A Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curytiba

O grande marco iniciador da farmácia no Estado do Paraná foi, sem dúvida, a fundação da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba e a criação de seu primeiro hospital, o Hospital de Caridade, no século XIX.

É impossível falar ou mesmo escrever um pouco da história da IRMANDADE DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE CURITIBA sem fazer uma homenagem a seus precursores e idealizadores.

Inaugurado na augusta presença de SS.MM.II.(sua Majestade Imperial), durante a presidência do Sr. Dr. Manoel Pinto de Souza Dantas Filho, edificado pelo provedor Dr. Antônio Carlos Pires de Carvalho e Albuquerque, como reza o mármore do frontão, o Hospital de Caridade de Curitiba é espaço de vida de tantos abnegados curitibanos voltados ao exercício da Medicina, do atendimento ao próximo.

Seu centenário de existência, comemorado no mês de maio de 1980, evoca a lembrança dos desvalidos, Provedores, médicos, irmãs, enfermeiros. Talvez a mais bonita das páginas da história desta cidade de Curitiba.

É lembrar o Dr. José Cândido da Silva Muricy, baiano de Salvador, onde nasceu a 31 de dezembro de 1827, filho de Joaquim da Silva Pereira e Da. Joana Francisca Pereira. Primeiro cirurgião do corpo de saúde do Exército Imperial, veio para o Paraná. Aqui exerceu a clínica médica. Foi deputado provincial, cavaleiro da Ordem da Rosa – pela extinção da febre amarela em Paranaguá, membro da Sociedade da Aclimação, de pesquisa de plantas tropicais e produtos agrícolas, voltada para a representação do Paraná em exposições internacionais, como a de Filadélfia em 1875. Lançou a pedra fundamental da Santa Casa de hoje à 8 de março de 1868. Como médico serviu no Mato Grosso, donde retornou em 1870. Foi médico dos presos da capital da província, assistente dos imigrantes. Morreu à 20 de março de 1879, em plena construção do Hospital. Depois das exéquias na Matriz, onde pregou o vigário Agostinho Machado Lima, a Sociedade Alemã-Germânica dedicou-lhe coros fúnebres. Os jornais de Curitiba, a Câmara Municipal, o Instituto Paranaense, prestaram-lhe eloqüentes homenagens. Seu espírito público ímpar, nos tempos do império, se traduz numa frase anotada por Francisco Negrão na Genealogia Paranaense (vol. I): não basta ao homem amar à sua família, vai nisso, é verdade, um princípio de virtude, cuja negação importaria a subversão completa da sociedade, mas o exclusivismo pela família, é egoísmo apurado que pouco aproveitaria à humanidade.

É lembrar Dr. André de Barros, goiano, FARMACÊUTICO, de considerável fortuna, provedor da Irmandade em 1920, 1921 e 1922, que não tendo herdeiros, legou seu patrimônio ao Hospital, por isso recebendo seu nome na rua fronteira, antes chamada Rua da Misericórdia.

É lembrar Dom Alberto José Gonçalves (1859-1945), Palmeirense, vigário de Curitiba nos da construção da Catedral, provedor da Irmandade de 1897 à 1908, fundador do HOSPÍCIO NOSSA SENHORA DA LUZ, político e literato, que morreu em Ribeirão Preto como titular da diocese.

É lembrar as irmãs de São José Chambéry, que atenderam o chamado do primeiro bispo do Paraná, Dom José Camargo Barros, e assumiram em 1896, passados os intempestivos anos da revolução federalista, as Santas Casas de Curitiba e de Paranaguá. As pioneiras foram seis: Madre MARIE JOSEPH, Soeur MARIE LUCIE, CÉCILE, MARIE FRANCOISE, FLAVIE e MARIE BASILE. Mais tarde, MÈRE LEONOR, fundadora da Província Paranaense da Irmãs de São José Chambéry, provincial de 1901 à 1922, e de 1928 à 1937, a quem Curitiba também deve o Orfanato do Cajuru (1901) e o Externato São José (1902) que hoje constituem-se no Convento São José e no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, localizados à Rua São José, no Cajuru; o HOSPÍCIO NOSSA SENHORA DA LUZ (1903) e o Asilo São Luiz (1919).. MÈRE LEONOR mereceu, a 26 de julho de 1928 a Legião de Honra da França, que lhe foi imposta pelo Cônsul Francês no Colégio Cajuru, em 15 de novembro daquele ano.

É lembrar MÁRIO BRAGA DE ABREU, curitibano, nascido em 25 de abril de 1906 e formado médico no Rio de Janeiro, em 1929, médico das famílias curitibanas desde os idos de 1930, professor da Universidade Federal do Paraná de 1935 em diante, catedrático de clínica cirúrgica desde 1936; duas vezes presidente da Associação Médica do Paraná, idealizador da Universidade Católica do Paraná (atual PUC-PR – Pontifícia Universidade Católica do Paraná), que acabou criada em 25 de março de 1959 por decreto de Sua Excelência Reverendíssima DOM MANOEL DA SILVEIRA D’ELBOUX, Arcebispo da Arquidiocese de Curitiba ; diretor da Faculdade de Ciências Médicas da mesma universidade. Poucos médicos, nos tempos que correm, merecem o respeito que a cidade de Curitiba dedica ao velho professor, homenageado sempre que se comemora o aniversário da Santa Casa, junto com ALÔ GUIMARÃES, que foi residente do Hospital de Caridade antes de se dedicar ao Hospital Psiquiátrico Nossa Senhora da Luz, e CELSO FERREIRA, o mais antigo médico do Hospital.

A história da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba não começa, como todos pensam com a inauguração do Hospital de Caridade, mas remonta épocas anteriores a este evento e por isso, faz-se mister colocar aqui um resumo dos principais fatos envolvendo a história desta entidade, obtida pesquisando-se os Excertos da Memória da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, publicada por Francisco de Paula Dias Negrão, em 1932, encontrada na casa Romário Martins e da exaustiva pesquisa bibliográfica realizada e cujos volumes encontram-se relacionados em anexo, nas referências bibliográficas e que logo de início, traz uma transcrição do manuscrito de SS.MM.II. Dom PEDRO II no qual o imperador relata a inauguração, o Hospital e a visita à Curitiba e cujo original se encontra no acervo do Museu Imperial de Petrópolis e com o qual se inicia o relato da História da Santa Casa.

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