Desruptores endócrinos

O lobo em pele de cordeiro.

O que são?
Disruptores endócrinos ( DEs )são agentes e substâncias químicas ou artificiais exógenas que agem como hormônios naturais  no sistema endócrino e causam alterações na função fisiológica das hormônios endónenas.

É um agente exógeno que interfere com a síntese, a secreção, o transporte, a conexão, a ação ou a eliminação dos hormônios naturais no organismo que são responsáveis pela manutenção da homeostase**, da reprodução, do desenvolvimento e/ou do comportamento. (R.J.Kavlock et al.).

Em inglês os autores vêm usando o termo endocrine disruptors e no Brasil se usam várias terminologias, como desreguladores endócrinos, disruptores endócrinos e interferentes endócrinos (WAISSMANN, 2002).

Muitas destas substâncias são persistentes no meio ambiente, acumulam-se no solo e no sedimento de rios, são facilmente transportadas a longas distâncias pela atmosfera de suas fontes. Acumulam-se ao longo da cadeia trófica, representando um sério risco à saúde daqueles que se encontram no topo da cadeia alimentar, ou seja, os humanos (MEYER et al, 1999).

Um pouquinho de história
No inicio dos anos 70 pesquisas cientificas relataram a existência de  substâncias que não tinham o intuito de agir como hormônios poderiam desempenhar essa função .

Esta constatação veio depois do derramamento de uma substância química sintética chamada de Kepone, princípio ativo utilizado para a manufatura de um agrotóxico chamado pela marca comercial de MIREX. Devido a este acidente os homens contaminados pelo contato com o produto tiveram queda no numero de espermatozóides.

Os cientistas confirmaram que o Kepone era um estrogênio fraco  e logo descobriram outros companheiros dessa substancia como o DDT e outros agrotóxicos atuavam ou como um estrogênio endógeno ou produziam metabólitos que atuam como estrogênios.

Desde a publicação do livro de Rachel Carson, Silent Spring,  têm havido uma grande preocupação sobre os potenciais efeitos danosos de agentes químicos nas populações e ecossistemas de vida selvagem que tem ligação direta com a saúde do meio ambiente e consequentemente saúde humana.

Como funcionam?
Os disruptores endócrinos agem por mecanismos fisiológicos pelos quais substituem os hormônios do nosso corpo, ou bloqueiam a sua ação natural, ou ainda, aumentando ou diminuindo a quantidade original de hormônios, alterando as funções endócrinas (SANTAMARTA, 2001).

Algumas moléculas químicas artificiais possuem receptores que são reconhecidos pelo sistema endócrino, podendo assim ser identificadas por ele como os hormônios endógenos. Uma vez reconhecidos, passam a alterar a rota bioquímica dos hormônios verdadeiros, os tornando inativos e tomando seu lugar .

O organismo dos animais e está subordinado a uma cascata de eventos, complexos, integrados e concatenados, dos quais a liberação de hormônios aos vários órgãos, é vital. Quando o ritmo da liberação e/ou a quantidade de hormônios são desarranjados, os resultados podem ser devastadores e definitivos.

Esses efeitos podem ocorrer relacionado a quantidades inapropriadas de produção ou com a desconexão da resposta ao estímulo, bloqueando os efeitos hormonais nos seus pontos de inserção no organismo. Qualquer uma destas interferências no sistema endócrino pode afetar o desenvolvimento físico em geral, do aparelho reprodutivo, do desenvolvimento cerebral, do comportamento, da regulação da temperatura e de muitos outros.

Como chegam ao corpo humano?
Os desruptores endócrinos podem persistir no ambiente e os vestígios de produtos químicos podem ser encontrados em animais e humanos em muitas partes do mundo. DEs têm sido encontrados em alimento contaminado, na água de potável poluída e em alguns plásticos. Os seres humanos são, portanto, expostos ao DEs, quer por via oral através de ingestão de alimentos contaminados, da pele ou por inalação. A principal via de contaminação, porém, é através da ingestão de água e / ou gêneros alimentícios contaminados com DEs.

As concentrações de DEs aumenta gradativamente na cadeia trófica através da bioacumulação, onde os animais acumulam substâncias químicas no seu organismo. Os DEs aderem aos nutrientes na forma de moléculas químicas sintetizadas artificialmente. Neste estágio, suas concentrações são extremamente difíceis de serem mensuradas. No processo natural da cadeia trófica animais animais serão ingerido aumentando a concentração de DEs nos animais do topo da cadeia alimentar à níveis suficientemente elevados a ponto de causarem deformidades físicas, redução na fertilidade e até a morte. A bioacumulação se dá nos tecidos adiposos dos animais que não são eliminados permanecendo no corpo.

Por estarem no topo da cadeia os humanos apresentam algumas das maiores concentrações dos DEs. Os fetos humanos também são contaminados, pois os DEs atravessam a placenta atingindo o feto e danificando o funcionamento da placenta. Os lactantes são contaminados durante a ingestão do leite materno. As crianças estão sob grande risco porque brincam no chão, levam regularmente as mãos à boca, olhos e nariz e em seus pratos de comida. Absorvem mais agrotóxicos de seus ambientes do que os adultos além de serem menos hábeis na desintoxicação e sua excreção. Estão expostos em suas casas, escolas, creches, parques e áreas de brinquedos.

Porque devemos nos preocupar com eles?
pesticidasA vida selvagem parece ter grande vulnerabilidade aos estrogênios ambientais  e problemas com animais tem fornecido indícios de que estrogênios ambientais também podem ser danosos aos humanos.

Em um estudo hoje publicado, os pesquisadores relatam os primeiros casos em que aos poluentes disruptores de hormônios é creditada a responsabilidade  por efeitos sobre a definição de gênero nos invertebrados marinhos de estuários britânicos. A descoberta causou alarme em razão de estar afetando espécies cruciais para a saúde destes ecossistemas, e que em alguns casos formam a dieta essencial de muitos animais maiores.

Ao afetar esses animais invertebrados a base da cadeia alimentar, haverá uma diminuição na base da cadeia alimentar e se algo vai errado na base isso certamente refletirá nas espécies que estão no topo. A preocupação para estas descobertas era se estava-se descobrindo apenas a ponta do iceberg.

Muitos relatos tem sido feitos sobre os possíveis efeitos dos DEs em humanos.

A incidência de câncer de mama elevou-se drasticamente nos Estados Unidos e está sendo atribuída à acumulação de químicos estrogênicos presentes no meio ambiente. Muitos destes químicos causaram cânceres em animais e são suspeitos de serem carcinogênicos em humanos. Ambos, DDT e PCB’s, demonstraram ser promotores de tumores cancerígenos e ter atividade estrogênica. Muitas das substâncias sintéticas, presentes nos agrotóxicos, são comuns em plásticos, cosméticos e tintas. Sozinho, cada um destes químicos pode mimetizar os hormônios em nossos organismos. A combinação deles pode gerar uma sinergia, multiplicando sua toxicidade, criando significativamente um tóxico mais poderoso.

Endocrine-Disruptor-PWG3O uso indiscriminado e irresponsável de pesticidas vem colocando uma população maior de trabalhadores rurais sob risco. Koifman et al (2002) demonstraram que em alguns estados brasileiros há uma correlação entre o consumo de pesticidas e manifestações endócrinas na população exposta, com efeitos diretos no aparecimento de infertilidade, câncer do testículo, câncer de mama, câncer de próstata e de ovário.

Alguns dos possíveis riscos à saúde incluem: defeitos de nascimento, alterações no desenvolvimento sexual e funcional, desordens neurológicas, diabetes mellitus; desordens imunológicas, puberdade precoce em meninas, cânceres: de mama, cólon, vagina, cervical, testicular, além da endometriose, diferenciação sexual do cérebro e outros tecidos alvos do estrogênio; anormalidades estruturais do oviduto, útero, cervical e vagina; fator contribuinte com a sub-fertilidade; linfoma não-Hodgkin; redução da disposição física, defeitos genitais de recém nascido: hipospadia e criptorquidismo, alteração da distância anogenital em meninos, redução no número dos espermatozóides e aumento/redução da próstata; desordens mental, comportamental e do desenvolvimento, irritabilidade, desatenção, decréscimo na capacidade mental, inabilidade para aprendizagem, dislexia, déficit de atenção/desordem de hiperatividade, autismo, propensão à violência, redução da coordenação motora e da coordenação fina e grossa olho-mão.

fotolia_8598178_subscription_xlO relatório publicado pela CETESB sobre a poluição do Estuário de Santos-Cubatão indica a presença de diversos poluentes disruptores endócrinos nas águas dos rios e do próprio estuário, além da contaminação do solo em áreas de antigos lixões. Dentre os diversos produtos e resíduos, destacam-se o Endosulfan, HCB, HCH, chumbo, cádmio, manganês, mercúrio, benzopireno, benzoantraceno, PCBs, dioxinas e furanos (FREITAS GUIMARÃES, 2005; GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2001). A presença destes produtos químicos no solo e nas águas dos rios e no estuário é preocupante, na medida em que há consumo de peixes e crustáceos pela população ribeirinha, bem como a plantação de verduras, legumes e frutas em diversas áreas contaminadas, principalmente nos bairros mais pobres.

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Desruptores endócrinos, onde eles estão?
A geração dos disruptores endócrinos pode ser intencional e/ou como sub-produtos não intencionais de processos industriais.Os DEs mais insidiosos são os produtos químicos fabricados pelo homem ao quais estamos expostos diariamente e somos incentivados a consumir como se estivessem em total segurança. Alguns deles são produtos de beleza e de higiene (cosméticos, filtros solares, perfumes, sabonetes); fármacos (pílula anticoncepcional); selantes para dentes; solventes; surfactantes; agrotóxicos;  e os plásticos (PVC, poliestireno-estiropor-“isopor”, e outros).

São encontrados em depósitos de lixo, contaminando solo, lençóis freáticos, mananciais de água para abastecimento público e, ainda, pela queima de resíduos hospitalares e industriais em incineradores, a exemplo das Dibenzo-p-dioxinas policloradas e dos Dibenzofuranos policlorados (ASSUNÇÃO & PESQUERO,1999; BAIRD, 2002). Nas áreas hospitalares, o uso de alguns tipos de medicamentos e produtos para esterilização de equipamentos cirúrgicos já são comprovadamente citados como interferentes endócrinos e oferecem risco aos profissionais da área (XELEGATI & ROBAZZI, 2003).

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No lixo domiciliar há disruptores endócrinos. Teves (2001) indica com clareza que mercúrio e chumbo foram encontrados no lixo coletado em São Paulo/SP e Sisinno & Oliveira (2003) comprovam que há cádmio, chumbo, manganês e mercúrio no chorume captado em aterros e lixões, áreas que recebem todo o lixo coletado das cidades.

Quais cuidados devemos tomar?
È muito complicado fazer uma lista com orientações que cubra tudo que é necessário fazer para evitar os DEs.Diante do descaso das instituições publicas em relação ao nossos direitos de cidadãos, precisamos nos auto-educar quanto aos perigos ambientais que invadem nossas vidas de uma forma tão intima. Mesmo já estando cientes sobre este mal invisível, as industrias continuam querendo nos manter alienados e na ignorância dos danos causados pelos produtos que utilizamos rotineiramente em nossa vida domestica e profissional. Vão desde os produtos de limpeza, tintas e colas, aos de jardinagem e suplementos para animais de estimação além de produtos para automóveis, suprimentos para artes, nos cosméticos e nos alimentos.

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Algumas dicas importantes podem ser citadas:

  • Não fume ou beba álcool. Especialmente se estiver grávida ou pretenda ficar. Isto poderá causar lesões permanentes à mãe, ao feto e às gerações seguintes. Mulheres que fumam, nos mesmos índices de homens, têm duas vezes mais chances de ter lesões no DNA de seus pulmões. Os homens, é claro, devem ter o mesmo tipo de cuidados. O fumo contamina os espermatozóides do homem tanto quanto compromete sua qualidade e quantidade. Os tóxicos podem aderir a sua camada externa e ficar contido dentro dele.
  • Não use químicos para jardinagem ou quaisquer agrotóxicos. Especialmente se estiver grávida ou pretenda ficar. E nem se imagine chegar perto deles. Jardins são mais sadios sem estes venenos.
  • Não utilize cosméticos, sprays de cabelo, tingimentos ou esmalte de unhas. Especialmente as grávidas ou pretendentes. Festeje seu próprio corpo e não a imagem que a mídia quer que siga.
  • Evite o emprego de produtos químicos fortes, colas, tintas, esmalte de unhas e removedor, produtos de limpeza de carpetes e pisos. Livre-se de todos estes produtos e suas marcas comerciais e use produtos ambientalmente inócuos, parcimoniosamente. Se necessitar de algum produto químico vista então indumentárias industriais, luvas, protetor para os olhos e uma máscara com filtros apropriados para cada químico. Novamente …Definitivamente NÃO, se estiver grávida ou planeje!
  • Não esquente alimentos ou coma comida em recipientes plásticos mesmoque venham aí congelados. Aqui se incluem as panelas cobertas com “Teflon”.  Substâncias químicas adicionadas aos plásticos podem ser ingeridos com o alimento, podendo causar grandes problemas ao feto e à mãe.
  • Comprar produtos orgânicos frescos, carne e leite livres do hormônio rBGH. O hormônio recombinante de crescimento bovino, ou rBGH, é um hormônio para incrementar a produção de leite em vacas. Isto causa mastite, requerendo, nas vacas, grandes quantidades de antibióticos que poderão passar para os humanos, e por sua vez gerar novas enfermidades incuráveis.
  • Alimente-se próximo da origem dos produtos. Coma mais verduras e frutas orgânicas. Carne, laticínios e peixes contêm mais químicos bioacumulativos.  Mesmo se tiverem sido cultivados e processados organicamente, conterão dioxina.
  • Coma peixe das águas profundas dos oceanos. Evite peixe espada, atum e tubarão em razão do mercúrio. Evite todos os peixes produzidos em criadouros já que são alimentados com restos de outros animais, recebem antibióticos como prevenção a doenças causadas pela superpopulação, recebem hormônios para estimular o crescimento e encorajar a letargia, além dos currais dos criadouros são cobertos com tintas tóxicas para desencorajar animais marinhos crescerem nas malhas. Especialmente tomar-se cuidado com pescados de baias poluídas.
  • Adquira produtos de feiras de agricultores locais ou associe-se a um grupo de compra. Compre produção local orgânica e da estação. Vegetarianos têm muito menos disruptores endócrinos encontrados no sangue do que do grupo que se alimenta com carnes. Isto porque os incineradores que estando perto como se fossem no pátio de nossa casa ou tão longe a alguns milhares de quilômetros, liberam dioxinas para a atmosfera quando queimam materiais que contêm cloro como os plásticos feitos de PVC ou os agrotóxicos. A dioxina se precipita sobre os pastos onde os animais estão pastando e vai se acumulando, lenta e inexoravelmente, em seus tecidos gordurosos.
  • Em razão de sua longa vida, a acumulação de dioxina é mais crítica no leite que é levado à industrialização e na carne dos animais de engorda do que na carne das galinhas e em outros animais. Estando no topo da cadeia alimentar, os seres humanos acumulam então muito mais dioxina em seu sangue do que os animais que eles comem. Indo um passo adiante, os lactentesestão num plano mais elevado desta cadeia alimentar já que se amamentam do leite de suas mães. Embora isto seja um problema de saúde, estudos recentes demonstraram que é melhor o aleitamento materno do que quaisquer outras alternativas.
  • Sempre que possível consuma menos alimentos processados e pré-embalados. Coma mais alimentos frescos que lhe fornecerá um maior conteúdo nutricional em sua dieta. E teremos certeza do que há em cada um deles!
  • Evite alimentos entalados a não ser quando absolutamente necessário. O valor nutricional é menor e algumas latas têm um lâmina interna de materiais que são tóxicos.
  • Evite alimentos que contenham produtos hidrogenados, especialmente gorduras hidrogenadas e “oelestras” (um substituto sintético da gordura). Enquanto estes tipos de gorduras e substitutos não são correntemente tidos como disruptores endócrinos, são encontrados em comidas rápidas e alimentos processados e podem ser prejudiciais à sua saúde. Gorduras hidrogenadas, mesmo sendo feitas de gorduras poli-insaturadas, podem incrementar o seu LDL (o colesterol ruim).
  • Não permaneça em locais com odores químicos. Saia rapidamente! Não espere para perguntar se o cheiro é inócuo. Provavelmente quem está na volta sabe muito menos.
  • Em geral, sempre que possível substitua os produtos sintéticos por naturais. Esta na é uma tarefa fácil. Tenho pessoalmente tentado. Mas faça passo a passo. Não se deprima. Talvez possa ir escolhendo uma coisa por mês para substituí-los progressivamente por produtos naturais. Procure panelas para cozinhar que sejam de aço, barro, cerâmica e de vidro como faziam nossas avós. São muitíssimas as pessoas danificadas pelos produtos sintéticos durante sua produção, utilização e descarte e/ou por estarem no lugar errado justo na hora inadequada. Proteja nossas futuras gerações por ter como meta de vida estar no rol das pessoas bem informadas.

Conclusões
O problema dos disruptores endócrinos é um mal mundial, invisível e praticamente desconhecido, que afeta a todo o meio ambiente atingindo principalmente os humanos, chegando ao patamar de já ser considerado um problema de saúde pública. A grande maioria dos DEs a que nós, humanos, estamos expostos são de produtos sintetizados artificialmente  através das grandes indústrias, as quais acreditamos estar nos vendendo produtos de qualidade, com total segurança para nossa saúde. Sendo elas as responsáveis pela qualidade de seus produtos antes de colocá-los no mercado, devem ser também as responsáveis pelos danos causados ao meio ambiente como um todo, principalmente os prejuízos irrecuperáveis causados milhares de humanos.

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No entanto isso não acontece. É o famoso lobo em pelo de cordeiro, disseminando a ameaça invisível sem precedentes.  As indústrias preferem ignorar as pesquisas, os relatos da disfunção endócrina e a poluição ambiental por terem estabelecido o lucro como sua única meta. Inúmeras são as razões e os apoios encontrados do sistema político e econômico, cada um com sua contribuição para a manutenção desse estado de total desinteresse pela vida.

ecologia médica

Original aqui

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