Uma pesquisa supostamente revolucionária sobre a produção de células-tronco em laboratório está a caminho de ser retratada, ou seja, anulada, pelos próprios autores, segundo informações divulgadas na última sexta-feira (14). Várias dúvidas pairam sobre o trabalho, que descreve uma nova técnica para transformação de células adultas humanas em células pluripotentes – com capacidade para se transformar em qualquer tipo de tecido.
O método foi publicado no fim de janeiro, em dois artigos na revista Nature, e gerou grande entusiasmo na comunidade científica internacional; mas, até agora, ninguém conseguiu reproduzir os resultados. Haruko Obokata, a autora principal da pesquisa, e dois coautores, reconheceram ontem que há falhas no trabalho e disseram que estão consultando os outros participantes sobre a possibilidade de retratar as publicações na Nature.
A revista e o centro de pesquisas Riken, no qual eles trabalham, estão investigando denúncias postadas na internet de que alguns dados do trabalho foram adulterados e plagiados. Resultados preliminares da investigação interna do Riken foram divulgados ontem em uma coletiva de imprensa. O centro reconhece que há problemas nos artigos, mas não chega a uma conclusão, ainda, se houve conduta antiética por parte dos pesquisadores ou se foram cometidos erros legítimos, não intencionais, no processo de pesquisa e revisão dos artigos.
Também não está claro, ainda, se a técnica realmente funciona. Os autores divulgaram no início do mês uma ficha técnica com dicas para produção das células (batizadas de Stap, sigla em inglês para “células de pluripotência adquirida por estímulos”). Ainda assim, nenhum grupo de pesquisa até agora relatou ter conseguido reproduzir os resultados de Haruko.
Imaturidade.
O presidente do Riken e vencedor do Prêmio Nobel de Química em 2001, Ryoji Noyori, pediu desculpas pela confusão e garantiu que os pesquisadores serão punidos, caso seja constatado que houve má conduta por parte deles. “O problema aqui é que uma pesquisadora imatura coletou uma quantidade enorme de dados e a maneira como ela lidou com essas informações foi extremamente desleixada e irresponsável”, afirmou Noyori.
A instituição está investigando seis pontos dos trabalhos suspeitos de manipulação e plágio, que não necessariamente invalidam os resultados, mas colocam em xeque a credibilidade das publicações. Se os estudos forem retratados, seus resultados deixarão de ter validade científica, a não ser que os autores sejam capazes de refazer os experimentos e demonstrar que a técnica de fato funciona. Um dos autores principais do trabalho, Charles Vacanti, é da Escola de Medicina de Harvard. A Nature não divulgou nenhum resultado de sua investigação até o momento.
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