Exploração da fé

A cada dia que passa, aparecem mais e mais seitas ditas evangélicas pentecostais, dirigidas por pessoas cada vez mais ignorantes, despreparadas e com objetivos espúrios, na grande maioria das novas igrejas, apenas enriquecimento às custas da fé de pobres e indolentes que se fiam nestes falsos líderes e profetas como agentes de Deus.

A explosão de igrejas ditas evangélicas ou pentecostais que usam da fé e da inércia do povo para explorá-lo, para extorquir dinheiro de pessoas indolentes que pensam ser Deus a única fonte de inspiração e de graças é outro problema sério e grave do final do século XX. Os que atribuem à Vontade Onipotente de Deus a dependência das conquistas pessoais, são pessoas que não querem lutar, não tem coragem de encarar a vida, estudar, se aprofundar, escrever sua história e contribuir para a construção de um mundo melhor através de seu esforço. Diante de sua própria indolência, correm para as igrejas buscando cura (o que tem de charlatão dentro dos templos ditos evangélicos que dizem curar expulsando o satanás), riqueza, felicidade e todas as conquistas possíveis apenas com o esforço pessoal de cada um, empobrecendo cada vez mais e enriquecendo uma plêiade de vagabundos que deveria estar atrás das grades. Não se trata aqui de ateísmo pois enquanto a humanidade não encontrar uma explicação cabal e definitva para o fenômeno vida e o fenômeno universo, jamais alguém poderá negar a existência de num Grande Arquiteto de Universo, Justo e Perfeito que nos presenteou com o bem mais caro de todos: A VIDA! O resto é por nossa conta e risco. Nossas conquistas e nossa felicidade dependem única e exclusivamente do que fizermos e construirmos, de mais nada e de mais ninguém.

Deus existe?
Dificilmente num futuro próximo a filosofia e a ciência atéia conseguirão negar convincentemente – com provas científicas – a existência de Deus e nem a religião, a fé e a crença conseguirão provar a existência de Deus. Para a fé cristã o ateísmo contemporâneo constitui-se num purgatório para a própria fé, enquanto a moderna ciência atéia busca uma resposta melhor para o sentido do homem e da humanidade. A fé alcançou seu limite na crença na existência de Deus e sua devoção ao Criador, enquanto que a ciência ainda não chegou aos seus limites – que podem ainda ser inimagináveis.

Talvez daqui a alguns milênios o homem possa dominar a transmutação da matéria para a energia, viajando por buracos-negros, novos universos e galáxias, dominando o espaço e o tempo, tornando-se onipresente e imortal com o simples domínio da mente humana. Talvez assim poderoso, possa encontrar nos confins do universo ou no seu interior a verdade sobre Deus. Todo homem sempre se lembra de Deus nem que seja num derradeiro momento, numa hora difícil ou como um último e desesperado apelo, quando poderia fazê-lo nas horas mais fáceis e como primeira – e não última- opção. Até lá, se é difícil crer em Deus, será mais difícil para a humanidade viver sem Ele. O último passo da razão e da genialidade humana é o de reconhecer que existem infinitas coisas que a superam. Num futuro longínquo, quando o homem for perfeito e a sua ciência dominar todos os segredos do universo, certamente o segredo da religião, da filosofia e da ciência será desvendado, e ele revelará que alguns homens foram criados por Deus, amando ao seu próximo com a si mesmos, outros evoluíram dos macacos, tentando de todas as formas ser iguais aos criados por Deus, enquanto que outros descendem das bananas. A história da espécie humana, de seus líderes, suas injustiças, de sua crueldade, desigualdade, miséria, doenças e desamor entre os seres humanos, é uma evidência que os descendentes das bananas sempre foram a maioria.

Cultos e exploração de incrédulos e crentes
Cerca de 99,99% dos seres humanos vivem diária e constantemente dramas existenciais de anonimato, crises emocionais, familiares, profissionais, financeiras, sociais, políticas, culturais, filosóficas e religiosas. O 0,01% restante vive a mesma crise, com exceção de não existir no anonimato, pois é formado por pessoas que ocupam posições de destaque na sociedade, como lideranças políticas, econômicas, religiosas, culturais e artísticas, entre outras.

Uma forma crescente de liderança na psicodinâmica de grupos humanos é o processo de influência religiosa que ocorre entre indivíduos, levando à formação de estruturas nacionais e mesmo internacionais que exercem uma intensa e profunda dominação e condicionamento dos integrantes destes cultos. A vivência social é baseada num aprendizado de convívio no microcosmo familiar que evolui para o macrocosmo social, nacional e internacional. Neste processo de vivência, o comportamento humano baseia-se num aprendizado condicionado, consciente e inconsciente.

Desde a fase infantil de aprendizado por observação e imitação, passando por reflexos condicionados e um condicionamento operante que atuam no desenvolvimento da personalidade, culminando com uma adaptação à regras sociais estabelecidas, o ser humano vive e interage de forma constante com seu habitat natural. No passado o poder de uma pessoa influir outras era considerado sobrenatural, razão pela qual muitos alquimistas passaram a ser considerados deuses ou pais supremos.

Com a evolução e complexidade das sociedades, este domínio passou a ser econômico e político, além do religioso. Na atualidade, por frustração devido à inépcia social das esferas dominantes (a política e a economia), uma significativa parcela da população está recebendo uma influência, gratificação e domínio de líderes religiosos, cuja principal fonte inspiradora é Jesus Cristo, que originou o cristianismo. Em nome de Jesus, um universo imenso de pessoas forma cultos com programas de reforma, de doutrinação e de ressocialização, de onde podem mesmo emergir imensos poderes econômicos e políticos que passam a atuar em toda a estrutura social.

O estabelecimento de um dízimo, a décima parte das rendas consagradas ao Senhor como fonte de arrecadação de cultos e igrejas encontra um amplo embasamento na Bíblia, onde não apenas os egípcios (Gênesis 47,24) mas particularmente a lei mosaica dos israelitas assim estabelecia (Gênesis 14,20; Levítico 27,30-32; Números 10,37,38 e 18,24-27; Deuteronômio 12,5-6-11). O pagamento dos dízimos continuou na história do povo hebreu (Macabeus 3,49) e no tempo de Cristo o pagamento dos dízimos sofreu alguma alteração (Lucas 11,42 e 18,42). O dízimo era enviado aos sacerdotes e por eles coletado.

Posteriormente os sacerdotes passaram a ser prejudicados pela cupidez e ganância dos sumo-sacerdotes, que se apoderavam à força dos dízimos. Este exemplo foi transferido para a posteridade e no presente a totalidade dos cultos e igrejas ou cobra dízimos ou solicita doações em substituição do dízimo. Isto serve para arrecadação de verdadeiras fortunas, que raramente são reinvestidas em benefício da comunidade participante dos cultos, em suas necessidades básicas como nutrição, moradia e assistência primária à saúde. Fortunas são usadas de forma obscura para a compra de meios de comunicação como jornais, televisões, rádios, bem como para financiar campanhas e carreiras de políticos, numa simbiose onde existe sempre um parasitando – o incrédulo e o crente.

Inequivocamente a Igreja Católica e os Evangélicos buscam através da disseminação do evangelho enriquecer espiritualmente o ser humano, mas isto deveria ser feito gratuitamente, de forma altruísta, principalmente porque o gasto em livros é muito pequeno – apenas um, a Bíblia. Um farmacêutico ou mesmo um médico, ou qualquer outro profissional, precisa gastar fortunas com livros, e atualizá-los periodicamente. Muitos cultos e adeptos do cristianismo contrariam os próprios ensinamentos do Novo Testamento referentes aos bens materiais, que afirma “não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde a traça e nem ferrugem corroem, e onde ladrões não escavam nem roubam; porque onde está teu tesouro, aí estará também o teu coração.”(Mateus 6,19-21) bem como “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um, e amar ao outro; ou se devotará a um de desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.” (Mateus 6,24). Ou muitos bispos e líderes religiosos do cristianismo não leram e entenderam todo o significado da Bíblia, ou possuem uma péssima memória, ou atuam de forma cínica, enganosa, leviana, predadora e fraudulenta em relação aos seus fiéis adeptos e seguidores. Para muitos cultos quando o dinheiro fala, a verdade se cala e a fé domina. Enquanto que para capitalistas o dinheiro é como a mulher – se não lhe for dada atenção, ela irá fazer a felicidade de outro – para muitos cultos o dinheiro é a verdadeira religião. A fé, a capacidade de trabalho que gera dinheiro e o poder estão nas mãos das massas. O que as oprime e as torna vulneráveis é a sua ignorância e a sua insensatez egoísta e cega. A maioria dos cultos rejeita a ciência e atua de forma a praticar curas milagrosas e expulsão do diabo, o qual seria o agente causador da doença, uma regressão aos primórdios do pensamento humano – o pensamento mágico. Esta transgressão e perversão de funções de cultos e seitas religiosas pode se constituir numa séria ameaça à saúde da população e cabe ao farmacêutico, em sua farmácia, e ao médico, em seu consultório, adotar uma atitude para impedir tais abusos, mas de forma prudente e racional. Cabe a ambos respeitar a fé, mas esclarecer seus pacientes os papéis de cada um, pois ciência e religião são fundamentais na vida do homem. Enquanto a ciência traz o conhecimento, a religião traz a sabedoria. Quem perverte tudo é o homem esperto, ganancioso e mal-intencionado, qualquer que seja sua profissão.

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