Ao romper o século XX a Rússia ainda era uma nação feudal, com quase todo povo analfabeto e uma privilegiada minoria. Essa minoria vestia-se pela moda de Paris, falava frequentemente o francês e, muitas vezes, ignorava o que ocorria em seu próprio país, preocupada que estava com a vida faustosa dos palácios do Czar.
A situação de desamparo do povo agravou-se após a guerra contra o Japão, na qual a Rússia foi derrotada. O país respirava uma atmosfera de mal estar que se agravava paulatinamente. O povo passava fome, as forças armadas, mal preparadas e pior conduzidas, nem disfarçavam sua insatisfação.
Em 1914 a Rússia entra na gerra contra a Alemanha e o Império Austro-Húngaro. Foram convocados mais de 15 milhões de homens. Tal número, excessivo para a capacidade da nação, foi calamitoso. Grande parte ficou na retaguarda, desarmada, mas conspirando. Enquanto isso, os campos, privados de braços, pouco produziam, o que levou a fome a grande parte do país.
A autoridade do Czar, absoluta até pouco antes, começava a deteriorar-se. O regime era corrupto e os aproveitadores tiravam partido do caráter irresoluto do Czar Nicolau II e de sua esposa, a Czarina Alexandra.
Em 1914, o Czar Nicolau II deslocou-se para o comando de seu mal equipado exército, enquanto a Czarina ficou à cabeça do governo em Petrogrado (atual Leningrado), completamente submissa a um estranho monge, a quem considerava santo. Alexandra dava-lhe braço forte e prestigiava todas as suas ambições.
Estranha figura humana, o monge Rasputin conquistara a simpatia da Imperatriz, prometendo curar um de seus filhos menores, vítima de grave enfermidade (hemofilia).
Extremamente corrupto, Rasputin tirava proveito de sua ascendência sobre Alexandra, para realizar suas ambições pessoais. Aos poucos tornou-se a mais influente pessoa da corte russa. Praticava toda espécie de depravação, sem qualquer limite de respeito. Sua ação negativa gerou-lhe muitos inimigos, até que foi assassinado em 1916 pelo príncipe Yussopov.
Os atos de Rasputin desgastaram a autoridade do Czar entre os nobres. O povo estava à beira da rebelião pela falta de alimentos. Em 1917 houve várias manifestações de protesto nas ruas e praças de Petrogrado. O próprio exército, descontente com a situação, recusou-se a intervir contra o povo, o que fez aumentar a intensidade dos protestos.
Vendo-se incapacitado de dirigir a nação, Nicolau II abdicou em favor de seu irmão, o grão-duque Miguel (março de 1917).
Para reorganizar o país, entregue à desordem, o parlamento (Duma) resolve estabelecer um governo provisório. Formavam-no representantes da burguesia russa, que pretendia reformas e um governo semelhante ao da Inglaterra. O grão-duque Miguel resolve renunciar ao trono em favor do governo provisório.
A essa altura era ativa a propaganda das ideias socialistas, por intermédio de vários líderes influentes, na massa camponesa e operária. entre eles estavam: Leon Trotski e Vladimir Ilitch Ulianov (Lênin). Baseavam-se eles nas ideias do judeu alemão Karl Marx, que pregava a necessidade de profundas mudanças sociais e econômicas donde resultasse a melhor distribuição das riquezas.
Os propagandista do marxismo infiltravam-se entre operários e camponeses e até entre a burguesia, ganhando, a cada dia, novos adeptos. Havia entre eles duas correntes principais. Uma, a dos socialistas: pretendia chegar aos ideais de Marx lentamente, através de reformas paulatinas. Outra, a dos comunistas, pregava a revolução violenta, com a ditadura do proletariado.
No poder, o governo provisório decidiu manter os compromissos assumidos pelo Czar, entre os quais a guerra contra a Alemanha. Essa guerra, bastante impopular, gerou protestos e desgastou o novo governo.
Em 20 de julho de 1917 o governo provisório foi reorganizado, em consequência das agitações de rua e dos protestos populares. Sobe ao poder o socialista Kerenski, que se cerca de alguns marxistas mais moderados.
Apesar das intenções progressistas, logo Kerenski perde o apoio popular. As agitações continuam, especialmente após seu governo ter decidido continuar a guerra.
No dia 7 de novembro Kerenski é deposto pela revolução bolchevista chefiada por Lênin e Trotski. Eram ambos partidários dos métodos violentos e da ditadura do proletariado.
No poder, os bolchevistas decretam a obrigatoriedade da entrega das terras aos camponeses e das fábricas aos operários. Milhares de ex-proprietários de terras são presos e muitos, fuzilados. Os bancos passam à posse do governo, e o comércio, pouco a pouco, vai sendo absorvido pelo Estado.
Para pôr ordem ao país os bolchevistas precisavam terminar a guerra contra a Alemanha. Por sua iniciativa são iniciadas conversações, que terminaram pela assinatura do Tratado de Brest-Litowski (março de 1918).
Encerrada a guerra, passa o governo de Lênin a resolver as questões internas. Em julho de 1918 toda a família do Czar Nicolau II é fuzilada. O país encontra-se em guerra civil, na qual se empregaram, de ambos os lados, métodos de grande violência e brutalidade. Os adversários de Lênin contavam com o apoio de forças estrangeiras, preocupadas com os rumos que, então, tomava a Rússia.
Após o falecimento de Lênin (1924), segue-se violenta luta pelo poder, entre os líderes bolchevistas. Dois adversários respeitáveis defrontam-se: Joseph Stálin e Leon Trotski.
Vencedor o primeiro, refugia-se Trotski na Turquia, na Noruega e finalmente no México, onde é assassinado em 1940, a mando de Stálin.
Sob Stálin a nação atravessa anos de grandes transformações. Há violentos expurgos de pessoas consideradas opositoras do governo, com cerca de 21 milhões de mortes. O povo é submetido a enormes sacrifícios em benefício da formação da infra-estrutura do país. Aos poucos constroem-se enormes represas hidrelétricas, canais, estradas, ferrovias, grandes fábricas de aço, petroquímicas, estaleiros e toda sorte de indústrias pesadas.
Morto Stálin, o poder é sucessivamente exercido por Malenkov e Buganin, Nikita Kruchev, Alexis Kossiguin, Leonid Breshnev, Iuri Andropov, Konstantin Chernenko e Mikhail Gorbatchov sendo sob o governo deste último que a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, constituída por 15 repúblicas e que chegou a ser uma das maiores nações do mundo, construída com o sangue e o sacrifício de toda uma geração, sucumbiu sozinha. Faliu e extinguiu-se devido ao esgotamento do violento e retrógrado regime comunista.
Rússia: do feudalismo ao comunismo
Em pleno século XX a Rússia ainda era uma nação feudal, com a maioria da população analfabeta e submetida a um regime de trabalho já extinto há séculos na Europa Ocidental. O governo dos czares era extremamente duro. A mínima falta era considerada crime grave e seus responsáveis punidos com toda a severidade. Era comum o açoite e a repressão dos cossacos, implacável. Tal estado de coisa gerava revoltas periódicas, naqueles locais onde a situação se tornara insuportável. Essas revoltas eram sufocadas energicamente.
Ao lado do povo, submetido ao despótico governo do Czar, vivia uma feliz nobreza, completamente alheia aos problemas do Estado, preocupada com a vida mundana e voltada, espiritualmente, mais para Paris que para dentro dos eu próprio país.
O agravamento da crise russa tornou-se crítico sob o governo do Czar Nicolau II que, além dos sérios problemas econômicos que tinha para resolver, ainda se tornara importante para coibir a generalizada corrupção de costumes de sua corte.
Desmoralizada, a monarquia foi incompetente para resolver os graves problemas do país: a impopular guerra de 1914; a fome interna; o desemprego; as derrotas humilhantes nos campos de batalha; as greves contínuas. Disso se aproveitou a forte oposição socialista que ganhou as ruas, agitando o povo, até a queda de Nicolau II.
O governo provisório chefiado por Kerenski não pôde restaurar a ordem no país. Caindo em novembro de 1917, foi substituído pelo dos comunistas, à frente dos quais pontificavam Lênin e Trotski.
Após numerosas lutas internas (e a paz externa obtida pelo Tratado de Brest-Litowiski), os comunistas solidificaram-se no poder, implantando no país severo controle da economia, com ênfase na indústria pesada. Esses esforços transformaram a Rússia (e as demais repúblicas soviéticas) numa potência mundial, após 50 anos de trabalho.
Alguns aspectos resumidos sobre a Revolução Russa:
- Lênin – Lider inconteste da revolução comunista russa, Vladimir Ilitch Ulianov teve vida agitada e aventurosa. Contestando o poder do Czar, foi preso e degredado para a Sibéria. Refugiou-se no exterior para escapar à polícia czarista. Promoveu greves e liderou manifestações populares numerosas vezes nos centros industriais da Rússia. Uma vez deposto Kerenski, organizou o governo dos bolchevistas, tornando-se chefe supremo da revolução de 1917, da qual já se tornara um dos principais teóricos.
- Trotski – Influente líder revolucionário russo, representava uma tendência extremista dentro do bolchevismo. Graças à sua capacidade de organização foi possível derrotar os russos brancos militarmente. Enquanto vivo Lênin, Leon Trotski foi um de seus mais diretos auxiliares. Após a sua morte, travou-se séria disputa entre Trotski e Stálin, tendo o primeiro de se refugiar no estrangeiro. Isso pouco lhe valeu, já que foi assassinado no México em 1940.
- Stálin – Sucedendo a Lênin no controle do governo, Josef Stálin implantou no país o comunismo nacional russo. Implantou os planos quinquenais e desenvolveu a economia nacional com ênfase na industrialização e formação de uma poderosa infra-estrutura. Para realizar seus projetos, Stálin não vacilou em decretar perseguições em massa de seus inimigos políticos, sendo, hoje, acusado do extermínio de milhões de oposicionistas. Indubitavelmente promoveu o progresso do país que após a segunda guerra mundial projetou-se como potência mundial, ao lado dos Estados Unidos da América.
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