Minha saga na microinformática

Vinte anos se passaram…

Em março de 1995 fiz um curso de introdução ao microcomputador, ministrado por um professor titular de uma universidade federal, com duração de quatro horas, sendo duas horas teóricas e duas práticas. O professor entendia muito de microinformática, mas apenas de Macintoch. Não entendia nada de PC, a não ser como formatar um disquete. A parte teórica ele ministrou utilizando um Mac Performa 630 e a parte prática em quatro PCs ligados e rede, e devido ao tempo exíguo e aos quase quarenta inscritos, a única coisa que foi possível demonstrar era como formatar um disquete de 3,5″ na linha de comando do M$-DOS 6.2.

Apesar de o curso ter sido bem atabalhoado, o professor foi muito convincente e saímos do laboratória achando que sabíamos tudo de microinformática e três meses depois eu vi um anúncio no jornal e no dia 18 de julho de 1995, há exatos vinte anos,  comprei o meu primeiro microcomputador.

Como prêmio pela aquisição, voltando para casa com minha preciosa (e caríssima) mercadoria, levei uma multa de trânsito por furar sinal fechado em uma via que não tinha semáforo naquele lugar. Pelo jeito o agente de trânsito que me multou estava tão feliz e com a cabeça tão nas nuvens quanto eu.

Era uma daquelas máquinas chamadas de “cinza” porque não era de marca, mas sim montada com componentes escolhidos de acordo com minhas necessidades, todos eles de marcas renomadas.

As especificações da máquina eram:

  • Processador: AMD-PC 80486 DX-II 66MHz 16 bits de apenas um núcleo (mono-core)
  • Memória RAM: 4MB (era megabytes mesmo)
  • Disco rígido: Quantum Maverick de 540MB (megabytes mesmo, mas era um espaço enorme na época, pois o sistema e os aplicativos ocupavam apenas 22MB)
  • Placa de vídeo: Trident VLB de 128KB de VRAM (permitia uma resolução de 256 cores apenas, algo mais que suficiente na época)
  • Armazenamento externo: 1 drive de disco 5,25″, que armazenava até 1,2MB, e 1 drive de disco 3,5″, que armazenava até 1,44MB
  • Monitor: CRT 14″ (lembram-se das televisões com tubo de imagem?), enorme para a época, marca Continental (tenho ele até hoje).
  • Teclado: padrão US Internacional. Não tinha “Ç” e para digitá-lo, tinha primeiro que pressionar a tecla (teclar) do acento agudo e depois a do “C”, para obter este caractere que não é de uso exclusivo da lingua portuguesa. Até no alfabeto vietnamita usa-se o “Ç”.
  • Dispositivo apontador gráfico (o famigerado mouse): de esfera, com dois botões.
  • Placa de som: não tinha. O micro era surdo e mudo.
  • Sistema operacional: M$-DOS 6.22 com ambiente gráfico M$-Windows 3.11 pré-instalados. O DOS da Micro$oft era um sistema operado em modo texto igual o kernel (núcleo) do Linux.

O que se costuma chamar de Linux na verdade é uma distribuição que tem o núcleo empacotado com diversos programas e um servidor de modo gráfico. Na verdade, Linux é apenas o núcleo do sistema que cuida da relação da máquina com os programas, executando as operações destes.

Hoje aquele microcomputador “top” de linha (e de preço) para a época é uma piada.

Apenas para se ter uma ideia, este netbook que estou utilizando para editar este post tem uma configuração bem simples ou elementar:

  • Processador: ARM de 32bits com dois núcleos, cada um deles com 1,2GHz cada, ou seja, o processador desta maquininha de 10,1″ que estou utilizando tem uma frequência 36,4 vezes maior que o processador da minha primeira máquina (2,4GHz é o mesmo que 2400MHz e divididos por 66MHz dá aproximadamente 36,4). Lembrem-se: a unidade do processador é MHz ou GHz, uma unidade de frequência e não de potência, esta sendo o inverso da frequência. O que se fale e escreve coisas e conceitos errados na área de informática é uma temeridade.
  • Memória RAM: 2GB (500 vezes mais memória)
  • Disco rígido: 16GB de armazenamento interno (quase 30 vezes mais) em um chip menor que um cartão de crédito, enquanto o disco rígido Quantum Maverick  de 540MB que acompanhava o meu primeiro micro tinha 3,5″ de largura (quase 9 centímetros) e pesava quase meio quilo.
  • Placa de vídeo: não tem placa de vídeo dedicada. O vídeo com resolução de vídeo full HD, maior que as 16,7 milhões de cores que os olhos humanos conseguem enxergar é gerenciado em um SoC (sistema em um chip) ou processador gráfico, menor que uma moeda de 1 centavo de real, enquanto a placa VLB (Vesa Local Bus) que veio no meu primeiro micro media quase 25 centímetros de comprimento e quase 4 centímetros de largura.
  • Monitor: uma tela de toque capacitiva integrada ao teclado por meio de uma “dobradiça” e que dispensa o uso de um dispositivo apontador (mouse).
  • Teclado: embutido e padrão ABNT 2, com tecla de “Ç” e teclas de acentuação no padrão brasileiro.
  • Dispositivo apontador: apesar da tela capacitiva, que funciona na base da “dedada”, ou seja, é uma tela de toque, este equipamento ainda tem um sensor onde se arrastando um dedo, simula o movimento ou caminhar da flecha do “mouse” e um toque mais forte com a ponta de um dedo simula o clique do botão esquerdo do mouse. Este dispositivo se chama “touchpad”.
  • Placa de som: integrado no processador com som estéreo qualidade razoável e microfone integrado de alta sensibilidade, permitindo o uso de aplicativos de ditado que convertem voz em texto, como o Dictus ou o Google Voice.
  • Sistema operacional: Linux Android KitKat, versão 4.4.4. Os usuários de dispositivos com Android podem espernear à vontade, mas o núcleo da distribuição Google Android é o Linux.

Em 25 de agosto de 1995 a Micro$oft lançou o “revolucionário” M$-Windows 95 e apesar de eu estar satisfeito com meu M$-DOS 6.22, eu tive um problema causado por uma “burrada” que fiz ao escutar um conselho de um colega pilantra e mau intencionado que me orientou a dar o comando “undelete” no “prompt” (linha de comando) do sistema para evitar apagar arquivos temporários que podiam ser vitais ao sistema. Na verdade isso era uma mentira do colega e o que aconteceu foi um desastre. Em menos de três meses o disco rígido de 540MB da máquina, que era enorme no dia em que comprei, ficou sem espaço e travou.

No desespero, outro colega também pilantra deu outra dica criminosa que culminou na formatação do disco. Não me lembro exatamente qual o comando, mas era algo parecido com um “rm -rf /” que no Linux apaga tudo sem te perguntar nada.

Perdi meu sistema operacional e fui obrigado a comprar uma licença do “revolucionário” M$-rWindows (isso mesmo, o “r” na frente do Windows é para demonstrar a tremenda porcaria que ele era). A licença custou R$265,00, muito caro para a época e na caixa vieram 14 disquetes que levaram quase oito horas para serem instalados. Como tinha pago a licença e aprendido a instalar o sistema sozinho, comecei a “fuçar” sem medo no r-Windows 95 e descobri que ele tinha suporte a multimídia.

Em maio de 1996 comprei um kit multimídia Creative Sound Blaster 16 (16 bits). Paguei uma fortuna nele. Na embalagem vinha uma unidade de CD-ROM apenas leitura, não gravava. Uma placa de som para slot ISA, menor que o VLB, duas caixas acústicas estéreo para ligar na placa de som e diversos CDs com bibliotecas, jogos, músicas e outras quinquilharias para valorizar o produto e com isso fui obrigado a aumentar a memória RAM para 8MB.

Em julho de 1996 comprei um scanner de mão da Logitech e como este equipamento usava muita memória RAM e precisava de muito poder de processamento, o DX-II 66MHz não aguentava processar as imagens capturadas pelo scanner e travava constantemente. A saída foi fazer uma atualização (upgrade).

Em dezembro de 1996 troquei praticamente tudo dentro do gabinete original em que veio o 486, restando apenas a fonte original. Troquei a placa mãe; coloquei dois discos rígidos de 1,2GB Quantum Fireboll; um processador Intel Pentium 100MHz, de 32bits e 64MB de memória RAM. A minha máquina era uma das que tinha mais memória RAM em toda a cidade e no Estado. Apenas os servidores da falecida CONEX Serviços de Internet Ltda, uma provedora de acesso e de hospedagem, tinham a mesma quantidade de memória que meu “micrão”. O que ouvi de piadinhas e chacota na época…

Em 1997 conheci um tal de M$-Windows NT 4.0 Workstation, lançado no ano anterior e que era bem mais estável que o M$-rWindows 95. Comprei uma licença por R$369,00 e parti para a instalação. Na caixa vieram um disquete de inicialização e um CD com o sistema. A instalação em máquinas com interface IDE foi fácil, mas de cara tive problema com a placa de som, que não era reconhecida pelo Windows NT 4. Formatei a máquina e reinstalei o r-Windows 95.

Em 1997 a internet começou a se popularizar em minha cidade e fiz uma assinatura do Universo On Line. Fui um dos primeiros assinantes do UOL na região. Para acessar a internet, tive que comprar um moden discado da marca US Robotics, atual 3COM, com velocidade de 33,3Kbps (quilo baulds por segundo. Baulds era o mesmo que bits). A minha assinatura no UOL me dava direito a 50 horas de internet por mês. Era bastante. O moden discado consumia pulsos de telefonia e a conta das 50 horas de internet mensais saia por “módicos” R$140,00 por mês, aproximadamente. Era muito caro e a velocidade era um terror. Uma imagem de 500KB levava cerca de 10 minutos para descarregar (download) na tela do micro. Download de filmes e músicas? Nem pensar. Não abaixava nem com o mais forte ebó despachado na encruzilhada. A regra da ANATEL, já existente na época e inútil até hoje, de 10% de velocidade mínima de download proporcionava a “incrível” (inacreditável, mesmo) velocidade de 3,4kbps.

Em 5 março de 1998 obtive o registro de um domínio comercial, o antonini.com.br, um dos poucos existentes na época, após um processo que começou em janeiro daquele ano e levou quase dois meses. O registro custou R$250,00, até que não foi tão caro, mas a FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, o órgão gestor da Internet brasileira na época, exigiu tanto documento que eu quase desisti. Eu tinha uma empresa na época e exigiram desde cópias autenticadas de documentos pessoais até declaração da Junta Comercial comprovando o registro da empresa, além de cópia autenticada do DUC (documento único de contribuinte) da empresa, emitido pela Secretaria da Receita Estadual. Contratei como provedor de hospedagem uma empresa chamada Interway que logo abandonei e contratei a Conex, da minha cidade.

Naquele tempo tinha-se a impressão que as empresas não acreditavam na internet e a consideravam com uma brincadeira de hackers ou de desocupados e poucas foram as empresas que requereram registro de domínio comercial, até a explosão da internet no começo dos anos 2000, quando fui procurado por parentes que perguntaram se eu queria vender o domínio para eles, que tinham na época uma indústria de equipamentos rodoviários e tinham conseguido apenas o registro com o domínio “.ind.br”. Não vendi o domínio, mas coloquei o logo da empresa deles com o “link” em meu “website” apontando para o domínio deles e o mantive até eles venderem a empresa.

Em junho de 1998 resolvi trocar de micro. Encomendei à empresa Tritton Informática um micro com processador Intel Pentium 200MHz MMX, placa SCSI e dois discos rígidos SCSI de 3,2GB, que segundo diversos colegas de trabalho, eram muito mais seguros e duráveis que os IDE; coloquei outro moden US Robotics V90 de 56,6kbps e aproveitei os demais componentes que eu já possuía. O grande desafio desta máquina foi instalar o M$-Windows NT 4.0 Workstation. O pessoal da Tritton não sabia como fazia a instalação do Windows NT 4 em interface SCSI e eu acabei descobrindo sozinho, após fuçar nos três disquetes que vieram junto com a placa Adaptec AHA-9740. O segredo era: no meio do carregamento de drives, na inicialização da instalação do sistema pelo disquete – quatro disquetes, em um determinado momento, durante a leitura do disquete 3, aparecia uma mensagem de “tecle F6 para instalar drivers ou controladores de outros fabricantes ou enter para continuar a instalação”. Tinha que teclar F6, retirar o disquete de inicialização, colocar o disquete com o driver AHA-9740 para WinNT e teclar enter para instalar o driver da placa SCSI. Após terminada a instalação do driver, aparecia a mensagem para colocar o disco 4 de inicialização da instalação. Daí em diante a instalação prosseguia normalmente.

No final de 1999, não lembro exatamente o mês, descobri um tal de Conectiva Linux, de um pessoal de Curitiba e que estava fazendo um “baita” sucesso aqui pelo sul, thê! Em sua versão 5.0, a caixona imponente, decorada com fotografias em preto e branco de um renomado fotógrafo curitibano, vinha repleta de disquetes e CDs, além de dois manuais. Comprei-a por módicos R$190,00. Módicos, sim, pois a licença do M$-Windows 2000 Pro que comprei na mesma época (o Windows 2000 foi lançado em setembro de 1999) tinha custado R$450,00 e só podia ser instalado em um micro, enquanto o certificado de autenticidade que companhava a caixa do Conectiva Linux dizia que eu poderia instalar o sistema em quantos micros eu quisesse sem ter que pagar nada a mais.

Resolvi instalar em dual-boot (dois sistema em um mesmo micro), em discos diferentes, já que eu tinha dois discos SCSI na minha máquina, na época. Após cerca de uma hora trocando disquete, colocando e tirando CD, apareceu a mensagem, em inglês, dizendo “sistema instalado com sucesso, retire todas as mídias de instalação e reinicie o computador”. Tirei o disquete da unidade e o último CD do leitor de CDROM e apertei o botão de reset para reiniciar…. Surpresa: iniciou direto o Windows 2000 que acusava ter um disco não formatado no computador. Nem sinal do Conectiva Linux 5.0. O que aconteceu? Levei anos para descobrir. O gerenciador de boot do Linux utilizado naquela época, o Lilo, tinha que ser instalado “no braço” a partir de um disquete, mas isso não estava escrito em lugar nenhum na documentação. Formatei o disco secundário do micro e guardei a caixona do CL-5.

Fiquei com este micro até janeiro de 2001, quando adquiri um gravador de CDROM, marca Philips, modelo Golden com velocidade de gravação de 4 vezes – demorava 50 minutos para gravar um CD de 650MB – e custou R$2.100,00. Comprei pela internet de uma empresa chamada Fera.com e o periférico custava mais caro que o micro.

Comprei pela Internet, da empresa ATERA, de São Paulo, um gabinete midi-tower (meia torre), uma placa mãe SIS S-530, um processador AMD K6-II de 500MHz, um pente de memória de 256MB e um disco rígido Quantum Fireboll IDE de 20GB de 80 vias e 7.200rpm (rotações por minutos), mais rápido que os SCSI que eu tinha e que eram de 3,2GB. rodavam a 5.400rpm e tinham taxa de leitura/escrita de 40kbps. A placa SIS tinha vídeo, som e moden integrados e tinha todos os drivers, em um CD que a acompanhava, para o Windows NT 4 e Windows 2000, este último eu já tinha instalado no lugar do WinNT 4. Todos os sites especializados e todos os jornalistas ditos especializados em informática “malhavam” esta placa mãe, escrevendo horrores sobre ela, mas para mim ela foi muito boa e não tive nenhum problema durante o ano inteiro e mais quatro meses que a utilizei, quando troquei o micro por outro mais poderoso. Como não tinha o que fazer com a placa mãe SIS S-530, a placa SCSI Adaptec e os discos SCSI, doei os para a CMIV (Central de Misturas Intravenosas) do antigo Serviço de Farmácia Hospitalar do HC. Junto com o Farm. Dr. João Carlos Seratiuk, que comprou um processador K6-II 500MHz, montei outro micro para fazermos registro de preparações de quimioterápicos e nutrições parenterais. A máquina funcionou até meados de 2007, quando foi trocada por um Dell Optiflex.

Em maio de 2002 troquei a placa-mãe SIS por uma Soyo K7VTA-PRO com processador AMD Athlon Thunderbird 1.33GHz, um verdadeiro trator, o mais poderoso da época. Mantive o mesmo chip de memória RAM e gabinete, mas tive que trocar a fonte, colocar uma placa de vídeo e uma placa de rede para conectar em um modem de banda larga da 3COM, pois eu já tinha feito uma assinatura de estonteantes 256Kbps de banda larga ao custo de R$290,00 reais mensais. Uma fortuna para o tipo de serviço, naquela época.

Em em setembro de 2001 a Micro$oft lançou o sucessor dos Windows Millenium Edition (ME) e Windows 2000 Pro, chamado de Windows XP (XP de eXPerience). O Windows XP nada mais é que uma fusão do Windows ME com o Windows 2000 Pro. Todos os recursos inovadores de multimídia e interface gráfica, além de recursos como restauração do sistema que apareceram no Windows XP foram testados no Windows ME. Do Windows 2000 aproveitaram o kernelNT.dll, o núcleo do sistema que tinha sistema NTFS com journaling que o tornava mais estável que o kernel32.dll do Windows ME, baseado em FAT32, sistema herdado do MS-DOS, sem journaling e que parecia muito com o EXT2 dos primeiros kernels do Linux. O sistema de arquivos com jounarling é essencial quando o computador é desligado acidentalmente ou um programa trava, pois os dados são gravados em um “journal” e recuperados após o religamento do sistema ou fechamento e reabertura do programa. O FAT não tem esse recurso. Eu só comprei uma licença do Windows XP Pro em 2002, uma licença de atualização das diversas versões de Windows que eu já tinha.

[Voltar]