Onde tudo começou: as origens da Farmácia

Fez-se necessário essa introdução à paleontologia e à antropologia para situar melhor a posição da alquimia antiga, a profissão farmacêutica de hoje, e da psicologia, em relação ao homem através das eras, ou seja, para se poder discutir melhor e se ter uma idéia mais precisa do ponto de partida da história da farmácia, pois muitos historiadores de renome apregoam que a alquimia começou com os Australopthecus africanus, enquanto outros afirmam categoricamente que a farmácia surgiu com o Sinanthropus pequinensis e, enquanto os primeiros defendem que a alquimia tem cerca de um milhão de anos, ou mais, os segundos atestam que ela não tem mais que 250 mil anos, que é a época de ocupação do mundo pelos homens de Pequim (Sinanthropus pequinensis) e, como a corrente que apregoa a farmácia como uma invenção dos Australopthecus africanus é mais expressiva e mais consistente, acata-se e insere-se neste resumo da história da farmácia a idade de aproximados um milhão de anos ou mais para esta bela e gloriosa ciência.

As origens da Farmácia se confundem com as origens do gênero humano, pois existem registros de desenhos em rochas atribuídos aos Australopthecus africanus, onde se vêem os primeiros humanóides ingerindo substâncias, ao que parece, ervas, para combater alguma enfermidade, ou utilizando cataplasmas de plantas para curar ferimentos.

Desde que o ser humano desenvolveu seu raciocínio lógico, seu aparato cognitivo, ele começou a racionalizar os sentimentos e os sentidos: a fome, o frio, a dor… E passou a pensar em formas de compatibilizar os sentimentos com suas necessidades e formas de conseguir esta adaptação e por observação de fenômenos, ações e resultados, ele foi descobrindo uma série de maneiras de saciar a fome, de combater o frio e até mesmo a dor. Por intuição ou por imitação do comportamento de outros animais, ao sentir algum desconforto físico ele ingeriu ervas para combatê-lo e em alguns casos sentiu alívio, apesar de muitos terem perecido envenenados nestas experiências farmacológicas pré-históricas, mas aos poucos ele foi descobrindo as ervas, os óleos, as drogas minerais e até secreções de animais e vegetais, passando a utilizá-los para alívio das dores e desconfortos.

Com o desenvolvimento da inteligência, o homem passou a prestar atenção ao seu mundo, ao seu ambiente e, inevitavelmente, acabou percebendo sua diferença em relação aos seus “companheiros de viagem” nesta imensa astronave chamada terra. Passou a notar sua dificuldade, ou melhor, sua impossibilidade em se comunicar racionalmente com seus “colegas viventes” surgindo com isso a pergunta: quem sou? O que sou? Porque sou? De onde vim? Para onde vou? Porque não consigo conversar com os animais? Porque eles não me entendem? Porque sou diferente? Essas dúvidas atormentavam o homem primitivo mas, devido ao seu habitat selvagem e hostil, eram relegadas a um segundo plano pela necessidade de sobreviver, mas sem jamais deixar de se questionar. Extravasava sua angústia existencial em rituais magia, em pinturas, em objetos de adorno que sobreviveram ao tempo chegando ao presente e dando um testemunho vivo e fiel de como era a vida nos primórdios da humanidade.

Com esse corolário todo de dúvidas na cabeça, o homem pré-histórico começou a “pensar”. Começou a questionar o seu mundo. Começando assim a “filosofar” ele fez nascer a filosofia.

A Filosofia é a mãe das ciências, pois fornece as hipóteses, os teoremas, as suposições, as cogitações e as teorias para que a filha Ciência comprove experimentalmente o que a mãe Filosofia propõe. A filosofia nasceu já na pré-história, mas foi sistematizada a partir de povos como os egípcios, gregos, caldeus, persas e outros, chegando ao seu auge na Atenas Antiga, de onde provém toda a base da moderna filosofia.

Inicialmente, os filósofos foram os primeiros a observar o comportamento dos seres vivos, notando que para cada estímulo correspondia uma reação. Observaram que os seres vivos respondiam aos estímulos que incidiam sobre eles, chegando a conclusão que o comportamento dos seres vivos tinha como base um binômio, estímulo e respostas ou em paradigma: E – R ou S – R.

Como da filosofia nascem as ciências e a psicologia também nasce da filosofia, os psicólogos passaram a valorizar o organismo e notaram que não basta ter um estímulo para se ter uma resposta, é necessário que esse estímulo incida sobre um organismo, porque é o organismo que tem o poder de organizar uma resposta para aquele estímulo. Então eles afirmaram que a base do comportamento humano seria um trinômio e não apenas um binômio, estímulo, organismo e resposta ou: E – O – R.

Em seguida, os psicólogos também observaram que o comportamento não se processa no organismo todo, mas sim em determinados sistemas desse organismo que tem a função e especialização de receber e interpretar os estímulos, organizando as respostas cabíveis para cada estímulo. Observaram, obviamente, o estímulo e substituíram o organismo todo pelos sistemas nervoso e muscular pois esses dois sistemas são os responsáveis diretos pela recepção, decodificação e efetuação das respostas comportamentais.

O sistema nervoso recebe e interpreta os estímulos, organiza suas respostas e as envia ao sistema muscular que as processa: estímulos (sistema nervoso – sistema muscular) – respostas ou: E – (S.N. – S.M.) – R.

Para simplificar, foram colocados os termos NEURÔNIO por ser esta a célula fundamental e unidade funcional do sistema nervoso. MIÔNIO porque é a unidade funcional do sistema muscular, e este ao contrair-se, efetua a resposta.

Se a fibra muscular se contrai uma vez, duas, três vezes, resultará num comportamento, pois, um comportamento nosso é uma seqüência de contrações musculares. É uma seqüência de comportamentos reativos, um conjunto de respostas seqüenciadas.

Devemos nos lembrar sempre que o sistema nervoso não funciona através de neurônios isolados, mas sim através de três etapas de funcionamento: aferência, associação e eferência.

Esta é a base biológica do comportamento humano e do mecanismo funcional do sistema nervoso que entra em ação no momento em que o estímulo incide sobre o aceptor, o receptor leva o estímulo ao cérebro (aferência), o cérebro faz a associação do estímulo decodificando-o e emitindo uma resposta, a qual é enviada pelos neurônios efetores até o sistema muscular onde é processada a resposta.

Falamos até agora em dois elementos, o estímulo e o organismo, mas vamos acrescentar agora mais um elemento, o psiquismo, porque nossos comportamentos são, além de elaborados e efetuados, codificados nos três andares do psiquismo, o consciente, o pré-consciente e o inconsciente. É o psiquismo que organiza nosso comportamento, este podendo ser voluntário, involuntário, elaborado, condicionado, instintivo ou operante (reflexos simples).

Estímulo, organismo, psiquismo, respostas, esta tétrade ilustra o que discutimos anteriormente e nos possibilita compreender as propriedades fundamentais do organismo, o qual reage basicamente através de suas propriedades fundamentais, a excitabilidade, que é uma propriedade do protoplasma de todas as células e de todos os seres vivos, e a irritabilidade, uma propriedade exclusiva do sistema nervoso, pois apenas os neurônios têm a propriedade de reagir por irritabilidade.

Todo animal que apresenta um sistema nervoso, mesmo os mais rudimentares como a anêmona do mar, a Aurelia sp., a estrela do mar, já têm neurônios, apresentam comportamento de irritabilidade.

O sistema nervoso foi evoluindo dentro da escala zoológica, foi aumentando o número de neurônios e estes o número de sinapses e se tornando cada vez mais complexo, especializado e completo, de modo que nós, seres ditos humanos, temos o comportamento mais complexo e completo de todos os animais em virtude de possuirmos um sistema nervoso em um grau mais evoluído.

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