“Não são o preconceito, o ódio à diversidade, a não aceitação da diferença ou a intolerância as desgraças maiores que têm assolado o Brasil,tal como ocorre em tantos outros países eregiões do mundo. Nossas chagas são de outraordem: a leniência, a frouxidão das leis,a complacência da Justiça, o excesso detolerância e a síntese trágica de tudo isso,que é a impunidade.”
MAURO CHAVES, para Maria Cecília Gouvêa Waechter
Waldo Luís Viana*
Lula e o PT são como droga. Para nos livrarmos deles, precisamos de tratamento, não de redução de danos. Não adianta panos quentes, a negação típica do drogado em dizer que no início houve prazer. Sim, com a herança maldita de FHC, qualquer coisa que nos oferecessem pareceria melhor. É como o drogado quando começa: a realidade insuportável é suplantada, provisoriamente, por um lenitivo.
Quando o tempo passa, porém, o que era aparentemente remédio torna-se, em verdade, uma doença. Lula e o PT viraram moléstia grave, contagiosa e futuramente letal para o país. Outra herança maldita. Por onde passam, destroem, desmoralizam e desorganizam, como gafanhotos. A boca enorme da corrupção deslavada, do “não sabia” e do que pode ser eterno “assim mesmo”. Lula e o PT são a mudança que não irá mudar! É a sensação amarga de não ter mais ninguém com quem se queixar. Nem bispo nem general!
Todas as políticas públicas, fundadas em impostos escorchantes e juros pornográficos, contribuem para a destruição organizada da democracia e do que resta do Estado de Direito.
Conseguiram quase tudo: desmoralizaram os Três Poderes e as Forças Armadas; aparelharam o Estado com a cumpanheirada morta de fome e desempregada; endividaram estados e municípios; sucatearam a educação e a saúde (“quase perfeitas!”) e tornaram a logística do país, isto é, estradas, ferrovias e portos, obsoleta e caríssima. O agronegócio está sendo combatido por uma visão míope de conservação ambiental e a Amazônia foi definitivamente entregue à cobiça estrangeira. A população foi dividida em raças, cotas e estados de alma difusos, como se não fosse totalmente brasileira e ungida pela Constituição; o saneamento básico entregue às baratas e as políticas habitacionais estão sendo usadas para a mais deslavada e cruel demagogia eleitoreira.
O povo, agraciado com as bolsas compensatórias e o programa fome-zero, continua paupérrimo e faminto. Só melhorou um pouquinho, a ponto de votar, como drogado, em quem lhe deu a esmolinha. E quer de novo, como quem compra trouxinha em boca-de-fumo: sabe que é ruim, mas na falta de coisa melhor…
E a violência nas cidades? Devo falar sobre isso? Um assassinato bárbaro após outro, balas perdidas, insegurança geral e o banditismo a solta nas cidades ou mandando, de dentro das penitenciárias, sem controle, graças à legislação mais branda do mundo. E o desemprego? Esqueçam as pesquisas e simplesmente perguntem: quem não tem na família um desempregado, alguém que há meses estava segurando com dificuldade a própria barra e que, agora, não está mais…
Mas seria impossível a droga manter-se no poder se não favorecesse os ricos. Eles dão as cartas nos bancos, nas bolsas dos capitais voláteis e nas grandes empresas, que se apóiam nos políticos para drenar os recursos do Estado. É sempre a mesma coisa: a elite patrimonialista elege os seus comparsas que só querem se dar bem no Legislativo. E eles manipulam os orçamentos federal, estadual e municipal para contemplar os interesses dos magnatas das empreiteiras e outras megaempresas.
E o povo agora é convidado a pagar dívidas, contraídas nas farras de crédito fácil oferecido e consignado. Tais créditos foram cedidos num período de falsa prosperidade, como uma droga, fingindo um bom efeito inicial, mas os juros estratosféricos não abaixaram e quem acreditou nisso se danou. Precisará de muita psicoterapia para conseguir dormir…
E não me venham falar em Ministério Público e Polícia Federal. Os episódios recentes dos grampos ilegais, da operação Satiagraha, da perseguição a quem descobriu e autuou, bem como a última CPI sobre o tema, que só denunciou peixes pequenos, comprova que não há saída. Punição só para quem não manda. Não viram o mensalão? Com certeza, vai dar, como diria um político cearense, em p…. nenhuma…
A Justiça é caríssima para o povo, que não pode frequentar os seus recursos para as instâncias superiores. Os advogados caríssimos servem apenas às classes dominantes, assim como os nossos artistas de teatro e TV famosos são apenas bonecos para a diversão da burguesia. Aliás, estes pensam e agem como burgueses. Causa-me tristeza ver a classe dos defensores públicos sofrer a mesma perseguição que se inflige aos pobres: baixos salários, pouca influência social e o desprezo blasé de promotores e juízes. Ser defensor público e operário do Direito no Brasil é escolher um sacerdócio abandonado de há muito pelos eternos espertos que querem enriquecer na militância da Justiça.
O episódio Daniel Dantas, banqueiro operoso que guarda no bolso boa parte da elite nacional vendida, definiu os limites: daqui não passa porque cairá a República! São os freios que determinam o que o Ministério Público e a Polícia Federal poderão fazer: detenções pirotécnicas, interrogatórios televisivos e daí a Justiça solta, sempre os tubarões. Os peixes pequenos, coitados, ninguém se importa com eles. Afinal, ladrões de goiabada e galinha são mesmo desprezíveis!
Um genial político cearense, com a linguagem desabrida, definiu que não tem medo dessas instâncias do Estado; mandou-as para o lugar devido já que não tem nenhum medo delas. Eu tenho. Não sou nada diante de tanta imunidade e da demonstrada impunidade geral para os ricos…
Aliás, para cidadãos como eu, fáceis de destruir, só existe a Internet, como última instância de protesto. Sempre me servi dela, tangenciando o Código Penal, para dizer o que penso. Mas sinto a sensação de que logo eles inventarão um modo de calar a oposição eletrônica, porque a oposição congressual, já calaram há muito tempo com dinheiro sonante.
Lula e o PT são droga distribuída e já fizeram o estrago devido. A doença espalhou-se e não adianta “reduzir os danos”. Nós somos os pacientes e não podemos mais fugir de seus efeitos funestos: transformar nosso país nessa droga que está aí. Quem está gostando é porque é consumidor da droga há muito tempo e pago para sonhar e se iludir. Lula e o PT, como diria o poeta, têm o dom de iludir. São os que dizem que a corrupção onipresente é obra da imprensa golpista. Uma ilusão de ótica. O governo do operário é uma beleza e seu poder, incomensurável e incorruptível como o ponto em geometria.
Lula e o PT são uma droga, mas eu sou muito fraco e eles serão capazes de injetar logo em mim uma dose quase letal da heroína da conformidade. Como toda droga heróica e terrorista, ela fará com que eu faça uma viagem de ácido e felicidade até passar a gostar mesmo do Grande Irmão!
E serei como você, esse drogado que teima em me ler e se entristece com minhas palavras sem sentido: afinal de contas, você também já não ama o Grande Irmão?
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* Waldo Luís Viana é escritor, economista e poeta, esforçando-se para manter o que resta de sanidade até 2010…
Teresópolis, 24 de abril de 2009.