O método nos seus micróbios

Em 1771, o sensato Dr. Tobias Smollett podia resumir francamente:

Existem armadilhas para nossas vidas em tudo que comemos e bebemos. O próprio ar que respiramos está carregado de contágio. Nâo podemos nem mesmo dormir sem correr o risco de uma infecção.

“O francês Louis Pasteur ensinou aos médicos que as misteriosas “coisas” infecciosas que transmitem as doenças são coisas vivas. A classificação dos tipos exatos dessas coisas foi um obstáculo demolido pela mente bem ordenada dos alemães.”

No outro lado da guerra de 1870 lutava Robert Koch (1843-1910), clínico geral numa cidadezinha em Wollstein, na Renânia, que, farto de longas e duras jornadas e pacientes rústicos, procurou diversão intelectual no microscópio. Começou estudando um bacilo vigoroso descoberto em 1863 pelo francês Casimir Davaine (1812-1882), especialista em tênia ou solitária. Com os olhos objetivos de um médico do campo, Koch observou a tendência do bacilo para formar cadeias infindáveis e desaparecer em esporos de longa duração e sorrateira virulência. E que causava o antrax.

Essa foi a sensação médica de 1876. Robert Koch associou o germe à doença como causa e efeito, um casamento patológico no qual ninguém havia pensado.

O antrax, no homem ou no animal, com as pústulas sangrentas na pele, a “doença dos cardadores de lã” de rápido e letal desenvolvimento e que ataca os pulmões, era atribuído aos miasmas do campo. Koch provou que o antrax era uma infecção identificável, causada por um agente identificável. Melhor ainda, ele tingiu com corantes de cores vivas esses inimigos invisíveis e descobriu o que eles comiam enquanto proliferavam abundantemente no cativeiro (consommé de carne, frio), e tirou fotografias (hã!?!?!) espetaculares deles. “C’est un grande progrès!” foi como Pasteur o saudou alegremente, quando foi a Londres para tentar a cultura de uma forma de virulência atenuada do bacilo do antrax, para a vacina que salvaria a carne e o queijo da França.

Koch escreveu os Postualdos de Koch:

  1. O germe causador da doença deve estar presente em todos os casos da doença, e deve ser encontrado no corpo sempre que a doença aparecer.
  2. Extraído do corpo, o germe deve crescer numa cultura pura de laboratório, por várias gerações microbianas. (As bactérias não têm vida sexual, elas se dividem em duas indefinidamente.)
  3. Essa cultura deve transmitir a doença a um animal suscetível, ser recolhida dele numa cultura pura e transmitir a doença para outro infeliz animal.

Essa prova de um micróbio específico causar uma doença específica continua inviolada desde sua criação, em 1881, exatamente como o Túnel Mersey.

Em 1879, Albert Neisser (1855-1916), dermatologista de Breslau, descobriu o gonococo. Armauer Hansen (1841-1912), de Bergen, justificou o Levítico descobrindo o bacilo da lepra (a Noruega estava se tornando uma nação de leprosos). Em 1880, Pasteur descobriu o estreptococo e o estafilococo, que causam vários tipos de infecções. Karl Joseph Eberth (1835-1926), um patologista com barba espessa, de Halle, descobriu o bacilo do tifo. Em 1882, Koch descobriu o micróbio causador da tuberculose. Aquele que mais tarde seria seu sucessor no novo Instituto para Doença Infecciosas, Fredrich Loëffler (1852-1913), de Königsberg, o bacilo da difteria.

Koch descobriu o bacilo da cólera em Berlim, em 1884, Albert Fränkel (1848-1910) descobriu o da pneumonia e Arthur Nicolaier (1862-?) descobriu o bacilo do tétano. em 1886, Theodor Escherich (1857-1911), de Munich, que usava barba em ponta, identificou o bacilo coli, que atacava os intestinos de todo mundo. Erguendo a bandeira do Reino Unido, Sir David bruce, em 1887, descobriu o micróbio da febre de Malta, enquanto Anton Weichselbaum (1842-1920), na Áustria, descobriu o micróbio da meningite. em 1889, outro discípulo de Koch, Richard Pfeiffer (1858-1945), em Breslau, descobriu o bacilo da gripe, ou influenza, que infelizmente não causa a influenza. Em 1892, desfralda-se a bandeira das listras e estrelas quando William Welch (1850-1934) descobriu o terror dos exércitos, que desprezava o oxigênio, o bacilo da gangrena gasosa. E em 1894 ergue-se a bandeira do sol nascente, quando o gordo Shibasaburo Kitasato (1852-1931), também discípulo de Koch, descobriu, com o francês Alexander Yersin (1862-?) o germe da peste bulbônica, que espalhou o terror através dos tempos.

Dezoito anos, e dezoito assassinos de massas identicados e encurralados.

“Ó mundo invisível, nós o vemos,
Ó mundo intangível, nós o tocamos,
Ó mundo não identificável, nós o identificamos,
Inapreensível, nós o agarramos.”

Os bacteriologistas podiam agora declamar a apóstrofe do ex-estudante de medicina Francis Thompson (1859-1907) à vida espiritual, mas de modo mais prático e útil. Robert Koch ganhou o prêmio Nobel em 1905, e suas cinzas repousam no Instituto Koch, em Berlim.

 

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