Outro grande nome das artes no Brasil contemporâneo, o poeta CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, também era FARMACÊUTICO de formação, tendo obtido o grau na Escola de Farmácia de Belo Horizonte, em 1925. Além de Farmacêutico, poeta e escritor, Carlos Drumond também prestou relevantes serviços ao Brasil na condição de DIPLOMATA.
Sobre esse baluarte das letras brasileiras, publicou o egrégio Conselho Regional de Farmácia do Estado do Paraná o brilhante artigo abaixo transcrito em sua íntegra.
Drummond invejava os farmacêuticos
Cartas que vinham sendo guardadas no município de Cláudio (133 km de Belo Horizonte), obtidas com exclusividade pela Agência Folha, mostram que, mesmo o poeta famoso, Carlos Drummond de Andrade não perdeu a admiração pela profissão que não seguiu.
Formado pela Escola de Farmácia de Belo Horizonte em 1925, Drummond (1902-1987) sempre reconheceu sua inaptidão para o ofício – acredita-se que tivesse escolhido o curso apenas por ser o mais curto, com três anos de duração.
Em seu poema “Final de História”, publicado em “Boitempo” (1968), no entanto, ele elogia a profissão e pede socorro.
“Vai Amorim: sê por mim o que jurei e não cumpro. Fico apenas na moldura do quadro de formatura”.
Esse Amorim de que fala o poema é o colega de curso Antônio Martins Amorim, morto em 1977, que virou farmacêutico em Cláudio e com quem Drummond manteve correspondência por 50 anos.
A correspondência entre os dois foi descoberta pelo escritor mineiro David Carvalho, que pretende incluir as cartas em seu próximo livro, “A História da Farmácia em Minas Gerais”, pela Editora Vile, de Itaúna (MG).
Logo após a formatura, o escritor já confessava para o amigo que não seria farmacêutico.
“Penso que não abrirei farmácia. Não tenho mesmo jeito para isso. Só me resta ser fazendeiro (o que também é pouco agradável para um temperamento como o meu)”, escreve o poeta.
Em 1972, já famoso, Drummond ainda mantém a mesma opinião e escreve que “receoso de matar meus clientes em vez de curá-los, evitei cometer outros pecados além dos literários”.
Para o professor de literatura Antônio Sérgio Bueno, autor do livro “Modernismo em Belo Horizonte”, Drummond delega, em seus poemas e cartas, poderes para que Amorim seja seu representante no ofício de farmacêutico.
Bueno comenta que, pelas cartas, percebe-se também que Drummond faz uma analogia entre o ofício de poeta e de farmacêutico.
“Mais de uma vez, ele se refere ao farmacêutico como manipulador de poções. Ele era um manipulador de palavras que se sentia recompensado por proporcionar, com a poesia, um alívio para a dor de seus leitores”, diz Bueno.
Ao contrário de outros correspondentes de Drummond, Amorim não demonstra muito interesse por literatura e o assunto é pouco citado nas cartas.
O tom das cartas ainda é o de brincadeiras entre estudantes. Em uma oportunidade, Drummond diz que já está com “uma bruta inveja” do amigo, que vai paraninfar uma turma de normalistas no interior de Minas.
“Paraninfar uma turma de 22 normalistas, com direito a beijá-las todas! Será que você vai dar conta, Amorim? Não precisa de um suplente que se encarregue do serviço, esse doce e especializado serviço, enquanto você faz o discurso de praxe? Responde urgente que esse trabalho me agrada!”
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