Robert James Graves, de Dublin (1796-1853), um homem de ação que foi preso na Áustria como espião e esmagou uma rebelião no Mediterrâneo, observou em 1835:
“Palpitações longas e violentas nas mulheres, todas com uma peculiaridade em comum, o aumento da gandula tireóide… os olhos assumem um aparência singular, pois parecem aumentados, de modo que quando ela dorme, ou tenta fechá-los, as pálpebras não se fecham.”
Desse modo, ficamos conhecendo para sempre a doença de Graves, provocada por uma hiperatividade da tireóide.
A gandula pruitaria, na base do cérebro, tornou-se, mais tarde, a regente da orquestra endócrina, um conjunto de sete instrumentos. Foi Harvey Williams Cushing (1869-1939), professor de cirurgia no Hospital Johns Hopkins e em Harvard, quem iniciou a orquestra. Ele começou identificando a pituitária em 1912, e descreveu a Síndrome de Cushing em 1932, na qual o doente apresenta o rosto redondo como a lua.
Thomas Addison (1795-1860), filho de um merceeiro, um homem rude que foi de Newcastle para a Guy’s, em Londres, em 1849, deu seu nome à anemia fatal sem causa conhecida, a “anemia perniciosa” Em 15 de março de 1855 ele descreveu para a Sociedade Médica do Sul de Londres uma segunda doença de Addison, uma disfunção das glândulas endócrinas supra-renais que provocava pigmentaçao da pele e risco de vida. Essa foi a overture não ouvida da orquestra endócrina. Addison teve a infelicidade, partilhada por outro homem de Guys, Thomas Hodgkins, de estar tão adiante do seu tempo que ninguém deu atenção ao seu estudo. Ele sofreu uma crise de melancolia e logo depois morreu, em Brighton.
Em 1935, os médicos estavam equipados com injeções de fígado contra a anemia perniciosa. Em 1922, Sir Frederick Banting(1891-1941) e Charles Herbert Best (1899-1978) os armaram com insulina contra a diabetes. Eles podiam ainda usar como munição as vitaminas de Sir Gowland Hopkins, e tocaiar as doenças com as inoculações de Sir Almroth Wright.
A medicina se desfazia lentamente dos seus valores vitorianos de dieta, evacuação regular, caldo de carne, descanso e silencio, um regime tão repousante que, para algumas mulheres, signifcava imobilidade durante três meses, deitadas na cama sem visitas jornais ou cartas, o único alivio sendo o realejo no fim da rua. Pacientes com mais sorte eram despachadas em viagens para lugares ensolarados, um modo conveniente para o médico se livrar delas.
Até a segunda metade do século XX, a farmácia dos médicos continuou como um pente de balas vazio. Agora começavam a aparecer os armeiros. Hoje temos antibióticos eficazes, medicamentos contra pressão alta, contra arritmia, antieméticos, antidepressivos anticonvulsivos, esteróides contra artrite, broncodilatadores, diuréticos, cicatrizantes das úlceras estomacais e duodenais, medicamentos contra a doença de Parkinson e drogas citotóxicas contra o câncer. As leucemias da infância perderam seu terror, e algumas doenças selvagemente fatais como o seminoma dos testículos perderam seu caráter maligno. Vivemos mais tempo e melhor. O efeito desse avanço vitorioso é menos de júbilo universal do que a reclamação generalizada de nossos políticos no sentido de que vencer essa guerra significa a falência do Serviço Nacional de Saúde e o aumento do lucro das indústrias farmacêuticas.
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