Introdução

“A história é como um profeta: tem os pés no presente, os olhos voltados para trás, e contra o que foi, prediz o que virá”.

– Eduardo Galeano.

“O historiador não escreve a história, apenas transcreve os fatos, baseando-se na interpretação dos documentos verídicos que encontra. Quem escreve a história é o protagonista dos eventos, pois é ele quem controi o momento, o episódio, o acontecimento.”

– O Autor.

Esta obra traz um breve relato da história da farmácia. Uma história feita de muito sacrifício, perspicácia, espírito de aventura, busca incessante de novos conhecimentos e descobertas. Uma história repleta de lances heróicos, fascinantes e até engraçados e pitorescos. Uma história que teve muitos de seus episódios escritos com a ponta e o fio da espada, usando como tinta o sangue dos alquimistas e boticários do passado e como borracha de apagar “erros” (entre “aspas” porque a farmácia era vista como algo errado, apesar de os verdadeiros errados serem os algozes inquisitores, reis, tiranos, clérigos e todos os que viam nos farmacêuticos uma ameaça à sua supremacia), as chamas das fogueiras da intolerância política ou religiosa. Uma história de um milhão de anos que se inicia no exato momento em que os primeiros humanóides apareceram sobre a terra e se desenrola graças a dedicação, devoção e doação de si mesmos dos pioneiros desta gloriosa ciência, cujas vidas sacrificaram em prol da ciência que sempre foi abraçada com devoção, louvor e até fervor por todos os que ousam romper com o comodismo, com o dogmatismo barato das pseudo-ciências que se dizem sérias, mas que na realidade vivem penduradas nas pesquisas e nas descobertas dos boticários, alquimistas e farmacêuticos de todos os tempos e lugares do universo.

Além da história da Farmácia, inclui-se também um breve histórico da Psicologia que também é antiga como ciência, apesar de ter se tornado profissão apenas há pouco tempo, mais precisamente no começo desse século XX. A psicologia caminhou junto com a farmácia nas épocas em que não havia divisões precisas entre as ciências, no tempo em que existia apenas a alquimia e a propedêutica, mas não possuíam elas seu campo delimitado, seu espaço próprio e por isso a psicologia vivia embutida nos dogmas, pressupostos e arcabouços dos alquimistas.

Finalizando, traz ainda um resumo da história da Educação, justificada pelo fato de todas as transformações sociais e científicas terem sido determinadas por ações educacionais, ou então conseqüências do ensino.

Objetivando clarificar melhor a origem dos fatos históricos ligados às ciências aqui estudadas historicamente, acrescentou-se um relato da história de cada povo, instituição ou movimento que contribuiu para os acontecimentos narrados aqui e para que o leitor possa ter uma idéia de como era o mundo e as pessoas nas épocas citadas.

A idéia deste trabalho de pesquisa histórica nasceu da dificuldade em se encontrar numa única referência bibliográfica, a história da farmácia e quando, como estudante de graduação do Curso de Farmácia do Setor de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Paraná, necessitei elaborar um relatório de estágio em farmácia de manipulação e dispensação, e como sempre apreciei muito a história, tendo a convicção de que o profissional desconhecedor ou ignorante sobre a história de sua profissão, de sua ciência, não passa de um pseudo-profissional, cheio de importância mas nulo de eficiência, resolvi buscar um pouco da história de nossa profissão e transcrevi resumidamente em meu relatório intitulado “Memória do estágio em manipulação e dispensação” e quando minha supervisora, a professora Meri de Oliveira Poluchuk o recebeu para corrigir, me agraciou com a nota máxima, com menção de “10 (dez) com louvor” e seu entusiasmo levou-me a prosseguir na pesquisa, na busca de documentos e fatos históricos incontestáveis e comprováveis com documentos, chegando a esse texto que agora apresento, após três anos de pesquisa, reconhecendo não ser completo, ou seja: não contém toda a história da farmácia e da psicologia, pois grande parte de seus lances mais belos, corajosos ou pitorescos ficaram perdidos e enterrados no passado. A grande maioria dos documentos foram destruídos pelos inimigos da nossa ciência-mãe, a alquimia, quer sejam eles: os médicos e a Igreja Católica medieval.

Os primeiros viam na alquimia uma ameaça à sua supremacia como senhores da ciência, enquanto a igreja católica, temente do poder contestador dos alquimistas, procurava renegá-los aos graus de hereges, de enfeitiçados, de possuídos ou de discípulos de satanás. Infelizmente esse estado de coisas atravessou toda a idade média a perdurou até meados do século XVIII, podendo se dizer, sem um mínimo de dor na consciência que esse comportamento vil e mesquinho dos donos do poder daquelas épocas emperrou as ciências e atrasou em séculos, ou mesmo em milênios o progresso e o desenvolvimento da humanidade, ou então sua autodestruição. Quem sabe?

Embora esta obra esteja dividida em sessões, capítulos e tópicos, durante toda a extensão da obra aparecerão associações entre fatos e eventos ocorridos no passado ou no futuro, pois a história não é uma ciência estanque, compartimentalizada. Cada fato histórico corrobora o que está escrito em pontos mais a frente ou atrás da citação lida no momento e por isso, neste texto aparecem fatos ocorridos na antigüidade clássica sendo relacionados e comentados comparativamente com fatos ocorridos na idade contemporânea, e vice-versa, de modo que o leitor pode ter uma visão global dos motivos reais da ocorrência do fato histórico, ratificando a máxima de Eduardo Galeano transcrita na epígrafe dessa introdução à obra.

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