O Egito Antigo

Uma das primeiras civilizações que o homem construiu desenvolveu-se no nordeste da África. Ali, a partir do quarto milênio antes de Cristo (4.000 a.C.), começaram a chegar povos originários da Ásia, estabelecendo-se às margens do rio Nilo. Formaram pequenos estados autônomos denominados Nomos.

Toda a área nordeste da África não passa de um grande deserto. Apenas interrompido pelo rio Nilo. Às suas margens estendem-se um extenso oásis alongado, onde, graças às cheias anuais foi possível desenvolver-se a agricultura de cereais, da vinha, do papiro, da cebola e do lótus. Após as enchentes, as margens ficavam cobertas de rico solo de aluvião, deixado pelo rio, imediatamente aproveitado pelos agricultores.

As cheias do Nilo, para serem bem aproveitadas pelos primitivos egípcios, exigiam grandes obras de engenharia, entre as quais a abertura de canais de irrigação, a construção de açudes, a drenagem de pântanos, além de um criterioso e complexo sistema de divisão de propriedades, cujos limites tinham de ser restabelecidos, muitas vezes, após as águas baixarem. Por isso, acredita-se terem sido os egípcios os descobridores da Geometria.

A necessidade de construir grandes obra públicas e a de defender-se contra inimigos comuns levou os Nomos do Baixo Egito (região do Delta) a se unirem, formando um só reino. Mais tarde, os Nomos do alto Egito (sul), também se uniram. Finalmente, em 3.200 a.C., o faraó Menés unificou os dois reinos sob sua autoridade. Com Menés começa a longa história política do Egito, que se estende através de quase 3 mil anos, abrangendo 26 dinastias.

Durante tão longo espaço de tempo o Egito conheceu períodos de glória e de esplendor. Enfrentou, também, fases de extrema miséria, sofreu invasões e foi dominado por potências estrangeiras. Sua grandeza, porém, venceu o tempo e chegou até nós através das grande obras de arquitetura que construiu e dos tesouros científicos e artísticos nelas abrigados.

A história do Antigo Egito pode ser dividida em três fases: a do Antigo, a do Médio e a do Novo Império. Na primeira, iniciada por Menés, a capital ficava em Tinis, depois em Menfis. Durante o antigo império foram construídas enormes edificações em pedra, trazidas de longa distância através da areia do deserto. São dessa fase as famosas pirâmides da planície de Gize – a de Queops, a de Quéfren e a de Miquerinos – construídas pelos faraós que lhes deram o nome para lhes servirem de túmulos colossais. A primeira delas, por exemplo, media 146 metros de altura.

Os gastos excessivos dos faraós com suas obras e a enorme carga de impostos gerou o descontentamento geral. Os nobres, fortalecidos, desrespeitam a autoridade real e estabelecem uma fase de regime feudal. Foi o fim do Antigo Império. O Médio Império, com a capital em Tebas, tem início em 2.100 a.C.. Um dos faraós mais notáveis desse período foi Amenená III, que realizou grandes obras públicas, abrindo canais de irrigação e construindo açudes.

De 1750 a 1580 a.C., o Egito é invadido e dominado pelos Hicsos, povos semitas, pastores, que venceram militarmente os egípcios. Os invasores tinham cavalos e carros de combate, até então desconhecidos no vale do Nilo. Durante a ocupação dos Hicsos os hebreus viveram algum tempo no Egito até que, sob a liderança de Moisés, regressaram à Palestina, sua terra de origem.

Após a expulsão dos Hicsos em 1580 a. C., começa o Novo Império. Talvez estimulado pelas lutas travadas contra o estrangeiro invasores, teve início uma fase de grandes vitórias militares. Tutmés III invade a Ásia, atingindo o rio Eufrates depois de dominar a Síria. Para defender a costa oriental do Mediterrâneo, constrói poderosa frota de guerra.

Amenófis IV (1380-1392 a.C.), cognominado AKENATHON, que traduz-se por Aton (deus sol) está contente, tenta impor a crença em um só Deus (Aton). Sua morte prematura impede-o de obter êxito. Os sacerdotes reagem, restabelecendo o politeísmo, através de Tutancâmon, primo de Amenófis IV, feito novo faraó.

Outro faraó conquistador foi Ramsés II. Além de construir templos, monumentos e canais, travou luta contra os hititas, povo asiático que já conhecia o uso do ferro. Essa guerra terminou com uma aliança, celebrada pelo casamento de Ramsés II com uma princesa hitita.

Após a morte de Ramsés II, o Egito passa a sofrer invasões. Primeiro os etíopes; a seguir os assírios. Após dura luta, o faraó Psamético I consegue expulsá-los e muda a capital para a cidade de Saís.

Seu filho e sucessor, o faraó Necau, notabilizou-se por ter ordenado aos fenícios, sob a chefia de Hamon, que fizessem o contorno da África, partido do Mar Vermelho e retornando pelo Mediterrâneo. 2 mil anos depois, Vasco da Gama faria essa viagem em sentido contrário.

Após Necau, a decadência do Egito acentua-se. Sob Psamético III o país é dominado por Cambises, rei dos Persas (batalha de Pelusa – 525 a.C.).

Em 332 a.C., Alexandre da Macedônia vence os Persas e domina do Egito, onde funda, no delta do Nilo, a cidade de Alexandria.

Morto Alexandre, o Egito reconquista temporariamente sua autonomia. Sob Cleópatra, porém, é conquistado pelos Romanos, que o transformam numa província do seu império.

Depois de ter sido parte do Império Romano do Oriente, o Egito cai em poder dos árabes, que forte influência passaram a exercer sobre a região. Alterou-se a composição étnica do país, hoje de supremacia árabe. Dos antigos egípcios restam os felás, humildes agricultores de pele escura, ombros largos e olhos rasgados, que plantam algodão, legumes e hortaliças, nas mesmas terras onde seus antepassados construíram a primeira civilização da humanidade.

Os Templos Egípcios

Os egípcios foram notáveis construtores de templos de dimensões colossais. Os melhores exemplos são os de Karnak e de Luxor. Embora no começo da história os templos fossem modestos, no período Menfita foi possível levantar os dois gigantescos citados acima. O de Karnak era precedido por uma extensa avenida ladeada de esfinges e na sua entrada estavam dois gigantescos blocos em forma de tronco de pirâmide. Com 134 colunas imensas sustentando-lhe o teto, apenas uma das salas de Karnak media 500 metros de comprimento por 100 metros de largura. Nesses templos gigantescos o faraó oficiava os mistérios de sua religião. Os templos tinha uma parte pública. A seguir vinha a sala hipóstila, sempre em meio à penumbra, onde o deus aparecia. Ali também se faziam as oferendas, e somente podiam permanecer os sacerdotes, que devia ser puros. Outra peça do templo era o santuário, local reservado ao deus. A seu redor outras peças menores, sacristia, armazéns para oferendas, sacrários e locais para ritos secretos. Os únicos que podiam permanecer em tais recintos eram os sacerdotes de alto nível, e o faraó.

Nos templos eram praticados todos os tratamentos, cirurgias e as mumificações, cujo processo, revelado pelo historiador grego Heródoto, está descrito a frente. Todas técnicas terapêuticas e tratamentos egípcios eram feitos sob os auspícios dos deuses e em seus nomes pelos sacerdotes e com a aquiescência do faraó, o deus vivo do Egito. Nas salas públicas eram tratados os homens e mulheres simples, enquanto os escriba, os militares, os sacerdotes e o faraó eram atendidos, de acordo com sua importância hierárquica, em salas especiais.

Os Deuses Dos Egípcios

No Egito havia centena de deuses. No começo de sua história são representados por figuras de animais ou plantas. Assim, o falcão é Hórus; o cão é Anúbis; o crocodilo Sebek; o tronco, Osíris. Ao fim da segunda dinastia aparecem os deuses com corpo humano e cabeça de animal. Na terceira dinastia os deuses surgem com a forma humana completa. A estatuária encarrega-se de produzir milhares de figuras desses deuses, porém são adorados sob a forma de animais vivos. É o caso do boi Ápis, encarnação de Ptá, deus de Menfis. Era negro, tinha pequena mancha triangular na cabeça e uma águia de asas abertas em seu dorso. Vivia em um templo onde era adorado, tendo a seu serviço várias sacerdotisas. A trindade maior do Egito era formada por Osíris (confundido com o rio Nilo ou o Sol), Ísis, sua esposa (a Lua ou a terra fértil) e Hórus seu filho. Além dessa trindade, destacavam-se os deuses locais, tais como ou Amon-Rá.

Como se Faziam as Múmias Egípcias

Para preservar os cadáveres do apodrecimento, os egípcios desenvolveram uma técnica de embalsamamento extraordinária. Muitas de suas múmias alcançaram mais de 5 mil anos, conservando notável integridade. O processo completo de mumificação é ainda desconhecido, mas, graças a alguns textos da época, entre os quais o do grego Heródoto, sabe-se que era um trabalho meticuloso e altamente técnico. Os egípcios acreditavam que o homem tinha corpo e alma. Esta dividia-se em duas: Ba, a alma espiritual e Ka, a alma corpórea. Ka, ao voltar da viagem ao além, encarnaria no morto fazendo-o voltar à vida. Para isso era necessário conservar bem os corpos e, além disso, identificá-los com pinturas nos sarcófagos, tal e qual tinham sido em vida e colocar nos túmulos suas riquezas acumuladas durante a vida para que ele vivesse entre seus pertences para toda a eternidade.

O processo de mumificação foi assim descrito por Heródoto:

“tiram-lhe, primeiro, o cérebro, por meio de um ferro recurvado que introduzem nas narinas, e com o auxílio de drogas que injetam na cabeça*. Fazem, em seguida, uma incisão no ventre com uma pedra cortante da Etiópia. Tiram por esta abertura os intestinos, que são lavados, passados por vinho de palma e por aromas; enchem, seguidamente , o ventre de mirra, de canela e de outros perfumes, depois do que o cosem cuidadosamente. Terminado isto, salgam o corpo e cobrem-no de natrão durante 70 dias. Acabado esse prazo, lavam o corpo e envolvem-no inteiramente com faixas de linho”.

* Com certeza utilizavam ácidos fortes para digerir os tecidos intracranianos.

Todo esse tratamento dos corpos eram feitos pelos Sacerdotes-alquimistas de alto nível e com o consentimento e a supervisão do faraó.

Porquê se Faziam as Múmias?

Ao morrer, a alma do egípcio era levada ao Tribunal de Osíris, formado por 42 deuses juizes, onde seu coração era pesado em uma balança de pratos. Se seus pecados fossem muitos, era condenado aos suplícios dos infernos. Se fosse inocente, ganharia o direito de viver no paraíso. Retornando da longa viagem ao além, reencarnando no corpo e vivendo junto com seus despojos, navegando no barco solar na eterna viagem diurna no sentido terra-sol, navegando através do rio solar, ou seja, os raios solares que ligam a terra ao sol, o caminho de ida, e retornando ao anoitecer, pelo rio subterrâneo que trazia a noite e a lua, como acreditavam eles, sendo por isso que os mortos eram enterrados juntos com seus tesouros e riquezas e juntamente com um barco solar, ornado em ouro.

Para ajudar as almas no seu julgamento, eram depositadas cópias do Livro dos Mortos nos túmulos. Nele se encontram uma declaração que deveria ser recitada diante do tribunal, mencionando as grande virtudes do morto, a fim de ganhar o céu. Eis um de seus trechos mais curiosos:

“Glória a ti, Senhor da Verdade e da Justiça! Glória a ti, Grande Deus, Senhor da Verdade e da Justiça! A ti vim, meu Senhor, e a ti me apresento para contemplar as tuas perfeições. Porque te conheço, conheço o teu nome e os nomes das quarenta e duas divindades que estão contigo na Sala da Verdade e da Justiça, vivendo dos despojos dos pecadores e fartando-se do seu sangue, no dia em que se pesam as palavras perante Osíris, o a voz Justa: Duplo Espírito, Senhor da Verdade e da Justiça; trouxe-vos a verdade e destruí por vós, a mentira. Não cometi qualquer fraude contra os homens; não atormentei as viúvas; não menti em tribunal; não sei o que é má fé; nada fiz de proibido; não obriguei o capataz de trabalhadores a fazer diariamente mais do que o trabalho devido; não fui negligente; não estive ocioso; nada fiz de abominável aos deuses; não prejudiquei o escravo perante o seu senhor; não fiz padecer fome; não fiz chorar; não matei; não ordenei morta à traição; não defraudei ninguém; não tirei os pães do templo; não subtrai as oferendas dos deuses; não roubei nem as provisões nem as ligaduras dos mortos; não auferi lucros fraudulentos; não alterei as medidas dos cereais; não usurpei terras; não tive ganhos ilegítimos por meio dos pesos do prato da balança; não tirei o leite da boca dos meninos; não cacei com rede as aves divinas; não pesquei os peixes sagrados nos seus tanques; não cortei a água na sua passagem; não apaguei o fogo sagrado na sua hora; não violei o divino céu nas suas oferendas escolhidas; não escorracei os bois das propriedades divinas; não afastei qualquer deus ao passar. Sou puro! Sou puro! Sou puro!”

Os Grandes Legados Egípcios Para Alquimia e Para as Ciências Atuais

Os Egípcios também se preocuparam com o tratamento de doenças, mas ativeram-se a investigar as causas internas das enfermidades e fizeram aquelas que foram as primeiras cirurgias de que a história tem notícia.

Descobriram que no centro do crânio existia um lugar que, se nele aparecesse uma espécie de pedra, o indivíduo ficava louco e, para curar a loucura, eles fizeram as primeiras neurocirurgias que se tem notícia e o mais incrível disso, é que o paciente sobrevivia ao ato cirúrgico, abobado, alienado e vegetante, mas sobrevivia, pois muitas múmias encontradas apresentavam tecido de cicatrização óssea no crânio, em forma de trepanagem (trepanação é a técnica cirúrgica empregada para abertura da caixa encefálica). A pedra que eles descobriram nada mais é do que o corpo caloso do girus do cíngulo que, de acordo com as descobertas de PAPEZ e McLIN, está diretamente ligado aos processos mentais, afetivos e comportamentais e atualmente se acredita que todos as psicoses e psiconeuroses nada mais são que disfunções bioquímicas e/ou fisiológicas do girus do cíngulo ou das áreas coligadas que juntamente com este, formam o CENTRO LÍMBICO, que é a sede de toda a gênese de comportamentos e emoções.

Esta prática cirúrgica desenvolvida pelos egípcios ganhou fama e atravessou os séculos, perdurando até a idade média e recebendo o nome de lobotomia, até ser abandonada devido aos insistentes apelos dos humanistas da época que consideravam este tipo de tratamento cruel e desumano. Na primeira metade do século atual (século XX), um neurocirurgião espanhol chamado ANTÔNIO CAETANO DE ABRERO FREIRE EGAS MONIZ ressuscitou a técnica, por volta de 1935, aperfeiçoando a mesma, e criando a psicocirurgia, adaptando-a ao tratamento de alguns tipos de psicoses e das epilepsias refratárias à medicamentos, ganhando, com isso, o prêmio Nobel de Medicina. A lobotomia de Egas Munis é bem diferente da cinguléctomia dos egípcios, pois na primeira se faz a ressecção de um ramo de comunicação entre os dois hemisférios cerebrais, mais precisamente a comissura anterior, enquanto na segunda se retira cirurgicamente o girus do cíngulo.

Aos Egípcios se deve o início da produção de fármacos fitoterápicos. Se devem ainda o início da farmacognosia e da farmacotécnica, e ainda se deve aos egípcios a criação da contabilidade e do profissional contador, através da figura do escriba que, onde quer que o Farmacêutico estivesse trabalhando, sempre tinha junto, um escriba (o personagem sentado à direita, com papiro sobre o colo) registrando tudo, para desespero do boticário.

Os Hititas

Foi um povo guerreiro que habitou o território da atual Turquia, a península da Anatólia. Fortemente centralizado, o poder de seus reis permitiu grande avanço tecnológico em relação aos povos vizinhos. Os hititas foram um dos primeiros a conhecer e a utilizar o ferro. Com isso obtiveram grandes vantagens nas batalhas travadas contra inimigos, que estavam ainda na idade do bronze. Os hititas tiveram relações, nem sempre amistosas, com os povos da Mesopotâmia e Fenícia, além do Egito. Estiveram em guerra contra Ramsés II a qual terminou com uma aliança obtida pelo casamento de uma sua princesa com o faraó egípcio.

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