Um amplo estudo permitiu identificar mais de uma centena de variações genéticas associadas ao risco de se desenvolver esquizofrenia, dando novas pistas decisivas para a compreensão das causas desta doença complexa e, talvez, poder tratá-la melhor, segundo os cientistas.
Realizado por um consórcio internacional de especialistas em genética, o estudo foi publicado esta terça-feira na revista britânica Nature.
A pesquisa, a mais importante realizada até agora no campo da psiquiatria, foi feita com um universo de mais de 150.000 indivíduos, entre eles 37.000 pacientes.
A partir de 80.000 amostras, os cientistas identificaram 128 variedades genéticas independentes em 108 regiões precisas do genoma, 83 delas inéditas, suscetíveis de contribuir para uma pré-disposição à doença.
A maioria destas variações diz respeito aos genes envolvidos na transmissão de informação entre neurônios e nas funções essenciais da memória e do aprendizado.
A esquizofrenia, que geralmente aparece em adolescentes e adultos jovens, afeta mais de 24 milhões de pessoas no mundo. A doença se manifesta em episódios agudos de psicose, podendo incluir alucinações e delírios, assim como sintomas crônicos que se traduzem em problemas afetivos e intelectuais.
Há tratamentos disponíveis, mas sua eficácia deve ser melhorada, afirmam os pesquisadores. Os medicamentos atuais tratam dos sintomas da psicose, mas têm pouco alcance sobre a diminuição das capacidades cognitivas, informou o Broad Institute em um comunicado.
Associações adicionais entre os genes da imunidade e o risco de esquizofrenia reforçam, ainda, a hipótese de um vínculo entre uma disfunção do sistema imunológico e a doença.
“Estes novos resultados poderiam estimular o desenvolvimento de novos tratamentos contra a esquizofrenia”, avaliou Michael O’Donovan, da Universidade de Cardiff, na Grã-Bretanha, autor principal da pesquisa.
“O estudo confirma que a genética é um fator importante da doença”, afirmam os especialistas Jonathan Flint e Marcus Munafo (Grã-Bretanha) em um comunicado da revista, acrescentando que a negação das “raízes biológicas” da doença prevaleceu no passado, sendo estas inclusive rechaçadas pelo movimento antipsiquiátrico dos anos 1970.