Do DNA da F-1, só resta o GP da Itália. E ele é o próximo alvo de Bernie

Se você procurar nos livros de história, a primeira corrida a carregar o nome de “Grande Prêmio” aconteceu no fim de junho de 1906 em estradas próximas à cidade de Le Mans, na França. Foi disputada em dois dias, com seis voltas em cada um deles, num percurso total de mais de 1.200 quilômetros. Uma verdadeira maratona de resistência vencida ao final pelo húngaro Ferenc Szisz com um Renault.

O grid contou com 32 carros fabricados em apenas três países: França, Alemanha e Itália. Neles se concentravam a indústria automobilística em seu nascimento, com o esporte a motor surgindo ao mesmo tempo. São estas três nações que formam o DNA do automobilismo.

Mais de um século depois, a chance da Fórmula 1 perder este seu código de origem é muito grande. O último GP da França aconteceu em 2008. Neste ano, o calendário não terá a prova da Alemanha. O atual contrato de Bernie Ecclestone com o GP da Itália se encerra no final do ano que vem e ele já avisou que não pretende renovar porque o acordo “é comercialmente um desastre”. O chefão da categoria parece mesmo querer acabar com o pouco que ainda resta de tradição nela.

O modelo praticado por ele é insustentável para muitos países. Ecclestone cobra uma taxa caríssima, com reajustes anuais extorsivos, apenas para que o organizador tenha o direito de realizar a prova. Este assume também todos os custos para sua realização. Na realidade econômica atual, são poucos os que se arriscam a fazer isso.

Especialmente na Europa, onde a ajuda governamental é praticamente inexistente, a situação é complicada. Os GPs da Áustria (Red Bull) e da Bélgica (Shell) sobrevivem pelo investimento de empresas privadas. A prova na Hungria acontece por uma relação especial de Ecclestone com os organizadores e o GP de Mônaco tem o privilégio de não pagar taxa nenhuma para, em troca, oferecer o cenário onde a maior dos negócios milionários que envolvem a categoria.

Enquanto isso, Espanha, Inglaterra e Itália fazem das tripas coração para manter os seus eventos. Já a corrida em Nürburgring se junta a uma lista longa de organizadores privados que não conseguiram sobreviver ao modelo de Ecclestone, sendo os GPs da Índia e da Coreia do Sul os exemplos mais recentes disso.

O GP da Alemanha pode até voltar no ano que vem em Hockenheim, mas também não é sustentável a longo prazo – no ano passado, o prejuízo dos organizadores foi enorme. As conversas sobre o futuro do GP da Itália prosseguem. Mas caminham também para o fim da corrida após 2016 – a organização não tem como pagar mais e Ecclestone não vai abaixar o valor pedido.

Negando sua origem, a F-1 caminha para deixar meia dúzia de milionários um pouco mais ricos, enquanto se afasta completamente do seu torcedor.

[Voltar]