O Império Romano dominou vastas áreas que iam das ilhas britânicas à Ásia, do norte da Europa à África setentrional. Enquanto forte e organizada, Roma mantinha a ordem em todas as províncias. Seus vizinhos – os “bárbaros” – eram detidos além das fronteiras imperiais pelas suas poderosas legiões.
Os povos “bárbaros” a princípio manifestavam seu respeito à grandeza de Roma, mantendo-se à distância. dedicavam-se à pequena agricultura e à criação de gado – sua principal atividade econômica. O trabalho era obra das mulheres. Aos homens, que cultuavam a liberdade acima de tudo, cabia a tarefa da guerra e dos exercícios físicos. Viviam em acampamentos humildes, geralmente formados por rústicas casas de madeira. Inicialmente obedeciam a um chefe local – o mais destemido e melhor guerreiro.
As terras do Império Romano eram férteis e cobiçadas. Ao mesmo tempo, a fama de Roma, de seus tesouros, tentava os bárbaros a aventuras de conquista. A princípio, com os romanos ainda fortes, procuram obter permissão para ocupar pacificamente as regiões fronteiriças. Apenas cultivavam o solo e defendiam-no de invasores.
Por outro lado, graças à sua bravura, soldados de origem bárbara são admitidos nas legiões romanas para defender o Império como mercenários. O mais famoso deles foi Estilicão, que chegou a ser nomeado general romano pelo Imperador Honório.
Durante o século IV ocorreu essa lenta infiltração pacífica dos bárbaros dentro das fronteiras do Império. À medida que os anos passavam, Roma entrava em decadência com a desunião e lutas internas. Isso veio estimular outra forma de invasão do Império: desta vez violenta e belicosa. Foi o que se chamou de “as grandes invasões”.
Os Visigodos, que até então habitavam as regiões próximas ao rio Dnieper, sofrendo ataque dos Hunos, violento povo originário da Ásia, forçaram as terras de Roma. Chefiados por Alarico invadiram a Itália, saquearam Roma e só não atingiram o norte da África, porque Alarico faleceu (410).
Seu sucessor, Ataulfo, aliou-se ao imperador romano Honório, com cuja irmã se casou. Através dessa união ocupou as terras da Gália (atual França e parte da Espanha) onde estabeleceu o reino dos Visigodos. Mais tarde, perderam a atual França aos francos. Refugiaram-se os Visigodos no território hoje espanhol, até serem ali vencidos pelos árabes (711).
O início do século V foi o tempo das grandes invasões. Além dos Visigodos, que se dirigiam em direção à península Ibérica, outros povos germanos (Suevos, vândalos, borgúndios, alanos) atacaram a Gália numa invasão em massa. Os soldados abriam caminho para pesadas carroças, puxadas por bois, que transportavam mulheres, crianças e seus pertences, prontos a se estabelecerem nas novas terras (406).
Os borgúndios resolvem estabelecer-se no vale do rio Ródano, onde fundam seu reino (o da Borgonha). Suevos, vândalos e alanos transpõem os Pirineus e invadem a Espanha, onde vão disputar as terras com seus predecessores – os Visigodos.
Suevos e alanos, não conseguindo vencer os Visigodos, submetem-se. Os vândalos, porém, ocupam parte da península, invadem a África do Norte e, sob o rei Genserico, cruzam o Mediterrâneo, atacando Roma. Vencida, a cidade é impiedosamente saqueada.
Aos poucos o antigo Império Romano ia sendo ocupado pelos mais diversos povos bárbaros. Diante do fato consumado, os últimos imperadores fazem acordo com os novos reinos, surgindo uma espécie de Confederação Bárbaro-Romana.
Nos meados do século V outra terrível invasão teve lugar. Os hunos, vindos da região da atual Hungria, sob o comando de Átila, promovem várias investidas em direção da Gália. Graças à habilidade do general romano Aécio, são detidos (batalha dos Campos Catalaúnicos – 451).
Ainda uma vez Átila tenta atacar Roma, mas é batido e retira-se para o vale do rio Danúbio onde vem a falecer subitamente (453). A seguir os hunos desorganizam-se e perdem sua capacidade de luta. Com a desarticulação dos hunos, os Ostrogodos que até então viviam sob seu domínio, libertam-se. Dirigem-se, então, da atual Hungria para a Itália.
Outro povo bárbaro, os Hérulos, havia ocupado a Itália e destronado o último imperador romano – o jovem Rômulo Augústulo. Recusando o título de Imperador de Roma, o chefe hérulo – Odoacro – aceita o de “Rei da Itália”(476). A sede do seu reino é estabelecida em Ravena.
Os Ostrogodos, recém-chegados da Hungria, após se libertarem dos hunos, passam a disputar a Itália a Odoacro. A princípio seu chefe, Teodorico, faz uma aliança com Odoacro, passando a governar em sociedade. Mais tarde, Teodorico assassina Odoacro em um banquete, tornando-se único soberano da Itália.
Teodorico faz bom governo. Aos poucos vão sendo feitas uniões entre romanos e bárbaros. O cristianismo é abraçado pela maioria e o Papa fortalece sua posição de chefe espiritual e político.
Uma última invasão bárbara varre a Itália, de onde são expulsos os Ostrogodos. São os lombardos, que ocupam grande parte do norte da península (atual Lombardia). Como o rei lombardo Desidério pretendesse tomar cidade de Roma, o Papa apela para o rei dos francos, Carlos Magno, que os ataca e vence, salvando a sede do cristianismo do Ocidente.
Nas ilhas britânicas viviam os bretões (Grã Bretanha). Durante a ocupação romana viveram em segurança. Com a invasão da Gália pelos bárbaros, os romanos retiraram suas legiões da atual Inglaterra. Disso se aproveitaram os escotos, povo do norte da ilha (atual Escócia), para ameaçarem os bretões.
Estes, para defender-se, pedem apoio aos anglos e Saxões (povos germanos do norte da Europa). Após vencerem os escotos, os anglo-saxões submetem os bretões. Os que não aceitaram viver sob o domínio dos invasores fogem para a península Armoricana (atual Bretanha na França), onde passam a viver.
Alarico – O Bárbaro que Humilhou Roma
Entre os chefes Visigodos que assediaram o Império Romano, nenhum foi da dimensão de Alarico. A princípio prestava serviços ao Imperador do Ocidente, Honório, em troca de um soldo anual. Mas Alarico cedo se tornou uma ameaça. Seu verdadeiro nome seria Ala-Reik e teria vivido de 376 a 410. Desentendendo-se com o Imperador do Oriente, Arcádio, Alarico atingiu com suas tropas a península grega e pretendeu destruir Constantinopla.
Graças às tropas de Estilicão (outro bárbaro a serviço do Império do Oriente), Alarico foi detido com seus milhares de soldados. Derrotado, volta-se para oeste e avança através dos Alpes, da planície do Pó e dos Apeninos, em direção a Roma. Suas tropas foram aumentadas com os bárbaros de Estilicão, após o assassinato deste, a mando de Arcádio.
Alarico sitia Roma, deixando-a sem alimentos. Além da fome, começa a alastrar-se pela cidade uma epidemia de peste, resultado dos milhares de cadáveres insepultos. Os romanos, desesperados, sufocam seu orgulho e imploram a Alarico que se retire. O chefe Visigodos exige, para isso, todo o outro e prata da cidade como resgate, além da libertação de cerca de 40 mil escravos bárbaros. Aos decepcionados embaixadores romanos, que lhe perguntaram “que nos deixas, pois?”, respondeu simplesmente: “a vida…”.
Mais tarde, outra vez Alarico sitia Roma, que cai no dia 24 de agosto de 410. Seguem-se 3 dias de saque e de sangrenta matança, da qual participaram os 40 mil escravos libertados do sítio anterior.
A seguir Alarico retira-se para o sul da Itália, pretendendo atacar a Sicília. Morre, porém, aos 34 anos, sem atingir seu objetivo. Foi enterrado, juntamente com grande soma de ouro e prata, no leito do rio Busento, desviado de seu curso pelos escravos, para o sepultamento. Após a volta das águas a seu curso normal, os escravos foram degolados, garantindo-se, assim, o repouso final de Alarico contra a violação da sepultura pelos inimigos.
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