As Cruzadas

Durante os séculos VII, VIII e IX os árabes eram donos da Terra Santa, ou seja, a Palestina, onde ficam os lugares onde nasceu, viveu e morreu Jesus Cristo. Os árabes, apesar de islamitas não criavam embaraços às visitas dos cristãos a seus lugares santos. Anualmente, milhares de cristãos europeus seguiam em peregrinação para a Palestina e de lá voltavam sem serem molestados.

A partir de 1078 os turcos seldjúcidas, convertidos ao islamismo, tornam-se donos da Terra Santa. Ao contrário dos árabes, eram intolerantes e fanáticos e passam a maltratar os peregrinos cristãos. Tal fato é narrado na Europa por vários sobreviventes que voltavam da Palestina, em especial por um frade, Pedro, o Eremita. Ele passa a percorrer a Europa, pregando a necessidade de libertar os lugares santos, dos turcos intolerantes.

O próprio Papa Urbano II, após o concílio de Clermont, exorta os nobres e o povo cristão para formarem poderoso exército de libertação da Terra Santa. Tal obra exigia tempo e preparação. Os mais impacientes não quiseram esperar e lançaram-se, juntamente com Pedro, o Eremita, em uma vanguarda totalmente desorganizada. Seu fim foi trágico, tendo todos perecido em combate e doenças.

A Primeira Cruzada saiu da Europa em 1096. Era formada por 1 milhão de pessoas, 400 mil das quais combatentes. Partindo da França, atravessou a Europa Oriental chegando a Constantinopla. A seguir sitiou a poderosa cidade de Antióquia, que caiu, após um cerco de 8 meses.

Após difícil vitória contra os turcos, esgotados, famintos e sedentos, reduzidos a pouco mais de 40 mil soldados, os cristãos avistam Jerusalém. Caem de joelhos. Muitos choram de contentamento.

Mas a tomada de Jerusalém foi dura. Sem água, sem víveres e reduzidos em número, os cristãos combatem rua a rua, casa a casa. O sangue chega a atingir o tornozelo dos lutadores, tal a carnificina. Morrem 10 mil soldados cristãos, mas a cidade é conquistada.

Os cruzados resolvem estabelecer um reino em Jerusalém. É escolhido para chefiá-lo Godofredo de Bulhão, que recusa o título de rei, mas aceita o de duque, defensor da Terra Santa. A cidade foi tomada pelos cristãos numa 6.ª feira, exatamente à hora da morte de Cristo (15-7-1099).

Os turcos, porém, não saem das vizinhanças, buscando uma oportunidade para retomar a cidade. É o que ocorre anos após (1187). Nessa campanha brilha o famoso sultão Saladino.

Expulsos da Terra Santa, os cristãos tentam organizar novas Cruzadas. Merece menção a terceira, chefiada pelos reis Luís e Filipe da França, Ricardo Coração-de-Leão, da Inglaterra e Frederico Barba-Roxa, Imperador da Alemanha. Este último morreu afogado num rio da Ásia Menor. Caiu do cavalo dentro de um córrego e devido ao peso da armadura, acabou morrendo afogado em meio metro de água.

Os dois outros chefes sitiam a fortaleza de São João D’Acre. Tanto tempo durou esse sítio que chegou a estabelecer-se uma trégua amistosa entre Saladino e seus rivais que trataram diplomaticamente do problema militar, sem a crueldade das batalhas anteriores.

A Quarta Cruzada, embora com os mesmos objetivos das anteriores, desviou sua rota e tomou Constantinopla. Os venezianos que dela participaram tinham em vista o importante local para garantir uma rota comercial. No futuro, ela lhes seria muito útil.

A Sétima Cruzada foi chefiada pelo piedoso rei Luís IX, da França (São Luís). Seu destino foi o Egito, onde o rei francês caiu prisioneiro. Libertado, através de elevado resgate, Luís IX partiu para a Palestina, onde ficou famoso pela sua piedade. Mais tarde, chefia a oitava e última Cruzada contra Tunis, onde morre de peste.

O principal objetivo declarado das Cruzadas não foi alcançado (a libertação da Palestina). Os turcos foram os vencedores dos cristãos e de lá só saíram por outras razões. Entretanto, as Cruzadas deixaram conseqüências notáveis no campo científico, cultural, político, econômico e social. Graças a elas os povos do Oriente transmitiram aos cristãos do Ocidente muitos ensinamentos. Possibilitaram-lhes dar um gigantesco passo à frente, nos séculos seguintes, em direção à Idade Moderna.

A Cruz Contra o Crescente

Durante os séculos XI, XII e XIII ocorreram na Europa e no Oriente Próximo várias lutas entre cristãos e muçulmanos. Essas lutas, travadas por expedições de cristãos contra forças islamitas, tanto no Oriente Próximo como na África, receberam o nome de Cruzadas.

As causas das Cruzadas foram várias. Apesar de; em primeiro plano, estar o pretexto da libertação dos lugares sagrados, na Terra Santa, outros fatores concorreram para levar milhares de europeus ao distante Oriente, a maioria dos quais para uma viagem sem volta. Entre as causas das Cruzadas podemos citar:

· o fervor religioso reinante na época – aguçado pela pregação de monges como Pedro, o Eremita. Ele narrava, a multidões revoltadas, os maus tratos sofridos pelos peregrinos cristãos à Palestina, dominada pelos turcos seldjúcidas;

· a hostilidade existente entre as comunidades cristãs e islamitas – ambas preocupadas em fazer prosélitos e expandir o número de fiéis, universalizando-se. O choque entre eles dificilmente poderia ser evitado;

· o desejo e interesse dos papas de estender sua influência na área do Império do Oriente – onde vicejava outra forma de catolicismo não romano;

· o espírito aventureiro – próprio da época de ouro do feudalismo. Predominava entre os altos senhores feudais e os humildes servos da gleba o mesmo amor à aventura e o sentimento romântico da luta por um ideal.

Para essas expedições, nem sempre bem sucedidas, a Igreja Católica dava seu pleno aval. O próprio Papa Urbano II (que pregou a primeira Cruzada) prometia o perdão dos pecados e a eterna bem-aventurança a favor dos que dela participassem: “Vós, os que haveis praticado fratricídio, vós, os que haveis tomado as armas contra vossos próprios pais, vós, que haveis matado por dinheiro e haveis roubado a propriedade alheia, vós, que haveis arruinado viúvas e órfãos, buscai agora a salvação em Jerusalém. Se é que quereis as vossas próprias almas, livrai-as da culpa de vossos pecados, que assim o quer Deus…”

Resenha das Campanhas dos Cruzados

  • FRACASSO MILITAR – Do ponto de vista militar, as Cruzadas são consideradas um fracasso. Milhares de vidas foram sacrificadas, sem que os objetivos fundamentais (a conquista dos lugares santos) fossem alcançados.
  • CONSEQÜÊNCIAS SOCIAIS – As cruzadas foram de extraordinária influência nas transformações sociais ocorridas na Europa. A morte de milhares de grandes senhores feudais e o empobrecimento dos sobreviventes levaram ao aumento do poder real e à formação das monarquias fortes. Isso caracterizaria o Estado moderno europeu.
  • CONSEQÜÊNCIAS RELIGIOSAS – A aproximação forçada entre cristãos e muçulmanos levou à diminuição do fanatismo inicial, que gerou as Cruzadas. O conhecimento recíproco dos povos em guerra mostrou, que nenhum deles era tão mau como parecia a princípio. Começa uma Era de maior tolerância religiosa.
  • AS CRUZADAS E A CIÊNCIA – Os cristãos aprenderam bastante nos seus contatos com os muçulmanos. Bastante mais desenvolvidos cientificamente, os islamitas, transmitiram aos cruzados vários conhecimentos: o papel, o açúcar, o álcool, o espelho de vidro, os vidros artisticamente trabalhados, o aço de alta qualidade de suas armas, os tecidos finos e muitos outros.
  • ORDENS MILITARES – Durante a fase das Cruzadas foram criadas várias Ordens militares entre as quais a dos Hospitalários e a dos Templários – a mais famosa de todas. Na realidade, esta ordem era um braço da Maçonaria Medieval, que naqueles tempos era intimamente ligada à Igreja Católica.

1.ª Cruzada: 1.095 – 1.099

> Pedro, o Eremita; Godofredo de Bulhão. O primeiro grupo (de Pedro, o Eremita) foi Quase todo destroçado, pelo seu despreparo. Godofredo de Bulhão, após heróicos sacrifícios, consegue tomar Jerusalém.

2.ª Cruzada: 1.147 – 1.149

> Luís VII de França Conrado III da Alemanha. Mais de 150 mil cristãos são dizimados na Ásia Menor, embora tenham alcançado a Palestina. Os franceses desistem da Cruzada, por fracassarem na tomada de Damasco.

3.ª Cruzada: 1.189 – 1.192

> Frederico Barba-Roxa, Filipe Augusto, Ricardo Coração-de-Leão. Após inúmeras aventuras, a 3.ª Cruzada apenas conseguiu que fosse permitida aos cristãos, desarmados e em pequenos grupos, a visita aos lugares santos de Jerusalém

4.ª Cruzada: 1.202 – 1.204

> Vários (franceses e venezianos). Os objetivos religiosos foram substituídos por interesses comerciais. O Papa perdeu o controle da Cruzada. Os expedicionários fundaram o Império Latino de Constantinopla.

5.ª Cruzada: 1.212 – 1.221

> Vários, entre os quais André II, rei da Hungria. Conquistou Damieta, após cerco trabalhoso. Apesar disso, pouco proveito trouxe para os cristãos.

6.ª Cruzada: 1.228 – 1.229

> Frederico II (das Duas Sicílias, o mesmo que separou a medicina da farmácia). Contou com a oposição do Papa Gregório IX. Conseguiu trégua por 10 anos entre cristãos e muçulmanos.

7.ª Cruzada: 1.248 – 1.254

> Luís IX de França (São Luís). Após grande esforço para reunir cruzados, Luís IX caiu prisioneiro dos islamitas. Para ser libertado, paga pesada indenização.

Luís IX  ou São Luís

8.ª Cruzada: 1.270

> Luís IX de França (São Luís). Após recobrar a liberdade, Luís IX começa a organizar outra Cruzada. Desembarca em Tunis (África), mas logo é atacado pela peste e morre sem ter atingido seu objetivo.

A Igreja e sua lutas na Idade Média

A interferência do feudalismo no seio da Igreja gerou crises que tiveram de ser trabalhosamente combatidas. Alguns suseranos conseguiram ascendência sobre seus vassalos-prelados e aproveitaram-se para praticar vários atos atentatórios contra os bons princípios da fé. Entre eles estava o do comércio de títulos e direitos eclesiásticos, o da nomeação de pessoas não dotadas para cargos religiosos, a degradação de costumes em conventos, contrariando as normas do viver cristão.

Contra isso levantaram-se alguns notáveis vultos da Igreja, como São Gregório VII, que proibiu a qualquer leigo o direito de investir alguém em cargos religiosos. Isso gerou sério conflito com o Imperador Henrique IV, que acabou sendo excomungado. Mais tarde, arrependido, Henrique IV foi em peregrinação a Canossa, onde vivia o Papa, sendo afinal perdoado. Tempos depois Henrique IV reagiu e atacou Roma. Gregório VII escapou graças ao auxílio dos normandos. Somente em 1122 foi solucionado o conflito, pela Concordata de Worms.

O mais notável Papa da Idade Média foi Inocêncio III, promotor da 4ª Cruzada. Tendo morrido em 1216, deixou, como uma de suas mais importantes obras, o Concílio de Latrão.

Bonifácio VIII, por sua vez, envolveu-se contra o rei Filipe o Belo, em defesa do patrimônio da Igreja. O rei, através de emissários, desacatou-o e intimou-o a renunciar. Morreu em 1303. Com sua morte acentua-se o declínio do poder político (temporal) dos papas.

Em 1054 ocorreu o Cisma Grego (a separação da Igreja Católica Romana da Igreja do Oriente – Constantinopla). Em 1309 houve o Cisma do Ocidente – a separação da Igreja Católica Romana, com sede em Roma, daquela com sede em Avignon (França) onde reinou um Papa rebelde. Em 1418 o Concílio de Constança restabeleceu a unidade da Igreja Ocidental, elegendo um único Papa, sob o consenso geral.

A evangelização dos Bárbaros e o combate às heresias

Durante a Idade Média coube à Igreja um papel preponderante entre as instituições existentes. Enquanto desmoronava o poder e a organização do Império Romano ante a invasão dos bárbaros, o prestígio do Papa crescia sempre. Mesmo os bárbaros eram quase todos cristãos, apesar de muitos serem praticantes de confissões não católicas.

Os bárbaros haviam sido evangelizados por missionários, especialmente os da ordem de São bento. Entre os principais missionários que se destacaram na conversão dos bárbaros estão: São Patrício (Irlanda); São Columba (Escócia); São Columbano (Alemanha do Sul); Santo Agostinho (Inglaterra); São Bonifácio (Alemanha do Centro).

Os bárbaros eram a princípio hereges, isto é, aceitavam crenças condenadas pela Igreja Católica.

A maioria era ariana e, em virtude disso, houve duro período de perseguição dos católicos (do Império Romano) pelos dominadores bárbaros. Com o tempo, porém, os chefes bárbaros converteram-se ao catolicismo e cessou o período de perseguições. Com isso o poder do Papa cresceu ainda mais, aumentando seu rebanho.

Apesar da conversão dos bárbaros, algumas outras heresias tiveram lugar durante a Idade Média. Uma delas foi a dos Valdenses (que negava o sacerdócio e vários sacramentos). Foi severamente combatida com excomunhão, mas deixou sementes que mais tarde germinariam no movimento de João Huss e de Calvino (a Reforma Protestante). Outra heresia, esta mais difícil de vencer, foi a dos Albigenses. Após luta muitas vezes sangrenta, resistindo durante 20 anos a uma cruzada contra eles dirigida, só foi vencida pela Inquisição.

Alguns Aspectos da Religião na Idade Média

  • OS VÂNDALOS – Os únicos bárbaros que resistiram à conversão ao catolicismo foram os vândalos, que continuaram arianos. Contra eles foi enviada forte expedição por ordem de Justiniano, sob o comando do general Belisário. Os vândalos foram vencidos e seu reino africano destruído.
  • SANTO AGOSTINHO – O missionário que se celebrizou por converter os bárbaros da Inglaterra, auxiliado por 40 monges beneditinos, não é o mesmo Santo Agostinho, bispo de Hipona. Este viveu de 354 a 430, enquanto o evangelizador dos ingleses é dos séculos VI e VII.
  • INQUISIÇÃO – Foi um tribunal religioso instituído originalmente para combater a heresia dos albigenses. Após o período de investigações sobre os suspeitos de heresia, os considerados culpados eram entregues ao Estado, para que fossem punidos. A Inquisição foi instalada em vários países europeus. Talvez a mais severa de todas tenha sido a espanhola, instituída em 1480, pelos reis católicos (Fernando e Isabel). Não foram raros os condenados a terríveis castigos como o da fogueira, após bárbaras torturas e sofrimentos físicos e morais. Foi o maior inimigo que a Alquimia teve em todos os tempos. Grandes alquimistas foram torturados e mortos como hereges após julgamento sumário em que eram acusados de heresias e bruxaria por tribunal composto pelos médicos e clérigos que, temendo o poder dos alquimistas, os condenavam à revelia, sem o menor escrúpulo, baseando-se unicamente em suas convicções mesquinhas, levianas e criminosas. Sob a alegação de que o herege deveria ser purificado pela dor, nossos irmãos alquimistas eram dissecados em público, tendo suas vísceras arrancadas “in vivo” pelos carrascos e, quando o sopro da vida estava prestes a abandonar o corpo do nosso compenheiro, ele era finalmente decapitado, após sofrer os piores suplícios imagináveis. Esse vergonhoso Tribunal do “Santo Ofício” é a mancha que envergonha a Igreja Católica Apostólica Romana até os dias de hoje e foi, sem nenhuma dúvida, o maior entrave ao desenvolvimento das ciências em todos os tempos. Não pensem os leitores que o Tribunal da Santa Inquisição foi extinto porque ele não foi. Mesmo com o empenho do Papa João XXIII (Ângelo Roncalli), a congregação dos cardeais ainda conseguiu mantê-lo, mudando-lhe apenas o nome: Congregação da Santa Sé.
  • FEUDALISMO ECLESIÁSTICO – Durante a Idade Média, também a Igreja participou da engrenagem feudal. Houve bispos-condes, arcebispos – duques, com seus feudos recebidos de suseranos leigos, em retribuição a serviços prestados. Por sua vez, os prelados tinham seus vassalos, com todas as regras do sistema feudal. Isso favoreceu o crescimento temporal da Igreja, pelo aumento de suas propriedades. Por outro lado gerou o comprometimento de sua autoridade espiritual, muitas vezes sofrendo danosa interferência de suseranos leigos.

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