A mulher médica

Muliebrity era uma necessidade tradicional no tratamento dos doentes. Para sua cura, sua função era mais duvidosa. Sir William Jenner (1815-98) – o médico que usou o burro mecânico para vaporizar ácido carbólico na axila da rainha Vitória, e espirrou o ácido no rosto dela durante a resplandescente meia-idade de Florence Nightingale dizia, choroso, que tinha só uma filha, mas preferia seguir seu enterro do que vê-la se tornar uma estudante de medicina. O próprio Lister criou objeções ao projeto de dar seu nome à nova cadeira de cirurgia em Glasgow: “Considerando as relações que a nova cadeira terá com o ensino das mulheres.” O resto dos profissionais da medicina necessariamente sensatos não concordou com a idéia de a morte ser preferível a aprender como evitá-la.

Elizabeth Blackwell (1821-1910), filha de um religioso refinador de açúcar, com uma família de nove filhos e quatro tias solteiras em Bristol, emigrou para Nova York quando tinha 11 anos. Aos 26, depois de ser rejeitada pela escola de Filadélfia e outras nos EUA, Elizabeth entrou para o Colégio de Medicina Genebra, NY. Formou-se como primeira da classe, estabelecendo um padrão de aplicação acadêmica que as estudantes de medicina se esforçam para superar. Sua primeira dificuldade foi encontrar moradia porque as donas das pensões negavam-se a alugar quartos para moças desacompanhadas. Em 1857, Elizabeth Blackwell fundou a Enfermaria Nova York para Mulheres Indigentes, dirigida por mulheres. Ela comandou as enfermeiras durante a Guerra Civil. Solteira, adotou uma órfã.

Elizabeth Garrett Anderson (1836-1917) foi a primeira dama da medicina britânica, e Sophia Jex-Blake (1840-1913), uma das primeiras escocesas (embora em Edimburgo as mulheres fossem segregadas na escola). Na I Guerra Mundial, mulheres médicas receberam patentes de oficiais do exército britânico, com divisas nos punhos, como os homens. Agora as estudantes de medicina Grã-Bretanha são em maior número do que os homens. E se as mulheres reclamam de discriminação em certas especialidades, como cirurgia, isso se deve à realidade biológica de que ser um cirurgião só precisa de alguns segundos para fazer um filho, mas as mulheres levam um pouco mais de tempo. A Igreja da Inglaterra, no momento, sofre de uma neurose ridícula em relação a mulheres sacerdotes; isso, sob o disfarce de argumentos teológicos, litúrgicos e sociais, expressa o temor bem fundado dos partidários de Sir William Jenner de que as mulheres podem tomar seu lugar.

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