Retrocesso ao Darwinismo

Como Lister descobriu a assepsia, sem saber coisa alguma sobre estreptococos, e Lind curou o escorbuto sem conhecer a vitamina C, assim também Darwin fundou a genética, sem saber coisa alguma sobre o ADN.

Charles Robert Darwin (1809-82) passou cinco anos, desde o Natal de 1831, navegando pelos mares do sul a bordo do HMS Beagle, de 242 toneladas, 90 pés de comprimento, três mastros, o tamanho de iate de um dos mais modestos milionários. Uma vez que viajava com 73 passageiros, não deviam ter muito conforto. Ele navegou de Devon até o Rio, deu a volta no Cabo Horn e fez escala na Nova Zelândia e na Austrália, antes de passar pelo Cabo da Boa Esperança e voltar para casa, atravessando novamente o Atlântico Sul até o Brasil, antes de chegar a Famouth, no dia 2 de outubro de 1836 Em 16 de setembro de 1835 Darwin aportou nas ilhas Galápagos, na costa do Equador no oceano Pacifico, e lá ele viu a eternidade nos tentilhões.

Galápago é a palavra espanhola para tartaruga. Nas ilhas, Darwin encontrou tartarugas enormes, do tamanho de porcos de raça. Darwin explorou as 12 ilhas Galápagos durante um mês. Descobriu, entusiasmado, que os repteis. pássaros, peixes, insetos e plantas das ilhas eram um pouco diferentes dos que existiam no resto do mundo. Eram até diferentes de ilha para ilha. Os tentilhões tinham bicos curtos e fortes para quebrar as nozes, numa das ilhas. Em outra, onde não havia nozes, seu bicos eram mais delicados, próprios para apanhar insetos. Bicos longos para encontrar as larvas, em outra ainda. Os tentilhões viviam em função dos seus bicos, que haviam evoluído através de gerações e gerações para comer o que existia no lugar em que viviam. Darwin achou que devia haver alguma coisa nessa particularidade.

Quando desembarcou, Darwin recebeu uma herança de 5.000 libras por ano. Comprou uma casa enorme em Downe, Kent, além de Orpington (aberta à visitação, bom pub local). Nela passou 23 anos pensando nos tentilhões das Galápagos, antes de publicar A origem das espécies por meio da seleção natural, em 1859. Foi abalado pela ameaça inesperada de perder a glória de sua descoberta, surgida em junho, antes da publicação do seu livro, na pessoa de Alfred Russell Wallace (1822-1913), um naturalista que tivera a mesma idéia. Foi como Rosy e Watson.

A suspeita de que os animais e as plantas do mundo não eram réplicas idênticas dos originais criados na oficina celeste há muito tempo se esboçava na mente humana, desde a Babilônia (onde se interessavam pela variedade das crinas dos cavalos). Essas mentes incluíam as de Bacon, Buffon, Goethe, Lamarck, Herbert Spencer e Sir Charles Lyell. Lyell era um geólogo, que deu a Darwin a idéia de interpretar a continuação do presente por meio da evolução do passado. Idéias genéticas ocorreram também ao monge Gregor Johann Mendel (1822-84), da Morávia, que cruzou as variedades de ervilhas comuns,  plantadas por ele em Brno, em 1853, e que permaneceram invisíveis no ar científico até o fim do século. Ocorreu também ao avô de Darwin, Dr. Erasmus. Nesse meio tempo, Darwin havia casado com uma prima em primeiro grau, teve 10 filhos, dos quais sete sobreviveram, e finalmente foi vitimado pela hipocondria.

A afirmação de Darwin de que Sir Thomas Browne havia sugerido, no seu Religio Medici que o Genesis não era tão confiável quanto os horários das estradas de ferro vitorianas foi considerada uma afronta da ciência à Igreja. A discussão chegou ao auge em 30 de junho de 1860, entre os soluços e desmaios das senhoras, no Museu da Universidade, ao lado de Parks, em Oxford.

A Igreja tinha um caso. Todos sabiam que o mundo fora criado em 4004 a.C., às 9 horas da manha de domingo, 23 de outubro, como havia calculado uns dois séculos antes o arcebispo de Armagh e vice-chanceler da Universidade de Cambridge. Assim em quem acreditar? Em Darwin ou na palavra de Deus?

“Soapy Sam” Wilberforce, bispo de Oxford, saiu em campo para arrasar Darwin” na trigésima reunião anual da Associação Britânica para o Avanço da Ciência, convenientemente realizada na frente da casa episcopal. O bispo repudiou sarcasticamente um dos que duvidavam de modo hostil da Igreja: “Será através da sua avó ou do seu avô que o Sr. Huxley afirma descender dos macacos?” A vespa cientifica, com seu pince-nez, Dr. Thomas Henry Hudey (1825-95), replicou: “Certamente eu preferiria descender de um macaco do que de um homem que prostitui sua educação e sua eloquência à adoração do preconceito e da mentira.” Esse atrevimento era tão chocante quando jogar tinta nas meias do falecido Dr. Amold Rugby. Um dos detratores de Darwin na hora do chá, em Oxford, era o vice-almirante Robert Fitz Roy, ex-capitão do Beagle, que havia lido um artigo sobre “Tempestades britânicas” e agora brandia sua Bíblia com fúria violenta contra o antigo companheiro de bordo, e que cinco anos depois cortou a própria garganta.

O pensamento de Darwin continua conosco. As vítimas da anemia falciforme ultrapassavam em número os sobreviventes da malária. E hoje existem brancos e negros no planeta porque as pessoas com pele negra levam mais tempo para fabricar – através da luz do sol – a vitamina D nos seus organismos. A falta da vitamina D causa raquitismo e osteomalacia. Quando o homem deixou o sol equatorial para o norte frio, a procura de alimento, só os de pele branca sobreviveram e se multiplicaram tornando-se cada vez mais brancos. (Isso pode ser bobagem. As mulheres asiáticas, na Grã-Bretanha, ficam com os ossos quebradiços porque comem chapattis, que contém fitato, o qual evita a absorção da vitamina D. Mas isso também pode ser tolice. Assim são as alarmantes piadas da medicina.)

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