Enquanto os tempos históricos têm a duração de seis mil anos, a pré-história durou, no mínimo, um milhão de anos, apesar de que esta cifra hoje é contestada pôr eminentes arqueólogos, estes preconizando a duração da pré-história com aproximadamente um milhão e quinhentos mil anos, e pôr isso, considerar-se-á, para este resumo da história, como um milhão de anos mesmo. Um milhão de anos porque existem testemunhos indiscutíveis da presença do homem na terra desde o período plistoceno, o primeiro da era quaternária ou atual.
Estes testemunhos são:
1 – os fósseis, restos de ossos conservados nas rochas;
2 – a cultura, objetos feitos e utilizados pelo homem, partindo de materiais que ele dispunha para fazê-los: ossos, pedras, chifres e outros.
Os fósseis humanos mais antigos até hoje encontrados são os de Pithecanthropus erectus (ou homem de Java), e do Sinanthropus pequinensis (homem de Pequim). O primeiro teria vivido há, pelo menos 500 mil anos. O segundo há uns 300 mil anos. Apesar de que a humanidade apareceu na terra muito antes do Pithecanthropus. Na África do Sul foram encontradas numerosas ossadas humanóides associadas às de outros animais. É o tipo conhecido por Australoptecus africanus.
NOSSOS LONGÍNQUOS ANTEPASSADOS
Os principais fósseis humanos e pré-humanos que representam etapas marcantes na evolução da espécie são os seguintes:
1 – Australoptecus africanus – encontrado na África do Sul em TAUNGS (no Transvaal), é, para alguns, um macaco antropóide bastante próximo do tipo humano. Outros o julgam humanóide, já que vários de seus fósseis se acham associados ao uso de ferramentas de osso, com as quais combatia e caçava os animais. O exemplar mais famoso é do menino taung, de aproximadamente seis anos de idade – o primeiro indício no mundo de que se havia encontrado um elo entre os humanos e os antropóides. Viveu no plioceno a cerca de um milhão e quinhentos mil anos.
2 – Pithecanthropus erectus – ou Homem Macaco de Java. Descoberto por Dubois às margens do Rio Solo, impressiona pela mistura de aspectos simiescos e humanos. O tamanho de seu cérebro é superior ao dos antropóides atuais e inferior ao do homem moderno. Ao contrário dos grandes macacos antropóides, caminhava sempre em pé. Já fabricava rudes ferramentas de pedra (sílex) e, possivelmente, de osso ou madeira. Viveu no Plistoceno, há uns quinhentos mil anos.
3 – Sinanthropus pequinensis – para muitos, é apenas uma pequena variação do Pithecanthropus. Viveu na China (Chu-Ku-Tien), há uns 250 mil ou 300 mil anos. Era mais delicado que o homem de Java, e seu cérebro, um tanto maior. Usou o fogo, objetos de osso, e fabricava armas e instrumentos de pedra lascada.
4 – Homem de Neanderthal – encontrado em enormes áreas da Europa, Ásia Menor e Norte da África, foi a raça predominante do paleolítico inferior. Viveu de uns 200 mil à 50 mil anos atrás. Tinha estatura mediana, braços bastante compridos, ossos fortes, pescoço robusto, fêmures um tanto arqueados. Seu rosto era de aspecto grosseiro, o queixo um tanto recuado e sobre os olhos fundos destacavam-se suas proeminentes arcadas superciliares. O homem de Neanderthal era caçador e durante sua existência teve que lutar contra a fome e as terríveis ondas de frio que assolavam a terra, pois nesta época ocorreram as cinco últimas glaciações. O Homem de Neanderthal já enterrava seus mortos em sepulturas, trabalhava a pedra, o osso e a madeira. Ele desapareceu de forma ainda inexplicada. Foi substituído por outra raça mais evoluída, a de Cro-Magnon.
5 – Homem de Heidelberg – era uma variedade do Neanderthal. Seus restos reduzem-se a apenas um mandíbula (de Mauer), encontrada na Alemanha em 1907.
6 – Homem de Cro-Magnon – viveu no Paleolítico Superior. Era de estatura mais elevada (superior a 1,80m), ombros largos, capacidade craniana igual à do homem atual. Foi a raça mais evoluída da idade da pedra lascada. Trabalhou com perícia a pedra, o osso, o chifre e as peles de animais. Morava em cavernas e em tendas, que aprendeu a edificar. Deixou belíssimas pinturas em cavernas, feitas em cores. Foi, talvez, dos primeiros seres humanos a ter preocupações religiosas (magia).
7 – O homem fóssil na América – o homem surgiu no velho mundo. A América, isolada do antigo continente, só veio a ser povoada há relativamente pouco tempo. Calcula-se que, há pouco mais de 20 mil anos, populações originárias da Ásia Oriental tenham atravessado o estreito de Behring e alcançado o continente norte-americano. Dali eles se dirigiram para o sul, dando origem aos diversos grupos mais tarde encontrados pelos europeus no início da Idade Moderna. Para alguns pesquisadores, especialmente Paul Rivet, a América também teria sido povoada por Polinésios vindos através do Oceano Pacífico em toscas embarcações.
8 – O homem fóssil brasileiro – por enquanto temos provas da presença do homem no Brasil, desde 10 mil anos atrás. Dois grandes grupos já foram estudados e sua antigüidade comprovada através de testes do carbono 14 ( *C14, método capaz de avaliar a antigüidade de animais e plantas até 25 mil anos atrás). O primeiro deles é o chamado Homem de Lagoa Santa, que viveu em Minas Gerais, na região norte de Belo Horizonte. Outro ocupou o litoral, desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul. Alimentava-se de moluscos e jogava suas cascas (conchas) em montes à beira-mar. Tais montes são chamados concheiras ou sambaquis e seu autor, o Homem de Sambaqui.
DEZ MIL SÉCULOS DE INVENÇÕES
Pode-se estudar a evolução cultural do homem através de suas indústrias (objetos de pedra, osso, madeira, etc. por ele inventados e trabalhados). Os primeiros estudos dessa natureza foram realizados na Europa (França). Por isso cada indústria tem o nome de sítios ou estações arqueológicas daquele país.
A pré-história compreende a Idade da Pedra (Paleolítico e Neolítico) e Idade dos Metais. Durante o Paleolítico (ou idade da pedra antiga) o homem atravessou várias etapas culturais. A primeira delas foi a do:
· eolítico (ou idade da “pedra Aurora”). Os homens eram tão rudes, que teriam usado objetos de pedra como eram encontrados na natureza. Muitos desses objetos mostram seu uso como armas pelo homem, apesar de não serem por ele fabricados. Pertencem ao Eolítico os Australopithecus, os Pithecanthropus e os Sinanthropus.
· Após o Eolítico o homem começa a fabricar suas ferramentas de pedra. Primeiro, grosseiramente, consegue obter lascas de sílex perfurantes, com as quais vibra golpes nos animais que caça. Ele segurava as lascas na mão ou em cabos de madeira. É a fase da indústria chelense.
· Após a fase Chelense, o homem aperfeiçoou suas armas e objetos de pedra (líticos) e deu-lhes forma simétrica e pontas mais cortantes. É a indústria Acheulense.
· A indústria seguinte é a do Musteriense (70 mil anos atrás). A perfeição dos objetos aumenta. São fabricados punhais, facas, raspadores, pontas de flecha e de lança, usados para caçar – principal atividade econômica do homem de então. Essas três fases industriais (Chelense, Acheulense e Musteriense) compreendem o Homem de Neanderthal e o Homem de Heidelberg e fazem parte do Paleolítico inferior.
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- Paleolítico Superior compreende as indústrias Aurinhacense, Solutrense e Madalenense.
· Aurinhacense – as peças dessa fase aparecem com um pedúnculo que tornava mais fácil o manejo.
· Solutrense – as lâminas do sílex são finas e alongadas, com pontas bastante aguçadas.
· Madalenense – apresenta, ao lado dos objetos de pedra, outros feitos de osso, tais como arpões, agulhas perfuradas e pontas de lança. O homem continuava caçador e tinha de viver em cavernas, para fugir ao frio das glaciações. Possivelmente passou a usar roupas, costurando peles de animais. É a época do Homem de Cro-Magnon.
Após a idade da Pedra Velha (PALEOLÍTICO) tem lugar um período de transição (Mesolítico) e começa uma nova fase cultural para os homens, o Neolítico (ou Idade da Pedra Nova). O clima da terra passa a aquecer-se, as geleiras recuam para os pólos e passam a construir suas casas em aldeias lacustres (palafitas). As mulheres descobrem o trigo e outras plantas úteis. Começa a agricultura. O homem domestica os primeiros animais (cão, boi, cavalo, cabra). Inventa-se a cerâmica, que permite cozinhar e armazenar alimentos. A pedra passa a ser trabalhada com uma perícia jamais vista. Não é mais lascada e rude. É polida cuidadosamente e seu acabamento é esmerado. O homem passa a viver em coletividades maiores, sob a chefia de um líder, escolhido segundo a força física ou a sabedoria.
Graças ao domínio do fogo e à cerâmica, o homem inventa a metalurgia. O primeiro metal que consegue produzir é o cobre. Daí passa a fabricar toda a sorte de objetos desse metal. De armas a vasilhame doméstico e objetos de adorno. Mais tarde descobre o estanho e, com a liga desse metal como o cobre, obtém o bronze. É a Idade do Bronze. Finalmente, surge o ferro. Desde então, ele substitui os outros metais em tudo o que necessitasse de dureza e resistência. Esse extraordinário metal possibilitou o progresso do homem de forma admirável (e podemos afirmar que, de certa forma, ainda nos encontramos na Idade do Ferro). O progresso das coletividades humanas a partir daí foi tão notável, que as levou, cada uma a seu tempo, a inventar a escrita. Desse momento em diante deixaram o longo caminho da Pré-história para ingressar nos Tempos Históricos.
A INCANÇÁVEL BUSCA DA BELEZA
No Paleolítico Superior o homem desperta para a arte. Em cavernas como as de Altamira e Alpera, na Espanha, Lascaux, Ruoffignac, Ariège, na França e Tassili, no Saara, são encontradas magníficas pinturas. Representam ora animais, ora cenas de caçadas, ora danças, retratando, com uma fidelidade admirável, aspectos da vida do homem pré-histórico. Nessas pinturas pré-históricas podem ser encontrados muitos relatos que atestam a antigüidade da farmácia como ciência, sendo possível ver em muitos painéis cenas de procedimentos terapêuticos de aplicação de cataplasmas de plantas e muitos outros.
As cores mais usadas são o vermelho, o amarelo e o preto. A obtenção das tintas (que, de tão boas já resistiram a quase mil séculos) era um segredo do artista das cavernas. Acredita-se que usasse clara de ovo, carvão, óxido de ferro e de alumínio, sangue e certas madeiras ou frutas de cor. Sua habilidade no manejo de tons, trabalhando na escuridão das cavernas, iluminadas à luz de candeeiros de gordura de animais, muitas vezes em difícil posição, são alguns fatos que tornam ainda mais surpreendente seu trabalho.
As pinturas, quase sempre, estão localizadas nas parte mais profundas das cavernas. Isso leva a supor que se tratasse de cenas de magia. Ali seriam feitas orações e invocações dos espíritos para favorecerem aos caçadores, numa época de fome para os reduzidos grupos humanos que perambulavam na florestas; tratamentos de enfermos, ou ainda, as pinturas seriam rituais e estariam ligadas ao despertar do sentimento religioso.
Ao lado das pinturas, obra prima do homem do Paleolítico Superior, aparecem também estranhas estatuetas, representando mulheres gordas e deformadas. Acredita-se que eram usadas em tidos de fecundidade.
Também outras figuras esculpidas ou pintadas em chifres de rena são encontradas, algumas de grande graça e beleza. Ao lado delas, já foram descobertos milhares de ornamentos feitos de pedra, osso, dentes, chifres de rena e outros materiais, demonstrando que, naqueles tempos remotos, o homem já se preocupava com a beleza.
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