Agora as pulgas.
Albert Camus, em 1947 começava La Peste falando sobre Oran:
“Quando saía da cirurgia,na manhã de 16 de abril, o Dr. Bernard Rieux sentiu alguma coisa macia sob o pé. Era um rato morto bem no meio do patamar da escada. Num impulso de momento, ele o chutou para o lado e, sem pensar mais no caso, continuou a descer a escada. Só quando estava na rua lembrou que não deveria haver um rato morto no andar de sua cirurgia.”
Quando voltou para casa, naquela noite, o Dr. Rieux encontrou um rato quase morto, expelindo sangue pela boca. O animal deu um grito agudo e morreu. No dia seguinte havia três ratos mortos no seu corredor. Logo dezenas deles foram encontrados nas latas de lixo de Oran. Depois, milhares por toda a parte. No fim de duas semanas, num só dia, 6.231 ratos haviam sido queimados pelo serviço sanitário. Dois dias depois, foram 8.000. O povo começou a ficar preocupado.
Assim como os ratos abandonam o navio que está naufragando, a pulga abandona o rato que está morrendo. Se o rato morre de peste, então o micróbio Pasteurella pestis, pequeno, gordo, que forma uma cadeia e que infesta o sangue da última refeição da pulga, fica nauseado – que nojo! – quando a pulga pica o seguinte, quase sempre um homem. Daí a Morte Negra de 1348.
A Morte Negra começou nas praias do montanhoso Lago Issyk-Kul, a leste do Mar de Aral, além do Tashkent, no canto entre a Rússia e a China, ao norte do Himalaia. Em 1346, a Morte Negra estava matando indianos, armênios, tártaros e curdos, o que não preocupou muito pessoa alguma na Europa. No ano seguinte ela chegou à Criméia, depois a Messina, na Sicília, levada pelos ratos das galeras genovesas. Em seguida, Gênova, Pisa e Veneza. Depois disso, nada mais podia contê-la. No natal de 1348 foi importada para a Inglaterra, através de Bristol, e um ano depois tinha varrido as Terras Altas da Escócia. Os médicos armaram-se com longos aventais de couro, luvas e protótipos das máscaras contra gases do ano 1939, com óculos de aviador e anti-sépticos aromáticos no tubo de ar. Os pacientes queimava ervas e cantavam salmos. A mortalidade entre os religiosos que atendiam os doentes foi heróica.
Foi chamada Morte Negra porque os mortos ficavam pretos. Sangravam horrivelmente ao nível da pele. Havia dois tipos, a bubônica, com os gânglios da virilha e das axilas intumescidos como laranjas podres, os terríveis “bulbos”, ou a pnemônica, transmitida pela respiração, uma pneumonia hemorrágica, com morte certa e rápida. Boccaccio observa:
“Quantos homens valentes, quantas damas graciosas,
tomavam o desjejum com a família e naquela mesma noite
jantavam com seus ancestrais no outro mundo”
Em covas abertas apressadamente eram enterrados os corpos putrefatos, malcheirosos e ameaçadoras, 25 milhões deles na Europa, um quarto da população. Metade de Londres pereceu, talvez umas 50.000 pessoas. Ninguém sabia que causava a peste, mas acreditavam que os judeus estavam envenenando os poços de água.
Teria sido tão horrível assim? Em 1988, dois cemitérios de emergência cavados em 1348 foram encontrados em Londres, perto da Torre e em Smithfield. Eram longas filas em camadas sensatamente cobertas de terra, para não enterrar corpo sobre corpo. Os corpos eram cuidadosamente arrumados e cobertos com uma fina camada de terra, com sepulturas separadas para crianças. Esses cemitérios demonstrando um admirável senso tem previsão dos responsáveis pela cidade, quando a peste começava a chegar, vinda do oeste do país. Os 12.400 ocupantes das valas – possivelmente a maior parte das vítimas de Londres – indicam que a tragédia foi menor do que conta a tradição.
Durante a década de 1330, a Europa já estava em recessão econômica, o comércio praticamente estava parado e os preços caindo, guerras e desordens urbanas prejudicavam o comércio, a colheita era precária e o preço dos alimentos subia como um foguete. Veio a fome, e os pobres comiam os cachorros. Pelo menos, a Morte Negra resolveu o problema da super-população da Europa.
Depois da batalha de Bostworth,, em 1485, a coroação de Henrique VII foi impedida pela doença do suor. Fui a única coroação adiada por causa de doença, até de Eduardo VII no verão de 1901. Sudor Angelicus era uma doença misteriosa. Os doentes suam e tremiam de frio, exalavam um cheiro estranho e desagradável e morriam em um dia. Foi registrada por John Caius (1510-1573), o médico que transformou Gonville Hall, em Cambridge, em Gonville e Caius College , praticamente fazendo dele um colégio de medicina. Caius foi médico da corte desde morrem nada de Henrique VIII até o de Elizabeth primeira, mas de uma aposta está na reforma. Os colegas de Caius descobriram seus trajes católicos e os queimaram em praça pública, e então ele levou seus colegas para praça pública, presos ao tronco. Seu túmulo na capela do colégio diz apenas: Fui Caius. Ele escreveu também Of the English Dogges.
Os sinos da praga sua cara outra vez em Londres, em 1563, dizimando 1/5 todos seus 93.000 habitantes, em 1575, 1593, 1603, 1625.e 1636, cada vez diminuindo de 20.000 a população de Londres. A epidemia da Morte Negra mais comentada na literatura é Grande Poste de Londres.
Em 1661 a peste voltou à Turquia, em 1664 matou um quinto da população de Amsterdã e chegou a Flandres. No mês de dezembro, dois franceses morreram em Drury Lane, e no mês de junho do ano seguinte, Samuel Pepys escrevia :
“Em Drury Lane eu vi duas ou três casas marcadas com uma cruz vermelha na porta, e a frase ” o Senhor tenha piedade de nós “-um triste espetáculo para mim, que o via pela segunda vez.”
Ele comprou tabaco e mascou, para acalmar os nervo.
A cruz vermelha regularmente tinha 30 centímetros de altura, a casa era selada e vigiada por 40 dias, doentes e sãos aprisinados juntos, comida e medicamentos deixados medrosamente na frente da porta. Os únicos visitantes eram os bravos médicos que não haviam fugido de Londres com o rei, mulheres velhas, “examinadoras”, cuja função consistia em descobrir os “sinais” nos corpos dos mortos – manchas vermelhas na pele – para determinar do que tinham morrido, e os enfermeiros que roubavam dos corpos e às vezes, impacientes, os estrangulavam ou passavam o pus de suas feridas nas pessoas sãs para matá-las depois.
Nathaniel Hodges (1629-1688), médico que descrevia com jovialidade situações mais trágicas, conta com humor o caso da enfermeira que, depois da morte de toda a família que ela tratava, saiu da casa carregando os objetos roubados que caiu morta na rua. Outra enfermeira roubou a roupa do paciente agonizante. Mas ele se recuperou e voltou à vida completamente nu.
O Dr. Hodges tornou-se imune à doença chupando pedaços de canela, enquanto examinava os pacientes, comendo grandes quantidades de carne assada e picles (” na verdade, naquele tempo melancólico havia na cidade grande abundância de todas coisas as coisas boas dessa natureza “) tomando um copo de vinho branco, seco e forte, da Espanha, antes do jantar, mais alguns copos durante a refeição e depois do dia de trabalho “tomando com prazer minha bebida predileta, que me ajuda a dormir e proporcionava a respiração fácil dos poros durante toda a noite. A gratidão me obriga a fazer justiça às virtudes do vinho branco e sua merecida classificação entre principais antídotos “. Para ele, o melhor vinho era o de meia idade – limpo, fino, claro, vigoroso e com leve sabor de nozes.
Nathaniel Hodges tratava seus pacientes com raízes de Serpentária da Virgínia, sapo seco e doses da água da peste, do Colégio dos Médicos, uma mistura absurda de 21 medicamentos. Quando a peste terminou ele ficou sem pacientes, empobreceu, foi preso em Ludgate por dívidas e morreu na prisão em 1688. Um exemplo dos perigos da especialização radical.
“Tragam os seus mortos.!” Soava a voz nas ruas, acompanhada do dobre dos sinos, quando as ofertas eram atiradas aos montes nas valas. Os cães, suspeitos de transmitir a peste, foram massacrados. Os ratos tiveram mais sorte. No úmido mês de setembro de 1665, quando em Londres morriam 12.000 pessoas por semana, os patriarcas da cidade mandaram acender fogueiras nas ruas durante três dias seguidos, para purificar o ar, mas o céu, chorando seus mortos, as extinguiu. Os médicos não haviam concordado com essa ideia, que consideravam supérflua, teatral e dispendiosa. Exatamente um ano depois, o Grande Incêndio levou exatamente o mesmo tempo para provar que os médicos estavam errados.
O relato de Daniel Defoe, Diário do Ano da Peste, publicado em 1007 às 22, era uma artística obra de ficção, como Robson Crusoe.
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