A história da medicina não é o testamento de idealistas à procura da saúde e da vida, assim como história do homem não é mais gloriosa do que uma vista de irracionalidade brutal e egoísta com lampejos espasmódicos de sanidade.
A história da medicina é, em grande parte, a substituição da ignorância por mentiras. Esse vagar errante por becos sem saída pode ser uma progressão útil, quando os mais inteligentes e impacientes caminhantes encontram um caminho melhor. “Muitas descobertas notáveis foram feitas por homens que, seguindo os passos da natureza com os próprios olhos, acompanharam-da por caminhos tortuosos, mas quase sempre seguros, até alcançá-la na sua cidadela da verdade “, disse o homem que descobriu a circulação do sangue.
Em cada geração, desde 1600, esses individualistas legaram à humanidade algum avanço biológico, não relacionado com o progresso árido dos benfeitores convencionais. O fato de as suas descobertas terem sido, de um modo geral, ameaçados por perigos insuspeitos, provocando doenças inesperadas e morte, só contribui para dar mais interesse à história.
Os desbravadores das grandes extensões deste vale de lágrimas formam um grupo especial: todos inteligentes, alguns astutos, os de mais sorte abençoados com inspiração ou intuição, muitos deles simplesmente classificadores obsessivos dos homens e dos micróbios, ou simplesmente dotados de grande destreza manual. Suas cabeças acadêmicas zumbiam com abelhas que, às vezes, adoçavam com mel pão da aflição . Eles se confundiam com os ilusionistas. A medicina sempre se revestiu do manto cintilante das realizações, enquanto continuava miseravelmente despida de descobertas importantes. Estas são ao todo uma dúzia, relacionadas no fim do livro, para que os leitores inteligentes possam testar a própria percepção.
(O Leitor inteligente, tendo chegado até aqui, há tanto tempo de pé na biblioteca ou na livraria, pode pensar que indo agora diretamente ao fim do livro vai poupar trabalho dinheiro.)
- Aqui estão os dragões
- A bomba do tempo de Hipócrates
- A impopularidade da morte
- Olá, Renascimento!
- Corpo e alma
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