O Renascimento

Após longos séculos passados na preocupação de cultivar os ideais cristãos através da vida piedosa, da arte sacra bizantina e das miniaturas que ilustravam os pergaminhos medievais, começa a surgir na Europa um novo movimento cultural. Conhecido por Renascimento” teve seu berço na Itália e propagou-se por outros países da Europa. Representou tal revolução nas artes e nas ciências, que alguns autores o consideram como o verdadeiro marco entre a Idade Média e a Idade Moderna.

Já nos séculos XII e XIII alguns intelectuais haviam resolvido romper com a rotina da época, de motivação exclusivamente cristã. Começaram a pesquisar os preciosos documentos gregos e latinos preservados nas bibliotecas dos conventos, por centenas de anos, após as invasões bárbaras. Dentre esses pesquisadores, destacam-se: Francisco Petrarca, da cidade de Florença, Giovani Boccaccio, Pico Della Mirandola, Mateus Boiardo e Dante Alighieri. Fora da Itália; Erasmo de Roterdam, na Holanda; Luís de Camões, João de Barros, Sá de Miranda e Gil Vicente, em Portugal; Thomas Morus, na Inglaterra. Os que se preocupavam com o estudo dos clássicos gregos e romanos eram conhecidos como “humanistas”, de cultura (humanistas).

Grande parte dos humanistas escrevia em grego ou latim, línguas que consideravam superiores em dignidade àquelas faladas à sua época pelo povo. Alguns, como Boccaccio, usaram o italiano, o que lhes permitiu serem lidos e entendidos por maior número de pessoas. Boccaccio também contribuiu para fixar a língua através da palavra escrita em sua obra prima – o Decameron.

Os humanistas, além de estudarem a cultura greco-romana preservada nos manuscritos dos conventos medievais, pesquisavam as ruínas arquitetônicas, as estátuas e as pinturas de que a Itália ainda estava cheia, apesar da destruição causada pelas grandes invasões dos bárbaros. Até mesmo escavações, em busca de tesouros artísticos de inspiração clássica, foram realizadas e cuidadosamente estudadas.

O acesso a leigos a tais documentos (antes somente em poder de eclesiásticos) favoreceu o desenvolvimento do humanismo. Começou a pregação do “livre exame” dos fatos e do espírito de crítica. Aos poucos os estudiosos libertaram-se dos ideais exclusivamente religiosos, que prevaleceram durante a Idade Média. Passaram a cultivar a volta aos ideais da fase clássica greco-romana, por eles considerada como o ponto mais alto já atingido pela humanidade, na sua busca da cultura e da beleza.

Ao mesmo tempo em que os humanistas preparavam suas idéias revolucionárias, outros fatos contribuíam poderosamente para acelerar as mudanças culturais pelas quais passaria a humanidade. Uma delas foi a invenção da imprensa, que multiplicou a capacidade da difusão das notícias e dos novos ideais então em nascimento.

Além da imprensa os humanistas (e mais tarde os “renascentistas”) puderam beneficiar-se com as riquezas acumuladas, principalmente na Itália, graças ao comércio do Mediterrâneo, dominado, na Idade Média, por Gênova e Veneza. Poderosos príncipes, como Cosme de Médicis e Lourenço de Médicis, de Florença, ocuparam os artistas, estimulando seu trabalho, sendo conhecidos como novos Mecenas. O mesmo fez o Papa Nicolau V.

A tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453, afugentou dezenas de sábios e artistas, que se refugiaram em sua maior parte na Itália. Também eles foram de influência notável no movimento renascentista.

Precedida pelos literatos humanistas dos últimos séculos medievais à época das grandes navegações e descobrimentos marítimos, desabrocha na Itália a mais notável manifestação renascentista: a das artes plásticas. Extraordinários artistas surgem em profusão na península italiana. Florença, Veneza e Roma transformam-se em capitais da beleza. Surgem os maiores nomes do renascimento artístico italiano.

Os três maiores foram, sem nenhuma dúvida, Leonardo da Vinci, Rafael Sanzio e Miguel Ângelo Buonarroti. O primeiro dos três, além de pintor extraordinário, revelou-se como escultor, arquiteto, músico, matemático, anatomista e inventor. Suas obras mais célebres no campo da pintura foram os quadros “a Gioconda” ( ou “Mona Lisa”) e a “Santa Ceia”. Este último foi pintado no refeitório do convento de Santa Maria das Graças, em Milão.

Rafael Sanzio, pela graça e delicadeza de seus trabalhos, foi conhecido como o “Divino”. Destacam-se suas madonas e as cenas bíblicas que decoram o Vaticano. Falecendo muito cedo, no apogeu de sua glória (37 anos), alguns de seus quadros foram concluídos por seus discípulos como é o caso da “Transfiguração”, terminada por Júlio Romano. Rafael era da escola Romana ou Umbria.

Miguel Ângelo, outro gênio renascentista, de temperamento arrebatado e vontade forte, fez em Roma algumas de suas maiores obras. Entre elas destacam-se: a cúpula da Basílica de São Pedro, os afrescos da Capela Sixtina e a estátua de Moisés, tão perfeita quão gigantesca, cuja imponência desperta admiração. Miguel Ângelo era da escola Veneziana.

Além dos três grandes do renascimento italiano, dezenas de outros artistas mereceram a imortalidade por suas obras magníficas. Entre eles pode ser citado Ticiano, da escola Veneziana, considerado o “poeta da cor”, que deixou mais de quatro mil quadros, morrendo quase aos cem anos de idade.

Veronese e Tintoretto, outros pintores da escola Veneziana retrataram em seus trabalhos o luxo da época em que viveram, deixando-nos rica documentação. Giotto, de origem humilde, filho de camponeses, introduziu na pintura a paisagem, que embora usada em segundo plano, destacava a beleza das coisas da natureza. Sua obra mais famosa é o “Massacre dos Inocentes”.

Outros vultos renascentistas italianos: Masaccio (“A Expulsão de Adão e Eva do Paraíso”); Sandro Boticelli (“O Nascimento de Vênus”); Ghiberti (escultor das portas de bronze do Batistério de Florença) e Donatello (escultor da estátua de David).

A grandeza do renascimento italiano era tanta que se espalhou pela Europa Ocidental. No campo das artes plásticas merecem ser citados, na Espanha, Morales e El Greco (“Funeral do Conde Orgaz”), cuja pintura tem sempre a marca da morte ou de algo místico. A principal obra da arquitetura espanhola da época é o palácio “O Escurial”.

Na Alemanha destacou-se o pintor Holbein, de grande gênio, que pintou o retrato do humanista Erasmo; Dürer, com as gravuras “S. Jerônimo – em seu estudo” e “O Cavaleiro e a Morte”.

Nos países baixos, Van Eick, que introduziu a tinta a óleo em seus quadros, Rubens, Van Dick, Franz Hals e Rembrandt.

A escola Flamenga foi a mais importante fora da península italiana. Ao contrário desta, não se limitou quase à pintura de temas sacros, mas ingressou no terreno da crítica social (Brueghel – “A Matança dos Inocentes”) ou de retratos de personagens famosos da época.

Rembrandt, especialmente, imortalizou-se pela luminosidade de seus quadros, usando fortes contrastes claros-escuros. Dele são, entre muitos outros, “Ronda Noturna” e “Os Giúdicos”.

Mas, o Renascimento não foi só uma explosão do gênio humano na pintura, na escultura e na arquitetura. Em outras formas de arte ele manifestou-se com igual fulgor, bem como no campo das ciências. Na Itália, o gênio de Leonardo da Vinci previu o submarino, a aviação, o tear mecânico, o pára-quedas, a força motriz do vapor. Além disso, seus estudos de Anatomia, Matemática e Geometria foram de enorme valia para o progresso da arte e das ciências.

A tomada de posição dos espíritos lúcidos da época pela liberdade de investigação e pelo espírito crítico, levou a Itália a ser um centro de cultura universal. Inúmeros bolsistas estrangeiros foram buscar ensinamentos em suas universidades e, de volta a suas terras, desenvolveram pesquisas, fazendo avançar as ciências naturais e exatas.

Na Itália, Copérnico estudou e de volta à Polônia lançou o Heliocentrismo. Provou que a Terra não era o centro do universo como se pensava então, e sim um pequeno planeta girando ao redor do Sol. Galileu Galilei inventou a luneta e descobriu os satélites de Júpiter, os anéis de Saturno e as manchas solares. Além disso fez importantes descobertas no campo da Física e da Matemática.

René Descartes, aplicando conhecimentos algébricos à Geometria faz a Matemática avançar celeremente. Foi o inventor da Geometria Analítica e fecundo pensador racionalista.

Na Anatomia e Fisiologia destaca-se Vesálio (belga) que, pela primeira vez, fez uma descrição científica do corpo humano; Miguel Servet (espanhol) descobriu a pequena circulação do sangue (coração-pulmões); Falópio descobriu os canais que conduzem os óvulos humanos; Eustáquio estudou o ouvido e sua delicada constituição; Harvey descobriu a circulação geral. Destacou-se ainda, Raimondo de Lucci (1275-1326), conhecido como Mundinus, sendo o primeiro a fazer uma demonstração pública de dissecação de cadáver.

Kepler (alemão) descobre as leis da mecânica celeste, baseado na teoria lançada por Copérnico, alterando-a com relação à forma das órbitas dos planetas (Copérnico havia imaginado órbitas circulares. Kepler provou serem elípticas).

O inglês Newton provou o princípio da atração universal, além de outras contribuições à Matemática, à Física e à Astronomia. Além de Newton, Leibnitz e Huygens deram notável contribuição a essas ciências. Esses pioneiros possibilitaram, pelo seu trabalho, o extraordinário avanço dado às ciências naturais e exatas até nossos dias. Graças a eles pudemos chegar hoje até vôos espaciais, pois as bases do atual avanço tecnológico foram lançadas por esses notáveis gênios, que viveram há 5 séculos, ou mais, antes de nós.

Do renascimento literário, que foi fertilíssimo, merecem citação: na Itália: Petrarca, Boccaccio, Lourenço de Médicis, Ariosto, Maquiavel, Lorenzo Valla; na França: Rabelais, Montaigne. Na Espanha: Lope de Vega, Cervantes. Na Inglaterra: Thomas Morus, Francis Bacon, Geoffrey Chaucer e William Shakespeare. Na Alemanha: Von Hutten e Crotus Rubianus. Na Holanda: Erasmo de Roterdam; em Portugal: Luís de Camões, Sá de Miranda, Damião de Góis, João de Barros e Gil Vicente.

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