Fábulas febrífugas

Os acessos de febre da malária, de dois em dois dias ou três em três dias, indicam o tempo necessário para que quatro tipos diferentes de parasitas realizem seu ciclo reprodutor assexuado, no sangue. O ciclo sexual é realizado dentro do mosquito. O quinino, com seu gosto extremamente amargo, era o remédio para a malária desde o século XVII. Tradicionalmente este chamado de “chinchona”, por causa da condessa Chinchon, que foi despachada com o marido da Espanha para o Peru e se curou da malária com a casca da árvore quina-quina, nativa do lugar. A eficiência da quina-quina foi descoberta por um paciente com febre alta. A única água que ele encontrou para beber era de um pequeno lago, onde haviam sido jogadas algumas dessas árvores e, por isso, era amarga demais para o paladar das pessoas saudáveis. A condessa mandou moer a casca e generosamente a distribuiu na cidade de Lima, antes de presentear benevolentemente a Espanha com o pó. A condessa morreu antes de o marido ser nomeado vice-rei do Peru; a segunda mulher dele jamais ficou doente e continuou no Peru, mas a boa ficção é mais estranha do que a verdade. A “casca dos jesuítas”, importada e adulterada com outras madeiras, foi então confiscada pela Europa inteira para curar malária, exceto por Oliver Cromwell, por motivos religiosos.

Na II Guerra Mundial, o Império Britânico podia proteger convenientemente seus soldados com mepacrina, um medicamento que os inteligentes químicos alemães haviam criado a partir dos corantes de cores vivas que eles sintetizaram em Wuppertal, em 1930. Espalhou-se entre os soldados, como acontece com qualquer medicamento obrigatório, o boato de que a mepacrina provocava impotência. O rumor do bromido no chá dos soldados é tão velho quanto a história dos dois Pensionistas de Chelsea admitirem que o medicamento começava a fazer efeito. A mentira foi negada por meio de cartazes mostrando paxás rodeados por suas mulheres alegremente tomando os comprimidos e declarando que jamais ficariam sem eles. Aparentemente isso convenceu os soldados.

Agora temos melhores medicamentos proentivos contra a malária e melhores inseticidas, mas temos ainda a malária. Não podemos acabar com todos os mosquitos da Tailândia e da Malásia. E os parasitas estão começando a se defender dos medicamentos. Exatamente como os germes combatidos pleos homens na década de 1880.

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