Imagine a cena: você precisa concluir um trabalho solicitado pela sua faculdade, mas o micro pifou! O que fazer? Bem, que tal dar um pulinho na lan-house mais próxima de sua casa? Sim, aquela mesmo que acabaram de fundar ali na esquina! Em dois tempos você coloca uma camisa, calça a sua bermuda preferida e põe nos pés o seu chinelo velho de guerra. Mas ao chegar lá, se depara com algo “estranho”: um Menu K no lugar do Menu Iniciar, um tal de Writer ao invés do Word… cadê o Internet Explorer? O que é esse tal de Konqueror?
Action Cube, um substituto a altura do Counter Strike?
Nossa, em seus primeiros minutos de contato, você se dá conta de que as aplicações que até antes estava habituado a utilizar nas tradicionais lan-houses não se encontram disponíveis; ao invés delas, uma série de novos softwares e seus atalhos simbolizados por belos, mas diferentes ícones. São todos estranhos e desconhecidos. Até mesmo o ponteiro do mouse se mexe de um jeito diferente: quando você o empurra para o lado, parece que ele “corre” mais!
Durante este meio tempo, você começa a olhar pelos lados com aquela cara de quem “não entendeu nada”. E para o seu desagrado, você nota meia dúzia de gente com um “risinho no canto da boca”. Sua consciência logo o esclarece: vai ver que é por causa da sua expressão de “Zé-Mané”, por lidar com um sistema que nunca havia tido o contato. De repente, olha para trás e percebe o dono da lan-house, vindo a lhe perguntar: “Alguma dúvida?” Putz, o espanto que você teve é grande de tal maneira que, além de pagar um belo mico com a sua cara de “bocó”, também acabou de perder a oportunidade de puxar assunto com aquela loirinha linda que estava “teclando” ao seu lado. Quem sabe na próxima (se é que vai ter a próxima)?
Nos minutos seguintes, o dono da nova lan-house lhe dá uma série de informações, além de instruções básicas a respeito “desse tal de Linux”. Parabéns! Sem saber, acabou de ter o seu primeiro contato com um sistema operacional livre e poderoso chamado GNU/Linux! Mas bem que este contato poderia ser em circunstâncias menos… desconcertantes!
Mas nem tudo é desconhecido. Pelo menos não para aquele ícone que se parece um uma raposa enrolada no globo terrestre… epa, é o Firefox! Esse você conhece! E sem pensar duas vezes você dá um duplo clique para inicializá-lo e… ué, só com apenas um clique assim e já foi? Rapidinho! Dá uma fuçada mais à fundo e descobre que “esse tal de Writer” é igualzinho ao Word que costumava utilizar. Agora se empolgou, né! Pelo menos, você tirou aquela expressão de “sou mané” do rosto. Nem precisa de um rótulo estampado na testa para dizer isso…
E a aventura não termina por aí: você também descobre o GIMP, o Scribus e o Inkscape… nossa, quantos programinhas interessantes! Eles devem ter custado uma fortuna! E para a sua nova desgraça, vem o dono da lan-house com aquele sorrisinho no canto da boca. Se ao menos você tivesse controlado a sua empolgação e feito a declaração baixinho, talvez não atrairia mais a atenção daquela meia-dúzia de hienas… mas fazer o quê… Zé Mané!
Novamente, você recebe novas informações a respeito do que é “esse tal de Software Livre”: sua filosofia, ideologia, recursos, comunidades, vantagens e baixo custo. Isso mesmo! Todos os softwares instalados no sistema são gratuítos em conseqüencia de sua liberdade de uso. Ou seja, não foi gasto nem 1 centavo sequer para “adquirí-los”! Nossa, e você não sabia disso! Tsc, tsc, tsc… que vergonha!
Meia hora depois você acaba o trabalho. Beleza! Sobra tempo para jogar! Mas espera aí: que você saiba, não tem jogos para o Linux. Ah, agora você vai à forra com o dono da lan-house e aquela cambada de hienas! Então, você estufa o peito, vira-se da cadeira para o lado elegantemente e, com “aquela pose”, mandar ver: “Vem cá, Sr. (‘metido-à-besta’), tem algum joguinho interessante para distrair?” E o dono da lan-house responde confiante: sim, temos um monte: Racer, Cube, Lincity, Torcs, Nexuiz, Battle for Westnoth, Tremulous, FlightGear, Warsow, Stratagus, SuperTux, Alien Arena, etc. Parabéns, você acabou de ter um exemplo exato da lei do (des)eqüilíbrio: enquando o “sorrisinho no canto da boca” do dono da lan-house cresce, o seu vai se esvaindo… se bem que não há tanto eqüilíbrio assim, pois as hienas também voltaram a rir…
Ah, mas você é forte, valente e guerreiro: não se dá por satisfeito e então, resolve voltar para a máquina e experimenta cada um destes títulos desconhecidos. “Devem ser uma porcaria”, pensa. Pensava… além de ver pessoalmente que estes títulos são interessantes, observa também que o pessoal em volta se diverte bastante! Ainda assim, não perde postura e pergunta: “tem Half-Life”. E recebe como resposta um arrematador “não”. E observando novamente o pessoal, nota que eles nem sentem a falta deste (e outros títulos). “4×0” para eles… pelo visto, você não aprende…
Mas ainda assim, você não desiste: quer pelo menos dar uma espetada! Só que dessa vez, é mais precavido: vira-se de mansinho para o dono da lan-house (aprendeu, né!) e pergunta mais uma vez: “O equipamento dá conta desses jogos?” E ele responde: “Sim, e maravilhosamente bem! Adquiri os PCs com configurações bem básicas: comprei-os com processadores Sempron e placas-mãe com ‘tudo onboard’, inclusive o IGP gráfico é um modesto nForce 6100! E o sistema raramente dá problemas de baixo desempenho, travamentos ou qualquer coisa do gênero.” Pois é, meu amigo; nesta hora, vem aquela “voz da consciência” lhe dizer bem no fundo da mente: “Vai para casa descansar e não faça mais vergonha…”
Ops, o celular toca e a coleguinha da faculdade pergunta se já terminou o trabalho. Enfim, é hora de ir embora! Você se levanta (sem fazer alarde, claro) e pergunta ao dono: “Quanto fica (R$)?” Ele responde: “São R$ 4,50.” Surpreso, você protesta: “Pôxa, tudo isso? Na outra lan-house lá perto da faculdade a hora está só R$ 2,50!” E novamente, vem aquela resposta desconcertante: “Pois é. Lá, a hora custa realmente R$ 2,50. Aqui custa apenas R$ 1,50. É que você ficou mais de 3 horas na máquina. Não percebeu?” Putz… mais outro mico! E pelo visto, este dia realmente será inesquecível… não só para você…
Mas antes de perguntar novamente, você prepondera sobre a questão: “Mas porquê apenas R$ 1,50? (…) Claro! Utilizando um sistema operacional, aplicativos e jogos livres, o custo de licenciamento é praticamente zero; com jogos que requerem pouca carga de processamento, não há necessidade de se adquirir hardware de ponta; e para variar, o sistema é imune aos vírus e pragas que assolam os usuários do Windows, reduzindo assim custos extras em manutenção do sistema! Com certeza, estas vantagens vão ser refletidas preço a ser cobrado dos clientes!” Meus parabéns, você conseguiu compreender (não sei como) três coisas importantes:
- Existem interessantes vantagens técnicas e financeiras na adoção de Software Livre;
- Tais vantagens proporcionarão possibilidades únicas, se forem consideradas as propostas apresentadas pela concorrência;
- Pensar bem, antes de falar qualquer coisa, irá lhe prevenir de outra pagação de micro…
Ufa, que dia agitado, não? Agora, você vai direto para casa, toma aquele banho, troca de roupa e tomar rumo direto para a faculdade contar as novidades do dia para seus colegas. Lógico que “certos detalhes” serão omitidos. Mas… eles não acreditaram! Disseram que “só vendo para crer”! Tudo bem, você os levará amanhã para conhecer a tal “lan-house diferente”. Ops, amanhã não vai dar… deixa para outro dia… afinal de contas, vai ser um pouco desagradável se o pessoal de lá lembrar de você… &;-D
Por Ednei Pacheco <ednei.pacheco [at] gmail.com>
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