Lord Lister era bonito, robusto, gentil, impassível, resoluto e impermeável à crítica ou ao ridículo. Ignaz Philipp Semmelweiss (1818-1865), da Hungria, era calvo, usava bigode bem tratado, era excitável, sensível e louco. Quando Lister era ainda estudante, em 1846, Semmelweiss era assistente na Primeira Clínica Obstétrica de Allgemeines Krankenhaus, em Viena, o maior hospital do mundo para pacientes internos. A Primeira Clínica ensinava estudantes de medicina. A Segunda Clínica ensinava só parteiras. Na Primeira Clínica a febre puerperal, que aparecia uma semana depois do parto provocando hemorragia, trombose, peritonite, abscesso, septicemia e estupor, matava três vezes mais do que na Segunda Clínica. Toda Viena sabia tão bem, como conhecia o preço do Bratunurst, que as mulheres grávidas imploravam histericamente para dar à luz na Segunda Clínica.
Semmelweiss notou que a febre puerperal imitava outra doença violenta que matava os médicos desafortunados que cortavam os dedos nas autópsias. Ele lembrou que cada mulher tinha um ferimento aberto, o útero, depois de livre da placenta. Notou que os estudantes da Primeira Clínica vinham da sala de anatomia, onde dissecavam cadáveres, e as parteiras da Segunda Clínica chegavam de suas casas. Concluiu então, imediatamente: “A febre puerperal é causada pelo transporte para as mulheres grávidas de partículas putrefatas derivadas de organismos vivos, através dos dedos de quem as examina”.
Ele fez os estudantes lavarem as mãos com um desinfetante, cloreto de cálcio. O índice de mortalidade na primeira clínica caiu de 18 para 1%. Voltando a Pasteur, isso foi 17 anos antes dele identificar as “partículas putrefatas ” como micróbios e 19 anos antes de Koch relacionadas micróbios com as doenças. Como Jenner, Lister e Lind, Semmelweiss curou o que ele não sabia que estava curando. Os obstetras vienenses a deram tão pouca atenção ao seu tiro no escuro quanto os de Londres deram ao de Lister.
Lister acabou como um membro fundador da Ordem do Mérito, com um instituto, um memorial na Abadia de Westminster e uma estátua ao lado de fora do prédio da BBC. Semmelweiss acabou num asilo para loucos em Budapeste, onde morreu em 15 dias. Ele havia cortado o dedo na sua última operação e o ferimento infeccionou, e a gangrena invadiu seu corpo e o matou com um abcesso nos pulmões, exatamente como as vítimas da febre puerperal. Setenta anos mais tarde, entre as mulheres que davam à luz, três contraíam a febre, e entre 100 com febre, três morriam. Semmelweiss conseguiu contê-la, mas foram as sulfas que a erradicaram.
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