A forma das pestes do futuro

Por mais de um século a peste bubônica matou indiscriminadamente em Malta, Viena, Praga, Varsóvia e Copenhague. Em 1720 dizimou quase metade da população de Marselha. Na década de 1930 estava matando ainda em Uganda, onde haviam plantado algodão e a semente armazenada aumentou sensivelmente o número de ratos da região.

A peste começou a diminuir, mas houve quatro graves epidemias de gripe na Grã-Bretanha, no século XVII, 10 no século XVIII, seis no século XIX e, no século XX, a pandemia de 1918, que matou 0,5% da população da Grã-Bretanha e dos EUA e 25 milhões de pessoas no mundo todo. A guerra há pouco terminada, havia matado 8.538.313 soldados, portanto o vírus da gripe matou três vezes mais em um quarto do tempo que durou a guerra. Então esse tipo de vírus mortal da gripe desapareceu. Talvez tenha recuado para os procos, de onde pode voltar de modo alarmante, como voltaram os vencidos da Grande Guerra.

Nada cura a gripe. Porém, hoje, os antibióticos podem evitar a pneumonia, assim como podem deter o tifo, a disenteria e a peste bubônica. Na nossa parte confortável do mundo, onde estamos acostumados com a limpeza e com os médicos, e onde os bacteriologistas subiram de posto para se tornar “microbiologistas”, os vírus atacam especialmente os computadores. Podemos olhar com complacência para a peste.

Podemos?

Em 1967 o mundo se espantou com o aparecimento de uma nova doença. Era trazida pelos macacos verdes importados para experiências de laboratório num instituto de pesquisa em Marburg, na Alemanha Ocidental. Sete seres humanos morreram, entre o pessoal do laboratório e as enfermeiras que tratavam deles. Os macacos trouxeram um vírus desconhecido da África Central, de algum lugar ao norte do Lago Vitória, provavelmente originário de aranha de teia de túnel, um inseto que, evidentemente, deve ser evitado. Dessa área – onde, infelizmente o sexo não é feito exclusivamente em colchões Terra dos Sonhos e atrás de cortinas de Laura Ashley, quando terminam os programas de televisão – veio o vírus da AIDS. Não há cura para nenhum desses vírus importados. Nem vai haver cura para outro, e mais outro, que aparecerão misteriosamente para nos dar mais uma forma de morte…

H. G. Wells, um século mais tarde, confortavelmente instalado na máquina do tempo, está muito ocupado com a série sobre os marcianos.

Existem algumas bactérias bondosas. Elas ajudam o crescimento dos legumes que os homens comem, e da relva do pasto que o gado come. Sem as bactérias, talvez jamais pudéssemos ter o prazer de comer ervilhas, feijão, nem o assado dos domingos.

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