O feto e o recém-nascido podem adquirir infecções causadas por vários microorganismos como vírus, protozoários, espiroquetas e fungos (ex. Toxoplasmose, HIV, sífilis, citomegalovirus, herpes).
Essas infecções podem ser adquiridas intra-útero, durante o parto ou no período pós-parto. As infecções adquiridas pelo feto, por via hematogênica transplacentária (conhecida como vertical) após infecção materna, são denominadas infecções congênitas. Já as infecções adquiridas no período periparto e até três semanas pósnatais são denominadas infecções perinatais. Infecções congênitas ou pósnatais podem ocorrer em até 10% dos nascidos vivos e mais da metade deles são assintomáticos ao nascimento, o que torna o diagnóstico baseado em sinais e sintomas mais difícil.
Considerando que essas infecções podem determinar sequelas futuras, é de extrema importância a identificação precoce de gestantes infectadas para a implementação de medidas específicas de prevenção e tratamento, além de possibilitar o rastreamento, tratamento e acompanhamento dos recém nascidos expostos a essas situações.
Em 1993 foi criado pelo Serviço de Infectologia Pediátrica do Hospital de Clínicas o ambulatório de infecções congênitas. O objetivo inicial desse ambulatório era o atendimento de bebês nascidos na maternidade do HC com suspeita de alguma infecção congênita. Com o passar dos anos o ambulatório foi ampliado e passou a prestar atendimento aos bebês do programa Mãe Curitibana, da Região Metropolitana de Curitiba além de outras localidades. Atualmente, o Ambulatório de Infecções Congênitas, localizado no Setor de Pediatria Preventiva do Departamento de Pediatria, é o único ambulatório no Estado do Paraná que presta assistência exclusiva a bebês com exposição a esses tipos de agravos.
As situações mais frequentemente atendidas são bebês expostos à infecção materna pelo HIV, sífilis e toxoplasmose. Levantamento preliminar revela que entre os anos 2000 e 2007 foram acompanhadas aproximadamente 1595 crianças, sendo 54,4% expostas ao HIV, 32,3% expostas à toxoplasmose e 13,3% expostas à sífilis. A maior parte desses pacientes e era procedente de Curitiba (63,4%) e região metropolitana (27,6%).
Vale destacar os resultados observados em relação à transmissão vertical do HIV, situação responsável pelo maior número de atendimentos. Nesses oito anos avaliados, foram atendidos 867 bebês cujas mães eram infectados pelo HIV. A taxa de transmissão vertical entre as 757 crianças que concluíram a investigação, variou de 3,5% encontrada no ano de 2005 a 18,9% e 2001, com uma taxa geral de 10,7%, ou seja, 81 crianças infectadas.
De acordo com a literatura, com a utilização de medidas de prevenção, como acompanhamento pré-natal, uso de antirretrovirais pelas gestantes infectadas e recém-nascidos expostos, assistência durante o parto e acompanhamento dos recém-nascidos, pode-se conseguir taxas de transmissão vertical do HIV de 1 a 2%.
Assim, observa-se que as taxas de transmissão vertical do HIV na população avaliada encontram-se acima do esperado. Diversos fatores são identificados como possíveis responsáveis pela elevada transmissão encontrada, como a não realização de pré-natal, não utilização adequada de antirretrovirais além do uso de drogas ilícitas.
A compreensão desses fatos permite que as equipes assistenciais elaborem estratégias que possam atingir e captar as gestantes infectadas pelo HIV mais vulneráveis, para que todas as etapas de prevenção sejam utilizadas e que um número cada vez maior de bebês expostos a esse agravo nasçam saudáveis.
O serviço de epidemiologia hospitalar do hospital de clínicas da universidade federal do Paraná investiga todos os casos num trabalho conjunto com o serviço de infectologista pediátrica e o ambulatório da maternidade que acompanha gestantes HIV, dentro do programa mãe Curitibana.
O ambulatório de infecções congênitas é realizado no SAM 11, pediatria preventiva, nas segundas e sextas-feiras das 13 às 17 horas.
Professora doutora Cristina Rodrigues da Cruz, departamento de pediatria e coordenadora do ambulatório.
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