Não tão às claras, ingenuidade do contratante, intenção do contratado, ou quem sabe, mera coincidência.
Por: Ernesto Caruso, 31/08/2010
Duas propagandas veiculadas pela TV chamam à atenção quando definem as atribuições funcionais do presidente da República e dos governadores de Estado, apelando para o bom voto, como parte da campanha eleitoral em curso.
A maneira simplista e figurativa como são expostas livram o governo central de determinadas responsabilidades e ressaltam aquelas dos governadores, pondo em relevo áreas críticas, polêmicas e angustiantes vividas pela sociedade, como segurança e saúde.
O apresentador anuncia, “as eleições estão chegando… Saiba o que o candidato vai fazer por você e pelo Brasil. O presidente nomeia os ministros que vão cuidar dos assuntos estratégicos. Ele cuida da relação do Brasil com outros países. Movimentando a economia e divulgando a imagem do país no exterior. Além disso, ele faz as leis aprovadas no Congresso se transformarem em benefício para a população. Agora que você conhece melhor o trabalho do presidente, vote e ajude a construir o futuro do Brasil.” Daí, o “aerolula” figurado alça vôo como se esse fosse o esteio das ações do presidente. Um aviãozinho rechonchudo alegrando a cena.
Tal fato não condiz com o início do seu governo, quando deu ênfase a uma viagem pelo interior para descortinar aos ministros que nomeara, a realidade brasileira.
Sobre os “vôos” do presidente Lula, o jornalista Joelmir Betting teceu os seguintes comentários:
“Bem, nada contra a exposição internacional do presidente Lula. Isso soma para o ego dele e do PT e para a imagem adocicada do Brasil. O problema é que governar não é velejar.
Governar é despachar. Um pesado batente de gabinete, 10 horas por dia, de segunda a sábado, com direito a churrasco domingueiro na Granja do Torto. É o que pede um Brasil ainda em estado de emergência nacional.
Ocorre que o presidente vai completar agora em agosto 20 meses de governo com a seguinte distribuição dos 608 dias de agenda presidencial: 241 dias pelo mundo, 212 dias pelo Brasil e apenas 151 dias em Brasília.
Para cada dia em Brasília, três dias velejando pelo Brasil e pelo mundo. Ou se preferirem: em 20 meses, 40 viagens ao Exterior, visitando 63 países. Vai para o Guiness. Ganha até do secretário geral da ONU. (24/08/2004)”
Não obstante, essa governança de viagens ao exterior, recentemente em discurso nos palanques de apoio à sua candidata, disse que após a transmissão do governo iria viajar pelo Brasil, fiscalizando e apontando erros e omissões.
O outro filmete, conjugado com anterior, aborda o papel do governador de estado. Aí, nesse, se joga o peso de uma questão aterrorizante: a segurança.
“O governador é o chefe do Poder Executivo no estado. Comanda a segurança e nomeia os secretários. Ele faz as leis, aprovadas na assembléia, se transformarem em benefícios para a população e administra os investimentos regionais.”
Ao falar em segurança, se destaca o quadro com policiais militares em forma, fechando o elo, governo estadual –segurança – polícia militar.
Ou seja, uma propaganda subliminar, bastante repetida pela televisão, a caracterizar um presidente livre de responsabilidades na superior condução do país, não compatível nesse regime presidencialista, a cavaleiro das medidas provisórias, de um Congresso bastante submisso e de tribunais não livres das amarras, em particular pela malfadada reeleição.
Ora, se o presidente, com a maioria que tem, quisesse, através alteração das leis, agravar as punições aos criminosos, o teria feito. Bandidos condenados por crimes bárbaros a 10, 15 anos, não estariam cometendo os mesmos crimes, por uma liberdade conseguida após dois, três anos de cárcere.
Sem citar os de menor idade que cometem crimes hediondos, matam e morrem, com o crack, pelo crack, no contexto do narcotráfico, que transforma gente em molambo e aniquila famílias.
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