Procedimento foi realizado com a criança ainda ligada à mãe pelo cordão umbilical e contou com a participação de 25 profissionais.
Thiago e Paula, pais de Helena (à esquerda), e a equipe médica responsável pela cirurgia que salvou a criança: bebê precisará de acompanhamento por um ano (clique para ampliar)
Graças a um diagnóstico precoce e ao esforço de uma equipe de médicos do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR), a pequena Helena pode respirar e trazer alegria aos pais Thiago Lopes e Paula Pontara. Nascida com uma má-formação rara na traqueia, o bebê foi operado antes mesmo de ter o cordão umbilical cortado na hora do parto. Segundo os médicos envolvidos no caso, não há registros de que esse tipo de procedimento já tivesse sido realizado no Brasil.
Na manhã do último sábado, Helena veio ao mundo cercada pelos cuidados de uma equipe de 25 profissionais, entre médicos, anestesistas e enfermeiros. Na 16.ª semana de gestação uma ecografia indicou que a menina tinha uma obstrução no conduto que leva o oxigênio aos pulmões: uma má-formação de um segmento da traqueia. O problema, que impedia a respiração, colocava a vida do bebê em risco. Sem os cuidados durante o parto, Helena poderia sofrer graves sequelas no cérebro por falta de oxigênio, ou até mesmo não resistir e morrer. O caso mobilizou a equipe e reuniu profissionais de diferentes áreas do departamento de medicina fetal (tocoginecologia, cirurgia pediátrica e anestesia), que durante seis semanas se prepararam para o parto.
Não bastasse a má-formação, Paula entrou em trabalho de parto na 34.ª semana. Para evitar um parto prematuro demais, a gestante ficou internada por dez dias. “Prorrogamos ao máximo o nascimento para que o bebê pudesse ganhar peso e ter mais condições de sobreviver”, explica o tocoginecologista Renato Sbalqueiro.
Apesar de todas as dificuldades, o procedimento foi um sucesso. Paula recebeu alta no dia seguinte e Helena, nascida com 2,2 kg, continua no hospital. “O bebê passa bem, ainda respira com a ajuda de aparelhos, mas está estável”, diz a médica Regina Cavalvante da Silva, chefe da UTI Neonatal. Ainda não há previsão de alta para Helena. “Depois de deixar o hospital ela será acompanhada durante o primeiro ano, até que possa ter condições de passar por uma cirurgia que restaure de forma definitiva as vias aéreas”, adianta Miguel Ângelo Agulham, chefe do Serviço de Cirurgia Pediátrica do HC.
Emocionados, os pais visitam Helena todos os dias. “Não foi fácil. Durante a gestação consultamos diversos médicos e alguns nem chegaram a dar esperanças. No quinto mês, nos disseram que o coração dela poderia parar e foi então que passei a fazer um ultrassom a cada semana. Era uma angústia, mas um alívio ouvir que o coraçãozinho continuava batendo. Não sabíamos o que aconteceria até que chegamos ao HC. Fomos muito bem acolhidos e a partir daí tive a certeza de que tudo ia dar certo”, afirma Paula.
Para a diretora-geral do HC, Heda Amarante, o sucesso da cirurgia é motivo de grande alegria para os profissionais. “É uma felicidade termos conseguido um bom resultado e salvo uma criança que estava destinada a não sobreviver caso não houvesse a intervenção. Por isso ressaltamos como é importante que as mães façam o pré-natal, já que hoje, graças aos avanços da medicina, é possível diagnosticar alterações ainda na gestação e interferir de forma a salvar a vida dos bebês”, diz.
Desafio
Confira quais os procedimentos adotados para a cirurgia inédita (clique para ampliar).
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