolava dizendo que “o melhor lugar para uma feminista era no laboratório de outra pessoa”.

A descrição de uma visita de Watson ao Kings, no stand:

“De repente Rosy veio do outro lado do balco do laboratório, que nos separava, e caminhou para mim. Temendo que, na sua fúria me atacasse, eu… recuei rapidamente para a porta aberta.”

O assalto –  quem sabe, assassinato? – foi evitado pela cavalheiresca intervenção de Maurice Wilkins. Essa cena desagradável jamais teria acontecido entre médicos, embora um comunicado do presidente na sociedade Real de Medicina, em 1963, mencione troca de socos entre Sir Peter Freyer e Hurry Fenwick, devido a uma controvérsia sobre métodos de remoção da próstata.

 O professor de física de Cavendish era Sir William Lawrence Bragg (1890-1971), prêmio Nobel de física com sua cristalografa dos raios X 1915. Como qualquer chefe de laboratório, ele devia preferir uma vida calma às rusgas e entusiasmos dos assistentes mais novos, cujo trabalho, ele sabia por experiência, podia estremecer o mundo ou ser completamente sem valor.

 Porém, Sir Lawrence sentiu-se na obrigação de contribuir com um prefácio para o livro desdenhoso de Watson, A hélice dupla, no qual ele usa uma franqueza parecida com a do diarista Pepys. Evidentemente, ele era um mestre da atenuação solene.

 Watson venceu a corrida. Ou foi ejetado para o posto? A investigação dos cristais de ADN por meio dos raios X, feita por Rosy, começou a desembaraçar sua estrutura molecular, entre janeiro de 1951 e junho de 1952. No dia 6 de fevereiro de 1953, Wilkins (de modo pouco elegante) mostrou uma das radiografas de Rosy para Watson, que exclamou: “Veja, aqui está a hélice e aquela maldita mulher não a vê. Então, talvez Rosy tenha sido a primeira a descobrir a idéia reprodutora do século. Mas, no meio do entusiasmo, ninguém lembrou de perguntar. Ela nunca se conformou. Morreu de câncer na primavera de 1958, aos 37 anos. Trinta e quatro anos depois, a English Heritage resolveu por uma placa no seu apartamento.

 A Hélice Dupla foi brevemente proclamada por Watson e Crick num artigo de 900 palavras, na revista Nature, de abril de 1953. Porém, Crick havia anunciado: “Nós encontramos o segredo da vida!”  tomando sua cerveja Abbot, durante almoço no Eagle.

[Voltar]

Glândulas musicais

Robert James Graves, de Dublin (1796-1853), um homem de ação que foi preso na Áustria como espião e esmagou uma rebelião no Mediterrâneo, observou em 1835:

“Palpitações longas e violentas nas mulheres, todas com uma peculiaridade em comum, o aumento da gandula tireóide… os olhos assumem um aparência singular, pois parecem aumentados, de modo que quando ela dorme, ou tenta fechá-los, as pálpebras não se fecham.”

 Desse modo, ficamos conhecendo para sempre a doença de Graves, provocada por uma hiperatividade da tireóide.

 A gandula pruitaria, na base do cérebro, tornou-se, mais tarde, a regente da orquestra endócrina, um conjunto de sete instrumentos. Foi Harvey Williams Cushing (1869-1939), professor de cirurgia no Hospital Johns Hopkins e em Harvard, quem iniciou a orquestra. Ele começou identificando a pituitária em 1912, e descreveu a Síndrome de Cushing em 1932, na qual o doente apresenta o rosto redondo como a lua.

Thomas Addison (1795-1860), filho de um merceeiro, um homem rude que foi de Newcastle para a Guy’s, em Londres, em 1849, deu seu nome à anemia fatal sem causa conhecida, a “anemia perniciosa” Em 15 de março de 1855 ele descreveu para a Sociedade Médica do Sul de Londres uma segunda doença de Addison, uma disfunção das glândulas endócrinas supra-renais que provocava pigmentaçao da pele e risco de vida. Essa foi a overture não ouvida da orquestra endócrina. Addison teve a infelicidade, partilhada por outro homem de Guys, Thomas Hodgkins, de estar tão adiante do seu tempo que ninguém deu atenção ao seu estudo. Ele sofreu uma crise de melancolia e logo depois morreu, em Brighton.

 Em 1935, os médicos estavam equipados com injeções de fígado contra a anemia perniciosa. Em 1922, Sir Frederick Banting(1891-1941) e Charles Herbert Best (1899-1978) os armaram com insulina contra a diabetes. Eles podiam ainda usar como munição as vitaminas de Sir Gowland Hopkins, e tocaiar as doenças com as inoculações de Sir Almroth Wright.

 A medicina se desfazia lentamente dos seus valores vitorianos de dieta, evacuação regular, caldo de carne, descanso e silencio, um regime tão repousante que, para algumas mulheres, signifcava imobilidade durante três meses, deitadas na cama sem visitas jornais ou cartas, o único alivio sendo o realejo no fim da rua. Pacientes com mais sorte eram despachadas em viagens para lugares ensolarados, um modo conveniente para o médico se livrar delas.

 Até a segunda metade do século XX, a farmácia dos médicos continuou como um pente de balas vazio. Agora começavam a aparecer os armeiros. Hoje temos antibióticos eficazes, medicamentos contra pressão alta, contra arritmia, antieméticos, antidepressivos anticonvulsivos, esteróides contra artrite, broncodilatadores, diuréticos, cicatrizantes das úlceras estomacais e duodenais, medicamentos contra a doença de Parkinson e drogas citotóxicas contra o câncer. As leucemias da infância perderam seu terror, e algumas doenças selvagemente fatais como o seminoma dos testículos perderam seu caráter maligno. Vivemos mais tempo e melhor. O efeito desse avanço vitorioso é menos de júbilo universal do que a reclamação generalizada de nossos políticos no sentido de que vencer essa guerra significa a falência do Serviço Nacional de Saúde e o aumento do lucro das indústrias farmacêuticas.

[Voltar]

O começo da medicina

Os médicos aventuraram-se no século munidos de armas muito leves. Receitavam mercúrio para sífilis e tinha, digitalis para reforçar o coração, iodo para bócio, cólquico para a gota, cloral para os nervosos, um alcalóide de pomegranato para tênia ou solitária. A partir de 1867 passaram a ter nitrato de amil para angina, e foi Thomas Sydenham quem pela primeira vez receitou ferro para a anemia. Os livros grossos de medicina de 1900 são to precisos no que diz respeito ao diagnóstico quanto os de hoje, mas todos os capítulos são trágicos porque falta a eles o final feliz do tratamento eficaz.

 Claude Bernard (1813-78), filho do dono dos vinhedos de onde vinha o Beaujolais, quando era um jovem assistente de farmácia em Lyons escreveu uma comédia musical A rosa do Ródano – que foi um sucesso tão grande de bilheteria que ele se dedicou ao teatro e escreveu a peça em cinco atos, Artur da Bretanha, e a apresentou para a opinião do crítico parisiense Saint-Marc Girardin, que o aconselhou a estudar medicina.

 Bernard era um médico laboratorista, um pesquisador cuidadoso. “Tire sua imaginação, como tira seu casaco, quando entrar no laboratório, mas a retome novamente, como veste o casaco quando sai dele.” Em 1857 ele descobriu que o figado produz açúcar, independente do açúcar que o indivíduo ingere. Então os órgãos do nosso corpo não eram um ajuntamento diverso, cada um funcionando para destruir e expelir substâncias químicas ingeridas. Eles podiam criar suas substancias químicas, por meio das quais um órgão podia ajudar o outro. Bernard chamou a isso le milieu intérieur – o clima existente dentro de nós, como existe fora. Essa introspecção introduziu a endocrinologia na medicina.

 Claude Bernard  também destronou o estômago do seu posto de monarca da digestão e instalou o pâncreas como seu príncipe poderoso. Estudou a função pancreática implantando uma cânula num cachorro roubado, que escapou e voltou para o dono, um inspetor de policia. Os antivivisseccionistas de 1850 então discordaram da idéia de permitir que a inteligência excepcional e as idéias originais de Claude Bemard viessem a beneficiar a humanidade presente e futura. Felizmente, o inspetor de polícia ficou do lado dele. A mulher de Bemard também não o compreendia.

 Ivan Petrovich Pavlov (189-1936) era também um pesquisador muito hábil, cuja descoberta da salivação do cachorro ao ver ou farejar o alimento, ou até mesmo ao ouvir uma campanha deu o nome ao frequentemente adaptado “reflexo condicionado” de Pavlov. Contudo, a fama devia ser de Diderot, que escreveu em O sobrinho de Rameau, um século antes:

 “Ele tinha uma máscara igual ao rosto do Tratador das Focas, tarde pediu emprestado o amplo manto de um lacaio. Ele pôs a mascara no rosto. Vestiu o manto. Chamou o cão, o acariciou e deu a ele um biscoito. Então, mudando rapidamente de roupa, ele não era mais o Tratador das Focas, mas Bouret, e chamou o cão e o chicoteou. Com menos de dois ou três dias repetindo essa farsa, de manha à noite, o cão aprendeu a fugir de Bouret, o General-Fazendeiro, e a correr para Bouret, o Tratador das Focas.”

[Voltar]

A mulher médica

Muliebrity era uma necessidade tradicional no tratamento dos doentes. Para sua cura, sua função era mais duvidosa. Sir William Jenner (1815-98) – o médico que usou o burro mecânico para vaporizar ácido carbólico na axila da rainha Vitória, e espirrou o ácido no rosto dela durante a resplandescente meia-idade de Florence Nightingale dizia, choroso, que tinha só uma filha, mas preferia seguir seu enterro do que vê-la se tornar uma estudante de medicina. O próprio Lister criou objeções ao projeto de dar seu nome à nova cadeira de cirurgia em Glasgow: “Considerando as relações que a nova cadeira terá com o ensino das mulheres.” O resto dos profissionais da medicina necessariamente sensatos não concordou com a idéia de a morte ser preferível a aprender como evitá-la.

Elizabeth Blackwell (1821-1910), filha de um religioso refinador de açúcar, com uma família de nove filhos e quatro tias solteiras em Bristol, emigrou para Nova York quando tinha 11 anos. Aos 26, depois de ser rejeitada pela escola de Filadélfia e outras nos EUA, Elizabeth entrou para o Colégio de Medicina Genebra, NY. Formou-se como primeira da classe, estabelecendo um padrão de aplicação acadêmica que as estudantes de medicina se esforçam para superar. Sua primeira dificuldade foi encontrar moradia porque as donas das pensões negavam-se a alugar quartos para moças desacompanhadas. Em 1857, Elizabeth Blackwell fundou a Enfermaria Nova York para Mulheres Indigentes, dirigida por mulheres. Ela comandou as enfermeiras durante a Guerra Civil. Solteira, adotou uma órfã.

Elizabeth Garrett Anderson (1836-1917) foi a primeira dama da medicina britânica, e Sophia Jex-Blake (1840-1913), uma das primeiras escocesas (embora em Edimburgo as mulheres fossem segregadas na escola). Na I Guerra Mundial, mulheres médicas receberam patentes de oficiais do exército britânico, com divisas nos punhos, como os homens. Agora as estudantes de medicina Grã-Bretanha são em maior número do que os homens. E se as mulheres reclamam de discriminação em certas especialidades, como cirurgia, isso se deve à realidade biológica de que ser um cirurgião só precisa de alguns segundos para fazer um filho, mas as mulheres levam um pouco mais de tempo. A Igreja da Inglaterra, no momento, sofre de uma neurose ridícula em relação a mulheres sacerdotes; isso, sob o disfarce de argumentos teológicos, litúrgicos e sociais, expressa o temor bem fundado dos partidários de Sir William Jenner de que as mulheres podem tomar seu lugar.

[Voltar]

A testa febril

Três dos eixos centrais da medicina não era médicos. Charles Darwin era um naturalista navegador, Luís Pasteur era um químico industrial e Florence Nightingale era enfermeira.

Florence Nightingale (1820-1910) e lendária pelos motivos errados. Até a lâmpada está da Dama está errada, iluminando hora a antiga nota de 10 libras, hora a faixa de pedestres na rua da porta do culto clube Ateneu, para cavalheiros, em Pall Mall. Ao longo de seis quilômetros e meio de corredores que compunham as enfermarias de Scutari, ela balançava uma lâmpada de plano do exército turco, enrugada como uma lanterna chinesa, com uma vela de luz amarelada na base. Como a outra mão ela segurava as três essências da política: saber o que queria saber, saber quem podia dar a informação e saber quanto teria de esperar por ela. Podia ter governado o país tão bem quanto Lord Palmerson, se não tivesse ido diretamente para a cama, quando voltou da Crimeia,  de onde não levantou durante 50 anos. Florence Nightingale tinha muitas outras peculiaridades, como bater irritantemente as tampas abertas das privadas.

Quando foi posto em andamento o destino de Churchill como Primeiro Lord do Almirantado, em 1911, Forence Nightingale foi lançada pela Instituição para cuidar de senhoras Respeitáveis em Circunstâncias Desafortunadas, Harley Street, nº 1, um ano antes da Guerra da Criméia. Ela era a superintendente, com o toque de Branca de Neve entre os Sete Anões. Imediatamente despediu o médico residente, passou a encomendar os mantimentos por atacado do Fortnum e os vegetais, por sacos, do Covent Garden; fazia ela própria a geléia, instalou elevadores para alimentos, água quente e campainhas para as pacientes, matou os ratos, os camundongos e outros parasitas e eliminou o perigo das explosões de gás. Em seis meses Florence Nightingale diminuiu pela metade o preço da estada das senhoras internadas. Ela sabia como conseguir o que queria: “Se um conserto não for feito, eu acampo com minhas 12 pacientes no meio da Praça Cavendish e deixo que a polícia e o comitê venham me prender como desocupada.”

Ela só podia ser inglesa. Os Nightingale, de Embley House, em Hampshire, eram viajantes elegantes (Florence nasceu em Florença, podia se chamar Rimini), e da alta sociedade de Londres (metade de um andar do Hotel Carlton, na temporada, duas filhas apresentadas à corte). Florence Nightingale conhecia Sidney Herbert, o Secretário na guerra (não da guerra, ele tomava conta dos livros). Uma vigorosa atividade política conseguiu do gabinete de Lord Aberdeen o voto unânime para sua promoção de Harley Street para superintendente do Estabelecimento de Enfermagem feminina do Hospital Geral Inglês, na Turquia, e dentro de uma semana ela partiu de Dover com 40 enfermeiras.

Florence Nightingale reorganizou imediatamente o hospital que fora criado pelo exército, simplesmente pintando de branco as paredes internas do quartel Selinie, em Scutari. É um prédio enorme, com quatro torres, uma em cada canto, que pode ser visto de Istambul, no outro lado do Bósforo (a paklava doce turca é deliciosa, e o raki é uma variação do gim tônica). Florence Nightingale cintilou intensamente, destacando— se do resto da guerra, que nada tinha de organizada. Em seguida, organizou os uniformes e a alimentação do exército britânico local, gastando nos bazares de Constantinopla as 30.000 libras concedidas pelo Times, depois de ter organizado o embaixador britânico, que havia planejado construir uma igreja protestante com esse dinheiro.

Quando a dor angústia  franziam a testa, Florence Nightingale tinha coisas mais importantes para fazer do que ser um anjo de bondade. Estava sempre organizando o enterro dos pacientes — bem como suas cartas para casa —, mas deixava o trabalho para as enfermeiras sujas. Para ela, eram mulheres “velhas demais, fracas demais, bêbadas demais, sujas demais, calejadas demais ou incapazes de fazer qualquer outra coisa”. As suas enfermeiras haviam embarcado com ela, em Dover, para o inimaginável, por 12 shilings por semana, mais um quarto de litro de cerveja no almoço e um copo de Marsala no jantar. Três anos depois da guerra da Crimeia, as ordens de Florence Nightingale para elas apareceram em Notas de Enfermagem, um pequeno volume que trazia na conta capa da segunda edição de 1895 os os nomes dos dois outros livros, igualmente práticos, Pig-skiing or Hog-Hunting, do capitão Baden Powell, Cricket, Jerkes in from short Leg, de Quid, e as conveniências da estrada de ferro de Bailey parea homens e mulheres.

  • Não faça do seu quarto de doente uma corrente de ar para toda a casa.
  • Comparações estatísticas absurdas são feitas na conversa comum pelas pessoas mais sensatas para benefício do doente.
  • As médias de mortalidade só nos dizem que tentos por cento vão morrer. A observação deve nos dizer quais desses cem vão morrer.
  • Ajude o doente à variar seus pensamentos.
  • Os pacientes não gostam de enfermeiras que usam roupas farfalhantes. Sobre esse assunto, Florence Nightingale acrescenta:
  • Eu gostaria também que as pessoas que usam tecidos transparentes pudessem ver a indecência dos próprios vestidos como os outros os vêem. Uma mulher respeitável. inclinando-se para a frente, vestida com esse tipo de tecido, se expõe tanto para o paciente deitado quanto qualquer dançarina da ópera no palco. Mas ninguém amais dirá a ela essa verdade desagradável.

A luz do gênio é percebida em lampejos. Ela escreveu também Notas sobre Enfermagem para as Classes Trabalhadoras.

Na cama, em South Street, Mayfair, Florence Nightingale organizou o Departamento Médico do Exército, a Escola Nightingale para Enfermeiras, no Hospital St. Thomas, e o serviço sanitário da Índia. Recebeu visitantes da sala do Gabinete das nossas embaixadas, dos palácios episcopais e do Palácio de Buckingham com a ordem do Mérito, pouco antes da sua morte. Um dos visitantes era de Oxford.

“Primeiro venho eu: meu nome é Jowett.

Não há nenhum conhecimento que eu não saiba.

Sou mestre desse colégio.

O que eu não sei não é conhecimento”

O qual queria levá-la para Balliol e casar com ela.

Há alguns anos escrevi um romance no qual indico que Florence Nightingale, por suas declarações quando tinha 41 (“Acredito que eu sou como um homem… Minha experiência com as mulheres é quase tão grande quanto a Europa. E bastante íntima também. Eu vivi e dormi na mesma cama com condessas inglesas e moças prussianas do campo.. Nenhuma mulher despertou mais paixão entre as mulheres do que eu”) era lésbica. Essa denúncia tornou-se um brinquedo popular no play-ground da literatura. O lesbianismo é tão irrelevante para uma pessoa com as qualidades de Florence Nightingale quanto a sensibilidade a correntes de ar. Para ela, teve uma vantagem. Impediu que casasse com Jowett.

[Voltar]

Uma peça antiga

Entre o discreto estalar das elegantes poltronas de couro, o tilintar do cristal, o suave farfalhar do Times nos clubes masculinos de Pall Mall, estão estranhas peças antigas que nem os membros mais antigos sabem identificar.  A banqueta forrada de veludo com borlas, para a gota, debaixo da confortável poltrona do clube, permitia o dedo grande do pé, enfaixado e tão sensível que o zumbido de uma mosca era antecipado com alarme, ser mantido abençoadamente na horizontal.

Muitas doenças têm clubes, com endereços e telefones, desde os Alcoólatras Anônimos e Tratamento da Artrite até as Doenças Venéreas. Algumas doenças crônicas se transformaram em clubes informais, uma camaradagem entre os membros para compensar o triste fato de não haver tratamento para elas. No começo do século XX os sanatórios para tuberculosos, nos Alpes suíços ofereciam a camaradagem do refeitório militar durante a guerra, com um índice de mortalidade bastante inquietante. A gota era doença própria dos clubes de cavalheiros. Suas vítimas, homens claudicantes, com o pé enfaixado, de muletas, gordos, corados, mal-humorados imponentes, inflamavam a imaginação de Gillray, Rowlandson de todos os cartunistas, como as juntas dos seus próprios dedos grandes do pé.

Era uma zombaria mal orientada. Sir Thomas Browne descobriu, em meados do século XVII, que: ” quantos homens famosos, imperadores e pessoas cultas são exemplos dessa doença, provando que não é uma doença de todos, mas de homens sensatos e de valor. “

Seis admiráveis vítimas dessa doença histórica:

  • Byron. (” A gota, que enferruja as juntas aristocráticas “..)
  • W. S. Gilbert. (“um gosto pela bebida combinado com gota o havia curvado para sempre. “)
  • Jaroslav Hasek. O bom soldado Svejk. (“O coronel se transfomou depois de um ataque de gota, de um cordeiro pacifico num tigre feroz… ele rugia com a voz terrível de um homem assado lentamento num espeto: “Saiam todos” Tragam-me um revolver!”)
  • Sydney Smith, humorista. (observo que a gota ama ancestrais e genealogia. São necessárias cinco ou seis gerações de cavalheiros ou nobres para dar a ela a força máxima.”)
  • James Thomson, poeta, (“A gota insone aqui conta os cantos dos galos, um lobo agora o mastiga, agora uma serpente o pica.”)
  • Antony Trollope. (“Velhos cav alheiros geralmente são mal-humorados. A gota e aquela outra coisa, vocês sabem”.)

A gota é sem dúvida uma doença dos literatos.

Havia gota nos esqueletos do ano 3 dC, nos Costwolds. Os romanos engoliam a propensão para a gota com o chumbo dos seus copos de vinho. “Os pobres raramente têm gota”, observava o The Heaven of Health, em 1584. Isso porque os pobres viviam de pão de cevada e queijo, ao passo que a classe dos gotosos comia proteína, que contribui para a doença. O vinho do porto acendia o pavio.

Thomas Sydenham (1624-89) escreveu Tratado sobre a gota, em 1863, onde diz: “A vítima vai para a cama e dorme com boa saúde. Mais ou menos às duas da manhã é acordada por uma dor forte no dedo grande do pé.. é tão acentuada a sensibilidade da parte afetada que não suporta o peso das cobertas nem a vibração de passos no chão do quarto. A noite é passada em tortura e insônia…” O médico escreveu com tanta percepção clínica porque sofria horrivelmente de gota também.

Sydenham, de Wynford Eagle, em Dorset, descreveu graficamente todas as doenças. A coréia de Sydenham, “a dança de São Vito”, nas crianças infectadas por streptpcocos, foi um dos seus originais. Ele notou a diferença entre o sarampo e a escarlatina. “O sarampo geralmente ataca crianças… inquietação, sede, falta de apetite, língua esbranquiçada (mas não seca)… e no quarto dia aparecem no rosto e na testa pequenas manchas vermelhas, como picadas de mosquitos”.

Língua esbranquiçada? Talvez Sydenham tenha notado também os pontos brancos na boca, que permitem um diagnóstico precoce dois séculos antes de Henry Kople (1858-1927), do Hospital Monte Sinai, em Nova York.

Sydenham é chamado de “Hipócrates inglês”, porque ele eliminou as teorias, o misticismo e a magia que infestavam a medicina daquele tempo, Reviveu a idéia de Hipócrates de tratar o paciente na própria cama, por causa do que ele viae o que sabia. Ele preferia Dom Quixote aos livros de medicina. Além disso, possuía o supremo dom clinico de reconhecer quando podia fazer o melhor possível por um paciente e para sua reputação simplesmente não fazendo coisa alguma.

Seu ardente pupilo foi o médico-pirata Thomas Dover, que contraiu varíola e tratou a febre com o método de Sydenham de quarto frio, ar fresco, nada de cobertas e doze garrafas de cerveja fraca a cada 24 horas, Ele distribuía ópio para todos, temperado com açafrão, canela e cravo. Sydenham era modesto, impassível, distante, compassivamente prestando contas a Deus por seus pacientes. Fora um dos capitães de cavalaria de Cromwell e tinha uma das admiráveis qualidades de Cromwell, a de farejar a merda no vento da história.

Depois de Sydenham, a política externa da Grã-Bretanha estabeleceu oficialmente a gota com o Tratado Methuen, de 1703. O objetivo era atrair os portugueses para fora da França, estabelecendo um imposto de sete libras por 253 galões de vinho do porto contra 55 libras por 253 galões de clarete. Os cavalheiros ingleses podiam agora tomar garrafas de vinho do porto a noite, uma vez que não tinham nada para fazer depois de ler o último volume de Pamela, exceto conversar à mesa do jantar até desaparecerem debaixo dela.

Com a louvável igualdade social da nossa era, a gota agora é acessível a seis entre 1.000 britânicos.

O Tratado Methuen foi anulado em 1835.

[Voltar]

O diagnóstico é tudo

Os médicos da era vitoriana eram brilhantes na identificação de todas as doenças cuja cura eles desconheciam por completo.

  • Percussão. o musical Leopold Auenbrugger a (1722-1809), filho do taverneiro de Graz, aplicou a forma de verificação da quantidade de vinho nos barris do pai – batendo na madeira com as pontas dos dedos – para descobrir a existência de fluidos no peito dos pacientes. Os médicos vienenses consideraram o método ultrajante e sem dignidade. Jan Nicholas Corvisart (1755-1821), médico de Napoleão, achou explêndida a ideia e em 1808 a espalhou por toda Paris – como Sir Samuel Wilks, honradamente dando crédito ao seu autor.
  • Ausculação. Para ouvir o coração e os pulmões, todos os médicos, desde Hipócrates, encostavam o ouvido no peito do paciente. Esse método foi descrito por René Theophile Hyacinthe somente ineficaz, mas Laennec (1781-1826) como “não somente ineficaz, mas inconveniente, indelicado e, nos hospitais, até mesmo desagradável”. Muitos médicos pousavam a cabeça sobre colos suaves e adormeciam. Assim, em 1816 Paris produziu outro auxiliar do diagnóstico quando Laennec atendeu uma jovem de seios tão avantajados que ele impulsivamente enrolou uma folha de papel, ouviu de uma distância decente e inventou o estetoscópio. O primeiro era um rolo oco de madeira, passou para uma corneta acústica e depois para o conhecido estetoscópio para os dois ouvidos, equivalente à bengala do cabo oco de ouro.
  • O pulso. Era difícil medir a pulsação antes de surgirem os ponteiros de segundos dos relógios de bolso. O estudante de medicina Galileu (1564-1613) meda seu pendulo pelas batidas de seu coração, depois inteligentemente inverteu a idéia,  passando a medir o pulso pelo movimento do pêndulo. Um professor de Pádua, Sanctorius Sanctorius (1561-1636), em 1625 inventou o pusilógio, um relógio de pulso que depois de dois séculos foi aperfeiçoado em Lichfield por Sir John Foyer (169-1734, passando a marcar os minutos sanctorius passou grande parte da vida sentado numa máquina de pesar para ver quanto peso ganhava com cada refeição, antecipando a ciência do metabolismo do século XX e a obsessão em perder peso.
  • A temperatura. Galileu havia inventado um termômetro sanctorius o aperfeiçoou para set usado em seres humanos, mas tinha 33 centímetros de comprimento e precisava ser chupado durante 20 minutos. O estudioso Sir Thomas Cifford Albutt (1836-1925), o original Dr. Lydgate de George Eliot em Middlemarch, o reduziu a algo que as enfermeiras podiam guardar no bolso. Carl Reinhold Augustwunderlich (1815-1877), de Württemberg, inventou o gráfico da temperatura e, em 1868, compreendeu que a elevação da temperatura do corpo humano que ele registrava não era, necessariamente, como se pensava na época, uma doença. “Ele encontrou a febre como uma doença e a deixou como um sintoma”

Benjamin Rush (1745-1813), o Hipócrates da Pensilvânia, um quacre contrário à guerra, escravatura, aos enforcamentos e ao álcool (atitude muito boa para sua clínica, foi signatário da Declaração da Independência e declamou: “A medicina é minha esposa e a ciência minha amante” (Não acho que essa violação do sétimo mandamento seja lisonjeira para a dona dos seus afetos”, comentou Sir Oliver Wendell Holmes, de Boston) Rush descobriu que a inflamação era o efeito da doença, e não a causa. Wunderlich e Rush tiveram uma visão bastante clara da infecção, antes que a microbiologia prática no fim do século XX a tornasse tão pouco notável quanto uma fotografia.

  • Raios X. Wilhelm Konrad Roentgen (1815-1922), professor de física em Würzburg, na Bavária, trabalhando até mais tarde numa noite de sexta-feira, 8 de novembro de 1895, notou que alguns cristais distantes iluminavam-se no laboratório escuro quando a eletricidade passava pelo tubo de vácuo que ele estava usando dentro de uma proteção de papelão. Ele afastou mais os cristais do tubo. Novamente se acenderam. Pôs um livro entre eles e a corrente elétrica. Um pedaço de madeira. Depois, placas de metal. Continuaram a brilhar Pôs a mão no meio. Mein Gott! seus ossos ficaram visíveis. Ganhou o prêmio Nobel em 1901. Roentgen era um homem simples, triste, sonhador e modesto que detetava a publicidade, e deu as 5o.ooo kroner do prémio Nobel para sua universidade, recusou chamar os raios de Roentgen e a explorá-los comercialmente, disse a todo mundo que o Kaiser ia perder a guerra e morreu sozinho e na pobreza.

Pierre Curie (1859-1906) sua mulher polonesa, ex-governanta de crianças Marie Sklodowska Curie (em 1867-1934), descobriram o rádio em 1897. Pierre fui atropelado em Paris, e Marie morrer de anemia causada por exposição ao norte.

[Voltar]

Pompa e triste circunstância

A bengala de cabo de ouro, de 1827, é a biografia indiscreta de uma bengala com brasão de armas usada sucessivamente por cinco médicos da moda, depois de 1689. Primeiro foi John Radcliffe (1650-1714), que deu a Oxford a Câmera Radcliffe, a Biblioteca Radcliffe e a Enfermaria Radcliffe. Era médico de Guilherme III, que era impaciente, rabugento, bebia muito e devorava as raras ervilhas verdes sem oferecer nenhuma rainha. Não era fácil tratar o rei. Para sangrá-lo, o médico precisava de autorização do Conselho Privado, o arrogante Radcliffe teve uma desavença com Sir Godfrey Kneller por causa de uma porta de jardim usada pelos dois. “Sir Godfrey pode fazer o que quiser com a porta, exceto pintá-la.” Ao que o artista respondeu, através do seu cavalariço “Diga ao doutor Radcliffe que posso aceitar qualquer coisa dele, menos cuidados médicos.” Muito bem, comentaram rindo os freqüentadores de Taverna em Fleet Street, onde Radcliffe despendia generosamente parte das 5.000 libras que ganhava por ano (mais tarde, Sir Godfrey pintou a cena).

O guinéu chegou com a restauração, arredondando os honorários dos médicos, pagos pelos nobres, em 6s8d (está assim no livro). Embora só tivesse sido cunhado depois de 1813, o guinéu continuou como a elegante unidade monetária dos médicos até a divisão decimal do dinheiro, em 1971. As despesas de viagem por carruagem eram extras. A consulta de um médico de Londres em Pitlochry custava 1.500 guinéus. Quando tinha 60 anos, Radcliffe se apaixonou e foi alvo de charges na imprensa Quando a rainha Anne morreu ele estava com gota, e o Parlamento o culpou por não atendê-la, mas Radcliffe se desculpou devidamente, morrendo três meses depois.

“Nunca li Hipócrates em toda a minha vida” disse Radcliffe secamente para um jovem médico que perguntou se ele lia

Hipócrates em grego O senhor não precisa”, disse imediatamento jovem. “O senhor é o próprio Hipócrates” Assim, Richard Mead (1673-1754) providenciou para ser herdeiro da clinica e da bengala com cabo de ouro de Radcliffe. Mead começou a curar as pessoas pelo correio escrevendo receitas por meio guinéu, na Coffee House em Covent Garden, sem se dar ao trabalho de ver os pacientes. No fim do dia ele ta para Batson. Ganhava 7.000 libras por ano. “O doutor Mead”, disse o doutor Johnson. viveu mais tempo em plena luz do sol do que qualquer outro homem.”

A bengala que amaciava as palmas daqueles médicos de dedos de ouro esa agora no Colégio Real de Médicos, fundado por Thomas Linacre (1461-1524), um Fellow de All Souls, Oxford, que conseguiu com Henrique VIII carta patente para os clínicos, em 1518, 22 anos antes de os cirurgiões conseguirem. O Colégio tinha autoridade para expulsar da prática médica os charlatães, monges, artesões e mulheres que provocavam sofrimentos intensos, danos e destruição em muitos súditos do Rei, especialmente àqueles incapazes de discernir os charlatães dos verdadeiros médicos. Essa autoridade era realmente exercida em 1630 e 1637 mandou cortar as orelhas de dois curandeiros não-qualificados. O Bispo de Londres foi apaziguado com a permissão de continuar a licenciar médicos com a mesma liberdade com que ordenava sacerdotes. O Colégio Real de Médicos, exposta a bengala com cabo de ouro, fica hoje perto do zoológico.

Outros valiosos decoradores de dos séculos da medicina:

– O médico do doutor Johnson, William Heberden (1710-1801), que descreveu a angina pectoris e os nódulos de Heberden (artrite nas pontas dos dedos).

– O excêntrico e rígido quacre Thomas Hodgkin (1789-1866), considerado no Guy’s como o tipo de pessoa que eles não queriam na sua equipe de médicos. Ele se contentou com o cargo de curador do Hospital-Museu, onde descobriu, em espécimes patológicos, o aumento simultâneo do baço, no abdome e glândulas linfáticas espalhadas pelo corpo. Durante 33 anos ninguém deu atenção a essa correlação, até que o médico do Guy’s, Sir Samuel Wilks (1824-1911) a ressuscitou e honestamente a denominou doença de Hodgkin.

– A doença que provoca tontura, desequilíbrio e surdez de um dos ouvidos, descrita por Prosper Menière (1799-1862), da Instituição de Surdos-mudos de Paris, um més antes de morrer de gripe.

– Sir William Withey Gull, baronete (1816-90), medico da rainha Vitória, sensatamente suspeitava da eficácia de todos os medicamentos e escreveu Reumatismo Tratado com Agua de Menta. Ele tratou o príncipe de Gales de febre tifóide (não existia tratamento), e criou aforismos:

Não uma febre tifóide, mas um homem com febre tifóide.

(O médico trata um paciente, não uma doença.)

Selvagens explicam, a ciência investiga.

Sobre uma neurótica difícil: a senhora X é ela mesma multiplicada por quatro.”

 Um século depois, Sir William tornou-se alvo de acusações absurdas dos caçadores do herói folclórico inglês Jack, o Estripador. Naquele outono sinistro de 1888 Gull estava com 71 anos, havia sofrido uma crise de isquemia cerebral um ano antes e padecia de artrite em todo seu corpo napoleônico. O que sugere que ele devia ter meios mais confortáveis de passar as noites do que se escondendo nas vielas de Whitechapel, iluminadas à gás, esfaqueando prostitutas. Ele deixou 344.000 libras, um recorde na profissão.

– Sir William Richard Gowers de Yorkshire (1845-1915),

neurologista, foi o primeiro a usar a “lanterna mágica”, o

ofalmoscópio, para examinar a retinado olho, e definiu o trato de

Gowers na medula espinhal.

– Sir Hans Sloane (1660-1753), o médico que tinha um jardim

exótico em Chelsea e fundou o Museu Britânico, deu nome à Praça

Sloane , à Avenida e ao Hans Crescent, todos na rua do

Harrods, também Sloane Rangers.

[Voltar]