Richard Gordon e sua assustadora história da medicina

“A história da medicina é uma longa substituição da ignorância pela falácia”
Richard Gordon.

Quando iniciei as pesquisas para elaboração dessa obra, deparei-me com um livro de título curioso: “The Alarming History of Medicine” publicado pelo norte-americano Richard Gordon. Neste livro, cheio de mentiras e fatos distorcidos o escritor que, como todo bom norte-americano que se preze, é patriota e ufanista ao extremo, escreve asneiras e inverdades absurdas. Verdadeiro assassinato praticado conta a história pura e crua. As narrativas são romanceadas, típicas dos escritores surrealistas, feitas num tom de conto de fadas ou livro de comédia e para ele, Gordon, apenas os médicos norte-americanos são dignos de crédito, pois critica os médicos estrangeiros e nega aos farmacêuticos o verdadeiro mérito de descobertas que ele atribui aos seus conterrâneos, como por exemplo, a microbiologia que, para ele, foi descoberta por H. G. WEELS, em 1886 e cita Pasteur, o verdadeiro pai da microbiologia, como um mero fermentador de vinhos, sequer citando a descoberta da hidrofobia pelo mesmo Louis Pasteur.

Nega a descoberta da penicilina feita por Alexander Fleming, atribuindo-a Howard Walter Florey.

Também descreve diálogos entre Sigmund Freud e uma paciente de nome Lucy Robinson no qual Freud pergunta-lhe abertamente sobre sua sexualidade e faz observações que jamais qualquer psicanalista que ame sua reputação faria à uma paciente, em especial nos tempos da segunda guerra mundial, onde existia ainda uma moral relativamente rígida. Naquelas épocas, as moças de “família”, jamais consultavam qualquer médico ou pessoa que fosse, sem a companhia da mãe ou de uma babá e, ainda, confessar que não era mais virgem, era um verdadeiro absurdo para a época. Esse diálogo só poderia ter passado pela cabeça de Richard Gordon.

Diz também que o primeiro asilo para tratamento de doentes mentais foi criado por William Tuke, nos Estados Unidos, no século XVIII sendo que é sabido da existência desses estabelecimentos desde a Grécia antiga, apesar de o primeiro fundado oficialmente ter sido o de Bagdá, em 705 d.C.

Sobre o herbalismo, diz que Pedanius Dioscorydes era um cirurgião grego que nasceu em 54 d.C. e morreu em 68 d.C. Como pode Discorydes ser cirurgião aos 14 anos? E ainda: era soldado da legião romana e descobriu o ópio no ano 77 a.C., ou seja, vivera antes de Cristo e Gordon diz que ele era grego, cirurgião aos 14 anos de idade e que viveu até o ano 68 d.C., ou seja, considerando-se a data da descoberta do ópio até sua morte, teríamos 91 anos de vida e mais o que provavelmente ele já tinha vivido, ter-se-ia 106 anos, no mínimo. Naquelas épocas a expectativa de vida era de no máximo 50 anos para os homens e 35 para as mulheres.

A medicina, segundo Gordon, começou a existir apenas no final século passado (p. 97 da edição brasileira). Está provado historicamente que a medicina foi criada (decretada, seria mais correto) em 1240 d.C., como visto anteriormente, e essa afirmação do autor contradiz todo o restante do texto. Concordo apenas que a medicina começou a se sistematizar no final do século passado, e não a existir. Para o autor, a medicina começou com os trabalhos de Claude Bernard que desvendou o papel de cada um dos órgãos da digestão, mas é sabido que o mesmo Bernard citado por Gordon, era Farmacêutico.

Outra mentira de arrepiar é a afirmação de que Sir Charles Darwin fundou a genética (p. 103 da mesma edição), não citando Gregor Mendel em lugar nenhum do livro.

O livro, lançado nos Estados Unidos em 1993, é um verdadeiro festival de mentiras e hipocrisias que fazem inveja até aos pescadores mais mentirosos, já se encontra a disposição dos brasileiros, traduzido pela Editora Ediouro em 1996. Única coisa em que concordo com esse autor é sua paráfrase colocada à abertura de sua obra.

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