Em entrevista exclusiva, apresentador fala sobre venda de horários da CNT para a Igreja Universal: “Lastimável”
No início deste mês de maio, uma notícia caiu como uma bomba na imprensa brasileira e nas redes sociais: A Rede CNT vendeu 22 horas de sua programação para a Igreja Universal do Reino de Deus, de propriedade de Edir Macedo, por R$ 5 milhões.
Diante disso, muitos programas da emissora foram cancelados e sairão do ar no início de junho. Um deles é o “Notícias & Mais”, que Leão Lobo comandava ao lado de Adriana de Castro desde 2009.
Em entrevista exclusiva concedida ao NaTelinha por telefone, Leão Lobo desabafou. O apresentador disse que está muito triste com a situação e comentou: “Não é a primeira vez que essa igreja entra no meu caminho”.
Leão reclamou das compras de espaço na TV por Igrejas e falou que pretende agir: “Eu estou gritando, gostaria de falar com o Ministro das Comunicações, com a presidenta… Não dá mais. Você está trabalhando, de repente vem uma avalanche dessa e destrói tudo. Muito chato”.
O jornalista também mandou um recado para Edir Macedo: “Eu não entendi essa história dele dizer que a igreja dele quer ser a Globo das igrejas. É uma frase completamente absurda. Não dá para comparar uma igreja. O que entendo por igreja não tem nada a ver com poder”.
Leão Lobo ainda relembrou seus momentos no SBT, falou de Silvio Santos, Ratinho, e afirmou que “voltaria correndo” caso recebesse convites de SBT e TV Gazeta.
Confira a entrevista na íntegra:
NaTelinha – Como você recebeu a notícia de que a Igreja Universal comprou 22 horas da CNT?
Leão Lobo – Com muita tristeza. Não só por mim, mas por todo mundo. São mais de 100 funcionários. É uma coisa lastimável. Não é a primeira vez que essa igreja entra no meu caminho. A primera vez foi na Rede Mulher, onde eles comparam a Rede Mulher e demitiram todo mundo.
Depois eu estava na rádio deles, e a rádio acabou, a Record. A rádio tinha acabado de completar 80 anos e foi um choque pra todo mundo.
Eu adorava trabalhar na CNT. Tinha prazer. De repente, eles compraram os horários. Evidente que não é culpa deles, nem da Igreja, nem dos donos… Mas, na verdade, é um negócio. O problema é nós não termos uma lei que nos proteja, esse é o problema. Até existe, mas acontece que ninguém segue. Só existe no papel. E aí sobra para todos nós profissionais.
Eu estou gritando, gostaria de falar com o Ministro das Comunicações, com a presidenta… Não dá mais. Você está trabalhando, de repente vem uma avalanche dessa e destrói tudo. Muito chato. E quando trabalho num lugar, visto a camisa.
NaTelinha – Houve alguma tentativa de manter o programa na grade?
Leão Lobo – Houve. É que meu programa tem custos. Só poderia ficar aquilo que não tivesse custo. Chato, né? É assim mesmo. Faz parte. Já que a lei não é cumprida, não há muito o que fazer.
NaTelinha – Qual o sentimento da equipe?
Leão Lobo – De sofrimento, de tristeza. Para todos. Tá todo mundo desolado… Temos a esperança, somos profissionais e sabemos que em algum lugar vamos trabalhar. Mas é complicado, parece que está sempre recomeçando. É uma coisa que meio que está fechando portas. E isso dói. É muito triste.
NaTelinha – E agora, pretende entrar em algum outro canal; tem alguma negociação acontecendo?
Leão Lobo – Acabei de receber um convite, há outras negociações, mas nada ainda que eu possa falar.
NaTelinha – Se você pudesse falar com Edir Macedo, proprietário da Igreja Universal que praticamente comprou a CNT, o que diria?
Leão Lobo – Eu não entendi essa história dele dizer que a igreja dele quer ser a Globo das igrejas. É uma frase completamente absurda. Não dá para comparar uma igreja. O que entendo por igreja não tem nada a ver com poder. Uma frase completamente infeliz. Gostaria que ele pensasse no sentido religioso, e o que ele faz não é religioso, não é cristão.
NaTelinha – E para os donos da CNT, que venderam quase toda a grade?
Leão Lobo – Só agradecer. Eles foram maravilhosos, me deram total liberdade de trabalho. Foram super respeitosos. É uma pena que esteja se fechando esse espaço, porque é uma casa que eu amei trabalhar. Como fui muito feliz na Rede Mulher, enfim. Há algumas casas que você voltaria, se você pudesse.
NaTelinha – Você participou por muitos anos do “Show de Calouros”, de Silvio Santos. Como é voltar a este tipo de formato como jurado, só que desta vez com Ratinho?
Leão Lobo – O que muda na verdade é o Ratinho. Ele tem uma pegada diferente. É sempre divertido. Eu adorava o “Show de Calouros”. Na época dávamos 40 pontos no Ibope. Hoje, de novo é assim. O Ratinho tem uma audiência incrível. Ficamos toda segunda-feira na vice-liderança e encostando na líder. É muito legal, a gente se sente recompensado, tudo que a gente fala, repercute. É um lado diferente, o da repercussão imediata. Eu adoro trabalhar com o Ratinho, é a terceira ou quarta vez, somos amigos desde a época da CNT. O Ratinho é um querido, é uma pessoa que eu amo.
NaTelinha – O que você acha das críticas de Elke Maravilha em relação ao Silvio Santos? Recentemente, ela disse não ter a menor saudade dele e comentou que o dono do SBT é pobre de espírito. Você concorda?
Leão Lobo – Olha, a relação que ela teve com o Silvio é muito diferente da relação que eu tenho com o Silvio. Não gostaria de comentar, porque eu amo a Elke e gosto muito do Silvio.
NaTelinha – Ao longo de sua carreira, você colecionou diversos programas em diferentes emissoras. Há algum que você tenha mais gostado de fazer, ou o mais prazeroso?
Leão Lobo – Foi na Band, por incrível que pareça, com um projeto meu, que o nome era meu… Era um programa que dava muito certo, foi o “De Olho nas Estrelas”. Foi meu momento mais feliz na Band e um dos momentos mais felizes da minha carreira. Gostei muito de fazer o “Mulheres”, na TV Gazeta, o “Show de Calouros” que era muito legal. Tive alguns momentos maravilhosos. E agora estou muito feliz com o Ratinho também.
NaTelinha – Sonha um dia retornar ao SBT com um programa fixo?
Leão Lobo – Não sei… A televisão é mutante, né? Está sempre passando por reviravoltas. É uma casa que eu adoraria voltar a ser funcionário. A TV Gazeta também. São duas casas que fui muito feliz. Nas outras nem tanto, mas principalmente a Gazeta e o SBT foram duas casas que adorei trabalhar. Voltaria correndo.