Conhecido como um dos maiores exploradores dos trópicos, esse brasileiro viajou mais de 40 mil km (do jeito que desse), defendeu indígenas amazônicos e foi pioneiro em registros de campo. E Einstein sabia muito bem o que isso significava.
Em uma época em que o miolo do Brasil ainda eram terras sem comunicação com o restante do país, Cândido Mariano da Silva Rondon esteve em dezenas de expedições, “a pé, em canoas e no dorso de mulas”, na árdua tarefa de instalar telégrafos em áreas remotas.
Fundador do SPI (Serviço de Proteção aos Índios), mais tarde substituído pela FUNAI, Rondon seria lembrado também como um dos mais importantes defensores dos direitos indígenas.
Esse pacificador era conhecido pelos contatos não-violentos e respeitosos com indígenas brasileiros que nunca haviam visto um homem branco, trazendo-os para a civilização sem tirá-los de suas próprias terras (nem que para isso tivesse que se ausentar no dia do nascimento de todos os seus sete filhos).
“Morrer, se preciso for. Matar, nunca”, era seu lema, mesmo após ser atingido por uma flecha nhambiquara envenenada, naquele mesmo 1913.
Assim como definiu um membro da Cruz Vermelha, após a morte do militar, em 1958, a abordagem não-violenta de Rondon era inédita desde Mahatma Gandhi.
Suas atitudes se resumiam em aproximações desacompanhadas nas aldeias, pedidos de permissão para construção de postos telegráficos em terras indígenas, participação em rituais e, mais tarde, até inclusão de índios Parecis no trabalho de conservação dos telégrafos de Utiariti, no Mato Grosso.
Mesmo nos encontros com índios hostis à presença branca, como os Nambikwára, o “soldado caboclo” punha em prática sua habilidade de se comunicar com grupos indígenas e inclui-los, de acordo com a cultura deles, em novos contextos da sociedade.
Não é à toa que, em 1925, Albert Einstein chegou a indicar Rondon para o Nobel da Paz, após a visita do cientista alemão ao Brasil. O brasileiro ficaria apenas na história.
A Expedição Científica Rondon-Roosevelt
Uma das viagens mais famosas de Rondon aconteceu entre dezembro de 1913 e abril de 1914, durante a expedição que mapearia o Rio da Dúvida, curso d’água de extensão desconhecida, entre Rondônia e o Amazonas.
O “Domador dos Sertões” seria acompanhado pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt que, acostumado aos “trabalhos de gabinete” colecionou… perrengues, durante (penosos) cinco meses, dos quais 48 dias sem ver um ser humano sequer naquelas florestas intratáveis.
Com uma flotilha de sete canoas e 22 homens, a comitiva testou não só seus limites físicos como também mentais, em uma viagem com ataques de animais selvagens, encontro com indígenas, corredeiras mortais, doenças e uma floresta amazônica inteira que sempre cobra ingresso.
Das sete embarcações do início da viagem, cinco foram perdidas em rápidos e cachoeiras, obrigando a comitiva a construir outras novas. Em certos trechos, a comitiva precisava caminhar por dias por dentro da mata, arrastando canoas sobre “paus roliços”, impossibilitadas de seguir pelo rio.
Longas (e lentas) travessias, tripulação doente e refeição limitada – que chegou a ser sopa de tartaruga e carne de macaco – eram alguns dos perrengues que faziam aqueles homens desafiarem a morte, constantemente, naquela aventura de “sabor esquisito”, “em terra estranha”, como descreve o prefácio de Apolônio Sales da 1ª edição do livro de Roosevelt em português.
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