O tempero da vida

A vitaminas são substâncias químicas caracteristicamente ausentes nos alimentos que usamos. Foram inventadas em Cambridge, em 1912, por Sir Frederick Gowland Hopkins (1861-1947). Os médicos mais antigos de Cambridge, como eu, lembra ainda a exclamação murmurada “É, Hopkins!” – como Pasteur ou Lister – quando ele aparecia nos laboratórios de bioquímica, entre os Colégios de Pembroke e Downing.

Hopkins descobriu que uma pequena gota de leite podia tornar perfeita a dieta que estava matando os ratos. Ele foi também o sogro póstumo de J. B. “Bons Companheiros” Priestley.

Em 1907 foi provocado o escorbuto em cobaias, na Noruega. Os cientistas da nutrição começavam a aprender que a alimentação humana não era exclusivamente constituída por proteínas, gordura, carboidratos e minerais, mas que misteriosamente era necessário algum aditivo. As cobaias de Hopkins tinham se desenvolvido muito bem só tomando leite. Mas quando alimentadas com os elementos do leite, separados, elas morriam.

Em 1932 a vitamina C foi cristalizada por engano por Szent Györgi, na Hungria, depois na América, retirada do suco de limão como ácido ascórbico. era uma substância química simples, que curava o escorbuto e identificava as confusões a respeito da doença: o limão era mais eficaz do que a lima porque era três vezes mais rico em vitamina C. Os oficiais, que se alimentavam melhor, deixavam o porto com maior quantidade de vitaminas C armazenada no corpo. Toda a tripulação embarcava na primavera, ou seja, depois do inverno, quando comiam menos vegetais. A vitamina C é fabricada nos organismos de todos os animais, exceto naquelas cobaias, no homem e nos macacos.

Em 1886, os holandeses preocupavam-se com o Beribéri, em cingalês, significa “eu não posso”, indicando a fraqueza dos músculos e das pernas inchadas que precedia a morte por insuficiência cardíaca. O médico do exército holandês, Christian Eijkman (1858-1930), pensava que o beribéri fosse uma infecção, até que a crise de 1897 o obrigou a alimentar as galinhas do laboratório com restos de comida do hospital e elas contraíram beribéri. Quando o arroz branco e polido dos curries e podia fizera substituído pelo arroz escuro e não-polido, de gosto desagradável, elas melhoravam. Ele experimentou o arroz polido nas galinhas, complementando com gordura e sais minerais. Não adiantou. Tentou arroz polido e um extrato do polimento do arroz, e as galinhas logo voltaram a ciscar e a por ovos. Eijakman declarou, em 1901, que os itens conhecidos da dieta necessitavam de “algo mais” desconhecido, em quantidades mínimas e sem valor nutritivo, para nos manter vivos. Mas ninguém deu muita atenção. Seu algo mais era a vitamina B do germe do arroz, que era retirado pelo polimento, saindo com a pele escura. Isso se tornou aparente só depois que Hopkins aplicou sua imaginação ao enigma. Tudo acabou bem, em 1929 eles ganharam o prêmio Nobel.

As outras vitaminas foram identificadas e sintetizadas antes de 1940. A vitamina A no leite, na manteiga, nos ovos e óleo de fígado de peixes prevenia certas formas de cegueira. A vitamina B é formada por várias vitaminas do cereais e evita vários problemas graves de pele, pelagra (dermatite, diarréia e demência) e o beribéri das galinhas de Eijakman e também de 40% da Marinha Japonesa, entre 1878 e 1882. A vitamina D, que vem junto com a A, evita raquitismo; a K, nos vegetais verdes, evita hemorragias. Ninguém sabe o que faz a vitamina E. Quando foi descoberta, em 1936, acreditaram que aumentava a fertilidade, e os idosos médicos de Cambridge cantaram em uníssono:

“Vitamina E é para mim!

Vamos acabar com a esperança da velhice

Tomando-a com o nosso chá.”

No nosso mundo de boas moradias, saudável e hedonista, a insuficiência de vitaminas atinge somente os decréptos, que não podem ter uma dieta normal, e os seguidores das novas modas, que não querem comer normalmente. Essa parte triste da história de nossa dieta acontece predominantemente no terceiro mundo, descoberto relativamente há pouco tempo. É uma terra da qual sabemos vagamente que é repleta de florestas, onde nada há para fazer senão sexo, onde os nativos usam paletós xadrez rasgados e gravatas vistosas, enquanto assistem à televisão em branco e preto e ouvem discos de vinil nas suas cabanas, sentados em cadeiras de plástico ou deitados em almofadas, entre uma profusão de outros itens dos quais felizmente há muito tempo nos desfizemos. Só a deficiência da vitamina A, ou ceratomalácia, cega centenas de milhares de crianças todos os anos, mas ninguém faz muita coisa a respeito disso.

A vitamina C não cura resfriados, ferimentos na cabeça nem elimina os efeitos da bebida. A vitamina A não nos faz enxergar no escuro (desinformação da RAF, em 1940 – na verdade era o radar). Uma overdose de vitamina A ou D pode nos deixar doentes. Mas nenhuma vitamina podem nos tornar mais saudáveis. Elas não podem aumentar a inteligência dos nossos filhos. Como não são distribuídas de graça, são um desperdício pouco inteligente de dinheiro. Um primeiro-ministro inglês do nosso tempo toma um comprimido de vitamina C todas as manhãs

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