Manuel Joaquim Henriques de Paiva

Nome aureolado, permanece esquecido no nosso meio. Leu Carvalho, certa vez, que tomou parte na Academia Científica do Rio de Janeiro, de 1772, quando devia ter menos de 20 anos. Seria filho de Antônio Ribeiro de Paiva?

A tese de Carvalho já estava preparada desde 1951 e havia sido aconselhada para o Congresso Médico – Social Brasileiro, quando apareceu no “Jornal do Comércio” do Rio de Janeiro, de 29 (domingo) de março do corrente ano, página 3, um substancioso artigo de O. Carneiro Giffoni, baseado especialmente em Silva Carvalho, sobre o bicentenário de Manoel Joaquim Henriques de Paiva. Segundo O. Carneiro Giffoni, Paiva era filho do boticário Antônio Ribeiro de Paiva e de Isabel Aires Henriques e que em 1769 embarcou para o Rio de Janeiro em companhia do pai, com quem se iniciou no estudo da História Natural, Química e Farmácia, assim como tomou aproveitadas lições do irmão mais velho, o doutor José Henriques Ferreira, médico de renome, comissário do Físico-Mor do Reino, segundo informação da fonte consultada; que em 16 de junho de 1770, quando tinha 17 anos e 6 meses de idade, obteve a carta de boticário, o mesmo que o diploma de Farmacêutico de hoje, sendo examinado por uma junta composta dos boticários João Pereira da Silva, Domingos Antônio de Souza e Damião Cosme da Costa; que regressou a Portugal para estudar medicina em Coimbra, onde em 14 de julho de 1781 recebeu o diploma de médico. Quanto a ter sido discípulo de frei José Mariano da Conceição Veloso, é discutível, pois, a princípio este se dedicava à filosofia e segundo Carlos Stellfeld, “lá pelos anos de 1770 e 1771 frei Vellozo passou a residir em São Paulo, onde a 27 de julho de 1771 foi nomeado repetidor ou passante de geometria, e a 8 de maio de 1779 lente de eloqüência sacra no convento de São Francisco de São Paulo” (“Os dois Velozzo”, página 27, Rio de Janeiro, 1952).

Carvalho não encontrou a árvore genealógica do notável médico, que figura como Boticário de 1772. Pelo lado paterno, consta ter sido sobrinho do grande médico português Antônio Nunes Ribeiro Sanches. Condenado em Portugal, veio para a Bahia em 1809.

Durante muito tempo alimentou Carvalho, a esperança de estudar a vida de Manuel Joaquim Henriques de Paiva no Estado da Bahia, a fim de escrever um trabalho igual aos sobre Eduardo Júlio Janvrot, Eugênio Marques de Holanda e Ezequiel Correia dos Santos. Impossibilitado de comparecer ao Congresso Farmacêutico da Bahia (1950), esperou que os historiadores de nossa Farmácia se preocupassem com a figura do primeiro professor da especialidade em terras baianas. Von Spix e Von Martius falam da estima em que era tido o doutor Paiva, que ensinava, antigamente, química e história natural. No trabalho “Porque a Farmácia Brasileira Tem Falhado no Meio Médico e Social”, Carvalho focalizou a personalidade do doutor Paiva, com o auxílio do historiador Rodolfo Garcia; mas não conhecia a sua árvore genealógica, nem sabia de que havia morrido e se contraíra núpcias.

Folheou vários livros seus, podendo avaliar o talento que possuía. M. Ferreira Mira cita-o várias vezes e eis aqui uma das suas passagens:

“Manuel Joaquim Henriques de Paiva exerceu indiscutível influência na medicina portuguesa do tempo pela sua atividade como divulgador das doutrinas médicas que no estrangeiro se formavam e prevaleciam. Estudou em Coimbra e exerceu a profissão em Lisboa. Foi preso por se ter mostrado afeto ao governo de Junot. Anos mais tarde foi nomeado professor da escola médica da Bahia, vindo a falecer, em 1829, nesta cidade. Nos trabalhos que traduziu de Plenck e de Cullen, cuja orientação sistemática é a mesma, colheu a doutrina do seu ‘Bosquejo de Fisiologia’. Traduziu muitos outros livros estrangeiros, os mais importantes dos quais se vai fazendo menção, e publicou também algumas obras originais, uma sobre o tratamento das asfixias ou mortes aparentes, outra sobre o método de curar as feridas de pelouros.”

Querendo obter dados mais positivos, recorreu o historiador ao Laboratório Torres S.A., de São Paulo, cujo Departamento Social merece louvores da classe médica. Graças ao doutor J. Pires d’Ávila, que tudo fez para ser útil, a secção baiana do Laboratório Torres S.A. vasculhou os arquivos e enviou as informações que se seguem:

“Até o presente momento, pesquisamos minuciosamente em conjunto a vários historiadores, a Santa Casa de Misericórdia nos seus documentos, onde foi instalada a sala de estudos e exames cirúrgicos desde 1816 até 1833 e nesta sala trabalhou o doutor Manuel Joaquim Henriques de Paiva, depois revisamos a documentação da Faculdade de Medicina, da qual, devido ao grande incêndio de 1905, nada ficou livre da infeliz catástrofe, perdemos as mais célebres memórias da ciência médica brasileira e lusitana.”

Nasceu em Castelo-Branco, Portugal, a 23 de dezembro de 1752, falecendo em Salvador a 10 de março de 1829. Filho de um boticário português senhor Antônio Ribeiro de Paiva, que lhe ensinou farmácia, química e história natural. Moço, ainda, viajou para o Rio, vindo em 1771, fundando com outros companheiros a Academia de Ciências do Rio de Janeiro. Tendo, porém, de completar os seus estudos, voltou a Portugal, formando-se em medicina em 1776 pela Universidade de Coimbra. Depois, viajou pela França, praticando no Laboratório de Gay-Lussac. Comprometido com os invasores de Junot, foi demitido dos seus cargos em Lisboa e desterrado para o Brasil, residindo, então, na cidade de Salvador, onde clinicou e lecionou a princípio em cursos particulares de química e história natural. Em 1818 um decreto régio reintegrou-o na honra e prerrogativa que gozava. Nesse mesmo ano é encontrado em Salvador por Spix e Martius. Segundo Pirajá da Silva, o doutor Manuel Joaquim Henriques de Paiva foi professor de Farmácia na Universidade de Coimbra até que por decreto de 12 de fevereiro de 1820 foi removido para o Colégio Cirúrgico da Bahia com exercício de igual cadeira. Em 1824 ensinava já a cadeira de Matéria Médica e Farmácia.

Não se casou e o seu atestado de óbito não foi encontrado.

Vejamos, agora, os títulos do famoso professor de Farmácia e Química: Fidalgo da Casa Real, Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo, Doutor em Medicina pela Universidade de Coimbra, Médico da Real Câmara, Deputado da Real Junta do Protomedicato, Censor Régio da Mesa do Desembargo do Paço, Sócio da Academia Real de Ciências de Lisboa, da de Stokolmo, da de Madrid e da Sociedade Econômica de Harlem. Aqui terminam as informações do prestimoso Departamento Social do Laboratório Torres S.A.

Em seu livro, Carvalho repetiu um trecho de sua Tese de 1945, para que as futuras gerações conhecessem bem o notável tradutor de obras científicas e comentarista, que morreu aos 77 anos de idade e como cidadão brasileiro:

“Reintegrado nos cargos e honrarias por decreto de 6 de fevereiro de 1818 (Visconde de Porto Seguro), solicitou permissão para continuar na Bahia e por carta régia de 29 de novembro de 1819 lhe foi concedida a regência da cadeira de farmácia, podendo admitir alunos do Curso Médico-Cirúrgico.”

A princípio, a cadeira não fazia parte da Escola; mas em maio de 1824, por ordem de D. Pedro I, foi anexada à Matéria Médica e do doutor Manoel Joaquim Henriques de Paiva nomeado professor da Mesma, inaugurando-se o ensino oficial da farmácia na Bahia.

Carvalho deixou patente que o ensino da Farmácia e da Química, tanto no Rio de Janeiro como na Bahia, foi iniciado pelos médicos portugueses José Maria Bomtempo e Manuel Joaquim Henriques de Paiva, no ano de 1809.

Bomtempo ensinava na Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica, e Paiva o fazia fora dos estabelecimentos oficiais, pois, somente em 1824 D. Pedro I mandou anexar a cadeira de Farmácia à Matéria Médica.

Convém esclarecer que ambos morreram como brasileiros.

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