Malogradas as iniciativas do Planalto para inviabilizar a CPI da Petrobras, governo e oposição reservaram a terça-feira (19) para a montagem dos planos de guerra.
Em termos numéricos, o governo desce ao campo de batalha em condições de esmagar o inimigo. Vai indicar oito dos onze contendores da CPI.
O problema é que, no front do Senado, a supramacia numérica nem sempre se traduz em triunfo. Ali, o governismo flerta constantemente com a traição.
O Planalto receia mais o PMDB do que a oposição. Dono de três das oito indicações da tropa oficial, o partido vai à investigação como fiel da balança.
Mantendo-se leal a Lula, o PMDB aniquila os movimentos do PSDB e do DEM. Na hipótese de adotar o papel de Silvério, converte a rotina do Planalto num inferno.
No pior cenário para o governo, os três votos do PMDB se juntam aos três da oposição, formando maiorias esporádicas contra o Planalto na CPI.
Vai acontecer? Os operadores de Lula acham que não. Por quê? O PMDB divide com o PT o controle da Petrobras. Conviria mais ao partido barganhar do que investigar.
A barganha terá um custo. Dependendo do preço, o governo está disposto a pagar. De saída, o PMDB reinvindica o reforço de suas posições na própria Petrobras.
E quanto à oposição? Tucanos e ‘demos’ esforçam-se para reafinar uma viola que, na semana passada teve as cordas quebradas.
De saída, miram um objetivo comum: querem levar ao noticiário um antídoto contra o veneno que Lula despeja nas páginas há cinco dias.
Dono de linguagem fácil, o presidente age para colar em seus rivais a pecha de “impatrióticos”. Trata a investigação da Petrobras como arroubo “irresponsável”.
Os líderes José Agripino Maia (DEM) e Arthur Virgílio (PSDB) agem para conter os arroubos de que fala Lula. Pregam uma investigação “técnica”.
Nos próximos dias, a dupla levará aos microfones o discurso da “responsabilidade”.
Dicorrerão sobre a necessidade de “proteger” a Petrobras, livrando-a de malfeitos que a PF, o TCU, a Receita e o Ministério Público já esquadrinham.
Os exércitos serão posicionados em duas reuniões. Ocorrerão longe dos holofotes. Eis o que deve ocorrer ao longo do dia por trás das portas de Brasília:
1. Tropa governista: O ministro José Múcio, coordenador político de Lula, reúne-se com o alto comando do consórcio governista.
Participam do encontro os líderes Renan Calheiros e Romero Jucá, pelo PMDB; Gim Argello, pelo PTB; e Aloizio Mercadante, pelo PT.
Vao à mesa os nomes dos senadores que serão alistados na tropa de choque pró-Petrobras. Misturam-se na lista milicianos clássicos e generais.
Entre os nomes cogitados para o combate raso estão, por exemplo, Ideli Sanvatti (PT), Almeida Lima e Gilvan Borges.
Ideli, se necessário, atira-se no poço por Lula. Almeida é da tropa de Renan. Gilvan é marionete de Sarney.
Para o combate estratégico, o governo travalhava na noite desta segunda (18) com a hipótese de enviar à CPI Jucá e Mercadante.
De resto, Gim Argello, o líder do PTB, flertava com a idéia de mandar à CPI um franco-atirador: Fernando Collor.
2. Tropa oposicionista: Em telefonema disparado para Agripino Maia, do DEM, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, pediu uma reunião.
Será o encontro da pacificação. Tucanos e ‘demos’ andaram se estranhando nos últimos dias. Vão reunificar o discurso.
Juntos, reivindicarão para a oposição um dos postos de direção da CPI –a presidência ou a relatoria. É algo que só terão se o Planalto consentir.
E, a julgar pelo que diziam na noite passada José Múcio e Aloizio Mercadante, a oposição não terá vida fácil.
De resto, os oposicionistas também terão de definir os nomes que irão representá-los na CPI. O DEM tem direito a duas indicações. O PSDB, a uma.
O tucanato espera que o parceiro lhe ceda uma de suas vagas. Agripino não parece avesso à idéia.
Confirmando-se o arranjo, o plano inicial do PSDB é o de levar à CPI Álvaro Dias, autor do pedido de investigação, e Tasso Jereissati, estudioso das artes da Petrobras.
Em telefonema a Agripino, o ‘demo’ Heráclito Fortes pediu para ser indicado. Porém, Heráclito já é membro da CPI das ONGs.
E o reguimentento da Casa veda a participação de um mesmo senador em duas comissões de inquérito. Assim, Agripino talvez tenha de escolher outro nome.
Antes da conversa a dois, PSDB e DEM reunirão separadamente suas respectivas tropas. Vão ensaiar os passos da marcha.
Espera-se que até o final do dia todos os partidos tenham enviado à direção do Senado os nomes dos integrantes da CPI. Estima-se que a batalha comece em 15 dias.
Escrito por Josias de Souza às 04h21
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