Por que mais de 900 pessoas se mataram por causa deste homem?

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Até os ataques de 11 de Setembro, a maior tragédia envolvendo ações deliberadas contra civis americanos teve lugar em meio à floresta amazônica, no território da Guiana. Há exatamente 37 anos.

Em 18 de novembro de 1979, 918 pessoas morreram em um misto de suicídio coletivo e assassinatos em Jonestown, uma comuna fundada por Jim Jones, pastor e fundador do Templo Popular, uma seita pentecostal cristã de orientação socialista.

Embora algumas pessoas tenham sido mortas a tiros e facadas, a grande maioria pereceu ao beber, sob as ordens do pastor, veneno misturado a um ponche de frutas.

Foi um fim trágico para um projeto utópico iniciado em 1956, no Estado americano de Indiana. Apesar de promover curas “milagrosas” fraudulentas, Jones promoveu ideais igualitários, como impor vestuário modesto para os frequentadores de cultos, distribuição de comida gratuita e mesmo o fornecimento de carvão para famílias mais pobres no inverno, o que atraiu um imenso contingente de fiéis de perfis raciais mais diversos.

Messiânico
Em meados dos anos 60, o Templo Popular se mudou para a Califórnia, um local mais apropriado para os ideais esquerdistas do pastor. Nos anos seguintes, o movimento ganhou popularidade suficiente para que Jones circulasse entre os poderosos – a primeira-dama Rosalynn Carter, por exemplo, encontrou-se várias vezes com ele.

Mas a seita também despertou suspeitas e investigações da mídia americana, que explorou relatos de dissidentes sobre um suposto estilo messiânico e ditatorial do pastor. O escrutínio levou Jones a buscar refúgio na Guiana, onde conseguiu permissão das autoridades locais em 1974 para arrendar um terreno em meio à selva e criar uma comuna longe de olhos mais curiosos.

Jonestown, como o assentamento foi batizado, tinha uma escola, bangalôs e um pavilhão central, além de espaço para que os habitantes plantassem verduras e legumes. O pastor e centenas de seguidores se mudaram para lá em meados de 1977. A única forma de contato com o mundo era um rádio de ondas curtas. Houve relatos de que Jones promovia um regime ditatorial, marcado por punições severas e pela presença de guardas armados para tentar evitar fugas.

O pastor também avisava aos seguidores que os serviços de segurança americanos estavam “conspirando contra Jonestown” e que uma das soluções seria um “suicídio revolucionário”. Algo que, por sinal, teria sido ensaiado algumas vezes em assembleias.

Em 1978, alertado pela preocupação de parentes de integrantes da comuna, o deputado federal Leo Ryan viajou à Guiana com uma delegação de 18 pessoas para visitar Jonestown, Depois de negociar entrada no local, a visita ocorreu em 17 de novembro. No dia seguinte, Ryan e mais quatro pessoas morreram a tiros em uma pista de pouso próxima ao assentamento. Poucas horas depois ocorreu o suicídio coletivo.

Os relatos de sobreviventes falam em um “estado de transe coletivo”, mas uma sinistra gravação dos procedimentos, que inclui discursos de Jones, contém gritos de agonia das pessoas envenenadas. Quem tentou fugir foi morto.

Quando autoridades da Guiana chegaram a Jonestown, o pastor foi encontrado morto com um tiro na cabeça, em uma posição que sugeriu suicídio. Dos habitantes que estavam em Jonestown naquele dia, apenas 35 sobreviveram. Mas também são considerados sobreviventes pessoas como Laura Johnston Kohl, que naquele dia estava na capital guianesa, Georgetown, comprando mantimentos para a comuna.

“Nós éramos visionários que deixaram para trás os confortos da vida urbana e se mudaram para o meio da floresta para criar um modelo de comunidade para o resto do mundo. Jim Jones era articulado para mascarar as partes dele que eram corruptas ou doentes”, explica Kohl, autora de um livro em que relatou suas experiências no culto.

Mais de três décadas depois da tragédia, Jonestown ainda provoca polêmica na Guiana. O terreno da comuna foi “reconquistado” pela floresta, mas há no país quem queira ver o local explorado como ponto turístico, assim como acontece nos antigos campos de concentração nazistas na Europa, por exemplo. Mas o governo do país tem se recusado a considerar a possibilidade.

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A história do atleta que tomou veneno para ser campeão olímpico. E foi!

Thomas Hicks é o nome do britânico-americano que protagonizou uma das histórias mais inacreditáveis de todos os Jogos Olímpicos da história moderna. E, como estamos em meio a uma grande polêmica envolvendo doping, o capítulo da história dos Jogos dedicado a Hicks tem uma pitada, podemos dizer, quase fatal de drogas para melhorar a performance esportiva.

Seu ouro olímpico veio após consumir duas doses de estricnina, comumente usado como veneno de rato, mas que em algum momento foi usado como estimulante, por atuar no sistema nervoso central.

Fazia calor, estava muito úmido, o percurso contava com oito morros para serem vencidos pelos maratonistas, a largada ocorreu às 15h. Dos 32 competidores, 18 desistiram no meio do caminho. Um deles quase morre com uma hemorragia no esôfago provocada pela poeira levantada pelos carros que acompanharam os atletas no trajeto até a linha de chegada. A pista era de terra batida. Só havia uma estação para hidratação ao longo dos 42 quilômetros.

O quarto colocado foi um carteiro cubano que simplesmente parou e tirou um rápido cochilo no meio da prova, porque quilômetros antes ele comera algumas maçãs podres que colhera no percurso.

O primeiro a completar a maratona foi o nova-iorquino Fred Lorz, mas não levou o ouro para casa. Descobriu-se, após a chegada de Lorz, que ele pegara uma carona com seu treinador após o 14º quilômetro, sob a alegação de estar exausto, e fizera boa parte da maratona de carro.

Assim, ele foi desqualificado e o ouro foi para Thomas Hicks.

Hicks, por sua vez, cumpriu os últimos metros carregado pelos ombros pelo treinador. Ele fez boa parte da prova caminhando, e sabia que Lorz já havia cruzado a linha de chegada em primeiro lugar. Para não desistir, recebeu duas doses estricnina que somadas, eram inferiores a 1g.

Para que o “doping” descesse melhor goela abaixo, ingeriu a estricnina com clara de ovos crus. Ainda tomou umas doses de brandy (uma forte bebida alcoólica) para recuperar o fôlego. O historiador George R. Matthews, garante que uma terceira dose de estricnina, com clara de ovo, brandy ou qualquer outra coisa, ocasionaria a morte de Hicks.

Apesar dos estimulantes, não foi desclassificado, e com a exclusão de Lorz, que tomara uma carona no carro do treinador, Thomas Hicks sagrou-se um inacreditável campeão olímpico com o tempo de 3h28s53 – o pior tempo já registrado em todos os tempos em Olimpíadas.

Túnel do tempo
Importante lembrar que isso ocorreu na maratona olímpica de Saint Louis, nos Estados Unidos, em 1904. A prova mais surreal da história dos Jogos Olímpicos.

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Pior do que Hiroshima

O mundo interconectado, como um organismo, é ao mesmo tempo muito resistente e muito sensível a infecções. A mesma rede que promove uma evolução sem precedentes pode ser usada para interferir, sabotar ou destruir estruturas no mundo que teimamos em chamar de “real”. Um bom exemplo está na Stuxnet, bomba digital criada por uma ação conjunta dos governos dos EUA e Israel para desmontar o programa atômico iraniano.

O ataque foi o primeiro caso de violação do espaço soberano de uma nação por outra que não estivesse em guerra declarada, o que abre um precedente para ataques futuros contra serviços de infraestrutura pelo mundo, sem que ocorra uma discussão pública a respeito de suas consequências.

Aonde vão os EUA, o resto do mundo tende a seguir. Vários países já declararam desenvolver seus programas bélicos digitais, entre eles China, Rússia, Reino Unido, França, Alemanha, Irã e Coreia do Norte. Outros têm suas operações digitais camufladas, por medo de alguma represália comercial ou diplomática.

Uma das poucas vantagens de uma guerra é que até hoje o seu custo e os horrores causados por ela são tão grandes que normalmente boa parte dos países opta pela diplomacia em vez da batalha. O ataque digital, ao eliminar boa parte desses custos e camuflar eventuais consequências, pode ser muito mais tentador.

A questão tem preocupado a comunidade científica. Kennette Benedict, diretora do Bulletin of the Atomic Scientists, identificou em um editorial diversos paralelos entre os ataques promovidos por EUA e Israel e as primeiras bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki. Entre eles está a falta de cuidado com que a tecnologia foi desenvolvida.

Em ambos os casos, líderes do governo e da comunidade científica correram para desenvolver suas armas “antes que o outro lado o fizesse” e ignoraram eventuais consequências não só com relação aos danos causados como também com relação à corrida armamentista que surgiria.

A arma digital está deixando de lado seus dias de inocência, em que poderia ser desenvolvida por um adolescente em seu quarto e cujos efeitos mais daninhos poderiam ser a interrupção de algum serviço digital, o furto de informações ou algum dano financeiro.

Hoje um ataque digital pode transformar qualquer coisa em arma, rompendo barragens, incendiando torres de transmissão ou queimando usinas. Desde que os atentados de 11 de Setembro de 2001 nos EUA mostraram que um avião comercial pode ser transformado em míssil, não é preciso detalhar a gravidade de tais eventos.

Como agentes químicos ou biológicos, armas digitais podem ser difíceis de identificar, determinar a origem e, principalmente, controlar. Elas não podem ser recolhidas, seus efeitos dificilmente são precisos e poucas têm a capacidade de autodestruição.

Stuxnet tinha uma instrução que impedia sua propagação depois de três anos de infecção. Isso era uma característica de seu projeto, não um requisito para seu funcionamento. Outras armas podem simplesmente ignorá-la. O que aconteceria se saíssem do controle?

Para piorar, cada arma digital carrega em seu código a estrutura para que novas armas sejam construídas a partir dela. Depois que um dos componentes do programa americano e israelense foi descoberto em 2011, novos ataques explorando a mesma vulnerabilidade apareceram em diversos kits vendidos no mercado negro. Em um ano, essa era a principal porta de entrada usada por criminosos para instalar malware e roubar dados bancários.

O alvo de um ataque digital ou de seu efeito colateral pode ir muito além do projetado. Sistemas logísticos, indústrias, redes de telecomunicações, fornecimento de água, saneamento básico, transações financeiras e parte considerável da Internet podem ser facilmente inutilizados. Sua recuperação, se possível, tende a ser muito lenta. Não há mais áreas isoladas ou protegidas. Todos são igualmente vulneráveis.

A ameaça de um eventual holocausto eletrônico ainda está em seus primeiros dias. Neste estágio, ainda é muito difícil antever o tamanho do dano que poderá ser causado em uma sociedade vítima de suas armas. Se elas não causam os horrores imediatos de Hiroshima e Nagasaki, o caos que podem criar pode ser mais duradouro ou até mais daninho, sobretudo pela dificuldade maior de identificá-lo.

É preciso chamar a atenção para os perigos dos ataques bélicos que utilizem a Internet, e criar uma rede de cooperação internacional que estabeleça instituições para legitimar, controlar e atribuir responsabilidades a determinadas tecnologias e seus usos, prevenindo danos antes que seja tarde demais. Como em todas as outras revoluções digitais, a guerra eletrônica poderá criar uma nova escala de destruição que ofuscará o que foi feito anteriormente.

Chega a ser irônico pensar que o primeiro uso reconhecidamente militar de ataque cibernético tenha sido usado para impedir o avanço no desenvolvimento de armas atômicas, abrindo caminho para uma nova era de destruição em massa sem precedentes.

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EUA lançaram “bomba-privada” na Guerra do Vietnã

Para celebrar o lançamento de seis milhões de libras em bomba no Vietnã do Norte, a Marinha dos EUA marcou a ocasião lançando um vaso sanitário sobre o inimigo.

Essa foto com o avião de ataque Douglas AH-1 Skyraider “armado” com um vaso sanitário pode parecer mentira, mas é real e ele decolou desta forma. Para celebrar os seis milhões de libras (2.721.554 kg) em bombas lançadas sobre o Vietnã do Norte, pilotos da Marinha dos EUA (US Navy) tiveram a brilhante ideia de lançar uma privada sobre o inimigo.

O avião, com codinome “Paper Tiger II” nessa missão, decolou do porta-aviões USS Midway com sua arma “especial” em outubro de 1965 para atacar objetivos no Delta de Mekong, no então Vietnã do Norte. O aparelho foi conduzido pelo comandante Clarence J. Stoddard, que voou acompanhado de seu ala Robin Bacon.

Segundo relato de um controlador de voo que acompanhou o ataque da “bomba-privada”, quando o vaso foi lançado por muito pouco ele não acertou o Skyraider comandado por Bacon, que vinha logo atrás em voo picado (mergulhando). Devido a resistência aerodinâmica e o baixo peso, o objetivo caiu de forma descontrolada e assoviando. Após o ataque, os aviões retornaram com segurança ao USS Midway.

A brincadeira não foi divulgada no porta-aviões e quando a aeronave surgiu no convés de voo com a privada debaixo das asas todos levaram um susto. Passado o ataque e a celebração, os pilotos criaram uma série de piadas para explicar a missão, como a de um ataque bioquímico.

O comandante Clarence J. Stoddard foi o único piloto de Skyraider que conseguiu abater um jato durante a Guerra do Vietnã, um MiG-17. Em 14 de setembro de 1966, Stoddard, porém, acabou abatido por um míssil anti-aéreo e morreu na sequência da queda.

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De Zumbi herói à origem da feijoada: 7 mitos sobre a escravidão no Brasil

Edgard Matsuki
Do UOL, em Brasília 13/05/201505h30 > Atualizada 14/05/201508h49

zumib-179x300No dia 13 de maio de 1888, a promulgação da Lei Áurea fez com que o Brasil se tornasse o último da América Latina a abolir a escravatura. Exatamente 127 anos após o país tornar ilegal a prática, mitos e polêmicas sobre como foi o período ainda persistem. Até hoje, algumas histórias que estão nos livros de história, senso comum e imaginário popular geram controvérsias.

O UOL separou sete mitos refutados por pesquisadores. Na lista, há elementos que mostram Zumbi dos Palmares como uma figura diferente da descrita, por exemplo, no Livro de Heróis Nacionais. Louvado como defensor da dignidade e igualdade dos negros, ele é apresentado por alguns pesquisadores como escravocrata, truculento e centralizador.

A origem de elementos presentes na cultura brasileira também gera confusões. Enquanto o senso comum aponta a capoeira como uma dança trazida de africanos para o Brasil e a feijoada como um prato tipicamente brasileiro, a realidade aponta que a capoeira é brasileira e a feijoada foi criada por europeus.

O próprio fim da escravidão também gera controvérsias. Enquanto alguns livros, como o best-seller “O Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”, de Leandro Narloch, apontam que os ingleses tinham motivos ideológicos para pressionar pelo fim da escravidão, pesquisadores levantam que o interesse era econômico e estava relacionado com o preço do açúcar exportado da América Latina para a Europa. Entre tantas controvérsias, confira nossa lista:

Mitos 1 e 2 – Zumbi defendia o fim da escravidão e o Quilombo era um espaço de liberdade
Considerado um dos grandes heróis abolicionistas da história do Brasil, Zumbi dos Palmares é apontado como escravocrata por pesquisadores. Descendente dos imbangalas, os “senhores da guerra” na África Centro-Ocidental, ele tinha os seus próprios servos. De acordo com Leandro Narloch, Zumbi mandava capturar escravos para trabalhos forçados no Quilombo dos Palmares. O autor aponta que Zumbi lutou mais pelos seus interesses do que por liberdade para negros.

Coautora do livro “Palmares, Ontem e Hoje”, a pesquisadora Aline Vieira de Carvalho diz que é possível que Zumbi tivesse escravos, mas faz uma ressalva que eram outros tempos. “No século 17, a escravidão não é condenada. O fato de essas interpretações serem polêmicas revela mais sobre os preconceitos da sociedade atual e da forma como nos representamos hoje do que sobre o quilombo”.

Mito 3 – Escravos estavam fadados a ser escravos
Outro mito aponta para a impossibilidade de escravos não terem possibilidade de ascender socialmente. Narloch aponta, em seu livro, que alguns tinham, inclusive, outros escravos e uma pequena fortuna. Como exemplo, ele cita o caso de Bárbara Gomes de Abreu e Lima, que revendia ouro, tinha propriedades e sete escravos. De acordo com o autor, ela “representava, certamente, um modelo que a ser seguido por outras escravas libertas”.

Mito 4 – A capoeira veio da África
O senso comum aponta que a capoeira foi trazida da África por escravos. Porém, a história mostra que a mistura de dança e luta foi desenvolvida no Brasil. Tanto que o nome capoeira não é de origem africana. A palavra vem, na realidade, do tupi kapu’era (mata que foi). Apesar de brasileira, a dança realmente tem influência africana. Ela é descendente de uma dança africana chamada de n’golo (dança da zebra),

Mito 5 – A feijoada é um prato brasileiro
O senso comum também aponta a feijoada como um prato brasileiro e que foi criado por escravos. Esse é mais um engano. Na realidade, o prato nasceu na Europa e acabou sendo adaptado no Brasil. O historiador Henrique Carneiro aponta que um dos pratos que deu origem à feijoada é o cassoulet francês (feito com feijão branco). Ele diz que até mesmo na Polônia existe uma feijoada polonesa chamada tsholem. No Brasil, ela foi prato da elite na época da escravidão.

Mito 6 – Princesa Isabel é uma heroína e libertou escravos
Se Zumbi dos Palmares não é um heroi, a Princesa Isabel também não pode ser considerada. Apesar de ter dado o “canetaço” que aboliu a escravatura no Brasil, ela nada mais fez do que acatar pressões vindas da Inglaterra (nação mais poderosa da época). A preocupação dos ingleses era com o baixo preço do açúcar, que caia com ajuda da mão de obra barata. A prova de que ela não fez “nada de mais” é que o Brasil foi o último país da América Latina a acabar com a escravatura.

Mito 7 – Lei Áurea acabou com a escravidão
Apesar de representar o fim de uma era, a Lei Áurea não resolveu o problema da escravidão. Apenas mudou a forma que era feita a atividade. “Livres”, os negros passaram a contrair dívidas praticamente impagáveis e ficavam o resto das vidas para pagar as dívidas. Até hoje, é possível encontrar trabalhos análogos à escravidão em alguns locais do Brasil também relacionados a dívidas. Ou seja, não foi a Lei Áurea que resolveu o problema.

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Jesus era Deus?

Jesus era Deus? Claro, esta é uma pergunta que só interessa a cristãos. Mas nem tanto.

Para qualquer estudioso do cristianismo, importa saber como um jovem, que morreu humilhado numa distante província do império romano, chegou a ser visto como Deus por alguns poucos judeus na época e por muitos gregos, romanos e outros povos da região.

O livro “Como Jesus se Tornou Deus” (editora LeYa, R$ 49,90, 544 págs.), de Bart Ehrman, explica esse processo. Especialista em Novo Testamento e história do cristianismo primitivo, Ehrman é professor de estudos religiosos na Universidade da Carolina do Norte. Um “scholar”, pois.

Seu livro (o autor tem vários sobre o tema) tem outra grande qualidade, além de ser escrito por um cara que entende do traçado. “Como Jesus se Tornou Deus” é gostoso de ler e não serve apenas como objeto de culto para iniciados. Qualquer pessoa que aprecie o tema e tenha o hábito da leitura vai aprender muito e se deleitar com ele.

Ehrman parece ter preocupação semelhante à do filósofo judeu alemão Franz Rosenzweig (1886-1929): falar com o homem comum.

Rosenzweig abandou a academia por entender que ela mais atrapalhava a busca de respostas urgentes sobre os temas importantes (para ele, crítica da metafísica e o estudo do judaísmo) do que ajudava.

Ehrman não chega a tanto. Eu também acho que não é necessário abandonar a academia, mesmo porque ela tem um papel essencial no estabelecimento de repertório qualificado sobre qualquer assunto.

O livro de Ehrman é rico em referências históricas precisas, articuladas numa linguagem aberta e divertida. Uma pérola para quem gosta de aprender sem o peso dos textos truncados.

Por que seria mais fácil entender que gregos e romanos tenham chegado à conclusão de que Jesus era Deus do que entender que judeus (os primeiro seguidores de Jesus eram judeus, seguramente) tenham chegado à conclusão de que Jesus era Deus? Porque os “pagãos” tinham inúmeros deuses e deusas e semideuses e semideusas. Portanto, uma “rede” de divindades povoava seu panteão.

Jesus foi visto por muitos dos seus seguidores como o Messias, que raramente foi entendido como Deus no judaísmo. Para a mente judaica, ver Deus na forma de um homem parecia um tanto absurdo. Verdade? Nem tanto, mostra Ehrman.

Além do fato de que a Bíblia Hebraica (o Velho Testamento) traz inúmeras referências a Deus na forma de anjos (que mais parecem homens muitas vezes), a passagem de Jesus humano para Jesus Deus tem etapas essenciais em que “Deus”, aí, deve ser entendido, antes de tudo, como “um deus”.

Os judeus eram monoteístas, mas nem tanto. Já a figura do “Filho do Homem”, um “semideus” que sentaria ao lado de Deus e faria seu trabalho apocalíptico, era muito comum, inclusive na literatura cristã da época. O universo judaico antigo carregava em si toda uma gama de figuras semidivinas, abaixo de Adonai (o Deus único).

O primeiro momento desse processo é como a teia de semideuses (como o “Filho do Homem”) e anjos judaicos preparou a divinização do Jesus histórico: Ele foi, muito provavelmente num primeiro momento, associado a uma dessas figuras semidivinas do panteão judaico. E, só posteriormente, chegou ao topo da lista para alguns, se transformando no Deus de Israel encarnado –mesmo assim, não para todos.

O Messias, na sua forma mais comum, deveria ser um guerreiro. Jesus, para aqueles que esperavam um guerreiro, foi um fracasso: morreu na cruz como um bandido miserável.

A obra não se ocupa de nenhum aspecto de fé, apenas do processo histórico que levou à divinização de Jesus. Tampouco das reviravoltas doutrinárias para fazer de Cristo um Messias do amor total.

Portanto, outra face desse processo é como a ressurreição de Jesus foi importante para resolver o fracasso do seu movimento apocalíptico. Sem a ressurreição, Ele, provavelmente, teria sido esquecido, como outros candidatos a Messias ao longo da história judaica.

Enfim, o estudo histórico das religiões pode fazer de você um cético. É o caso de Ehrman, como ele mesmo confessa. Mas nem só de fé vive o homem.

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Com atraso de 530 anos, Inglaterra inicia funeral de rei ‘malvado’ Ricardo 3º

Com mais de 500 anos de atraso, a Inglaterra dá início neste domingo (22) a uma cerimônia de cinco dias para enterrar um rei conhecido como malvado e ladrão de trono, Ricardo 3º.

Retratado por Shakespeare como um tirano corcunda, Ricardo foi morto na Batalha de Bosworth, em 1485, mas seus restos mortais se perderam com o tempo.

Em 2012, cientistas britânicos localizaram o esqueleto do rei em um estacionamento na cidade inglesa de Leicester.

O esqueleto — que apresentava a coluna curvada — passou por testes que comprovaram que o DNA era compatível com os descendentes do monarca.

Os restos mortais do rei serão depositados na Catedral de Leicester na quinta-feira, mas farão um tour antes disso, passando pelo campo de batalha onde Ricardo foi morto.

Ricardo governou o reino da Inglaterra no século 15 e foi o último monarca britânico morto em batalha.

Desde que seu esqueleto foi descoberto, sua imagem sofreu uma mudança positiva. Em vez de ser visto apenas como um tirano que roubou o trono, ele passou a ser descrito por alguns como um monarca típico de sua época.

O rei foi o último da casa dos Plantagenet, uma dinastia de origem francesa que deu lugar aos Tudor. Segundo a mídia britânica, a rainha Elizabeth 2ª, da casa de Windsor, deve comparecer ao enterro do “rei mau”.

Mas a disputa de dinastias ainda causa polêmica.

“Não acho que outros membros da Família Real vão comparecer. Eles reivindicam o direito ao trono como descendentes dos Tudor e ainda se referem a Ricardo como o rei usurpador em seu site”, disse Philippa Langley, da Sociedade Ricardo 3º, ao jornal The Sunday Express.

Esquecimento
Em 1483, logo após a morte de seu irmão, Ricardo foi nomeado como tutor de seu sobrinho, Eduardo 5º. Mas decidiu assumir o poder.

Após apenas dois anos de reinado, ele foi morto na batalha de Bosworth, após ser desafiado pelo futuro rei Henrique 7º, da dinastia Tudor.

Segundo os especialistas, o rei Ricardo 3º foi enterrado às pressas em uma igreja no centro de Leicester, sem sinal de que um caixão foi usado.

A igreja foi demolida no século 16, e a localização da cova acabou sendo esquecida nos séculos seguintes.

No entanto, um grupo de entusiastas e historiadores conseguiu rastrear a área provável da sepultura. Eles também conseguiram, após uma análise genealógica minuciosa, encontrar um descendente do rei para comparar o DNA.

Escoliose
Durante a pesquisa, descobriu-se que os ossos pertenciam a um homem que em torno de 30 anos -Ricardo 3º tinha 32 quando foi morto.

Seu esqueleto mostrou sinais de dez ferimentos, incluindo oito no crânio — dois deles potencialmente fatais.

Ricardo 3º costumava ser retratado por alguns historiadores como uma pessoa “deformada” — e realmente, pelo esqueleto, pode-se observar que sua coluna era bastante curvada, devido a uma escoliose.

No entanto, não foram encontradas indícios de outros problemas descritos pelos estudiosos em caracterizações exageradas do rei.

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