Esse artigo do Edinei Pacheco vale a leitura e a reflexão sobre cada linha de sua exposição.
Vejamos um exemplo hipotético: pense no gatinho siamês da sua vizinha e o compare com o gatinho que vive na lata de lixo da esquina. Agora, imagine que perto deles, passe um rato: o que vai acontecer? É óbvio que o gatinho da esquina não irá pensar duas vezes e correr atrás da sua nova caça! Já o gatinho da vizinha, vai apenas olhar com aquela “cara de curioso” e deixar o roedor passear. No máximo, vai correr atrás apenas para brincar e, assim que perder a graça, o deixará de lado…
Porque do gatinho da vizinha não corre atrás do rato? Simples: o bichano se acostumou tão bem com suas mordomias, que não há motivo para ficar correndo atrás de ratos; pelo menos não para se alimentar. Afinal de contas, é mais confortável esperar a sua dona chegar e servir sua deliciosa ração! Já o gato da esquina, coitado, se ele não for atrás do “rato-de-cada-dia”…
Agora, vamos imaginar que a dona do siamês ficou com peninha do vira-lata e resolve adotá-lo. Claro que de início, o bichano se estranha com o seu novo amiguinho! Mas aos poucos, com a presença dócil do siamês, com as carícias da nova dona, e com o conforto encontrado em seu novo lar, aos poucos o vira-lata vai se acomodando. Mais à frente, o jeitão do nosso querido vira-lata vai lembrar muito o siamês já residente, diferindo-se apenas pela pelagem. Sequer vai se incomodar com o ratinho abusado que passa na sua frente, já que a tijelinha de ração está logo ali.
Sei que muitos não vão gostar da comparação que irei fazer, mas acho que este bichano me lembra muito os atuais linuxers (especialmente os usuários de certas distribuições friendly-users). Seria uma mera coincidência?
O principal motivo pelo qual o Windows se tornou o sistema operacional mais difundido nos desktops está, sem dúvida, na facilidade de uso: muitas tarefas e atividades podem ser executadas com simples cliques do mouse! Graças a Microsoft, qualquer pessoa que possua apenas um conhecimento básico de computação, tem condições de (sub)utilizar o computador. E por parte do Tux, há tempos têm sido cobrado mais recursos e facilidades para tornar o sistema mais amigável para os usuários finais. Isto de fato é ruim? Não, mas alguns efeitos colaterais irão ocorrer…
Por volta de 1999, me achava o “ban-ban-ban” do computador. Eu instalava o Windows com todos os drivers e os programas essenciais, além de prover os ajustes e as otimizações necessárias para o bom desempenho de um desktop. Até que um belo dia, eu ouvi falar “desse tal de Linux” e resolvi experimentar. Levei uma bela surra! Ainda bem que eu tive o bom senso de pelo menos fazer backups, já que tinha à disposição dois HDs (gravador de CD-R/W era coisa de luxo). Se não fosse o meu velho amigo Welington em me ajudar a instalar o Conectiva 3 para mim…
Ainda não acabei! Depois de um bom tempo utilizando distribuições friendly-user, resolvi me arriscar com o Slackware. Levei outra surra, já que não conhecia sua maravilhosa filosofia; porém, já bem mais experimentado e confiante, resolvi insistir. Hoje, não só utilizo a distribuição, como sou um grande admirador do trabalho de Patrick Volkerding. Vida longa!
Agora posso dizer que me considero o “ban-ban-ban” do computador? Claro que não! Porém, durantes estes anos, garanto que obtive interessantes experiências que me possibilitaram ter vantagens inestimáveis. Desafios como utilizar a linha de comando, editar arquivos de configuração, compilar programas manualmente, conhecer especificações técnicas, entre outros, me mostraram que as provações são indispensáveis para o meu desenvolvimento intelectual. Em poucas palavras: me tornei mais inteligente, sagaz e capacitado. Ao menos, posso dizer que tenho mais consciência das minhas limitações.
Porém, uma situação interessante me fez refletir sobre o desenvolvimento do Tux. Há tempos, ao configurar o modo gráfico, não precisei editar o arquivo /etc/X11/xorg.conf e acrescentar os parâmetros necessários para que a “rodinha do mouse” fosse reconhecida. O sistema simplesmente inicializou no modo gráfico e pude utilizar todas as funcionalidades deste periférico. Em outra distribuição, nem sequer houve a necessidade de montar o meu pendrive: o KDE reconheceu que havia um dispositivo usb-storage e imediatamente acionou uma caixa de diálogo (aos moldes do Windows XP), disponibilizado algumas ações que poderiam ser tomadas sob meu critério.
E para variar, tenho observado que muitos artigos e tutorias lançados recentemente mostram que certas atividades podem ser feitas de modo tão simples no Tux quanto em comparação ao Windows, onde algumas ressaltam que nos sistemas livres é até mais fácil. Distribuições especiais em desktops também prometem inúmeras facilidades a alguns cliques do mouse ou através de painéis de controle centralizados. E claro, os mais acomodados adoram.
Voltando ao nosso gatinho vira-lata, vamos supor que ele tivesse incomodado a vizinhança com suas “cacas” e a dona (já sem pena) resolve botá-lo para fora: pega ele no colo, esfrega uma azeitona no seu focinho (para não farejar o caminho de volta; pelo menos, foi assim que minha avó me ensinou) e o carrega para bem longe! Nossa, com tantas mordomias, será que ele vai se readaptar novamente ao seu antigo ambiente? Provavelmente sim, já que se trata de uma questão de vida ou morte. Mas convenhamos, não seria mais interessante se o nosso querido vira-lata parasse em um outro quintal, à procura de uma nova dona carinhosa?
Estou querendo dizer que a adição de certas funcionalidades, processos de automatização e outros recursos que venham a facilitar nossas vidas não deveriam ser implementadas no Tux? Não exatamente: quaisquer melhorias serão bem vindas. Apenas gostaria que o sistema mantivesse o seu tradicional jeito de ser: aberto, flexível e customizável, além de nos possibilitar entender com facilidade o que acontece “por trás dos bastidores”.
Enfim, sendo “fácil” ou “difícil”, o Tux será sempre bem vindo! Apenas não quero ficar burro… de novo! &;-D
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Por Ednei Pacheco <ednei.pacheco [at] gmail.com>
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