Em 12 de outubro de 1931, dizia J. Coriolano de Carvalho na Sociedade de Farmácia e Química de São Paulo:
“Foi o amor à liberdade, que conduziu às nossas plagas, nos primórdios da Independência, um homem que devia propagar os ensinamentos hipocráticos da Europa e empunhar o facho luminoso da medicina científica. Esse homem, emigrado político, chamava-se José Francisco Xavier Sigaud. Formado em medicina pela Faculdade de Strasburgo, chegou ao Rio de Janeiro em 1825. Nascido em Marselha a 2 de dezembro de 1796, aqui viveu de 1825 a 1856, falecendo aos 60 anos de idade. Culto, inteligente e ativo, Sigaud tanto conhecia os progressos da medicina, como as transformações da farmácia francesa.
Educado numa época de renovação política e científica, Sigaud trouxe para o Brasil a centelha das idéias grandiosas. No Rio de Janeiro, em 1825, tudo estava por fazer.
Seus protestos contra o abandono em que jazia a farmácia, assumiram extraordinária virulência. Dir-se-ia que falava um ardoroso boticário nacional. Graças a Sigaud e à Sociedade de Medicina, é que o ensino farmacêutico foi oficial e cientificamente instituído em 3 de outubro de 1832.”
Durante o século XIX, nenhum boticário ou farmacêutico conseguiu ser nomeado lente no Curso Anexo das Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e Bahia. Isto era um privilégio dos doutores em medicina e os farmacêuticos nunca passaram de auxiliares dos catedráticos. Entretanto, baseado em Adrien Balbi, Pedro José da Silva e em alguns comentaristas brasileiros, o ilustre professor da Universidade de Coimbra José Ramos Bandeira, figura brilhante da Farmácia Portuguesa, numa bela conferência, afirmou:
“José Caetano de Barros, farmacêutico muito distinto, discípulo do célebre catedrático de química da Universidade de Coimbra, Thomé Rodrigues Sobra, estabeleceu um Laboratório Químico na Escola de Medicina do Rio de Janeiro, e aí regeu a cadeira de Química, em 1820.“
“Se consultarmos a profissão nos últimos tempos que precederam à independência do País Irmão, teremos um diagnóstico favorável da doença que parecia vitimar a Farmácia: o desejo ardente dos farmacêuticos brasileiros de se elevarem e atingirem a cultura dos povos mais adiantados.”
Até esse momento, nada foi encontrado que justificasse o título de lente atribuído ao Boticário Aprovado José Caetano de Barros, mesmo porque só em 1832 foram criadas as Faculdades de Medicina do Brasil e no Rio de Janeiro havia, unicamente, a Academia Médico-Cirúrgica. A menos que haja algum documento desconhecido, deve se acreditar que Aldrien Balbi confiou cegamente em sua memória e citou José Caetano de Barros sem nenhuma base.
A inexistência, entre nós, de uma disciplina de História da Farmácia, vem concorrendo para muitos equívocos e para que nosso passado continue misterioso.
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