Trabalho com tatus rende prêmio Ig Nobel a brasileiros

O pior não é um trabalho considerado como inoportuno e publicado em alguma revista indexada (entenda-se “revista científica”), mas sim o fato do governo investir cifras altas de dinheiro público em pesquisas e os resultados acabarem publicados nelas. Estas “revistas científicas”, tão badaladas no mundo acadêmico, não passam de fábricas de dinheiro e de restrição ao conhecimento, pois tudo o que se descobre em pesquisas, cujos resultados são nelas publicados, acaba tendo sua divulgação cerceada, devendo, os interessados, pagar cerca de U$35 (trinta e cinco dólares) para acessar ou comprar os artigos das pesquisas que o governo pagou com dinheiro do povo. O conhecimento deve ser universal e as pesquisas, quando financiadas com dinheiro público, devem ser de domínio público, não servindo, em hipótese alguma, para enriquecimento de grupos em detrimento do ensino e do conhecimento. As universidades federais brasileiras devem rever suas políticas de publicação de dissertações e teses, não permitindo, em hipótese alguma, que grupos estrangeiros se apropriem das descobertas feitas por seus cientistas e pagas pelo povo brasileiro.

 

premio_ig_nobelda Folha Online
Dois arqueólogos brasileiros ganharam nesta quinta-feira (2) uma das categorias do Prêmio Ig Nobel, o Nobel da pesquisa inútil. Astolfo Gomes de Mello Araújo e José Carlos Marcelino, pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) venceram o prêmio na arqueologia por mostrar que tatus podem modificar o conteúdo de uma escavação arqueológica.

O “prêmio” é concedido anualmente por um grupo de humoristas a pesquisas “que não poderiam ou não deveriam ter sido publicadas”. A premiação, que não inclui dinheiro, é feita para “honrar as experiências que primeiro fizeram as pessoas rir, e que depois as fizeram pensar”, segundo os organizadores.

Tatus irritados, afirmam os pesquisadores brasileiros, podem mover artefatos para cima, para baixo e até para o lado por vários metros em uma escavação arqueológica, enquanto cavam. Tatus são mamíferos extremamente hábeis na arte de escavar.

Araújo afirmou estar emocionado por vencer. “Não há Prêmio Nobel de arqueologia, então um Ig Nobel é uma coisa boa”, afirmou ele, por e-mail.

Entre outras grandes descobertas premiadas, a americana Deborah Anderson e sua equipe de geneticistas conseguiram comprovar em testes de laboratório que a Coca-Cola é um efetivo espermicida. Ela levou o prêmio de Química do Ig Nobel.

Na mesma categoria, uma equipe de cientistas taiwaneses dividiu o troféu por chegar ao resultado oposto: de que o refrigerante não funciona como contraceptivo. Segundo a americana, métodos distintos utilizados nas pesquisas explicam a diferença.

Um porta-voz da Coca-Cola se negou a comentar a premiação.

Geoffrey Miller, Josha Tybur e Brent Jordan, da Universidade do Novo México, levaram o prêmio de Economia por estudar o impacto do ciclo de ovulação de uma stripper sobre as gorjetas que ela recebe.

Já na área de medicina o prêmio foi entregue a Dan Ariely, da Universidade Duke (Carolina do Norte), que confirmou as suspeitas de alguns psicanalistas de que um falso remédio caro é mais eficaz que um barato.

O Ig Nobel premia pesquisas inúteis há 18 anos na Universidade Harvard, em Boston (EUA).

A divertida festa terminou com as palavras do organizador, Marc Abrahams, que desejou melhor sorte para o ano que vem aos pesquisadores que saíram de mãos vazias e, em especial, aos que ganharam um dos prêmios deste ano. Os antinobel foram entregues por dois verdadeiros Prêmios Nobel, William Lipscomb (Química, 1976) e Frank Wilczec (Física, 2004).

Veja ganhadores do Ig Nobel 2008:

Arqueologia
Astolfo Gomes de Mello Araújo e José Carlos Marcelino por demonstrarem que tatus podem alterar resultados de escavações arqueológicas.

Biologia
Marie-Christine Cadiergues, Christel Joubert e Michel Franc por descobrirem que pulgas que vivem em cães podem pular mais altos que as que vivem em gatos.

Ciência cognitiva
Toshiyuki Nakagaki, Hiroyasu Yamada, Ryo Kobayashi, Atsushi Tero, Akio Ishiguro e Agota Toth por descobrirem que bolor de lama pode resolver quebra-cabeças.

Economia
Geoffrey Miller, Joshua Tyber e Brent Jordan por estudarem que strippers ganham mais dinheiro quando estão no pico do período fértil.

Física
Dorian Raymer e Douglas Smith por provarem que grandes quantidades de cordas ou cabelos inevitavelmente se embaraçam.

Literatura
David Sims por seu estudo “Filho da mãe: Uma Exploração Narrativa da Experiência da Indignação com Corporações”.

Medicina
Dan Ariely por demonstrar que remédios falsos mais caros têm mais efeitos que os remédios falsos baratos.

Nutrição
Massimiliano Zampini e Charles Spence por demonstrarem que a comida é mais gostosa quando tem nome mais bonito.

Paz
O Comitê Federal de Ética em Biologia Não-Humana da Suíça e cidadão do país por adotarem princípios legais de que plantas têm dignidade.

Química
Deborah Anderson, Sheree Umpierre e Joseph Hill por descobrirem que a Coca-Cola é um efetivo espermicida; e C.Y. Hong, C.C. Shieh, P. Wu e B.N. Chiang por provarem que isso não é verdade.

Com Associated Press e France Presse

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