A evaporação do clorofórmio

O clorofórmio tinha um problema. Matava rapidamente, matava rápida, inesperada e indiscriminadamente. A primeira vitima foi Hannah Greener, quinze anos e em perfeita saúde, em Newcastle, 28 de janeiro de 1848, durante a remoção de uma unha do pé.

É claro que clorofórmio demais mata qualquer um, como qualquer coisa em demasia. Porém, logo descobriram que o coração podia parar de repente, logo no começo da administração do anestésico – “sincope do clorofórmio”. Ninguém sabia por que. Isso provocou uma grande desordem em Hyderabad, no dia 25 de janeiro de 1889.

O duque e a duquesa de Connaught estavam distribuindo prêmios na escola de medicina, naquele remoto posto acadêmico do império onde o sol jamais se põe. O diretor da escola (Serviço Médico do Exército em Bengala) afirmava que sua escola era melhor do que muitas da Europa, e que haviam descoberto que não existe essa coisa de “síncope do clorofórmio”. Fizeram isso matando com uma superdose 128 cachorros vira-latas adultos. Ele aconselhava as escolas de medicina de Londres a continuar com o éter, que eles sabiam controlar.

A Lancet interessou-se pelo assunto. Cartas e artigos defrontavam-se grandiosamente nos números semanais da revista que viajava a bordo dos navios-correio P&O. Nizam de Hyderabad, esportivamente ofereceu 1.000 libras para a Lancet enviar um especialista e testar sua teoria. A Lancet enviou um farmacologista eminente, que passou um telegrama dizendo NENHUMA PARADA DO CORAÇÃO, depois de matar 490 cães, cavalos, macacos, a Lancet orgulhosamente sugeriu que seu homem tinha virado nativo. Como sempre acontece na medicina, os médicos continuaram a discutir e os pacientes continuaram a morrer.

O clorofórmio não é inflamável – ao passo que o eter é explosivo o que recomendava seu uso nas batalhas e nos ataques aéreos. Na II Guerra Mundial o éter foi superado por um fluido para limpar a seco, inflamável, o tricloretileno (os tintureiros adoraram e se embriagavam cheirando os tanques). Depois da guerra, como certas marcas de chocolate e de sorvete o clorofórmio nunca mais apareceu.

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