DÉBORA MISMETTI
EDITORA DE “CIÊNCIA+SAÚDE”
As metas para os valores máximos de colesterol LDL, o famoso colesterol “ruim”, vão ficar mais rígidas para boa parte dos brasileiros, em especial para as mulheres.
As novas diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia para o controle dos níveis de colesterol e a prevenção das doenças cardiovasculares vão encaixar mais delas no perfil de alto risco para problemas cardíacos.
Hoje, de acordo com as orientações da entidade, as mulheres são classificadas dessa forma quando têm uma probabilidade de mais de 20% de sofrer algum evento cardiovascular, como infarto, derrame e insuficiência cardíaca, nos dez anos seguintes. Agora, uma chance maior do que 10% de problemas vai acender o sinal amarelo no consultório médico.
Essa probabilidade de risco é calculada de acordo com fatores como idade, tabagismo, histórico de doenças cardíacas e histórico familiar, diabetes, entre outros.
“O maior impacto da mudança será entre as mulheres com mais de 45 anos. O risco das mulheres a partir da menopausa está aumentando. Elas estão chegando nesse patamar mais gordas e com um estilo de vida complicado. Nas capitais, já estão quase empatando com os homens em número de infartos”, afirma o cardiologista Hermes Toros Xavier, editor da 5ª Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que serão publicadas em setembro no periódico “Arquivos Brasileiros de Cardiologia”.
Além de mais mulheres entrarem no perfil de alto risco, as metas máximas de colesterol LDL para quem está nesse patamar ou no intermediário (a partir de 5% de risco de evento cardiovascular em dez anos) vão mudar.
Antes, alguém classificado como de alto risco podia ter como meta um LDL de até 100 mg/dl. Agora, o limite recomendado será de 70 mg/dl.
Já quem está no perfil intermediário passa a ter como meta 100 mg/dl de LDL em vez de 130 mg/dl, como previam as diretrizes anteriores, publicadas em 2007.
A consequência é clara: mais pessoas devem receber a indicação de tomar remédios para baixar o colesterol, as estatinas.
“Até 2020, podemos ter um ‘boom’ de mortes cardiovasculares. Precisamos ter uma atividade preventiva mais proativa”, afirma Xavier.
O uso das estatinas em pessoas que já sofreram infartos já se provou eficaz em muitos estudos, reduzindo o risco de novos eventos cardiovasculares e mortes.
O emprego desses remédios para evitar um primeiro infarto ou derrame continua a ser tema de estudos. Uma recente revisão de 18 pesquisas envolvendo 57 mil pessoas conduzida pela rede Cochrane, no entanto, mostrou que o uso de estatinas raramente causa efeitos colaterais graves e reduz em 14% o risco de morte por todas as causas.
Alguns dos efeitos colaterais associados com o remédio são dores musculares e problemas no fígado.
“Alguns dizem que a gente já prescreve estatina demais, mas no Brasil a maioria dos que precisam não toma, e a maior parte dos infartados não tem o colesterol controlado”, afirma Raul Santos Filho, diretor da Sociedade Internacional de Aterosclerose.
Segundo Xavier, o objetivo da publicação das novas diretrizes é fazer os médicos correrem atrás das metas e saírem da chamada “inércia terapêutica”. “Não adianta só dar o remédio. Precisa atingir a meta. Hoje a maioria dos que tomam estatina tem uma redução pequena no LDL.”
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