Faz um mês, havia discussões frenéticas sobre o tamanho da pindaíba do governo, sobre o deficit. Agora, até as previsões dos economistas “do mercado” estão às moscas. Meio que ninguém liga, faz estimativa nova ou acredita em número oficial. As projeções econômicas ora são, na média, uma numeralha incoerente (mais sobre isso mais abaixo).
Em setembro, havia discussões exaltadas sobre o impeachment, nas semanas que se seguiram a mais uma grande manifestação de rua. No final daquele mês, porém, Lula assumiria a regência provisória do governo e, também por isso, “a festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu”. O VemPraRua etc. foram para casa, com perdão da mistura de verso de Drummond com uma nota sobre a militância janota. Sem a perspectiva de derrubada de Dilma, a oposição não tem programa.
O espectro de Eduardo “Presuntada Suíça” Cunha e demais zumbis investigados do Congresso governa o restolho da política do presente. A política do futuro, por assim dizer, por um lado é a “Ponte para o Futuro”, o pré-programa ultraliberal com o qual o PMDB acabou de transformar o PSDB em coadjuvante patético. Por outro lado, é a ponte para o abismo, pois não há governo.
Tudo isso lembra a sujeira que resta de um fim de festa ruim.
Considere-se a conversa econômica. Parece que o deficit primário será de 2,1% do PIB neste ano. Pelo menos é o que se soube ao fim da barafunda estatística da semana passada.
No entanto, a previsão mediana mais recente dos economistas do mercado, de sexta-feira, era de déficit de 0,9% do PIB. A mais pessimista da centena de projeções coletadas semanalmente pelo Banco Central é de deficit de 2% do PIB.
Sim, tudo menor que o deficit já admitido pelo governo. Isto é, ninguém nem mais se deu ao trabalho de atualizar o que em tese é uma projeção importante. Para piorar, Congresso e governo deixam ainda mais no escuro o que será do déficit de 2016 (e seus impactos na economia).
No caso da inflação, a estimativa para 2016 vem subindo e chegou ao teto da meta oficial. Não obstante, prevê-se que a taxa básica de juros, a Selic, vai cair no ano que vem.
Isso seria então previsão de um regime de “dominância fiscal”, debate no qual economistas se engalfinham? Sabe-se lá, pois mal se entendem sobre o uso do conceito de “dominância fiscal”. Por uma versão dele, o BC não elevaria a taxa de juros apenas para não piorar ainda mais a conta de juros da dívida e, pois, o deficit fiscal do governo. Por outra versão, elevar os juros provocaria mais inflação (a política monetária funcionaria de modo invertido). Há mais variantes.
Seja qual for a versão, não se entendem se já estamos em “dominância fiscal”. Se estamos, há polêmica sobre o que fazer a respeito.
Quanto ao BC, insinuou energicamente (sic) que vai elevar a Selic caso exista risco de que inflação de 2016 fure o seu já muito esburacado teto (6,5%) e sobrevenha risco de não se acertar a meta de 4,5% em 2017. Mas isso já é o que o “mercado” está prevendo agora. Pode haver reversão? Sim, se a inflação for puxada para baixo, levada pela atividade econômica para o buraco profundo do inferno onde ela cai, como corpo morto cai. Mas sabe-se lá.
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Estamos à deriva.