Proibir drogas emagrecedoras, como quer a Anvisa, levará ao aumento no número de cirurgias de redução do estômago, dizem médicos.
Proibir drogas emagrecedoras, como quer a Anvisa, levará ao aumento no número de cirurgias de redução do estômago, dizem médicos.
Com a possível retirada desses remédios do mercado, sobram poucas alternativas para tratar a obesidade.
Em muitos casos, a única saída será a cirurgia bariátrica, hoje indicada para pacientes com IMC (índice de massa corporal) acima de 35 e doenças associadas, como diabetes e hipertensão.
Já está em estudo nos EUA, na Itália e Espanha a redução do limite mínimo de IMC para a indicação da operação.
O cirurgião Ricardo Cohen, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica, está coordenando uma pesquisa no Hospital Oswaldo Cruz sobre a eficácia da operação em pessoas com IMC entre 30 e 35. O estudo tem financiamento do Ministério da Saúde.
Foram recrutados 105 voluntários, que serão operados dentro de semanas. Para Cohen, o procedimento é mais seguro do que as drogas. “Nunca se falou em retirar a cirurgia do mercado. Isso prova sua segurança”, diz.
A previsão é que neste ano sejam feitas 70 mil reduções de estômago no país.
Para Alfredo Halpern, endocrinologista do Hospital das Clínicas, o aumento das cirurgias preocupa: “Não é mais simples tomar remédio? Faço um paciente perder 30 kg só com medicação”.
Estudos mostram que 16% das pessoas que passam por redução do estômago têm alguma alteração neurológica, como perda de memória ou confusão mental, diz Eduardo Mutarelli, neurologista do Hospital Sírio-Libanês.
Editoria de Arte / Folhapress/Editoria de Arte / Folhapress
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Onda de proibição
A Anvisa estuda proibir a sibutramina, droga que age no sistema nervoso central, desde o início de 2010.
Ontem, anunciou uma audiência pública para quarta, em que será apresentado um parecer pedindo a proibição dos medicamentos com sibutramina e três tipos de anfetamina: anfepramona, femproporex e mazindol.
A decisão deve ser divulgada no dia 1º de março.
A Anvisa diz que a sibutramina tem baixa eficácia e eleva em 20% o risco cardíaco. O parecer foi embasado no estudo Scout, feito em 16 países, que saiu no “New England Journal of Medicine”.
Na pesquisa, 10 mil obesos com mais de 55 anos e histórico de doenças cardíacas tomaram sibutramina por três anos e quatro meses.
Segundo Walmir Coutinho, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e um dos autores do estudo, os resultados não justificam proibir a droga.
O cardiologista Daniel Magnoni, do HCor, diz que o problema é a vulgarização da droga. “Com uso correto, as complicações são menores.”
A única droga para obesidade fora da mira da Anvisa é o Xenical (orlistate), que não é um inibidor de apetite: diminui a absorção de gordura.
“Só isso não resolve. Uma pessoa com compulsão não vai ser curada”, diz Halpern.
Cronologia
1997
A sibutramina é aprovada pela FDA (agência americana)
Novembro de 2009
Dados preliminares do estudo Scout, com 10 mil pacientes, mostram que a droga aumenta o risco cardíaco
Janeiro de 2010
A agência europeia de medicamentos recomenda a suspensão da droga
Março de 2010
A Anvisa passa a exigir que a droga seja vendida só com receita de controle especial
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