O delegado-geral da Polícia Civil do Amazonas, Josué Rocha, usou a expressão “meninas rodadas” ao ser questionado nesta segunda-feira (26) pela Folha se empresários e políticos investigados por crimes de pedofilia e prostituição de crianças e adolescentes tinham preferência por menores virgens.
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Essa questão [compra] da virgindade não foi detectada, até porque, quando uma menina começou com 13 anos, ela não era mais virgem. São meninas rodadas, exatamente, são meninas que tiveram passagens por vários clientes”, afirmou, em Manaus, o delegado-geral.
Na última sexta-feira (23), a Polícia Civil desencadeou operação contra esse tipo de crime. Oito pessoas, suspeitas de agenciar as meninas, continuam presas, preventivamente. Cerca de 30 garotas, com idades de 12 a 17 anos, já prestaram depoimentos.
Josué Rocha disse que o número de “clientes” investigados chegou a 18. Eles foram denunciados pelas menores, entre os quais empresários do ramo da educação e da construção e donos de hotéis, boates e supermercados.
Segundo a polícia, os “clientes” pagavam os programas com roupas, celulares, máquinas fotográficas e dinheiro.
“As vítimas não relutaram em declarar seus algozes”, afirmou o delegado-geral.
Procurado pela reportagem, o coordenador do Centro de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Amazonas, promotor Fábio Monteiro, criticou a declaração do delegado-geral Josué Rocha sobre a virgindade das meninas.
“É uma visão completamente equivocada e infeliz [do delegado]. Pessoas nessa faixa etária não têm experiência de vida suficiente, daí ser proibido por lei a prostituição infantil e a pedofilia”, afirmou.
A operação “Estocolmo” é dirigida pela Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente. Os crimes investigados são estupro de vulnerável, exploração sexual e rufianismo (obtenção de lucro através de exploração sexual).
FRONTEIRA
Em São Gabriel da Cachoeira, fronteira com a Colômbia, a Polícia Civil abriu inquérito em 2011 para investigar crime de exploração sexual contra meninas indígenas. Elas denunciaram nove homens, mas nenhum deles foi preso ou indiciado.
Devido a morosidade da investigação na Civil, a Procuradoria Geral da República pediu a federalização de três inquéritos. O Tribunal de Justiça do Amazonas ainda não se posicionou sobre o deslocamento dos inquéritos à Polícia Federal. Até o momento os suspeitos não prestaram depoimentos na polícia.
PF assume caso de índias que venderam a virgindade no AM
A Justiça do Amazonas informou nesta sexta-feira (7) que decidiu levar à esfera federal dois inquéritos da Polícia Civil sobre relatos de meninas indígenas que dizem ter vendido a virgindade.
As menores dizem ter trocado a virgindade por R$ 20 e caixas de bombom, conforme revelou a Folha em novembro. O caso está em segredo de Justiça.
A juíza Tânia Mara Granito, da comarca de São Gabriel da Cachoeira, acatou pedido da Procuradoria-Geral da República, sob o argumento de que a Polícia Federal é competente para investigar crimes contra os índios e de repercussão sociocultural na vida deles.
A solicitação também se baseou em críticas do Conselho Tutelar da Infância e Juventude da cidade sobre o andamento da apuração da Polícia Civil. O primeiro inquérito foi aberto em 2011, mas até hoje ninguém foi preso. Os suspeitos são empresários locais, um ex-vereador e um taxista.
Uma terceira investigação, sobre suposta participação de dois militares do Exército nos crimes de exploração sexual e estupro de vulnerável, continuou na esfera estadual.
A Polícia Federal já havia aberto um inquérito para investigar denúncias, mas diz que com o deslocamento poderá ampliar o trabalho.
O delegado Normando da Rocha Barbosa, responsável pelas investigações na Polícia Civil, disse que chegou a pedir a prisão de um dos suspeitos, mas ele continua foragido.
Para a Polícia Civil do Amazonas, a federalização do caso não significa um atestado de incompetência de sua apuração. Entende que se trata apenas de entendimento sobre a esfera mais competente.
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