A digitalis ou dedaleira

“Se o inverno chega, pode a primavera estar longe?” foi a observação cretina de Shelley, embora tenhamos que admitir que ele estava vivendo na Itália, nessa época. Quando o inverno chega na Inglaterra a primavera está ainda muito além do próximo Grande Nacional, e muitas vezes bem no meio da estação de críquete. Mas quando os bosques ingleses usam maquiagem verde e a noite começa a levantar sua saia, comemoramos nossa escapada dos perigos médicos do inverno, aproveitando com prazer as ofertas maduras da terra – como amoras, aspargos e batatas novas, hoje tão convenientemente trazidas de avião da Califórnia, do Chile e do Egito.

Quando Shakespeare estava falando sobre “O mundo verde na recém-chegada primavera”, os ingleses tiravam o inverno do sangue tomando chá de ervas que brotavam do sol: Margarida amarela, a aquáticas beldroega e Hampshire, folhas de framboesa, ou comiam a geléia de amora negra da primavera no anterior, ou tomavam suco de nabo (que se extrai açucarando pedaços crus). Nesse chás eram, sem que ninguém soubesse, anti-escorbuto, como o suco de lima de Lind, admirável quando baixava o nível da vitaminas C no sangue equinocial.

William Withering (1741-1799) e era um clínico geral rural, de Stafford, que ganhava 100 libras por ano e que se mudou para Birmingam e passou a ganhar 1.000 libras por ano, mas que gostava de passear no campo. Birmingham era uma próspera cidade industrial dizem que fabricou 15.000 esperadas para Crownwell, por ocasião da guerra civil. Ela atraía os homens de espírito prático, como Joseph Priestly, que descobriu o oxigênio, James Watt, que inventou a estrada de ferro, William Herschel, que descobriu o planeta Urano, John Smeaton, que construiu o farol de Eddystone, Josiah Wedgwood, que fez as placas. Eles criaram a Sociedade Lunar, que se reunia nas noites de lua cheia para discutir ciência e filosofia. Withering era seu botânico. Seu livro A Botanical Arrangement of all Vegetable Naturally Growing in Great Britain foi um enorme sucesso de um ano de 1776. Ele era médico-chefe do Hospital Geral de Birmngham. Combinando os conhecimentos do epidemiologista que estudou e a escarlatina e do mineralogista que descobriu o carbonato de bário, e ele criava cães, tocava flauta, como Jenner, e como Jenner conversava com ordenhadoras.

Cavalgando nas suaves colinas de Shropshire em 1775, Whitering encontrou uma e velha mulher que conhecia o segredo da cura da hidropsia nas pernas. Pernas que não cabiam nas calças, o que sei arrastavam debaixo das saias, com pés que não podiam ser calçados, melhoravam com seu chá de vinte ervas – quando o paciente conseguia argumentar os vômitos violentos e a diarréia. Ele curava onde os médicos locais não podiam curar. ” Não mãe era muito difícil para uma pessoa que conhecia o assunto “, escreveu Whitering, “Perceber que é erva ativa só podia ser a digitalis”. Era o mesmo princípio divino contido na erva de Escorbuto. Nicholas Culpeper (1616-1654) já havia indicado, em 1654, que a dedaleira “A do ossada com açúcar ou meu serve para limpar e purgar o corpo, tanto para cima quanto para baixo”.

Whitering imediatamente experimentou o xangô seus pacientes, em os pobres aos quais ele dedicava uma hora por dia. Os doentes de hidropsia o urinaram copiosamente, um efeito omitido pela velha senhora de Shropshire. Quando soube que o diretor de Brasenose, Oxford, fora curado de hidropsia peitoral (efusão da pleura) com a raiz da dedaleira, em 8 de setembro de 1775 , Whitering administrou chá de dedaleira a um construtor de 50 anos que sofria de asma e excesso de fluidos no abdome, o qual ” fez uma grande quantidade de água. Sua respiração gradualmente ficou mais fácil, a barriga desapareceu e dentro de dez dias e ele começou a comer com enorme apetite”.

Ao contrário da velha senhora, Whitering compreendeu que a hidropsia fora bombeada para os esgotos de Birmingham pelo coração, estimulado pela dedaleira. Como digitalis, o nome dado a dedaleira em 1542, a feitiçaria deWenlock Edge entrou respeitavelmente para a Farmacopéia de Edimburgo em 1783. O relato de Whitering, História da dedaleira, foi o enorme sucesso de 1785. Por acaso ele havia descoberto o poderoso medicamento cardíaco cujos vários derivados são usados até hoje.

Como Jenner, Whitering atraiu oponentes ferrenhos. O Dr. Lettson, de Londres, matou oito pacientes com digitalis, incluindo Charles James Fox. Houve muitos desastres devido ao fato de a hidropsia ser um sintoma, não uma doença. Pode ser causada por insuficiência renal, tanto quanto por insuficiência cardíaca. Isso foi estabelecido em 1827 pelo jovial, gorducho, operoso Richard Bright (1789-1858), o explorador da Islândia, que foi da Universidade de Edimburgo para a Guy’s, em Londres. A hidorpsia na Guy’s era ainda considerada uma doença isolada, como entre os camponeses de Whitering, no Shropshire porém, Bright viu uma conexão entre três itens: hidropsia, a albumina que aparecia em quantidade anormal na urina dos pacientes e a deixava turva, quando aquecida, e os rins rigidamente contraídos no iminente estado de post-mortem. “Depois de uma vida de calorosa afeição, pureza imaculada e grande utilidade”, Bright morreu de insuficiência cardíaca e vive para sempre na doença de Brigth.

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